O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem conquistado intenções de voto entre eleitores que não são de esquerda – e inclusive já conta com adesões no eleitorado que se declara de direita e centro-direita. Mas o presidente Jair Bolsonaro (PL) não vem conseguindo furar sua própria "bolha ideológica" – no caso, de direita – com a mesma eficiência que seu principal adversário na corrida eleitoral. Bolsonaro, por exemplo, não tem intenções de voto entre os eleitores de esquerda e centro-esquerda. É o que mostra a pesquisa Ipespe divulgada na semana passada.
Lula teve 44% de intenções de voto na pesquisa Ipespe, o que o coloca na liderança da disputa pelo Planalto. Os dados estratificados do levantamento mostram ainda que a maior parte apoio ao ex-presidente (45%) se dá entre os eleitores que dizem ser de esquerda. Já os eleitores de centro-esquerda representam 9% Mas a segunda parcela mais importante das intenções de voto do petista (30%) está entre aqueles que não se identificam com nenhum campo ideológico. Os eleitores de direita representam 8% do eleitorado do ex-presidente, e os de centro-direita são 1% . Já os de centro são 6%.
Com 32% das intenções de voto, segundo o Ipespe, o presidente Bolsonaro aparece em segundo lugar na corrida presidencial. De acordo com o levantamento, 66% dos eleitores do presidente dizem ser de direita e 8%, de centro-direita. Outros 20% não souberam responder. E 6% afirmam ser de centro. Bolsonaro não pontuou entre os eleitores de esquerda e centro-esquerda.
A pesquisa Ipespe também mensurou qual é o peso de cada campo ideológico no conjunto do eleitorado brasileiro. Os eleitores que se autodeclaram de direita representam 30% do eleitorado. De acordo com o levantamento, outros 29% não souberam responder, enquanto os que se declaram eleitores de esquerda representam 21%. Já os eleitores de centro-esquerda e de centro são 8%, cada. Os que se declaram de centro-direita somaram 5% dos entrevistados.
Na busca por eleitores fora da esquerda, PT aposta em Alckmin
Para o cientista político Antonio Lavareda, presidente do conselho científico do Ipespe, a pesquisa "parece corroborar" com o movimento de Lula de sair do espectro ideológico estritamente de esquerda em sua pré-campanha. Ele avalia que Bolsonaro deveria fazer o mesmo para crescer nas pesquisas, mas no sentido oposto, de sair do campo da direita.
"É provável que Lula tenha feito um esforço nessa direção. A principal sinalização de Lula, vista até o momento, foi o esforço de colocar o Geraldo Alckmin [PSB] na sua vice, por exemplo", afirma. No levantamento Ipespe, Lula apareceu na liderança com 44% das intenções de voto.
Dentro do PT, a avaliação é de que, a partir de agora, Geraldo Alckmin (PSB) precisa ampliar os acenos para além da esquerda. Até então, o ex-governador paulista vinha adotando um tom conciliatório para amenizar as resistências ao seu nome dentro das bases de esquerda.
De acordo com líderes petistas, os primeiros movimentos de Alckmin foram dados durante seu discurso no lançamento da pré-candidatura petista. Na fala, o ex-governador fez saudações a movimentos religiosos e à sociedade civil organizada, insinuando uma abertura para o diálogo com setores mais avessos ao petismo.
Aliado de Lula e articulador da campanha petista, o presidente nacional do Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SP), também tem articulado para ampliar a base de Lula para além da esquerda. Na avaliação de Paulinho, a chapa do ex-presidente não pode estar ligada apenas ao eleitor de esquerda.
"Lula tem que ser a representação do povo brasileiro que quer tirar o Bolsonaro [da Presidência da República]. Eu venho fazendo esse papel. Estou tentando ampliar a aliança nos estados com personalidades da política de outros campos. Em Minas, por exemplo, tenho conversado com a turma do [governador] Romeu Zema [do Novo] e, na Bahia, com o ACM Neto [ex-prefeito de Salvador, do União Brasil]”, diz Paulinho da Força.
Para o deputado, o movimento com as lideranças de partidos como União Brasil, Novo e PSD pode ampliar os votos de Lula dentre eleitores de centro e centro-direita, por exemplo. "Precisamos juntar forças", completa o presidente do Solidariedade.
Bolsonaro é aconselhado a mudar discurso para atrair novos eleitores
Na avaliação de Antonio Lavareda, Bolsonaro precisa fazer o mesmo movimento de Lula no intuito de ampliar o espectro ideológico de quem pretende votar nele. "No momento, o eleitorado do Bolsonaro está muito concentrado no espectro de direita. Temos que esperar para ver se o presidente vai fazer algum movimento para atrair outro eleitorado. Ele precisa de uma força centrípeta para crescer fora da direita", explica o cientista político.
Para Lavareda, a limitação do crescimento de Bolsonaro pode impactar, principalmente, no desempenho do presidente em um eventual segundo turno contra Lula. Na pesquisa Ipespe, o petista salta de 44% no primeiro turno para 54% na simulação do segundo, enquanto Bolsonaro tem ganhos marginais e sai de 32% para 35%.
Lideranças de partidos como PL e PP, que integram o Centrão e o núcleo de campanha de Bolsonaro, buscam amenizar os acenos do presidente para sua base de direita. Na avaliação do grupo, as falas de Bolsonaro sobre as urnas eletrônicas, por exemplo, afastam os eleitores de outros campos ideológicos.
"Ao radicalizar na ação política, o presidente fideliza ainda mais o seu eleitorado cativo. Mas, neste momento, ele deveria tentar ampliar o eleitorado e diminuir a rejeição. É difícil, mas Bolsonaro precisa dialogar com o país e conquistar eleitores moderados", diz um integrante do Centrão que pediu para não ter o nome divulgado.
Na mesma linha, outro líder da base governista defende que o eleitor "moderado" que vai decidir a eleição deste ano. "O eleitor moderado, que não é de esquerda ou de direita, quer um discurso mais ameno. Esse eleitor, que chamamos de centro, é que vai decidir a eleição. Quando Bolsonaro toma decisões radicais, obviamente se afasta do eleitor do centro", afirma.
Aliado do presidente, o deputado Ubiratan Sanderson (PL-RS) afirma que Bolsonaro vem sendo orientado por nomes como o ministro Ciro Nogueira, da Casa Civil, para a evitar crises, principalmente com o Judiciário. "Ele foi orientado a tocar, a governar. Tem que ter paz na cabeça. Se não, não pode trabalhar para melhorar a economia", afirma.
Metodologia de pesquisa citada na reportagem
A pesquisa Ipespe foi realizada por telefone entre os dias 10 e 11 de maio de 2022, a pedido da XP Investimentos. A amostragem é de mil eleitores brasileiros, com margem de erro é de 3,2 pontos percentuais para mais ou para menos e nível de confiança é de 95,5%. O levantamento está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-02603/2022.
Por que a Gazeta do Povo divulga pesquisas eleitorais
A Gazeta do Povo publica há anos todas as pesquisas de intenção de voto realizadas pelos principais institutos de opinião pública do país. Você pode conferir os levantamentos mais recentes neste link, além de reportagens sobre o tema.
As pesquisas de intenção de voto fazem uma leitura de momento, com base em amostras representativas da população. Métodos de entrevistas, a composição e o número da amostra e até mesmo a forma como uma pergunta é feita são fatores que podem influenciar o resultado. Por isso é importante ficar atento às informações de metodologias, encontradas no fim das matérias da Gazeta do Povo sobre pesquisas eleitorais.
Feitas essas considerações, a Gazeta considera que as pesquisas eleitorais, longe de serem uma previsão do resultado das eleições, são uma ferramenta de informação à disposição do leitor, já que os resultados divulgados têm potencial de influenciar decisões de partidos, de lideranças políticas e até mesmo os humores do mercado financeiro.
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