Um dia após o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), anunciar sua saída da disputa pela sucessão de Jair Bolsonaro, o discurso no PSD é o de insistência na ideia de que o partido terá uma candidatura própria ao Palácio do Planalto e que o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, é o nome ideal para o projeto.
"Eu não o considero um bom nome [para a Presidência da República]. Considero um excelente nome", disse o líder do PSD no Senado, Nelsinho Trad (MS), sobre o gestor gaúcho. Vice-presidente nacional do partido, o ex-deputado federal Guilherme Campos (SP) reforça que as portas do PSD estão abertas para Leite e que o elemento que falta para que o governador seja o candidato do partido é "ele querer".
Leite é, atualmente, filiado ao PSDB. No ano passado, ele disputou as prévias do partido contra o também governador de São Paulo, João Doria, e foi derrotado. Embora tenha adotado um discurso de unidade e de apoio à candidatura do paulista, iniciou movimentações desde então, para concorrer ao Palácio do Planalto. Citou a alta rejeição de Doria e, além do PSD, manteve negociações com União Brasil e Podemos. Nas últimas semanas, passou a falar abertamente sobre sua ida ao PSD – hipótese que ganhou força após Agostinho Meirelles, secretário estadual visto como um "braço direito" de Leite, ingressar no partido.
O PSD do Rio Grande do Sul confirma o andamento das negociações e celebra a possível chegada de Leite. "O diretório estadual recebe com muita alegria a possibilidade de ter um representante gaúcho construindo uma alternativa viável para a disputa presidencial", afirmou a presidente local do partido, Letícia Boll Vargas. Segundo ela, o PSD local não cogitou "outra possibilidade a não ser a candidatura própria, porque entendemos que é o momento do PSD buscar o protagonismo nacional".
A troca de partido, bem como a renúncia de Leite ao governo do Rio Grande do Sul, precisa ocorrer até, no máximo, o dia 2 de abril.
Saída de Pacheco é minimizada
A euforia em torno do nome de Leite se soma à aura de "naturalidade" que o PSD tenta dar à desistência do projeto presidencial de Pacheco. O partido endossou o discurso do parlamentar, que foi o de que a saída da corrida ao Planalto se deu por uma necessidade de o congressista se concentrar no comando do Senado.
"Ele ponderou e achou por bem concentrar sua atividade, em um ano tão difícil e tão crítico, na presidência do Congresso. Foi uma decisão pessoal dele", afirmou o vice-presidente Campos.
Pacheco foi idealizado como candidato ao Planalto pelo presidente do PSD, o ex-ministro Gilberto Kassab, que comanda o partido desde sua fundação. O projeto levou Pacheco a se desligar do DEM, partido pelo qual foi eleito senador em 2018 e presidente do Senado no ano passado.
O senador, porém, não emplacou na disputa presidencial. Somou menos de 1% em levantamento do instituto Paraná Pesquisas divulgado na quarta-feira (9) e mostrou pouco fôlego para correr atrás dos favoritos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), e mesmo para ser o principal nome da chamada "terceira via".
O líder do PSD no Senado apontou também que a exclusão de Pacheco da corrida ao Planalto também não alterará a conduta do partido na casa. Segundo Trad, a bancada "é conhecida, através de suas votações, como uma bancada independente", postura que continuará nos próximos meses.
Partido vê nome próprio como forma de reduzir divergências
O PSD existe desde 2011 e nunca teve um candidato a presidente da República. Nas eleições de 2014, apoiou a então presidente Dilma Rousseff (PT). Em 2018, esteve na coligação de Geraldo Alckmin (então no PSDB).
O perfil ideológico diversificado também se vê na composição das bancadas do partido no Congresso. A sigla tem entre seus parlamentares apoiadores ferrenhos do governo Bolsonaro e opositores declarados do presidente da República.
Um episódio ilustra bem a variedade do partido: durante a CPI da Covid, em agosto do ano passado, o deputado Reinhold Stephanes Junior (PSD-PR) invadiu uma sessão do colegiado para fazer críticas aos senadores. O presidente da CPI era Omar Aziz (PSD-AM), seu colega de partido, e adversário de Bolsonaro.
A apresentação de um nome próprio ao Planalto é vista no partido como mecanismo para reduzir as divergências, fortalecer a bancada e também evitar que o apoio às candidaturas de Bolsonaro ou Lula dificulte acordos políticos locais.
Trad aponta que a defesa da candidatura própria é vista como uma posição da bancada no Senado, que superou correntes que defendiam a coligação com Bolsonaro.
Enquanto isso, o partido perdeu alguns nomes mais conectados com o governo. O ex-governador Robinson Faria (RN) anunciou nesta quinta-feira (10) que deixará o PSD. Ele, que foi um dos fundadores do partido, é pai do ministro Fábio Faria (Comunicações), que também trocará de partido. O deputado federal Eder Mauro (PA), de origem policial e defensor de Bolsonaro, irá para o PL, o partido do presidente da República.
Metodologia da pesquisa citada na reportagem
O levantamento do instituto Paraná Pesquisas, encomendado pela BGC Liquidez Distribuidora de Títulos Mobiliários Ltda., ouviu 2.020 mil eleitores entre os dias 03 e 08 de março de forma presencial. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-06682/2022. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.
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