Aécio Neves foi um dos poucos deputados do PSDB que conseguiu se reeleger, ainda assim com uma votação muito inferior ao que já fez em eleições passadas| Foto: Alexssandro Loyola/Flickr do PSDB na Câmara
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O PSDB registrou no primeiro turno das eleições de 2022 os piores resultados eleitorais em 34 anos de história. Sob a presidência do ex-deputado Bruno Araújo, a sigla não elegeu nenhum senador ou governador (em primeiro turno) e viu as bancadas federais e estaduais diminuírem. Isso torna o PSDB mais dependente da federação que formou com o Cidadania para cumprir a cláusula de barreira a partir do pleito de 2026, que será mais rígida.

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A cláusula de barreira é um mecanismo criado em 2017 via reforma política com objetivo de reduzir a pulverização partidária no país e concentrar a distribuição dos recursos dos fundos partidário e eleitoral. Para continuar a ter ter acesso a essas verbas a partir de 2023, as legendas (ou federações) precisaram eleger um mínimo de 11 deputados federais distribuídos em ao menos nove estados ou obter 2% dos votos válidos para a Câmara dos Deputados em nove unidades federativas.

O PSDB cumpriu os requisitos em 2022 e, junto com o Cidadania, elegeu 18 deputados federais, sendo 13 tucanos – uma diminuição de 19 parlamentares em comparação com o pleito de 2018.

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Para 2026, a cláusula de barreira será ainda mais exigente. O número de deputados federais eleitos passa de 11 para 13 e os votos válidos para a Câmara dos Deputados sobe de 2% para 2,5%. Os partidos (ou federações) que não atingirem esse requisito deixarão de receber os recursos dos fundos partidário e eleitoral, e não terão mais acesso à propaganda gratuita de rádio e TV, bem como o direito de participar de debates eleitorais.

Sem novos senadores eleitos, a bancada tucana no Senado Federal também registrou queda, de seis para quatro senadores. Nem mesmo figuras históricas do PSDB, como o ex-governador de São Paulo José Serra, o ex-governador de Goiás Marconi Perillo e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto conseguiram se eleger em 2022.

Nomes como o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves e o ex-governador do Paraná Beto Richa foram eleitos deputados federais, mas com votações reduzidas em seus respectivos estados. Em Minas, os cinco deputados federais mais votados fizeram de 185 mil a 1,4 milhão de votos, enquanto Aécio ficou em 34º lugar, com 85.341 votos, tendo sido eleito graças ao coeficiente eleitoral. No Paraná, os cinco deputados federais mais votados fizeram de 168 mil a 344 mil votos, enquanto Richa ficou em 28º lugar, com 64.868 votos, e entrou raspando graças à impugnação de outra candidatura tucana que havia obtido mais votos.

Nas disputas estaduais, o desempenho do PSDB também foi aquém do histórico. O partido elegeu 54 deputados estaduais em 2022 contra 73 parlamentares em 2018, queda de 26%.

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Além disso, os tucanos não venceram nenhuma disputa de primeiro turno para governador, incluindo o estado de São Paulo, em que a legenda havia conquistado o cargo por sete pleitos consecutivos, desde 1994.

O PSDB ainda está na disputa pelo governo de quatro estados no segundo turno: Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Nessas quatro localidades, os candidatos tucanos terminaram o primeiro turno na segunda colocação, portanto, terão que virar o jogo para conquistar o cargo em 30 de outubro, data do segundo turno.

Como o PSDB decaiu tanto e qual o futuro do partido

O PSDB foi fundado em 1988, a partir de uma dissidência do então PMDB, por lideranças como o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso e os ex-governadores de São Paulo Franco Montoro e Mário Covas. O partido conseguiu rápida ascensão e venceu duas vezes seguidas as eleições para a Presidência com FHC em 1994 e 1998.

Rivalizando com o PT, o PSDB manteve o protagonismo nacional e disputou outros quatro segundos turnos seguidos contra candidatos petistas pela presidência da República, com José Serra (em 2002 e 2010), Geraldo Alckmin (2006) e Aécio Neves (2014).

Em 2014, após perder a eleição para Dilma Rousseff (PT) por uma margem de 3,4 milhões de votos, o PSDB contestou o resultado da eleição no Tribunal Superior Eleitoral. A partir daí, a legenda foi perdendo gradualmente seu poder em Brasília e nos estados. Em oito anos, a bancada do PSDB na Câmara dos Deputados caiu de 54 deputados para 13 e no Senado de 17 senadores para seis. O número de governadores eleitos passou de oito para nenhum até o momento.

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Mas o que explica esse retrocesso tucano em oito anos? Para o cientista político e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Rodrigo Horochovski, o próprio posicionamento do partido no espectro político não ajuda. "O centro diminuiu muito, principalmente desde 2015 e se consolidando em 2018. A esquerda que se considerava derrotada consegue recuperar boa parte do terreno perdido. A direita cresce bastante, de maneira expressiva no Brasil. Como existe um espaço limitado na política, quem está no meio das posições tem uma redução significativa, algo que aconteceu com o PSDB", analisa.

Já o cientista político Lucas Fernandes, coordenador de análise política e sustentabilidade da BMJ Consultores Associados, cita decisões políticas equivocadas do partido como fator decisivo para o mau desempenho. "O PSDB não conseguiu se renovar e realizou estratégias muito malsucedidas. O [ex-governador de SP João] Doria e o Eduardo Leite [ex-governador e candidato ao governo do RS no segundo turno] saíram da máquina pública para disputar a Presidência e no fim das contas o partido sequer lançou candidatura própria e ainda perdeu o controle da máquina pública em estados relevantes", explica.

Os cientistas políticos avaliam que o caminho para a legenda não necessariamente é o ostracismo, mas que a fusão partidária pode ser inevitável para a continuidade tucana.

"Não necessariamente de forma imediata, mas a articulação por um novo partido de centro mais robusto no Brasil. Parece que esse tem sido um movimento natural e automático. Assim como o PDS pode estar voltando com a fusão do PP com o União Brasil, porque não pensar na 'refusão' do PSDB com o MDB", afirma Horochovski.

"Em uma eventual janela partidária, os deputados que estão nesse partido devem ir para outros partidos, então uma saída para o PSDB é a fusão, migrando para outro partido de centro e, a partir daí, criar novas figuras, mas sem o rótulo dos tucanos, que pode ficar no passado. O PSDB vai precisar abrir mão de algumas escolhas, como fazer alianças fora do seu espectro ideológico, para continuar vivo no jogo político", explica Fernandes.

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Procurados pela reportagem, o diretório do PSDB e outras lideranças do partido não retornaram os questionamentos até o fechamento dessa reportagem.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]