Preocupados com a governabilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em caso de vitória nas urnas, a cúpula do PT está empenhada em ampliar o número de deputados aliados na Câmara Federal. Para isso, trabalha em duas frentes: o lançamento do maior número possível de candidatos nas eleições de outubro, alguns deles velhos conhecidos dos petistas, e a negociação para formação de uma federação partidárias com outras siglas de esquerda. O ex-presidente deve oficializar a pré-candidatura ao Palácio do Planalto até o fim de fevereiro.
Nos próximos dias, o partido vai promover um encontro entre a atual bancada do PT, que tem 53 deputados e é a segunda maior da Câmara, com membros de movimentos petistas. O objetivo é engajar os atuais parlamentares com possíveis candidatos do partido que, a partir de 2023, poderão reforçar a bancada.
“Devemos criar núcleos setoriais dentro da Câmara, que irão atuar junto com os núcleos do PT durante esses três meses. É importante que tenhamos unidade e aproximação para subsidiar e integrar conhecimentos entre os núcleos e a bancada", explica o líder do PT na Câmara, deputado Reginaldo Lopes (MG).
Lopes afirma que o partido de Lula trabalha para repetir o que ocorreu nas eleições legislativas de Portugal, no último domingo (30). “Nossa bancada tem a responsabilidade de contribuir com esse grande movimento pela candidatura do presidente Lula e de trabalhar para obter um resultado legislativo parecido com o que teve o Partido Socialista de Portugal”, diz, citando que a esquerda conquistou maioria do Parlamento.
Em São Paulo, por exemplo, o partido espera dobrar o número de deputados federais eleitos pelo estado. Atualmente, são apenas oito. "O PT vem estimulando o debate em todos os estados. Em São Paulo, estamos montando nossa chapa buscando nos fortalecer, do ponto de vista do potencial eleitoral, abrindo espaço para todos os segmentos que tenham lideranças fortes e queiram exercitar essa experiência eleitoral", afirmou Luiz Marinho, presidente do diretório do PT paulista.
Lula incentiva lideranças a entrarem na disputa pelo Congresso
Nos bastidores, integrantes do PT admitem que a estratégia é uma forma de Lula diminuir a dependência dos partidos do Centrão e ampliar sua governabilidade com o Congresso. Em 2002, quando Lula se elegeu pela primeira vez, a sigla petista elegeu 91 deputados e com isso tinha a maior bancada da Câmara.
Com essa mobilização, líderes petistas acreditam que a legenda vai voltar a se fortalecer, após o antipetismo que marcou, principalmente, a eleição de 2018. Entre os nomes que devem voltar ao cenário político está o ex-governador de Minas Gerais Fernando Pimentel, que na disputa da reeleição em 2018 foi derrotado ainda no primeiro turno. Agora, Pimentel deve concorrer a uma cadeira na Câmara.
Além do PT, Lula tem incentivado lideranças de outros partidos de esquerda a entrarem na disputa pelo Congresso. Em São Paulo, por exemplo, ele trabalha para que Guilherme Boulos (PSol) saia como candidato a deputado federal. Nos cálculos, os aliados acreditam que Boulos pode repetir o desempenho eleitoral que teve na disputa municipal de 2020, onde ele chegou ao segundo turno da disputa, mas acabou derrotado por Bruno Covas (PSDB).
Federação também é aposta para ampliar bancada
Paralelamente, o PT discute com outros partidos, como PSB, PCdoB e PV, a criação de uma federação de esquerda. “A federação vai ser um exercício de unidade política. Ela não pode servir para diminuir o peso político de uma legenda partidária. O PT é o que é pela sua história, pela sua construção, pela sua militância. Não quero que nenhum partido seja diminuído, mas também não dá para permitir que o PT seja diminuído para fazer a composição. O PT não quer hegemonismo”, disse a presidente petista, deputada Gleisi Hoffmann (PR).
Com a federação, além de livrar partidos menores da cláusula de barreira, o PT acredita que poderá reforçar a eleição de deputados aliados. Nos cálculos, integrantes destas siglas acreditam que irão eleger cerca de 120 parlamentares.
Para tentar um acordo, os partidos envolvidos nessas discussões criaram uma assembleia para criação de um mecanismo para que as decisões do partido maior não se sobreponham aos demais. Os petistas deverão ficar com 27 dos 50 lugares que a assembleia deverá ter. O PSB ocupará 15 postos e as outras duas siglas, quatro cada uma.
Ou seja, as decisões futuras sobre votações e construção de chapas municipais em 2024, por exemplo, deverão ser tomadas por dois terços dos partidos federados. A federação obriga que os partidos sigam unidos como bloco por pelo menos quatro anos.
"Todos os partidos da federação devem exercer o seu protagonismo, da maneira que puder. O que combinamos é um equilíbrio em decisões para que não seja desfavorável aos menores”, afirmou Carlos Siqueira, presidente do PSB.
PT e Lula buscam apoio do centro por meio do PSD de Gilberto Kassab
Apesar do esforço para eleger uma bancada de esquerda, líderes petistas sinalizam que Lula pretende atrair o centro para o seu governo. Além da possível composição com o ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido), o ex-presidente ainda tentar atrair o PSD de Gilberto Kassab.
Kassab já sinalizou que o seu partido terá candidatura própria ao Palácio do Planalto e trabalha o nome do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). No entanto, integrantes do partido já admitem que o senador não deve oficializar sua candidatura diante do baixo desempenho nas pesquisas. De acordo com o último levantamento Ipespe, Pacheco aparece com apenas 1% das intenções de voto.
Com isso, líderes petistas acreditam que podem atrair o PSD para a coligação de Lula, o que ampliaria os acenos do petista ao centro. Enquanto Kassab espera um retorno de Pacheco, Lula tem se reunido com lideranças do PSD, como o governador de Alagoas, Belivado Chagas. No encontro, o ex-presidente e Chagas discutiram um acordo sobre quem encabeçará a chapa para a disputa estdual: se o deputado Fábio Mitidieri (PSD) ou o senador Rogério Carvalho (PT).
Publicamente, Lula tem declarado que respeita a intenção do PSD de lançar um candidato ao Planalto. "O Kassab tem sido muito digno e muito honesto nas conversas que tem tido conosco", disse Lula em novembro do ano passado, após encontro com Kassab.
De acordo com o deputado José Guimarães, vice-líder do PT na Câmara, Lula está sinalizando que está "além do PT". Ele [Lula] precisa, na minha percepção, liderar uma coalizão política nacional centrada num programa de reconstrução. Esse programa é o balizador das alianças que vamos fazer. Vamos escolher dentre dos aliados outras forças que podem ajudar nessa imensa tarefa. Tem questões que vão para além dos interesses partidário de uma ou outra legenda. O Lula está fazendo a coisa certa, ouvindo todos, nos ouvindo e sinalizando que ele está para além do PT", disse.
Metodologia da pesquisa citada na reportagem
A pesquisa do instituto Ipespe, encomendada pela XP Investimentos, foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-06408/2022. Foram entrevistados 1 mil eleitores entre os dias 24 e 25 de janeiro. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais para mais ou para menos. O índice de confiança é de 95,5%.
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