Lula vai apelar para a economia como estratégia eleitoral, explorando a queda no poder de compra dos brasileiros nos últimos anos| Foto: Ricardo Stuckert/PT
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Com o lançamento da pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a cúpula do PT trabalha agora para ampliar o grupo político entorno do petista. No evento de oficialização da pré-candidatura, Lula deu os primeiros sinais da nova estratégia, marcando seu discurso com acenos ao centro e pregando união de opositores.

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"O grave momento que o país atravessa, um dos mais graves da nossa história, nos obriga a superar eventuais divergências. Queremos unir os democratas de todas as origens e matizes para enfrentar e vencer a ameaça totalitária", afirmou o petista.

A partir de agora, a expectativa dentro do PT é de que Lula foque na agenda econômica dando destaque a políticas de renda para os mais pobres. Nos cálculos, os articuladores da campanha petista acreditam que Lula consegue controlar a pauta contra seu principal adversário, o presidente Jair Bolsonaro (PL), quando debate pontos como inflação, preço dos alimentos e geração de empregos.

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Para isso, Lula pretende se contrapor a Bolsonaro explorando os feitos dos governos petistas em comparação ao atual presidente. Já as falas de improviso que o ex-presidente vinha dando nas últimas semanas como nas declarações sobre o aborto, a guerra na Ucrânia e os policiais deverão ser deixadas de lado

"Eu tenho visto muita gente na televisão dizendo: hoje eu fui no supermercado, eu comprei menos, eu diminuí a minha compra, eu trazia um carrinho cheio e agora estou trazendo meio carrinho. Eu comprava carne, eu comprava um quilo de carne por semana, hoje eu compro um quilo de carne por mês", disse Lula, depois de a campanha divulgar vídeos com declarações de donas de casa dizendo não estarem mais aguentando a alta dos preços, com fotografias e vídeos de pessoas em supermercados.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Para atrair o centro, PT faz "modulação programática" na campanha de Lula 

Para atrair outros partidos e lideranças de centro, integrantes do PT afirmam que a campanha de Lula está fazendo uma "modulação programática" de sua agenda. Até o momento, a chamada frente "Vamos juntos pelo Brasil" conta com a adesão de sete partidos: PT, PSB, PCdoB, PV, Rede, PSol e Solidariedade.

Na estratégia, Lula passou a fazer menções em defesa do empreendedorismo e deixou de fora do seu discurso temas como a revogação da reforma trabalhista e do teto de gastos. No lugar, passou a falar em "avançar na legislação trabalhista". "Vamos provar que o Brasil pode voltar a ser um país que cresce, que se industrializa e que gera emprego", defendeu.

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De acordo com o ex-governador piauiense Wellington Dias (PT), esse era um aceno necessário para o centro. "O apoio aos empreendedores é um gesto que unifica Lula e Alckmin. O outro campo [centro] precisa desses acenos mais claros", disse Dias, integrante do núcleo de campanha de Lula.

Até então, a indicação do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) como vice tinha sido o principal aceno de Lula para uma composição com lideranças de centro. Alckmin, no entanto, vinha adotando um tom mais moderado e evitado se contrapor aos discursos de Lula. De acordo com líderes petistas, a estratégia visava azeitar com a militância petista a composição, que até então enfrentava resistências em alguns núcleos do PT.

"Nada, nenhuma divergência do presente, nem as disputas de ontem, nem as eventuais discordâncias de hoje ou de amanhã, nada, absolutamente nada, servirá de razão, desculpa ou pretexto para que eu deixe de apoiar ou defender, com toda a minha convicção, a volta de Lula à Presidência do Brasil", discursou Alckmin por vídeo durante o lançamento da pré-candidatura.

Lula busca ampliar alianças junto a lideranças nos estados 

Com dificuldades para atrair formalmente o apoio de partidos como PSD e MDB para a coligação do PT, Lula tem buscado lideranças desses partidos nos principais estados do país. Em Minas Gerais, por exemplo, o petista tenta garantir palanque junto ao pré-candidato ao governo pelo PSD, Alexandre Kalil.

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O desafio de Lula é garantir o espaço pretendido pelo PT mineiro na chapa com Kalil, colocando o deputado federal Reginaldo Lopes como candidato ao Senado. O PSD, no entanto, pretende indicar Alexandre Silveira, que é candidato à reeleição e preferido de Kalil para integrar a chapa Senado na campanha. Lideranças do PT afirmam, no entanto, que ainda existe margem para negociação e que um acordo pode ser costurado no estado.

Já no MDB Lula conta com apoio de caciques emedebistas em ao menos 14 estados, mesmo com a pré-candidatura da senadora Simone Tebet pelo partido.

"É o desejo da Gleisi [Hofmann, presidente do PT] e do Lula juntar lideranças. Esse é um papel que eu pretendo cumprir na campanha. Já vinha buscando essas lideranças e agora vou intensificar essa busca por apoio de lideranças de centro", afirmou o deputado Paulinho da Força (SP), presidente do Solidariedade.

No pós-Covid, Alckmin vai em busca do apoio de evangélicos 

Com diagnóstico de Covid-19, Geraldo Alckmin não participou de forma presencial do lançamento da pré-candidatura e nem visitou Minas Gerais ao lado de Lula nesta semana. O ex-governador, no entanto, deve acompanhar o ex-presidente em uma viagem ao Rio Grande do Sul e em Santa Catarina – estados onde Bolsonaro têm mais popularidade. Já nas primeiras semanas de junho, a dupla deve visitar os estados do Pará e do Amazonas.

Na sequência, o PT vai incumbir Alckmin da missão de abrir diálogo com o meio evangélico. A estratégia visa diminuir a influência de Bolsonaro sobre esse segmento do eleitorado. As agendas vem sendo costuras pelo pastor Paulo Schallenberger, conselheiro do PT com o segmento religioso. Os encontros serão com igrejas menores e que têm ministérios independentes em todo o país.

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Na avaliação do núcleo de campanha, denominações maiores como a Igreja Universal do Reino de Deus já estão fechadas com Bolsonaro. Por isso, a aproximação de Alckmin com o segmento deve começar com pastores neopentecostais do interior de São Paulo, onde o ex-governador já conta com sinalizações de apoio.