Assim como a corrida presidencial está dividida em todo o país entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em alguns estados, as disputas ao Senado também seguem polarizadas entre os candidatos apoiados por eles – ou por aqueles que buscam associar suas imagens aos presidenciáveis, apesar de não ter o apoio oficial.
A eleição de senadores aliados é importante para a estratégia de governabilidade dos candidatos a presidente. Além de ser uma “câmara revisora” dos projetos de lei aprovados na Câmara dos Deputados, o Senado tem a competência para analisar e dar andamento a procedimentos de impeachment contra presidentes da República, vices, ministros de Estado e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) – e, também, de afastá-los das funções oficiais.
Outra atribuição dos senadores é avaliar as indicações do presidente para cargos, como o de ministro do STF. Com as aposentadorias de Rosa Weber e Ricardo Lewandowski, em 2023, o próximo chefe do Executivo indicará dois ministros para a mais alta corte de justiça do país, que serão avaliados pelos senadores quanto ao seu "notável saber jurídico e reputação ilibada", entre outros requisitos constitucionais.
Polarização também nos estados
Pesquisas eleitorais nos cinco maiores colégios eleitorais do país – São Paulo (34,6 milhões de eleitores), Minas Gerais (16,2 milhões), Rio de Janeiro (12,8 milhões), Bahia (11,2 milhões) e Rio Grande do Sul (8,5 milhões) – mostram que as disputas estão apertadas entre os candidatos alinhados a Lula e Bolsonaro. Nesta reportagem, foram considerados os levantamentos mais recentes.
No Rio de Janeiro, o candidato apoiado por Bolsonaro – o senador Romário (PL) – lidera a corrida eleitoral. Romário tinha 31% das intenções de voto, segundo a pesquisa Datafolha de 15 de setembro (veja metodologia abaixo), enquanto o candidato apoiado por Lula, André Ceciliano, tinha 5%.
O principal adversário de Romário nessa disputa, porém, não é o candidato oficial de Lula, mas um nome da esquerda que apoia a candidatura do petista à Presidência: Alessandro Molon (PSB), que tinha 13% das intenções de voto na pesquisa do Datafolha.
Ainda no Rio, o deputado Daniel Silveira (PTB) teve sua candidatura indeferida por causa da lei da Ficha Limpa, mas ainda recorre ao Tribunal Superior Eleitoral para levá-la adiante. Assim como Molon, que não tem apoio oficial de Lula, Silveira não conta com o apoio oficial de Bolsonaro, mas é um dos cabos eleitorais do presidente do estado. Na pesquisa Datafolha, ele aparecia com 6% das intenções de voto.
Já em Minas Gerais a disputa está tecnicamente empatada, mas com vantagem numérica para o candidato de Bolsonaro ao Senado: o deputado estadual Cleitinho Azevedo (PSC-MG) estava com 17% e o candidato a reeleição, Alexandre Silveira (PSD), Apoiado por Lula, estava com 13% na pesquisa publicada na última quinta-feira.
Por outro lado, São Paulo e Bahia veem os candidatos alinhados a Lula despontarem nas pesquisas com larga vantagem. No maior colégio eleitoral do país, Márcio França (PSB) lidera a corrida com 32% das intenções de voto segundo a pesquisa Datafolha de 15 de setembro, enquanto que Marcos Pontes (PL), ex-ministro do governo Bolsonaro, vem na sequência com 15%.
É uma vantagem semelhante à vista na Bahia de acordo com o levantamento do Paraná Pesquisas desta segunda-feira: Otto Alencar (PSD) tinha 33,9% das intenções de voto contra 14% de Raíssa Azevedo (PL), que estava em terceiro na disputa, atrás de Cacá Leão (PP).
No Rio Grande do Sul, a corrida está mais equilibrada, com três candidatos competitivos: o petista Olívio Dutra, a ex-senadora Ana Amélia Lemos (PSD) e o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos). Pesquisa Ipec de 16 de setembro mostrou Olívio com 28% das intenções de voto, Ana Amélia com 25% e Mourão com 19% (veja as metodologias de pesquisa mais abaixo).
Veja abaixo o que pensam e o que propõem os candidatos de Bolsonaro e Lula ao cargo de Senador nesta eleição:
Rio de Janeiro
Romário (PL): o ex-jogador tenta a reeleição ao cargo para mais oito anos de mandato, em uma relação com Bolsonaro que vem ficando mais contida nesta eleição. Embora seja o candidato oficial do partido do presidente após Daniel Silveira ter o registro indeferido pela Justiça Eleitoral, Romário faz uma campanha independente, tanto que não participou dos atos de 7 de Setembro com o presidente. O parlamentar propõe seguir com as ações que já vem executando na área de saúde, como derrubar o rol taxativo da Agência Nacional de Saúde Suplementar, e a articulação de recursos federais para políticas públicas no estado.
Daniel Silveira (PTB): o deputado federal tenta o apoio de Bolsonaro para o cargo, embora esteja recorrendo da decisão da Justiça Eleitoral que indeferiu seu registro. Ele tem, entre outras propostas, um projeto que isenta do imposto de renda os militares das Forças Armadas, segundo explicou em uma entrevista à revista Sociedade Militar. O parlamentar é ex-policial militar, e tem o militar reformado André Monteiro como suplente ao cargo. Em entrevista à Jovem Pan, Daniel Silveira disse que é favor da abertura de processos de impeachment contra ministros do STF.
André Ceciliano (PT): o deputado estadual carioca disputou com Alessandro Molon (PSB) a preferência de Lula na corrida ao Senado, o que gerou uma crise no início da campanha por conta do apoio do ex-presidente a Marcelo Freixo ao governo do estado. Entre as propostas de Ceciliano, caso seja eleito, estão pautas comuns ao programa de governo de Lula, como elevação do salário mínimo, ampliação do Bolsa Família (chamado atualmente de Auxílio Brasil), geração de empregos, entre outras ações.
Alessandro Molon (PSB): líder da oposição na Câmara dos Deputados, o candidato ao Senado corre sem apoio e foi o centro de uma disputa que quase provocou uma ruptura entre seu partido e o PT no Rio. Isso porque o PSB está coligado com Marcelo Freixo para a disputa ao Palácio Guanabara, mas com André Ceciliano como candidato oficial ao Senado. Assim, Molon tentou, mas não conseguiu o apoio de Lula: “tem gente no PT que age para me desqualificar, é fogo amigo”, disse em entrevista à revista Veja no final do mês de agosto. Mais recentemente, ele foi proibido de subir no palanque durante um comício com o petista em Nova Iguaçu, na baixada fluminense. Se eleito, o candidato pretende articular o encaminhamento de mais recursos para a educação pública do Rio de Janeiro e para o reforço na segurança em áreas longe dos destinos turísticos do estado.
Minas Gerais
Cleitinho Azevedo (PSC): o candidato escolhido por Bolsonaro diz que tem muita “gratidão” e que pretende, entre outras ações, propor um projeto de lei para fiscalizar o Supremo Tribunal Federal (STF). Assim como o presidente, ele também é um crítico das decisões da Suprema Corte, que ele diz ser de “muita ideologia e militância, acaba virando perseguição com o presidente. Por quê o poder legislativo e executivo podem ser questionados e fiscalizados, terem CPI, e o poder judiciário não pode ter?” questionou em entrevista recente ao jornal O Tempo.
De acordo com ele, uma das alternativas para fiscalizar o Supremo é acabar com a indicação de nomes, com a possibilidade de concurso público para o cargo de ministro. Ele também diz que vai propor uma reforma política que diminua a quantidade de deputados federais e de partidos políticos. "Que vantagem tem essa quantidade de partidos que tem hoje?”, questionou em entrevista ao jornal O Tempo, na última semana.
Alexandre Silveira (PSD): o candidato à reeleição chegou a ser cotado para se tornar o líder do governo ao Senado, em uma negociação com o presidente Jair Bolsonaro que começou em maio. No entanto, seu partido acabou fechando coligação com o PT um mês depois, lançando-o como candidato oficial ao cargo junto do correligionário Alexandre Kalil ao governo mineiro.
Silveira defende, entre outras pautas, “mais ousadia na política econômica nacional”, com duras críticas ao ministro Paulo Guedes, e o fim do teto de gastos “para a retomada dos investimentos no Brasil”, de acordo com publicações em seu site oficial. Também cita o combate à fome e à miséria como propostas caso seja reeleito para mais oito anos de mandato.
São Paulo
Márcio França (PSB): vice-governador de São Paulo entre 2015 e 2018, o socialista apoiado por Lula diz que pretende fazer uma reaproximação do Governo Federal com o estado, que tem “perdido muito espaço em Brasília”, segundo ele. Embora seja candidato de uma coligação com viés de esquerda, França diz que não concorda com movimentos mais ideológicos e tem uma orientação mais conservadora, segundo relatou à revista Exame. Assim, as propostas, se eleito, vão focar em temas mais centrais como uma ampla reforma tributária, melhoras no SUS e em ações sociais no estado, entre outros.
Marcos Pontes (PL): ex-ministro da Ciência e Tecnologia do governo Bolsonaro, o astronauta pretende trabalhar por novas políticas públicas de educação, como o ensino profissionalizante “com uma melhoria no ensino fundamental, com a introdução do empreendedorismo, educação financeira e tecnologia”, disse em entrevista ao Poder 360.
Marcos Pontes é mais contido nas críticas às instituições da República, sendo o último contencioso apenas uma decisão do Tribunal Regional de São Paulo (TRE-SP) que ordenou a retirada do ar de um conteúdo gravado durante um encontro na Ordem dos Pastores Batistas de São Paulo, no começo do mês, por um suposto pedido de votos aos fiéis.
Bahia
Otto Alencar (PSD): também em busca da reeleição ao Senado, o candidato apoiado por Lula tem dito em comícios que a retomada de investimentos em infraestrutura e a geração de empregos estão entre as prioridades do próximo mandato. “Tem que crescer PIB com atividades que absorvem muito mão de obra, como setor têxtil, o setor calçadista, o agronegócio, todos esses setores”, disse em entrevista à Bahia FM. Ele também diz que pretende avançar em projetos ligados à área de saúde, como o que relatou no ano passado sobre a indenização a profissionais de saúde que atuaram na linha de frente do combate à Covid-19.
Raissa Soares (PL): a candidata apoiada por Bolsonaro tem pautas em comum com o presidente, como a defesa do armamento da população. No debate realizado pelo G1 Bahia, ela afirmou que “o armamento civil liberado para nossos pecuaristas reduziu a violência no campo”.
Ela pretende, ainda, trabalhar na atração de empresas para o estado que, segundo disse à Bahia FM, deixaram de investir por conta da tributação estadual. “Nós perdemos parceiros, as cidades perderam os empreendimentos, então você vê cidades empobrecidas, eu estou vendo cidades das famílias me virarem para mim falar: 'doutora o meu filho, não mora mais comigo porque aqui não tem emprego. Quem trabalha aqui é porque depende da prefeitura”, afirmou na sabatina.
Rio Grande do Sul
General Hamilton Mourão (Republicanos): vice-presidente de Bolsonaro, o militar vai à disputa seguindo alguns pensamentos do chefe, como eventuais críticas ao STF. A mais recente, sobre a restrição a decretos que flexibilizaram a posse e a compra de armas de fogo e munições. Mourão foi às redes sociais protestar contra o judiciário que “extrapola suas atribuições, fazendo ingerência indevida”.
Uma das propostas do candidato ao Senado é acabar com decisões monocráticas dos ministros “que não são eleitos para nada, que não tem mandato pra nada”, segundo publicou em um vídeo no Twitter criticando também o “inquérito das fake news”.
Mourão também propõe uma melhoria na produtividade da indústria gaúcha e também a reforma tributária. “Investimentos em infraestrutura e buscar realizar uma reforma tributária que melhore, vamos dizer assim, incentive as pessoas a gerarem mais emprego e mais renda porque estarão pagando menos impostos, principalmente aqueles que são os empreendedores”, disse em entrevista à RBSTV.
Olívio Dutra (PT): ex-governador do estado e ex-ministro do governo Lula, o petista afirma que vai exercer o mandato de um jeito diferente dos outros senadores, com a participação efetiva dos suplentes no gabinete. Ele propõe a renegociação do Regime de Recuperação Fiscal do Rio Grande do Sul com a União, que, segundo ele, “aprisiona” o estado e “reduz a capacidade e a independência da unidade federativa”.
Assim como Mourão, Dutra defende uma reforma tributária que direcione recursos “para quem mais precisa. Para micro, pequena, média empresas, e para educação, para saúde, ciência, tecnologia e infraestrutura”, afirmou à RBSTV.
Metodologias das pesquisas
Rio de Janeiro – Datafolha
O Datafolha entrevistou 1.202 pessoas entre os dias 13 e 15 de setembro de 2022 em 34 municípios fluminenses. A margem de erro do levantamento é de três pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%, sob o registro na Justiça Eleitoral com o número RJ-00509/2022. A pesquisa foi contratada pela Folha de São Paulo e TV Globo.
Minas Gerais – Datafolha
O Datafolha ouviu 1.212 pessoas entre os dias 13 e 15 de setembro em 62 cidades mineiras. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número MG-03417/2022. A pesquisa foi contratada pela Folha de São Paulo e a TV Globo.
São Paulo – Datafolha
O Paraná Pesquisas entrevistou 1.808 eleitores de São Paulo, pessoalmente, entre os dias 13 e 15 de setembro. A margem de erro do levantamento é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. O registro na Justiça Eleitoral é SP-06078/2022.
Bahia – Paraná Pesquisas
A pesquisa eleitoral do Paraná Pesquisas entrevistou 1.540 pessoas presencialmente, entre os dias 14 e 18 de setembro. A margem de erro do levantamento é de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%, sob o registro na Justiça Eleitoral com o número BA-02288/2022.
Rio Grande do Sul – Ipec
A pesquisa ouviu 1.200 pessoas entre os dias 13 e 15 de setembro em 65 municípios. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, considerando nível de confiança de 95%. A pesquisa foi contratada pela RBS Participações S.A. e registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-00161/2022 e no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) sob o número RS-04310/2022.
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