Ex-ministro Henrique Meirelles se reuniu nesta semana com Lula em ato com ex-presidenciáveis| Foto: Ricardo Stuckert/PT
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Em meio ao ato político que reuniu dez ex-presidenciáveis em apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na última segunda-feira (19), uma presença chamou a atenção: a do ex-ministro Henrique Meirelles. Ele foi chefe do Banco Central durante o governo Lula, ministro da Fazenda no governo Michel Temer e disputou à Presidência da República pelo MDB em 2018. Até abril deste ano, era o secretário de Fazenda e Planejamento de São Paulo no governo João Doria (PSDB).

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Com essas credenciais, Meirelles chega como um dos principais reforços da campanha petista nessa reta final do primeiro turno, com potencial de reduzir resistências no mercado financeiro. Até o momento, a condução da economia por Lula é vista como uma incógnita por agentes financeiros. Sem entrar em detalhes sobre o que pretende fazer para manter o equilíbrio fiscal e fazer a economia crescer, o candidato petista tem apenas reforçado memórias de seu primeiro governo.

Se for eleito, Lula já sinalizou que pretende acabar com o teto de gastos, a principal âncora fiscal do país, e revisar trechos da reforma trabalhista. Ambas foram aprovadas pelo Congresso na gestão de Meirelles no Ministério da Fazenda, entre 2016 e 2017.

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Por isso, a aproximação de Lula com Meirelles foi comemorada por articuladores da campanha. Eles acreditam que a aliança deve amenizar críticas do mercado financeiro ao petista. De acordo com membros da articulação petista, um novo encontro entre o ex-presidente e o ex-ministro deve ocorrer antes do primeiro turno.

"O que interessa é renda, emprego, padrão de vida para a população, e mostrar quem faz, quem realiza. Essa história de falatório pode impressionar muita gente, mas eu acredito em fatos. Eu olho e vejo os resultados do governo Lula. Por isso, estou aqui, com tranquilidade e confiança, por que eu sei o que funciona e o que pode funcionar no Brasil", disse Meirelles, quando questionado sobre o apoio ao petista.

Meirelles ameniza o tom sobre promessas de revogação de Lula

Dentro da campanha do PT, a aproximação de Lula com Meirelles foi vista como uma nova forma de o petista se aproximar do mercado. Para diminuir as resistências ao ex-presidente, líderes da campanha passaram a afirmar que eventuais mudanças no teto de gastos e nas regras trabalhistas serão discutidas com todos os setores da sociedade.

Faltando cerca de dez dias para o primeiro turno, a expectativa é de que Meirelles passe a atuar publicamente na defesa de Lula. Nesta terça-feira (20), por exemplo, o economista esteve reunido com investidores da XP Investimentos em São Paulo. O evento foi acertado um dia depois de Meirelles assumir publicamente o apoio à eleição de Lula para presidente.

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Paralelamente, o ex-ministro tem moderado o tom das críticas que vinha fazendo sobre falas de Lula, como a da revogação do teto de gastos. Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, Meirelles disse que o ex-presidente petista já está falando as “coisas certas”, como a intenção de fazer as reformas administrativa e tributária, e que a responsabilidade fiscal vai prevalecer com ele na Presidência da República. “Coisas certíssimas. O que precisa é fazer a sintonia fina agora”, disse o ex-ministro.

No mês passado, em entrevista à revista IstoÉ, Meirelles chegou a classificar como "equivocadas" as sinalizações de Lula sobre acabar com o teto de gastos. "Quanto às críticas ao teto de gastos, espero que a realidade prevaleça novamente", disse, na ocasião.

Campanha quer explorar os bons números de Meirelles nos governos Lula 

Além da sinalização positiva ao mercado financeiro, a campanha de Lula pretende explorar os números obtidos por Henrique Meirelles durante sua passagem de oito anos pelo Banco Central. A avaliação da campanha é de que a atuação dele foi determinante para que o governo Lula conseguisse passar pela crise econômica de 2008 sem turbulências.

Agora, a expectativa do partido é explorar a imagem de Meirelles nas peças da campanha nessa reta final. Seria uma forma de se contrapor ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que durante discurso na 79ª Assembleia-Geral da ONU, na última terça-feira (20), afirmou que, apesar da crise mundial, a economia brasileira vai bem e está em plena recuperação.

Ao declarar apoio a Lula, Meirelles defendeu o ex-presidente pela criação de empregos e pelo “impressionante” crescimento médio da economia de cerca de 4% ao ano. “Chegamos a dever 30 bilhões de dólares ao FMI. Pois bem, eu tive a satisfação, enquanto presidente do Banco Central, de assinar o cheque pagando e dando adeus ao FMI, quando o Brasil decretou sua independência financeira e pode fazer aquilo que julgava necessários. Quando o Lula saiu do governo, nós deixamos 300 bilhões de dólares em reservas internacionais”, recordou o ex-ministro.

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Para interlocutores de Lula, as alianças com nomes como Meirelles e Geraldo Alckmin (PSB), vice na chapa do PT, reforçam o compromisso da campanha com a responsabilidade fiscal. Desde o início da disputa, o candidato do PT tem apostado no slogan "credibilidade, previsibilidade e estabilidade", apesar da defesa do aumento do investimento público.

Apoio de ex-presidenciáveis reforça estratégia de frente ampla de Lula 

Além de Meirelles, o evento com ex-presidenciáveis contou com a presença de Fernando Haddad (PT), Marina Silva (Rede), Guilherme Boulos (PSol), Luciana Genro (PSol), Cristovam Buarque (Cidadania), João Goulart Filho (PCdoB) e o próprio Geraldo Alckmin (PSB). Apesar da estratégia de sinalizar uma frente ampla em torno da candidatura petista, apenas Meirelles é de fora do campo da esquerda.

O senador José Serra (PSDB-SP) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foram convidados a participar do ato político, mas declinaram. No caso de FHC, por motivo de saúde. Já Serra reiterou que sua candidata é Simone Tebet (MDB), que conta com o apoio formal do PSDB.

Membros do PT destacam que a idealização do ato com os ex-presidenciáveis partiu de Alckmin como forma de reforçar a defesa da democracia. Na reunião, o candidato a vice na chapa de Lula afirmou que os políticos presentes sempre tiveram “projetos diferentes para o Brasil”, mas estão unidos pelo “respeito à democracia e ao povo brasileiro”.

“É o que nos une neste momento singular e triste. Quando se questiona o processo democrático, quando se tem saudade da ditadura, é hora de reafirmar nossa convicção na democracia”, disse o ex-tucano, que concorreu contra Lula em 2006.

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Paralelamente, a campanha tem comemorado a atuação de Marina Silva nos discursos em defesa do ex-presidente. Conhecida pela pauta ambiental, a ex-ministra do Meio Ambiente tem apostado em discursos voltados para os religiosos. Marina é evangélica e vista como trunfo da campanha de Lula na estratégia de diminuir o favoritismo de Bolsonaro nesse segmento do eleitorado.

"A banalização do mal é quando existem pessoas, diante da morte, que é um dos momentos mais difíceis da vida, tripudiando a dor daquele que está enlutado. Diante dessas circunstâncias, nós temos que ter condições de derrotar Bolsonaro e colocar um freio no bolsonarismo", disse Marina ao lado de Lula.

Levantamento mais recente do instituto FSB mostrou que Lula cresceu seis pontos percentuais entre os evangélicos desde a entrada de Marina na campanha. De acordo com a pesquisa, o petista passou de 26% para 32%, enquanto Bolsonaro recuou de 51% para 49% dos votos nesse eleitorado.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Metodologia da pesquisa citada

O Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, 2 mil eleitores entre os dias 16 e 18 de setembro de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-07560/2022.

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