O PT ainda não definiu o papel que Dilma Rousseff ocupará nas eleições de 2022. É pouco provável que a ex-presidente dispute um mandato. E, nas últimas semanas, ao menos dois fatos levantaram a discussão se o PT estaria querendo "esconder" Dilma, que sofreu impeachment amargando baixos índices de popularidade, para não prejudicar a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva?
Um dos fatos que chamou a atenção foi a ausência dela no jantar que selou a aproximação entre Lula e o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (sem partido), cotado para ser vice na chapa presidencial petista. E mais recentemente o vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá, causou polêmica ao declarar que Dilma não teria mais relevância eleitoral e não acrescentaria votos à candidatura de Lula – o que indicou que ao menos parte do partido acha que ela pode prejudicar os planos da legenda de voltar ao Palácio do Planalto.
A declaração de Quaquá, dada em entrevista ao portal Metrópoles, motivou reações de defesa de Dilma dentro do próprio partido, que vieram de nomes variados – como da presidente da sigla, a deputada Gleisi Hoffmann (PR), do secretariado feminino da legenda e do ex-deputado Jean Wyllys (RJ), que recentemente se filiou ao PT após deixar o Psol.
Um dos líderes da sigla que foi a público para contestar Quaquá, o deputado federal Paulo Pimenta (RS) disse que a ex-presidente é uma figura "muito relevante e muito respeitada" dentro do PT. Mas Pimenta admite que o papel de Dilma em 2022 ainda não foi debatido de forma definitiva.
"Uma eventual candidatura dela é uma decisão pessoal, e não conversamos sobre isso", disse Pimenta. Dilma retornou seu domicílio eleitoral para Porto Alegre (RS), cidade onde fez carreira política – em 2018, ela candidatou ao Senado por Minas Gerais, seu estado natal. Mas, no Rio Grande do Sul, o PT tem um pré-candidato ao governo, o deputado estadual Edegar Pretto. Para o Senado, o partido ainda não definiu um nome. Uma possibilidade é a de apoiar a ex-deputada Manuela D'Ávila (PCdoB).
Ausência de Dilma em jantar com Lula e Alckmin não passou despercebida
As declarações de Quaquá fortaleceram a discussão em torno da participação de Dilma na campanha de Lula, que começou com o episódio da ausência dela no jantar que reuniu Lula e Geraldo Alckmin. O encontro fortaleceu a possibilidade do ex-governador paulista, que recentemente deixou o PSDB, ser o vice de Lula em outubro.
O não comparecimento de Dilma ao jantar gerou a controvérsia de que ela não teria sido convidada para a cerimônia – algo que foi interpretado como uma possível sinalização de que isso poderia causar desgaste à imagem de Lula. Os organizadores do evento – o grupo de advogados Prerrogativas, grande parte deles ligados ao PT – asseguram que o convite foi feito. Mas Dilma chegou a indicar que não havia sido chamada.
Jantar à parte, Dilma não tem figurado nas articulações frequentes do PT. Segundo reportagem do jornal O Globo, a ex-presidente não integrou debates relevantes para o partido, como a escolha de Fernando Haddad para a disputa presidencial de 2018 e a reaproximação de Lula com figurões do MDB, como o ex-senador Eunício Oliveira (CE) e o senador Renan Calheiros (AL). Ambos apoiaram o impeachment de Dilma, em 2016.
Ainda assim, a ex-presidente é uma figura respeitada por parte do PT, que sempre que pode enfatiza a tese de que ela teria sofrido um "golpe parlamentar" perpetuado por forças políticas, econômicas e religiosas.
PT promete defender o governo da ex-presidente
Líderes do PT ouvidos pela Folha de S. Paulo afirmam que não se cogita esconder Dilma na eventual campanha de Lula. Pelo contrário, o partido promete defender o governo da ex-presidente e desconstruir a imagem de que ela foi a responsável pela recessão que o país enfrentou entre 2015 e 2016.
Escondê-la, avaliam, poderia ser um tiro no pé, pois certamente isso seria explorado por adversários como uma espécie de confissão de culpa. "Nunca abandonamos o Lula preso, um único dia. Não vamos abandonar a Dilma de jeito nenhum", disse o deputado federal Carlos Zarattini (SP) à Folha.
Ao jornal O Globo, Gleisi Hoffmann culpou o ex-ministro da Fazenda no segundo governo pela derrocada econômica que precedeu o impeachment. "O Joaquim Levy, que é liberal, é o culpado pelo que aconteceu. Ele induziu Dilma a fazer coisas que não deveria ter feito", disse.
Lideranças petistas citam, ainda, que o governo da ex-presidente teria sido sabotado pelo então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB), e suas "pautas-bomba" no Congresso, que tinham o objetivo de criar o caos econômico.
Apesar do revezes na economia, Zarattini disse que o PT pretende enfatizar os avanços do governo Dilma em outras áreas, como saúde, educação e social, como o Mais Médicos, o aumento do número de creches, e o ProUni, entre outros.
Fracasso eleitoral na disputa pelo Senado
Dilma disputou sua primeira eleição em 2010, quando venceu a corrida para a presidência sem muitas dificuldades. À época, contava com o respaldo da popularidade de Lula, que encerrava seu segundo mandato com altos índices de aprovação. Dilma foi reeleita em 2014, superando Aécio Neves (PSDB) em disputa apertada.
O segundo mandato de Dilma foi marcado pela crise econômica e pelo avanço da Lava Jato. Com baixos índices de popularidade e em meio a denúncias de corrupção envolvendo os governos do PT, Dilma sofreu impeachment dois anos depois.
Apesar disso, Dilma não perdeu os direitos políticos por uma decisão do Senado, contrariando o que diz a Constituição. Com isso, ela pôde disputar eleições. E, em 2018, a ex-presidente concorreu ao Senado por Minas Gerais. A decisão de disputar as eleições em Minas foi tema de controvérsia – apesar de nascida de Belo Horizonte, a petista fez sua carreira política no Rio Grande do Sul.
Mas a ex-presidente ficou apenas em quarto lugar, com 15% dos votos. Perdeu para Rodrigo Pacheco e Carlos Viana, que hoje são do PSD, e também para Dinis Pinheiro (Solidariedade).
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