O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem ao menos cinco nomes do PT e de outros partidos com papéis estratégicos na cúpula da campanha. Além de quadros históricos do PT como o ex-ministro Aloizio Mercadante e presidente nacional do partido, deputada Gleisi Hoffmann (PR), o deputado André Janones (Avante-MG) e a mulher de Lula, Rosângela Silva (a Janja), estão trabalhando diretamente na articulação da campanha.
Veja abaixo quem é quem na cúpula da campanha de Lula; e o que cada um deles está fazendo:
Aloizio Mercadante elaborou o plano de governo de Lula
Presidente da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, o ex-ministro Aloizio Mercadante foi o nome responsável pela elaboração do plano de governo de Lula. A primeira versão apresentada por Mercadante acabou gerando um racha dentro dos partidos aliados de Lula por causa de propostas como a revogação da reforma trabalhista.
Com o desgaste, o plano teve que ser refeito e Mercadante acabou trocando o termo "revogação" por "revisão" das novas regras trabalhistas, aprovadas durante o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB).
Mercadante é presença histórica em todas as disputas presidenciais que o PT concorreu desde a redemocratização, nos anos 1980. Em 1994, por exemplo, chegou a ser vice na chapa de Lula na eleição daquele ano. Eleito senador na disputa de 2002, o parlamentar chegou a ser um dos nomes cotados para assumir o Ministério da Fazenda, mas acabou sendo preterido e assumiu a liderança do governo Lula até 2006.
No entanto, foi no governo da presidente Dilma Rousseff que Mercadante ganhou mais protagonismo dentro do PT. Depois de perder a disputa pelo governo de São Paulo em 2010, foi convidado pela petista para assumir o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação em 2011. No ano seguinte, assumiu o Ministério da Educação, devido à saída do então ministro Fernando Haddad para concorrer à prefeitura de São Paulo.
Já em 2014, quando o PT ainda discutia possibilidade de Dilma concorrer a um segundo mandato, Mercadante foi um dos principais articuladores para que a petista tivesse seu nome aprovado pelo partido. Até então, Lula vinha dando sinalizações que poderia concorrer no lugar da então presidente.
De acordo com integrantes do PT, a relação de Mercadante com Lula é marcada por idas e vindas; e atualmente encontra-se em um bom momento. O ex-ministro, inclusive, foi um dos responsáveis pelo treinamento de Lula para a sabatina do Jornal Nacional, da TV Globo.
Questionados sobre a possibilidade de Mercadante assumir alguma pasta em um eventual governo Lula, líderes petistas afirmam que o ex-presidente não tem compromissos com ministeriáveis.
Alexandre Padilha assume protagonismo com integrantes do mercado financeiro
Na contramão de Aloizio Mercadante, o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) tem seu nome cotado para assumir o Ministério da Economia se Lula for eleito. Padilha foi responsável por comandar a interlocução da campanha de Lula com diversos integrantes do mercado financeiro.
O deputado atuou para conter críticas do setor econômico às propostas de Lula de rever as regras trabalhistas e de acabar com a lei do teto de gastos. "Se ganharmos as eleições, vamos abrir a discussão no país de uma regra fiscal que seja estável", disse Padilha durante evento na Câmara Americana de Comércio (Amcham).
Ao segmento empresarial, ele tem buscado dar sinalizações de que uma eventual volta de Lula ao Palácio do Planalto não deve ser motivo de preocupação. Em abril, durante evento da XP Investimentos nos Estados Unidos, Padilha afirmou que o ex-presidente, se eleito, "não fará loucuras na política monetária nem agirá indiferente aos interesses do mercado".
Tido como um dos integrantes da ala pragmática do PT, Padilha foi um dos principais entusiastas da composição de Lula com o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSB). Deputado de primeiro mandato, Alexandre Padilha é filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 1988. Formado em Medicina, o petista atuou como membro da coordenação nacional das campanhas à Presidência de Lula em 1989 e em 1994.
Em 2009, foi escalado por Lula como ministro da Secretaria de Relações Institucionais. Em 2011, no primeiro ano do governo Dilma Rousseff, passou a comandar o Ministério da Saúde, onde permaneceu até meados de 2014.
Naquele ano, disputou o governo de São Paulo, mas acabou ficando em terceiro lugar com cerca de 18% dos votos. Padilha foi derrotado por Alckmin, que se reelegeu governador ainda no primeiro turno da disputa.
Gleisi Hoffmann é a porta-voz oficial da campanha de Lula
Presidente nacional do PT, a deputada Gleisi Hoffmann, é a porta-voz oficial da campanha de Lula. Durante as reuniões do núcleo de campanha, a petista costuma falar pelo partido e apresentar os resultados dos encontros.
A posição de destaque de Gleisi é tida como estratégica pelo PT para dar maior visibilidade para as mulheres na política. Durante o debate da TV Band, por exemplo, ela foi escolhida como uma das seis pessoas que acompanharam Lula dentro dos estúdios da emissora.
Ela foi responsável por sinalizar que a campanha estava revendo a participação de Lula nos demais debates, após o encontro da Band. "Vamos avaliar convite a convite, e também os convites para entrevistas. Não há problema nenhum em participar. Obviamente que a gente quer discutir um pouco o formato; o formato desse debate é muito ruim, muito engessado", disse Gleisi.
André Janones é um dos nomes da campanha nas redes sociais
Depois de abrir mão da candidatura presidencial para apoiar Lula, o deputado federal André Janones (Avante-MG) virou um dos principais nomes dentro da campanha petista. A avaliação interna é de que Janones ganhou mais influência depois que conseguiu ampliar o engajamento das redes sociais de Lula.
“Ele [Janones] é uma pessoa muito intuitiva, um menino muito ágil, muito esperto”, afirmou Lula durante entrevista à rádio Super, de Minas Gerais. O deputado foi responsável, por exemplo, pela escala do tom contra os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas redes.
O engajamento de Janones tem sido comemorado por alguns membros do partido de Lula. Recentemente, o deputado conseguiu que 20 milhões de pessoas assistissem a um vídeo em que ele "denunciava" que Bolsonaro irá acabar com o auxílio emergencial de R$ 600 em dezembro. Como a Gazeta do Povo mostrou, a campanha de Lula tenta emplacar a narrativa de que o reajuste no Auxílio Brasil promovido por Bolsonaro foi eleitoreiro – Bolsonaro garante que vai manter o valor de R$ 600 em 2023, embora esse compromisso não conste no projeto de lei orçamentária enviado ao Congresso.
Aliados de Lula acreditam que a atuação de Janones nas redes é responsável pelo desempenho de Bolsonaro entre os eleitores que recebem o Auxílio Brasil. Pesquisa da Quaest divulgada no último dia 31, mostrou que entre os beneficiários do programa social, 54% afirmam votar em Lula, enquanto Bolsonaro apareceu com 25%.
Os embates de Janones, no entanto, lhe renderam uma acusação de racismo depois que ele chamou Sérgio Camargo, ex-presidente da Fundação Palmares durante o governo Bolsonaro, de "capitão do mato". Camargo é negro. No Brasil, o termo "capitão do mato" é usado para se referir a homens livres e pobres que perseguiam escravos fugitivos em troca de dinheiro de fazendas ou feitorias. Alguns negros também exerciam a função.
Janones fez a declaração durante uma confusão na sala onde ficaram os convidados dos presidenciáveis que participaram do debate da Band. Em sua defesa, ele afirmou que não irá contestar uma possível ação que Camargo, que é candidato a deputado federal por São Paulo pelo PL, possa protocolar na Justiça por causa de sua declaração.
"Quero dizer em primeira mão, já adiantando os meus próximos passos, que caso ele de fato ingresse com uma ação contra mim, essa ação não será contestada. Então, eu espero ser punido pelo meu erro e que isso possa fortalecer a luta contra o racismo estrutural, que infelizmente ocorre no nosso país", declarou no programa Direto da Redação, da revista Carta Capital, no YouTube.
Janja é um dos nomes presentes na cúpula da campanha de Lula
Outra peça-chave no comitê de campanha de Lula é a mulher do ex-presidente, a socióloga Rosangela Silva. Conhecida como Janja, ela não tem cargo na Executiva do PT, mas tem opinado diretamente na construção das agendas de Lula e questionado pontos como peças publicitárias e até no esquema de segurança. Recentemente, por exemplo, Janja teria apontado incômodo com a exposição do candidato petista durante as seções de fotos com os militantes nos comícios.
A participação dela, no entanto, tem gerado controvérsias entre parte dos articuladores da campanha de Lula. Eles identificaram que a imagem de Janja tem sido usada para desgastar o ex-presidente com evangélicos – e uma maior exposição dela poderia intensificar isso. A mulher de Lula tem sido associada à umbanda e ao candomblé.
Contudo, líderes do partido admitem reservadamente que o ex-presidente costuma incentivar a participação de Janja e a expectativa é de que ela receba mais destaque no decorrer da campanha. De acordo com aliados de Lula, partiu dela a proposta de que as mulheres voltem a se tornar a referência para o pagamento do Bolsa Família em um eventual governo Lula. Ou seja, as mães de família seriam as titulares para o recebimento do benefício.
Metodologia de pesquisa citada na reportagem
A pesquisa Quaest, encomendada pelo banco Genial, 2 mil eleitores presencialmente entre os dias 25 e 28 de agosto de 2022 em todas as regiões do país. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral sob o protocolo BR-00585/2022.
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