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O presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou participação no debate do pool liderado por SBT e CNN, neste sábado (24), às 18h15. A estratégia desenhada junto aos coordenadores eleitorais é aproveitar a audiência televisiva para focar no antipetismo a fim de polarizar a discussão contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que não irá ao evento do SBT/CNN.
A ausência do candidato petista é até vista como positiva dentro da campanha. Interlocutores afirmam que será uma oportunidade para Bolsonaro subir o tom nas críticas sem que haja réplica do ex-presidente ou pedido de direito de resposta.
O objetivo dos estrategistas do candidato do PL é elevar a rejeição de Lula e evitar que o petista consiga atrair o voto útil nessa reta final de campanha. O planejamento traçado pelo presidente também aposta na absorção do voto útil. Para isso, cogita manter o discurso de comparar Lula e o PT a países governados por regimes de esquerda, inclusive ditatoriais.
A comparação visa induzir o eleitor a acreditar que, se Lula vencer as eleições, a economia sofrerá impactos ou haverá risco de atentar contra os direitos humanos no país. A estratégia mira majoritariamente o eleitor da classe média e foi realçada por Bolsonaro na última quinta-feira (22), em Manaus. "Não queremos que amanhã aconteça com o Brasil o que atualmente acontece com a Venezuela", discursou.
Outra aposta de Bolsonaro no debate é ressaltar os escândalos de corrupção nas gestões petistas. Esta é uma tônica já explorada pelo presidente, a despeito de não ter surtido muitos efeitos até o momento na busca por mais votos.
Pauta de costumes também é cogitada pela campanha de Bolsonaro
Parte dos estrategistas eleitorais do presidente também defende que ele fale sobre pautas de costumes, como ideologia de gênero e aborto, no debate do SBT/CNN. Para alguns coordenadores da campanha, seria uma resposta estratégica à mais recente propaganda de Lula. O candidato do PT subiu o tom contra o presidente ao relembrar falas dele em defesa da tortura e agressivas em relação às mulheres, bem como comentários negativos feitos durante a pandemia de Covid-19, além de suspeitas sobre sua família pela compra de imóveis.
Para estrategistas de Bolsonaro, a campanha de Lula também fez sua aposta pelo "medo" ao tentar desqualificar o presidente. Por esse motivo, uma parcela dos coordenadores defende que a pauta com maior potencial de absorção de votos é a de costumes e valores, não a sobre corrupção.
A lógica entre os entusiastas dessa estratégia é convencer o eleitor de que uma possível vitória de Lula implicaria em insegurança pública e fortalecimento do narcotráfico, legalização do aborto, regulamentação da imprensa e das mídias sociais e rediscussão da ideologia de gênero no Congresso.
A estratégia de relembrar os casos de corrupção de Lula não surtiu grande efeito sobre o eleitorado até agora, admitem alguns interlocutores da campanha após análises internas.
Por isso, a possibilidade de Bolsonaro falar sobre pauta de costumes e valores nos debates seria a sinalização de uma nova "etapa" do planejamento eleitoral nessa reta final de campanha. Embora ele tenha feito referências a essa agenda e parte de seu conteúdo seja usada nas redes sociais por aliados, ela ainda não ganhou destaque nas propagandas eleitorais na rede nacional de rádio e TV.
Campanha de Bolsonaro se divide sobre a participação em debates
A opção por participar do debate deste sábado no SBT, e possivelmente no da TV Globo na próxima quinta-feira (29), não foi uma decisão unânime dentro da campanha.
O sentimento entre alguns coordenadores eleitorais de Bolsonaro não mudou desde o primeiro debate, organizado pela TV Band, quando o presidente foi atacado por outros candidatos e acusado de ser agressivo com mulheres após reagir mal a uma pergunta da jornalista Vera Magalhães. Uma parcela defende que o ideal é ele não comparecer a outros debates por entender que é muito esforço e energia gasta para oferecer palanque a presidenciáveis sem grande expressividade.
A confirmação de que Lula não irá ao debate do SBT/CNN deu ainda mais argumentos para a ala da campanha que defendia que ele não participasse. Bolsonaro ouviu os conselhos, mas decidiu ir assim mesmo. Um dos motivos ditos por ele é o compromisso junto aos eleitores e a audiência potencial que o programa pode atingir com a sua participação.
O argumento em torno da audiência é semelhante ao da ala da campanha que defende a participação de Bolsonaro no deste sábado e no debate da Globo. Para esse grupo, é preciso valorizar o alcance midiático e os ganhos potenciais de votos que o presidente pode absorver dentro da estratégia de enfrentamento com Lula, estando o ex-presidente presente ou não.
Um dos coordenadores que partilha da visão de que Bolsonaro deve ir sim aos debates é o ministro das Comunicações, Fábio Faria. "É uma oportunidade para ele falar fora da bolha, para pessoas que muitas vezes só veem notícias negativas", afirmou na quarta-feira (21) ao Spaces da Folha de S. Paulo no Twitter, espécie de programa de rádio veiculado na rede social.
O que mais Bolsonaro vai falar no debate do SBT
Embora a estratégia base seja polarizar os debates, Bolsonaro também irá preparado para falar sobre economia, questões sociais e ações adotadas para as mulheres em seu governo. Todos os estrategistas da campanha entendem que ele também precisa ser propositivo, principalmente em temas voltados para políticas públicas.
A ideia é seguir um roteiro elaborado por estrategistas que valorize o antipetismo paralelamente às falas que enalteçam o legado do governo sobre a economia, como a desaceleração da inflação, a geração de empregos e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). O mesmo já foi adotado nas propagandas eleitorais.
Destaques aos feitos do governo durante a pandemia, como o auxílio emergencial, e ações sociais como o Auxílio Brasil devem estar presentes no discurso. A conclusão das obras do Rio São Francisco no Nordeste também deve ter algum destaque. Segundo interlocutores, o objetivo no campo propositivo é apresentar um discurso alinhado ao que foi feito por Bolsonaro na abertura dos debates gerais da 77ª Assembleia Geral da ONU.
Isso inclui falas sobre as mulheres. A campanha de Bolsonaro acredita que adversários políticos possam provocá-lo sobre o tema, ou mesmo jornalistas possam fazer perguntas a respeito. Por isso, ele foi aconselhado a falar sobre a redução do feminicídio e leis sancionadas que atendem as mulheres.
O deputado federal Bibo Nunes (PL-RS), vice-líder do partido na Câmara, concorda com as estratégias traçadas pela campanha, inclusive com a ida aos debates. Para ele, o presidente sairá bem sucedido se "falar verdades", seja no campo propositivo ou dentro da estratégia de polarização.
"Por mim, Bolsonaro deveria pegar pesado no debate falando a verdade, que o Brasil pode virar uma Venezuela, assim como a Argentina. É preciso desmascarar a esquerda que diz que Lula é inocente e mostrar que a economia está excelente, apesar da guerra e pandemia. Se fosse o PT já estava quebrado", diz. Sobre as mulheres, Bibo também acha que é prudente ter cautela. "Ele pode se conter um pouco. Não faz nada de mal, porque ninguém é perfeito", acrescenta.
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