O comitê eleitoral do presidente Jair Bolsonaro (PL) discute a possibilidade de ajustar algumas estratégias na campanha. Está sendo discutida a possibilidade de Bolsonaro não participar de novos debates. Outra medida analisada é melhorar a imagem do presidente em relação às mulheres, grupo do eleitorado considerado estratégico para a reeleição.
Coordenadores eleitorais da campanha avaliam que é necessário tratar as mulheres com ainda maior prioridade, principalmente após a reação de Bolsonaro a um questionamento feito pela jornalista Vera Magalhães sobre a queda da cobertura vacinal no Brasil, no debate da TV Band, no domingo passado (28).
A avaliação da campanha sobre a participação de Bolsonaro no debate, contudo, é positiva. O entendimento é de que ele foi bem, principalmente nos embates diretos com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Porém, a observação feita entre coordenadores eleitorais é que a reação do presidente à pergunta da Vera foi desproporcional e negativa, e prejudicou os ganhos que ele teve no embate com Lula.
A análise feita sobre a reação de Bolsonaro à pergunta da jornalista e a importância de fortalecer a comunicação com as mulheres é um dos motivos pelo qual é debatida a possibilidade de o presidente não comparecer aos próximos debates. Porém, essa não é uma percepção consensual e não há uma decisão fechada sobre o assunto.
O que diz Bolsonaro e por que a campanha está dividida sobre os debates
Parte da campanha defende que Bolsonaro deva ir a outros debates por valorizar o alcance midiático e vislumbrar a hipótese de novos enfrentamentos com Lula. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, que integra o núcleo político do comitê, deu sinais disso ao comentar na segunda-feira (29) pelo Twitter que "Bolsonaro quer que tenha debate todos os dias". Na ocasião, ele negou uma informação de que o presidente não iria mais a debates, que teria cancelado uma sabatina na TV Jovem Pan e que reavaliaria entrevistas.
A ida de Bolsonaro a outros debates também é defendida por aliados no Congresso. "É vantajoso ele comparecer. Ele se saiu muito bem no último debate e a tendência é só melhorar, não cair mais em cascas de banana", diz o deputado federal Capitão Alberto Neto (PL-AM), vice-líder do governo na Câmara. "Durante o horário eleitoral [na TV e no rádio], ele vai crescer e ter a oportunidade de aperfeiçoar o discurso. Vai fugir dos erros, deixar mais claro o que defende."
O objetivo é explorar o alcance e capilaridade da TV aberta para falar sobre realizações do governo, diz Neto. "O que faltava ao presidente era comunicação de massa, e a TV aberta proporciona isso. Ele comprou uma briga com as grandes mídias e ganhou uma antipatia natural delas. Agora, as propagandas são obrigatórias e é muito importante que ele participe dos debates para explicar que criou o maior programa de transferência de renda da história [o Auxílio Brasil] e fazer as comparações dos programas do passado e de hoje, que mostram que estamos no caminho certo", afirma o deputado.
Outra parte dos aliados e de integrantes da campanha vai na contramão e entende que o ideal é Bolsonaro não comparecer aos próximos debates. Esse grupo entende que é muito esforço e energia gasta para oferecer palanque a outros presidenciáveis sem grande expressividade. Coordenadores eleitorais que defendem a não participação de Bolsonaro dizem, contudo, que a tendência é de Bolsonaro não ir a debates no primeiro turno, mas sim no segundo.
No entanto, todos na campanha admitem que o próprio presidente é quem dará a palavra final. Na terça-feira (30), Bolsonaro participou de encontro promovido pela União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (Unecs) e disse a jornalistas na saída do evento que pretendia ir a outros debates. "Você falou o verbo no tempo certo. Pretendo, pretendo", declarou.
Como a campanha quer melhorar a imagem de Bolsonaro entre mulheres
Sobre a estratégia a ser usada entre as mulheres, a campanha de Bolsonaro quer apresentar um presidente mais sensível, empático e simpático. Também há recomendações para que ele adote um tom mais leve em relação ao eleitorado feminino em sua comunicação pessoal. O entendimento é de que ele precisa melhorar a entonação usada, não necessariamente o discurso.
Boa parte dessa estratégia está ancorada nas propagandas eleitorais. Na terça-feira (39), foi ao ar na propaganda de TV a peça publicitária em que a primeira-dama Michelle Bolsonaro fala às mulheres nordestinas – o Nordeste é outra região em que Bolsonaro pretende conquistar mais votos.
Michelle aborda a conclusão da obra da transposição do Rio São Francisco em um discurso voltado para o eleitorado feminino. "A água chegou no sertão. Trouxe vida, alegria e esperança. A mulher sertaneja, que carregava lata d'água na cabeça, agora pode usar a sua força para voltar à escola ou para tirar o alimento que está brotando na terra. Tem mais tempo para ficar com a família, com os filhos, e viver uma nova vida, um presente para a mulher que merece e deve ser o que ela quiser. Juntas, estamos construindo um Brasil para elas, com elas e por elas", diz a primeira-dama.
Michelle é tida como peça-chave para impulsionar a candidatura de Bolsonaro e tem assumido função estratégica durante a campanha. A expectativa da campanha é trabalhar a divulgação de mais materiais gravados por ela. O entendimento é de que a primeira-dama fortalece o presidente entre as mulheres, evangélicos e eleitores mais pobres e os com deficiência.
Também foi ao ar na terça-feira (30) outra propaganda gravada com o intuito de melhorar a imagem de Bolsonaro entre mulheres e outros eleitores que possam vê-lo como "agressivo".
A peça publicitária aborda sobre a origem do presidente e sua família em Eldorado (SP). São entrevistados familiares e amigos de infância que relatam a história e trajetória de Bolsonaro. A propaganda cita o "caráter", o "grande coração" e "generosidade" como virtudes do presidente.
Quais estratégias devem ser mantidas e qual é a avaliação da campanha
O saldo da campanha é positivo sobre as estratégias adotadas nas propagandas eleitorais. O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, um dos coordenadores eleitorais de Bolsonaro, disse no Twitter que as propagandas "estão encantando por mostrar a verdade que durante muito tempo tentaram esconder".
A ideia do comitê eleitoral é manter a estratégia e o foco em se dirigir às mulheres e aos mais pobres sobre realizações do governo, como a transposição do Rio São Francisco, a criação do Auxílio Brasil e sua ampliação para R$ 600, e a instituição do Pix, modalidade de pagamento eletrônico instantâneo.
Uma propaganda específica para o rádio, por exemplo, fala sobre essas realizações e também sobre a redução do preço da gasolina, a ampliação da validade da carteira nacional de habilitação para 10 anos, além da criação do Auxílio-Gás.
Outras estratégias sobre a comunicação da campanha também serão mantidas. Entre elas, a participação de Bolsonaro em podcasts e entrevistas que deem mais espaço para ele falar, com menos potencial do candidato ser interrompido, a fim de que ele possa concluir as falas.
Para coordenadores eleitorais, a manutenção dessas estratégias será fundamental para impulsionar a candidatura de Bolsonaro e diminuir a distância para Lula nas pesquisas. Apesar da última pesquisa Ipec apontar uma estabilidade do presidente, com 32% das intenções de voto, contra um índice de 44% de Lula, o comitê eleitoral não demonstra preocupação.
O entendimento da campanha é de que o Auxílio Brasil ainda não surtiu todo seu efeito potencial sobre os eleitores. Os coordenadores ponderam ainda que o Ipec aponta um aumento da rejeição do petista, que saltou de 33% para 36%, enquanto a do presidente foi de 46% para 47%.
Confira a metodologia da pesquisa citada
O Ipec entrevistou 2 mil eleitores em 128 municípios entre os dias 26 e 28 de agosto de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pela TV Globo e está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-01979/2022.
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