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Lula carta
Carta de Lula cita responsabilidade fiscal, mas pouco detalha as propostas feitas para a economia| Foto: Ricardo Stuckert/PT

Lançada às vésperas do segundo turno, a carta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com propostas para um eventual governo foi vista como "genérica" em virtude da falta de mais detalhamentos do plano. Apesar disso, aliados do candidato petista avaliam que o movimento nessa reta final da disputa cria um "fato novo" para o debate e faz um contraponto ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Para integrantes do mercado financeiro, a "Carta para o Brasil de Amanhã", nome oficial do documento, não preenche o "cheque em branco" para a economia que o eleitor pode conferir a Lula no próximo domingo (30). Para André Perfeito, economista chefe da Necton Investimentos, o mercado queria sinalizações mais claras do ex-presidente.

"Ela é uma carta de princípios. O Lula não entra em detalhes, até porque ele não tem nem ministro ainda escolhido. Apesar de ele reafirmar o princípio, o mercado gostaria, sem dúvida nenhuma, de um detalhamento maior sobre o que ele pretende", disse.

Ainda de acordo com o economista, o trecho da carta em que Lula cita a Petrobras como indutora de investimentos gera receio por parte do mercado pelo risco de interferências do governo no setor de combustíveis. "Na questão da Petrobras existem receios de que haja um ativismo maior dentro da estatal", disse Perfeito.

Na carta, Lula indica que "os bancos públicos, especialmente o BNDES, e empresas indutoras do crescimento e inovação tecnológica, como a Petrobras, terão papel fundamental neste novo ciclo".

Sobre o BNDES, o ex-presidente já indicou que pretende usar o banco para financiar micro e pequenas empresas e investir na “transição ecológica, energética e digital” do país. Já sobre a Petrobras, sinalizou que pretende mudar a política de preços dos combustíveis.

"Nós não vamos pagar o preço internacional, nós vamos pagar o preço do custo da gasolina aqui do Brasil. É isso que nós temos que fazer. O trabalhador ganha salário em reais, nós fazemos produção em reais, não tem porque ficar cobrando em dólar para o povo brasileiro ter que pagar o preço internacional. Não tem nada a ver, o Brasil é autossuficiente", afirmou Lula durante a campanha.

Apesar de ter declarado voto no candidato do PT neste segundo turno, o economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, afirmou que ainda há muita desconfiança sobre o que o ex-presidente fará na economia. "Tem muito receio sobre qual vai ser o Lula que vai aparecer. Se vai ser o Lula do primeiro mandato, do segundo mandato, ou do terceiro mandato do PT, que foi o da Dilma", disse ao jornal Valor Econômico.

Para Salim Mattar, empresário e ex-secretário de Desestatização do governo Bolsonaro, a carta de Lula serviu para que "ninguém se diga enganado" depois das eleições.

"Não consigo entender o motivo de tanta gente do mercado ainda se iludir com um eventual governo Lula. Ainda bem que o petista divulgou a tal carta antes do segundo turno, pois ninguém vai poder dar a desculpa de que foi enganado", afirmou.

Ainda na avaliação dele, o texto apresentado pelo candidato do PT é uma "volta ao passado". "A gente sabe bem qual é o resultado dos governos do PT. Será que os sociais-democratas iludidos que declararam voto no petista estão satisfeitos e aprovam o conteúdo?", questionou.

Campanha de Lula tenta minimizar críticas ao conteúdo da carta

Apesar das críticas, a campanha do ex-presidente Lula acredita que a carta reforça o compromisso do PT com a responsabilidade. Além disso, os aliados defendem que a sinalização deixa claro o compromisso do candidato com os mais pobres.

O documento afirma que a "política fiscal responsável deve seguir regras claras e realistas, com compromissos plurianuais, compatíveis com o enfrentamento da emergência social que vivemos e com a necessidade de reativar o investimento público e privado para arrancar o país da estagnação". A carta também promete salário mínimo com reajuste anual acima da inflação, um novo Bolsa Família com valor de R$ 600, mais R$ 150 para cada criança de até 6 anos, um programa de renegociação de dívidas batizado de "Desenrola Brasil" e a isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil.

Para os integrantes do PT, Lula conseguiu reforçar nessa reta final que seu governo será marcado pela negociação com todos os setores da sociedade. Apesar de não ter sido citada na carta, a reforma tributária é vista pelos aliados de Lula como um dos grandes pilares para garantir as propostas sociais do petista. No texto, Lula diz apenas que o sistema de impostos do país “não pode prejudicar o investimento, a produção e a exportação industrial, nem deve punir trabalhadores, consumidores e mais pobres”.

Ainda de acordo com membros da campanha, a divulgação da carta vai dar sustentação à estratégia de Lula se apresentar como um contraponto a Bolsonaro no debate desta sexta-feira (28) na TV Globo. Além disso, avaliam que o texto reforça o discurso de Lula de que um eventual governo será integrado por todos que apoiaram sua candidatura.

"Nós precisamos fazer um governo além do PT. Tem muita gente que nunca foi do PT e participou do meu governo. E vai ser assim. Não será um governo do PT. Será um governo do povo brasileiro", disse Lula, nesta semana, ao lado da senadora Simone Tebet (MDB) e do ex-ministro Henrique Meirelles.

Em entrevista à rádio Clube FM, Lula afirmou que o perfil do seu ministro da Economia será de uma pessoa que saiba equilibrar “responsabilidade fiscal” com “responsabilidade social”. “O perfil do meu ministro da Economia vai ser de um cara que tenha muita inteligência política e compromisso social. Tem que pensar na responsabilidade fiscal, mas também na responsabilidade social”, afirmou.

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