A entrevista ao vivo de Jair Bolsonaro (PL) no podcast Flow atingiu pico de 574 mil acessos simultâneos na segunda-feira (8) e a marca de quase 13 milhões de visualizações até a tarde desta sexta-feira (10). Os bons números ainda ecoam no comitê da campanha presidencial e já são considerados um marco na estratégia traçada para converter votos entre os jovens de 16 a 24 anos. Esse eleitorado corresponde a cerca de 21,5 milhões de indivíduos, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Ao longo das cinco horas de entrevista ao Flow, Bolsonaro fez acenos ao eleitorado jovem, principal público do programa. Como, por exemplo, quando saudou os fãs de jogos de videogame e lembrou que reduziu o imposto de importação para consoles, acessórios e jogos.
A campanha de Bolsonaro ficou tão satisfeita com a repercussão da entrevista que já programa mais participações em outros podcasts. A ideia é levá-lo a essas mídias em reconhecimento à capilaridade que os programas têm junto ao público jovem. Neste sábado (13), por exemplo, o presidente falará no podcast Cara a Tapa, da jornalista Rica Perrone.
Alinhado ao trabalho feito nas redes sociais junto aos jovens, algo que remonta à campanha vitoriosa de 2018, o núcleo político de Bolsonaro espera que as entrevistas ampliem a base eleitoral dele nesse segmento.
Dados divulgados pela pesquisa Genial/Quaest de agosto animaram os coordenadores da campanha. O levantamento apontou que a resistência dos jovens a Bolsonaro aparentemente vem diminuindo. Entre o público de 16 a 24 anos, a intenção de votos nele subiu de 25%, em julho, para 31% agora. Já a taxa de votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesse grupo etário caiu de 53% para 44%.
O cientista político Jonatas Varella, diretor de processamento de dados da Quaest, entende como natural o otimismo da campanha diante da redução de uma margem de 28 pontos para 13 pontos de diferença entre Lula e Bolsonaro. “Comparar as diferenças indica um sinal positivo para Bolsonaro e um alerta vermelho para a campanha do Lula nesse grupo etário”, analisa.
Varella sugere que a reação favorável a Bolsonaro pode estar relacionada à comunicação direta com os jovens. “Há algum tempo, ele tem buscado se comunicar com esse público, tanto em seu Twitter, usando uma linguagem própria da rede social, como em suas outras mídias e em entrevistas. No podcast Flow, por exemplo, ele usou um linguajar muito mais solto e descontraído. A campanha claramente se direcionou para esse público e isso tem surtido efeito”, comenta.
O diretor da Quaest não descarta a hipótese de as curvas de alta de Bolsonaro e de queda de Lula entre os jovens serem uma tendência, mas defende que é preciso aguardar os próximos resultados. “Se na nossa próxima pesquisa apresentar nova alta, aí poderemos dizer que há, sim, uma tendência de crescimento [da intenção de votos de Bolsonaro entre os jovens]”, pondera.
Além dos games, o que mais Bolsonaro tem para dizer aos jovens
O aceno aos gamers é parte da estratégia traçada pela campanha para Bolsonaro dialogar com o eleitorado entre 16 e 24 anos, mas a pauta sobre videogames não é a única. Os estrategistas da reeleição também apostam em outras agendas, como o desconto de até 99% na renegociação de dívidas do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies).
O desconto na dívida estudantil foi sancionado por Bolsonaro em junho e prevê que estudantes inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) recebam o perdão máximo do valor devido. A proposta foi apresentada pelo governo federal como medida provisória (MP) em dezembro e aprovada pelo Congresso em maio.
Outra pauta que será destacada por Bolsonaro aos jovens é a geração de emprego e renda. A campanha tem comemorado os sucessivos dados positivos sobre a criação de postos formais no mercado de trabalho, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Previdência.
Em junho, o saldo líquido entre trabalhadores admitidos e demitidos dos grupos de até 17 anos e o de 18 a 24 anos aponta para uma criação de cerca de 158,8 mil postos de trabalho. No acumulado deste ano, são 835,3 mil empregos gerados na soma dos dois grupos etários. O dado do primeiro semestre é ligeiramente inferior ao obtido no ano passado, de quase 886,2 mil vagas criadas.
Desde janeiro de 2020, o saldo acumulado entre os dois grupos é de abertura líquida de 1,7 milhão de empregos. Para a campanha de Bolsonaro, os dados positivos de emprego captados pelo Caged sugerem, ainda, uma desaceleração das taxas de desocupação entre os grupos mais jovens captadas pelo indicador trimestral da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No segundo trimestre deste ano, a taxa de desocupação registrada entre pessoas de 14 a 17 anos foi de 33,3%, a mais baixa desde o quarto trimestre de 2015, quando ficou em 29%. Entre os jovens de 18 a 24 anos, o índice foi de 19,3%, sendo também o mais baixo desde o quarto trimestre de 2015 (18,9%).
Jonatas Varella, diretor da Quaest, diz que a reação dos indicadores de emprego sugere uma resposta positiva dos jovens às ações do governo Bolsonaro sobre a economia.
“A primeira coisa é, de fato, a melhora da economia. O desemprego dos jovens caiu, houve a redução do preço da gasolina, que impacta principalmente os jovens da classe média e, de certa forma, o Auxílio Brasil impacta a economia como um todo”, diz.
A campanha de Bolsonaro planeja trabalhar esses dados de emprego nas entrevistas do presidente a podcasts ou mesmo nas propagandas eleitorais dentro de uma estratégia mais ampla sobre os esforços bem sucedidos do governo para a economia, apesar dos alertas feitos por economistas sobre os riscos de um crescimento econômico pautado no aumento dos gastos públicos.
O que diz o plano de governo de Bolsonaro para os jovens
Caso se reeleja, o presidente Jair Bolsonaro promete avançar em uma agenda de empregabilidade de jovens e mulheres, públicos que a campanha reconhece que ainda sofrem com taxas de desemprego mais altas que a média da população.
O plano de governo fala em manter investimentos na agenda de empreendedorismo e microcrédito para ambos os públicos, sobretudo os mais vulneráveis. Também se compromete a fortalecer as estratégias e programas voltados à atração de jovens em situação de risco social e educacional para processos de educação formal e de qualificação para o trabalho.
O programa de governo de Bolsonaro também fala em acrescentar a implementação de políticas públicas voltadas para a inserção do jovem e da mulher no mercado de trabalho de forma "justa e assertiva", até mesmo por meio do trabalho híbrido ou home office.
Na área de educação, o plano de reeleição defende uma política pública voltada para a formação em todas as faixas etárias, inclusive a educação especial e a educação de jovens e adultos, bem como o ensino técnico profissionalizante e o ensino superior. A meta é promover isso com uma base em tecnologia que permita aos estudantes entenderem e aplicarem assuntos como inteligência artificial, programação, internet das coisas, e segurança cibernética e da informação.
Em um segundo mandato, Bolsonaro se compromete a estabelecer estratégias que alinhem o que se ensina nas escolas e universidades às demandas do mercado, de modo a "garantir que o jovem que se esforça durante anos de estudo tenha alta probabilidade de ser empregado na medida em que há essa sinergia entre mercado e ensino".
O plano de governo também assume o compromisso de incrementar ações que forneçam os fundamentos de disciplinas como matemática, português, história, geografia e ciências de uma forma geral a fim de permitir que os alunos "possam exercer um pensamento crítico sem conotações ideológicas que apenas distorcem a percepção de mundo, em particular aos jovens, e geram decepções no cidadão que busca se colocar no mercado após concluir sua formação".
Influenciadores de direita ajudam a convencer o eleitor jovem
O comitê eleitoral de Bolsonaro aposta no apoio de influenciadores digitais jovens para atrair e converter votos entre eleitores de 16 a 24 anos. "Pelo fato de trabalharmos duro nas redes sociais e na comunicação do nosso ativismo, acabamos influenciando muito o público jovem para a direita. Esse trabalho é importantíssimo para a reeleição do presidente e vem sendo muito bem executado", diz Carmelo Neto, de 20 anos, que é vereador pelo PL em Fortaleza (CE).
Ele acredita que a participação de Bolsonaro no podcast Flow foi importante para a estratégia da campanha. "O presidente conseguiu atrair e manter a atenção de milhares de estudantes, gamers, otakus e fãs jovens do Flow apenas dizendo o que pensa ao vivo, por mais de 5h", diz.
"Atrair esse público é um trabalho difícil, mas fica mais fácil com o jeito engraçado dele, que é sempre muito direto e objetivo. Isso atrai a atenção do jovem, que não se sente mais representado por falas artificiais e genéricas, justamente por ser diferente da maioria dos políticos que se apresentam como opção", afirma.
O humorista e youtuber Robson Calabianqui, conhecido como "Fuinhar", de 25 anos, cita a criação do Pix e a implementação da tecnologia 5G como outras ações do governo Bolsonaro reconhecidas entre os jovens.
"Ele fez ações que apostam muito na tecnologia e beneficiam a todos, incluindo os jovens. Sabemos que isso tem uma influência muito grande. O Pix, por exemplo, o jovem utiliza diariamente, ele não precisa mais usar o cartão de crédito ou débito, pois, muitas vezes, faz a transferência sem taxa alguma do banco", avalia.
Carmelo cita também a não taxação de compras em sites chineses. "Todas essas ações, sem dúvida nenhuma, afetam diretamente o público de pessoas entre 16 e 24 anos", diz.
Para a ativista política Amanda Teixeira Dias, 26 anos, o jovem reconhece que a agenda econômica do governo propiciou outras medidas tecnológicas e inovadoras que oportunizaram a geração de empregos. "A agenda liberal do ministro Paulo Guedes e o perdão de dívidas do Fies, após o PT ter destruído a educação brasileira, são grandes legados do governo".
Recordar malfeitos do PT e de Lula também faz parte da estratégia
Coordenadores eleitorais também apostam que podem convencer eleitores entre 16 a 24 anos a votar em Bolsonaro por meio da menção a escândalos de corrupção nas gestões dos ex-presidentes Lula e Dilma Housseff. A campanha já adota comparações das gestões petistas com o governo Bolsonaro como estratégia para impulsionar a candidatura à reeleição. Mas eles pretendem reforçar essa diferença relembrando escândalos da era petista, como o mensalão e o petrolão.
Essa estratégia tem alcance em todas a faixas etárias, mas é importante entre os mais jovens sobretudo porque, a depender da idade e do interesse em política e no noticiário, eles pouco devem ter acompanhado esses escândalos, que tiveram forte repercussão na economia.
Metodologia das pesquisas citadas
Genial/Quest de agosto
A pesquisa foi realizada pelo instituto Quaest e contratada pelo Banco Genial. Foram ouvidos 2.000 eleitores presencialmente entre os dias 28 de julho e 31 de julho de 2022 em todas as regiões do país. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-02546/2022.
Genial/Quest de julho
A pesquisa foi realizada pelo instituto Quaest e contratada pelo Banco Genial. Foram ouvidos 2.000 eleitores entre os dias 29 de junho e 2 de julho de 2022 em todas as regiões do país. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. O levantamento foi registrado no TSE sob o protocolo BR-01763/2022.
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