Candidata da Federação Psol/REDE ao governo do Paraná, a Professora Angela Machado aponta problemas no que a atual gestão tem chamado de “inovações” na área da educação e afirma que servidores públicos estão adoecidos. “Na saúde, policiais, professores. E tem muito a ver com a desvalorização, com baixos salários, com excesso de trabalho”, afirmou ela, para quem “nosso inimigo principal no dia de hoje é o Ratinho Junior”. Filiada ao Psol, Professora Angela concedeu uma entrevista à Gazeta do Povo nesta sexta-feira (23), dentro da série de sabatinas com concorrentes ao Palácio Iguaçu (assista ao vídeo). O primeiro entrevistado foi Roberto Requião (PT), na quarta-feira (21). O candidato do PDT, Ricardo Gomyde, falou na quinta-feira (22). No próximo dia 28, quem participa é o candidato à reeleição, Ratinho Junior (PSD). Cada sabatina é transmitida ao vivo e tem duração de uma hora.
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Na entrevista à Gazeta do Povo, Professora Angela explicou que a ideia do Psol é fazer política pensando em pessoas que “historicamente tiveram seus direitos negados, ou que não são ouvidas, que não têm voz, que não têm vez”. “Então sonhamos e lutamos para fazer uma política onde as mulheres possam ser ouvidas, onde LGBTQIA+ sejam atendidos, para classe trabalhadora, para negros e negras. Nosso estado é tão diverso, tem ribeirinhos, indígenas, quilombolas. A gente tem que pensar num Paraná que realmente seja inclusivo. A gente acredita que tem uma outra forma de fazer política que não leve em consideração só o lobby dos grandes empresários”, afirmou ela.
Sobre a participação ainda pequena do Psol no Paraná – nunca conseguiu ter um deputado estadual ou federal pelo estado e, entre os 399 municípios, elegeu apenas dois vereadores no último pleito -, a candidata acredita que a sigla agora tem mais condições para disputar cadeiras: “A gente está no princípio da construção partidária, mas agora está vindo forte. Quando eu entrei no partido, eu não sentia esta mesma vontade em fazer o partido crescer. E agora eu já vejo que tem pessoas diferentes no partido, querendo que esta construção realmente aconteça. Porque a gente sabe o quanto a cidade e o Estado ganham com parlamentares do Psol, fazendo uma oposição contundente”.
“A gente trabalha muito para que o Psol cresça aqui no Paraná, que tenha uma representatividade igual tem em outros estados, como São Paulo, Rio Grande do Sul, que têm excelentes deputados. Uma das nossas missões é sim eleger deputados e deputadas, tanto para Câmara, quanto para Assembleia Legislativa. Queremos ter nossos representantes lá, para que estes espaços tenham mais a cara do povo. Se chama Casa do Povo, mas a gente vê que estão lá homens, brancos, ricos, em sua maioria”, disse a candidata.
Para ela, a sua candidatura também ajuda a ter um segundo turno no Paraná. “Porque nosso inimigo principal no dia de hoje é o Ratinho Junior. É ele quem esfola os trabalhadores, os servidores públicos, que não valoriza, que deixa seis anos de salários defasados, que não faz concurso. Servidores públicos, de modo geral, da saúde, policiais, professores, estão adoecidos. E tem muito a ver com a desvalorização, com baixos salários, com excesso de trabalho”, afirmou ela.
Sem pedágio. Nem público, nem privado, nem pedágio baratinho. A população já paga imposto. O que a gente pensa é talvez taxar grandes transportadoras, taxar de quem tem mais para poder garantir que a população como um todo tenha direito de ir e vir
Professora Angela Machado (Psol), candidata ao governo do Paraná
Educação
Ao longo da entrevista, a candidata do Psol falou especialmente da área de educação, com críticas à atual gestão. “Ratinho Junior se gaba que o Paraná está entre os melhores do Brasil no Ideb, fala de uma melhoria na educação. Mas, para quem está do lado de dentro da educação, a gente não vê nada disso. Até as inovações que eles dizem que são inovações, como as aulas técnicas do Ensino Médio. São aulas remotas, gravadas, que passam em uma televisão na sala de aula. Aulas extremamente desinteressantes. Tanto alunos quanto pais reclamam. É jogar dinheiro no lixo”, criticou ela. “As aulas são da UniCesumar, que fechou um contrato de R$ 33 milhões [com o governo estadual] às pressas e sem licitação. E um grande doador da campanha do Ratinho Junior foi o dono da UniCesumar, R$ 90 mil para a campanha dele”, acrescentou ela.
Outra novidade da atual gestão classificada como ruim pela candidata seria a plataforma “Redação Paraná”: “O aluno faz no computador a redação e não é o professor que corrige. Está sendo o maior problema com professores de Língua Portuguesa. Porque é obrigatório, mas não tem computador para todo mundo. Um programa que corrige, que aponta coisas gramaticais, mas não avalia coisas como a estrutura de uma redação”. “Nem toda inovação significa que vai trazer uma qualidade real”, critica ela, ao sair em defesa da realização de concurso público, valorização dos professores do quadro próprio e formação continuada.
Professora Angela também afirma que, para que se tenha ensino integral, é necessário melhorar a estrutura das escolas. Segundo ela, a gestão Ratinho Junior gastou “muito mais pagando policiais para ficarem nas escolas do que adequando os espaços para o ensino integral”. “Não é só a sala de aula. A escola onde eu trabalho não tem uma quadra coberta. O laboratório de química, física, é tudo junto, e também é um depósito de várias outras coisas, maquete, material de educação física, é tudo lá. Então como se oferece um ensino integral num espaço deste? Você vai fazer um aluno ficar 8 horas sentado dentro de uma sala de aula? A gente acha que tem que mudar a estrutura para oferecer uma outra forma de ensino”, afirmou ela, que também defende o fim das escolas cívico-militares implantadas na atual gestão.
“A gente é totalmente contra a militarização das escolas. E foi tendenciosa a consulta que eles fizeram à comunidade escolar [antes de implantar a escola cívico-militar]. Fizeram toda uma propaganda, dando a entender que ela teria qualidade de um colégio militar de Curitiba. E não é nada disso. É apenas a presença de policiais dentro da escola. Não melhorou em nada a educação. Só o aluno cantar hino e usar aquele uniforme não muda nada”, apontou ela, ao defender a contratação de profissionais como psicólogos e assistentes sociais para as escolas. “Depois da pandemia, a gente teve uma evasão ainda maior. E precisamos entender os motivos. Depois da pandemia, é problema financeiro, tem aluno que não tem dinheiro para ônibus, tem aluno que não tem dinheiro para comer, tem aluno que desistiu porque teve que trabalhar, tem aluno que ficou doente mentalmente. E quem vai resolver isso? É o militar? A militarização não ajuda em nada”, disse ela.
“Não defendemos pedágio. Nem público, nem privado, nem pedágio baratinho”
Questionada sobre como fazer melhorias nas estradas e sobre o modelo de pedágio, a candidata do Psol reforçou que é contra a cobrança de uma tarifa nas rodovias e que é necessária uma atenção maior para os trechos rurais e para as vias que escapam do Anel de Integração – “tem cidades como Guaraqueçaba que não tem mais transporte público para lá”.
“Sem pedágio. Nem público, nem privado, nem pedágio baratinho. A população já paga imposto. O que a gente pensa é talvez taxar grandes transportadoras, taxar de quem tem mais para poder garantir que a população como um todo tenha direito de ir e vir”, propôs ela.
Sobre dinheiro de impostos, a candidata do Psol também aproveitou para criticar o volume da isenção fiscal a grandes empresas. “Só a Klabin, que é uma monstra da celulose, teve uma isenção fiscal de quase R$ 13 bilhões nos três últimos anos de Ratinho Junior. É a Klabin que precisa de isenção fiscal ou é o pequeno produtor? É a Klabin que precisa ou nós que podemos pegar este dinheiro e investir em estradas decentes?”, afirmou ela.
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