Os dois principais candidatos ao Palácio do Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), já sinalizam que podem não participar de debates no primeiro turno da disputa presidencial. Até o momento, ao menos dez encontros dos presidenciáveis, promovidos por veículos de comunicação para a discussão de propostas, já estão agendados até as vésperas das eleições.
Candidato à reeleição, Bolsonaro chegou a sinalizar que iria aos debates. Mas, nesta passada, recuou sob a alegação de que seria exposto a toda "sorte de críticas". "No primeiro turno, a gente pensa [se participa ou não]. Por que? Se eu for, os dez candidatos ali vão querer a todo o tempo dar pancada em mim e eu não vou ter tempo de responder a eles. Um vai fazer pergunta para o outro e vão dar pancada em mim", disse Bolsonaro em entrevista à rádio Massa FM.
Na eleição passada, o então candidato Bolsonaro participou apenas de dois debates na TV, o da Rede TV! e o da Band. No entanto, cancelou os demais encontros depois que sofreu um atentado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, em Minas Gerais. Agora, Bolsonaro indica que pretende participar apenas dos debates do segundo turno. "No segundo turno eu vou participar. Se eu for para o segundo turno, devo ir né, vou participar", disse o pré-candidato à reeleição.
Integrantes do núcleo de campanha de Bolsonaro divergem sobre a presença de Bolsonaro nos debates. Aliados mais próximos de Bolsonaro admitem que sua participação depende da presença de Lula, pois o embate direto entre ambos poderia expor o petista e movimentar a rede bolsonarista na internet. No entanto, outra ala defende que a participação de Bolsonaro poderia apenas servir para desgastar o governo, principalmente nas questões econômicas.
"Eu sou favorável que o presidente Bolsonaro participe dos debates. Mas acho que isso só deve ocorrer se o ex-presidente Lula também confirmar presença", disse o ministro da Casa-Civil e integrante do núcleo de campanha, Ciro Nogueira.
Até o momento, a campanha de Bolsonaro não enviou representantes para discutir as regras com os representantes das principais emissoras, como CNN Brasil, SBT, Record TV e Band. Nesses encontros prévios, são discutidas regras como tempo de respostas, participações de jornalistas e até alternativas para os candidatos que não forem aos eventos.
Lula sugere realização de debates em rede pelas emissoras
Assim como Bolsonaro, o ex-presidente Lula tem demonstra restrição à participação em debates. Pelo menos na maioria deles. Lula sugeriu reduzir o número de debates para que possa participar e sugeriu apenas três, no máximo. De acordo com a campanha petista, Lula já recebeu convites para pelo menos 11 debates no primeiro turno.
Para os aliados de Lula, o curto prazo de campanha inviabiliza a participação do ex-presidente em todos os encontros. Por isso, a campanha do PT tem sugerido durante as reuniões com as emissoras, que sejam realizados três debates no primeiro turno, em forma de pool, quando diferentes emissoras usam a mesma rede para transmissão.
"Eu acho que tem que ter um pool de TVs para fazer dois ou três debates, porque não dá para atender cada TV, rádio, rede social. Se não, a gente se tranca no estúdio. Os debates são importantes para que a sociedade possa fazer a avaliação de que tipo de candidato ela deseja", publicou Lula recentemente nas redes sociais.
A proposta de Lula sobre três debates levantou a possibilidade de que ele possa não comparecer a parte desses encontros de discussão eleitoral. Em 2006, quando buscava a reeleição, Lula não compareceu a debates no primeiro turno, mas participou dos que aconteceram no segundo turno, contra Geraldo Alckmin (então no PSDB e hoje no PSB e candidato a vice de Lula).
Mas, além de Lula, declarações de outros aliados do petista deixaram no ar a possibilidade de que Lula não participe de nenhum debate no primeiro turno, especialmente se Bolsonaro realmente decida não comparecer.
Para o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), integrante do núcleo de campanha de Lula, é preciso avaliar os convites para que a "ausência de Bolsonaro não vire uma cilada para Lula". "Bolsonaro e Lula reúnem juntos quase 70% dos votos válidos da eleição. A candidatura de Lula é a grande antagonista da de Bolsonaro. No meu entender, a ausência de Bolsonaro torna o debate incompleto, pois os demais candidatos vão se voltar contra o principal líder da oposição. Essa é uma situação que temos que confrontar. Para mim, o debate fica comprometido [se o Bolsonaro não for]", disse Randolfe em entrevista ao UOL.
Demais candidatos criticam possível ausência de Bolsonaro e Lula nos debates
Na contramão de Bolsonaro e Lula, outros pré-candidatos como Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e André Janones (Avante) já adiantaram que pretendem participar de todos os debates já confirmados até o momento.
Ciro Gomes classificou como "covardia" a possibilidade de ausência dos adversários. "Será, Lula, que você vai mostrar ao Brasil que é igualzinho ao Bolsonaro? Por favor, não traia a democracia, não traia os valores que você tanto defendeu quando queria. Quando você [Lula] estava na cadeia em 2018, você entrou na Justiça para a Justiça lhe permitir, da cadeia, participar do debate, e agora que você está livre […] você não vai?", disparou Ciro Gomes. Em 2018, Lula estava preso, mas o PT o lançou como candidato a presidente. Mas a candidatura dele foi barrada pela Justiça Eleitoral devido à condenação criminal dele.
Recentemente, a Frente Nacional de Prefeitos divulgou uma nota informando que suspendeu a sabatina que faria com os pré-candidatos porque Lula e Bolsonaro não confirmaram presença. Na mesma semana, o jornal Correio Braziliense realizou outro evento apenas com os demais pré-candidatos.
Para Pablo Monteiro, cientista político e estrategista eleitoral pela Universidade de Brasília (UnB), o debate é o momento que o eleitor consegue ver o confronto direto de ideias. Contudo, avalia que, do ponto de vista estratégico da campanha, é natural que os principais candidatos façam uma reavaliação de suas participações.
"Quem está tentando se reeleger ou quem tem uma vantagem na corrida costuma ponderar essa participação nos debates", diz Monteiro. Para ele, numa disputa tão polarizada em que Lula e Bolsonaro, é natural que, do ponto de vista estratégico, eles não queiram se expor diante dos demais adversários.
Na mesma linha, Pedro Coelho, consultor e cientista político pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), acredita que a ausência enfraquece o debate de ideias, mas que os debates não devem ter o peso decisório no voto do eleitor. "Com a ausência dos principais candidatos, o eleitor fica sem a possibilidade de ver como eles se portam diante do seu contraditório. Mas, neste momento, acredito que o impacto do debate na decisão do eleitor será muito menor, principalmente por conta do advento da internet", explica Coelho.
Ainda de acordo com Coelho, o público pode não ter o mesmo interesse em acompanhar diversos debates. "Se fosse em um cenário que não tivéssemos em uma polarização tão clara, o eleitor poderia se interessar pelo debate justamente para conhecer as ideias dos demais candidatos e até ponderar o seu voto. Mas, no cenário atual e sem Lula e sem Bolsonaro, acredito que o eleitor não terá a mesma disposição de ficar duas horas na frente da TV ouvindo candidatos que não estão tão competitivos", completa.
Veja abaixo as datas dos debates já confirmados para o primeiro turno
- 06 de agosto: CNN Brasil
- 9 de agosto – Jovem Pan
- 14 de agosto – TV Band
- 2 de setembro – Rede TV
- 8 de setembro – O Globo, Valor e CBN
- 13 de setembro – TV Aparecida
- 22 de setembro – Folha de S.Paulo e UOL
- 24 de setembro – SBT, O Estado de S. Paulo, Veja e Rádio Nova Brasil FM
- 25 de setembro - TV Cultura
- 29 de setembro – TV Globo
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