Os jovens prometem ir em grande volume às urnas em 2022 e ser protagonistas das eleições. Os cerca de 19,7 milhões de eleitores entre 16 e 24 anos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em março podem exercer um peso significativo no debate político ao longo dos próximos meses e no resultado final do pleito. E esse número ainda pode subir até 4 de maio, quando se encerra o prazo para emissão e regularização de títulos de eleitor.
O interesse dos jovens pela eleição pode ser notado nos recentes dados divulgados pelo TSE. Em março, 445.553 pessoas com idade entre 15 e 18 anos emitiram o seu título de eleitor. Em fevereiro, foram registrados 349.160 novos eleitores nesta faixa etária. A Gazeta do Povo questionou a Corte eleitoral sobre o volume de novos novos títulos emitidos em igual período em 2018, mas não obteve retorno.
O portal do TSE não permite ao público esmiuçar os dados na faixa de eleitores com 15 anos, mas que completam 16 até 2 de outubro — data do primeiro turno das eleições —, nem especificamente para 18 anos, a fim de obter uma base comparativa entre 2022 e 2018. Mas é possível mensurar um crescimento na faixa etária onde o voto é facultativo na comparação entre este ano e quatro anos atrás.
Entre janeiro e fevereiro de 2018, o banco de dados do TSE aponta que a base de jovens com 16 e 17 anos subiu em 53.869 eleitores. Entre fevereiro e março daquele ano, foram contabilizados 86.148 novos títulos de eleitor na mesma faixa etária.
Já entre janeiro e fevereiro de 2022, o TSE registrou 104.293 novos eleitores com 16 e 17 anos. Entre fevereiro e março, 216.198 pessoas na mesma faixa etária emitiram o seu título de eleitor. Ou seja, o saldo em fevereiro na comparação com igual período em 2018 é 93,6% superior e em março foi 150,9% maior.
Qual o peso do voto dos jovens nas eleições de 2022
Apesar do crescimento de novos títulos de eleitor na faixa etária onde o voto é facultativo, o TSE registrou em março de 2018 mais eleitores entre 16 e 24 anos. Naquele período, eram 22,4 milhões de eleitores jovens, acima dos 19,7 milhões atuais.
O encolhimento do público jovem reflete um aspecto demográfico. Até por esse motivo, o cientista político e sociólogo Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que os jovens terão, sim, um peso significativo nas eleições, como em 2018, mas não serão eles que decidirão o resultado das urnas.
"A pirâmide etária no Brasil mudou. Há 20 anos, o jovem tinha um peso de decisão muito maior em termos demográficos do que temos agora. Atualmente, a faixa que define a eleição está entre 30 e 50 anos", pondera Baía. Dados de março do TSE apontavam cerca de 30,3 milhões de eleitores entre 25 e 34 anos, 31 milhões com idade entre 35 e 44 anos, e 37 milhões entre 45 e 59 anos.
Contudo, embora possam não ser demograficamente decisivos nas urnas, Baía acredita que os jovens possam ter um peso importante à medida em que tentem influenciar as pessoas nas redes sociais e em seus círculos sociais e familiares. "A presença do jovem torna a eleição mais alegre, barulhenta, ele é mais ativo e pode vocalizar seu pensamento aos mais próximos, inclusive a seus pais, o público que define as eleições", destaca.
O professor da UFRJ analisa que os pais podem até influenciar seus filhos, mas entende que é mais difícil. "Os jovens a partir dos 14 e 15 anos já têm uma autonomia de decisão enorme, e as suas redes de sociabilidade face a face hoje ampliadas com o mundo digital fazem com que eles tomem seus próprios caminhos", justifica. "Isso é bom e ruim, você não pode negar isso. Um menino ou menina de 12 e 13 anos tem, hoje, poder de decisão e pressão sobre o que quer, e isso ocorre, em geral, em todas as regiões [do Brasil]", complementa.
Os filhos podem até pertencer à mesma rede de sociabilidade dos pais, mas Baía reforça que a expansão da internet, dos smartphones, das redes sociais e dos grupos de WhatsApp atenuam a influência que os pais e pessoas com maior idade possam exercer sobre os jovens. "E no caso de uma eleição, essas redes, incluindo as da escola, da igreja e afins, são mais fortes que as dos pais", sustenta.
Outro fator que pode levar os jovens a terem um peso relevante nas eleições deste ano é o que tem estimulado o público de 16 e 17 anos a tirar o título de eleitor: a influência exercida por artistas como os cantores Emicida e Anitta, que têm usado seus shows e redes sociais para incentivá-los a ir às urnas.
Na opinião do especialista, influenciadores e cantores como Anitta e Emicida atingem uma presença grande na massa jovem pobre em periferias de grandes capitais e podem estimular não apenas os eleitores das classes socioeconômicas mais elevadas a votarem, como também os menos abastados, principalmente em cidades com mais de 200 mil eleitores.
"Hoje, temos um protagonismo sobretudo da juventude nas favelas do Rio, de São Paulo, de Belo Horizonte e de Brasília. Você tem um jovem que é pobre, mas é trabalhador, ele trabalha em aplicativo de entrega, então isso faz com que ele tenha uma inserção importante no processo social e, portanto, no processo político. Por isso, não se pode dizer que apenas o jovem da Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, é mais participativo do que o jovem da Ceilândia [cidade satélite do Distrito Federal]", destaca Baía.
Para onde vão os votos do eleitorado jovem
O eleitorado jovem é comumente associado à esquerda, mas o cientista político Enrico Ribeiro, diretor da Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e Governamentais, prevê que o presidente Jair Bolsonaro (PL) absorverá uma parcela significativa de votos do público de 16 a 24 anos.
O especialista se baseia nos dados divulgados pela pesquisa Quaest de março (veja a metodologia ao fim desse texto), que apontam uma desaceleração de 56% para 49% entre os que avaliam o governo negativamente na faixa etária analisada. Já o índice dos que o avaliam como regular subiu de 27% para 30% e o indicador que avalia o governo como positivo avançou de 16% para 19%.
"O jovem entre 16 e 24 anos viveu a época do impeachment, da Lava Jato, e toda a formação dele se deu no momento em que o PT estava combalido em decorrência das denúncias de corrupção e as pressões de movimentos jovens como o MBL e o Vem pra Rua", analisa Ribeiro. "Esse eleitor cresceu nas redes sociais interligado com essa visão e quem 'comanda' e consegue falar muito bem nessas mídias é o Bolsonaro. Por isso, eu não cravaria que os votos dos jovens seguiriam uma constante na esquerda como sempre foi esperado e como sempre foi colocado ao longo dos anos", acrescenta.
O cientista político entende que a eleição já está polarizada e que o atual quadro limita o alcance que candidatos de centro podem ter, seja os da centro-direita, como a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e o ex-governador João Doria (PSDB), ou o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) no campo da centro-esquerda.
"A polarização tende a manter o foco principal justamente entre aqueles mais bem posicionados nas pesquisas e que têm a maior força de captar a atenção da mídia e dos formadores de opinião", aponta Ribeiro. "A gente não sabe nem quem é o candidato da terceira via, o que propõe, está mais no campo das ideias do que colocado de forma prática. Mais brigam do que tentam apresentar algo", complementa.
O cientista político Paulo Baía concorda que Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tendem a dividir entre si a maioria dos votos entre os jovens nas mais diferentes classes sociais. "É até difícil dizer se o eleitor jovem vai pesar para um lado ou para o outro, porque nas periferias Bolsonaro está bem e Lula também, então é difícil dizer para qual lado pende mais", destaca.
O professor da UFRJ analisa que Lula terá uma presença jovem grande e ativa em sua campanha, sobretudo em movimentos organizados e com grande penetração entre os jovens de uma faixa universitária entre 18 a 23 anos. Para ele, o mesmo vale para o presidente da República. "É curioso porque Jair Bolsonaro também está bem posicionado nessa faixa [etária]", diz.
O voto do eleitorado jovem não se distingue da maioria que vota em um candidato, afirma Baía. "Se um candidato tem 35% dos votos, você vai lá ver que ele também tem 35% de votos dos jovens", destaca. Para o especialista, desconsiderar a presença do pensamento conservador nos jovens é um equívoco.
"Os jovens estão muito ligados ao pensamento conservador, estão muito ligados a um pensamento de direita, com igual intensidade aos que estão ligados ao pensamento de centro esquerda e esquerda. Isso sem falar no papel do jovem nas igrejas cristãs, evangélica e católica, que é muito grande", avalia.
O sociólogo diz que houve uma mudança ao longo dos anos até chegar ao atual cenário de uma presença considerável de jovens identificados com o pensamento conservador. Baía diz que o processo passa pela inserção de mais jovens pobres nas universidades. "E o fato do jovem pobre entrar na universidade não significa que ele 'vira esquerda'. Esse jovem é a maioria do público universitário, e onde ele está? Cerca de 70% está nas universidades privadas, tendo entrado pelo Fies ou o Prouni, não nas federais e estaduais", sustenta.
Segundo Baía, mesmo as universidades públicas não são dominadas pelo jovem progressista na faixa até 24 anos. "Os jovens que mais aparecem no ativismo das universidades federais ou estaduais são da área de humanas, da pedagogia, das ciências sociais", diz. "E aonde estão os estudantes das engenharias e ciências exatas? São poucos os que estão em movimentos estudantis bem visíveis. Esse outro jovem vota no Bolsonaro em igual intensidade aos que votam em Lula, só que são silenciosos", complementa.
E como fica o centro? O que pensam lideranças jovens da centro-direita
Embora a polarização limite as chances de um candidato do centro furar os pólos, lideranças jovens de centro-direita mantêm a confiança de que a juventude ainda pode tentar mudar esse cenário. A deputada federal Luiza Canziani (PSD-PR), eleita a parlamentar mais jovem da Câmara dos Deputados em 2018, aos 22 anos, admite que o “Fla-Flu” político coloca a discussão de ideias em segundo plano e contribui para o afastamento dos jovens. Mas ela confia na possibilidade de mobilização deste público.
“Acredito que os jovens têm grande poder de mobilização. Nas últimas eleições, muitos jovens foram às ruas e expressaram as suas opiniões e essa participação foi muito importante naquele momento e é importante que seja mantida. Em um período de polarização como o que estamos vivendo, todo voto vai fazer a diferença no resultado final da eleição”, pondera.
A deputada acredita que os jovens votam mais com a emoção e conforme seus próprios valores pessoais. Por esse motivo, acha difícil apontar uma tendência de votos entre jovens para uma candidatura ou outra. “Assim como o voto dos adultos ou das mulheres, por exemplo, cada pessoa vota conforme a sua expectativa de futuro, sua leitura dos acontecimentos e valores pessoais”, defende Canziani.
Para que a juventude possa fazer a diferença, a parlamentar reconhece que as lideranças políticas precisam fazer a sua parte a fim de evitar o afastamento dos jovens da política, principalmente os com idade entre 16 e 17 anos. A deputada tem incentivado a participação dos jovens na política em suas redes sociais desde o início do ano. Para ela, as mídias têm papel fundamental na interlocução com esse público, não à toa sua equipe tem desenvolvido estratégias de comunicação direcionadas.
“E temos tido um resultado muito positivo, um retorno muito grande por parte dessa parcela da população. Em todas as minhas agendas pelo Paraná, procuro conversar com os jovens e estimular a participação na política”, sustenta. Além disso, Canziani destaca o acordo de cooperação firmado entre a Câmara e o TSE para impulsionar o voto dos jovens de até 18 anos após uma reunião em que teve com o presidente da Corte, ministro Edson Fachin, em companhia da deputada federal Margarete Coelho (PP-PI).
O deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP), eleito o parlamentar mais jovem da Câmara em 2018, também aos 22 anos, concorda com Canziani sobre a importância da participação político-partidária para o engajamento dos jovens, mas lamenta que isso seja pouco difundido entre os partidos. “Os movimentos de influenciadores e artistas ajudam, mas os protagonistas em atrair a juventude deveriam ser os partidos, dando espaço e ouvindo, e não é isso o que acontece”, lamenta.
Até hoje, as legendas perpetuam um “jogo” de “cartas marcadas” que dificulta a ascensão de jovens nos partidos e não os estimula a participar das eleições com maior vigor, analisa Kataguiri. “São raros os quadros que surgem na base e começam fazendo política em juventude partidária e ascendem para posições de comando”, analisa. “A maioria dos partidos não têm visão de mundo e o jovem quer defender e participar de uma causa que é maior que ele próprio, mas falta democracia partidária e poder dos filiados dentro da própria sigla”, complementa.
O máximo de esforço notado por Kataguiri nas siglas para o engajamento do eleitor jovem é a contratação de peças publicitárias pouco atraentes e que não dialogam com a juventude durante as campanhas eleitorais. “São peças pedantes e desinteressantes para o jovem. Falta democracia partidária e poder dos filiados dentro do próprio partido. É uma cultura de debates internos que não temos, seleção de candidatos que a gente não tem, é tudo muito centralizado, tudo muito definido e focado em quem tem mandato”, diz.
Um dos fundadores do MBL, Kataguiri entende que as siglas e parlamentares podem engajar a juventude tornando a política mais leve e simples de entender. Para ele, a comunicação com os jovens precisa despertar sentimentos de solidariedade, indignação ou afeto por determinadas causas. “Acho que o que a gente puder fazer de associações com a cultura pop, usar os memes, algo de entretenimento, arte, cultura, música, são esforços que ajudam e engajam a se comunicar com a linguagem do dia a dia do jovem”, destaca. "O principal desafio é vencer a desesperança. A maior parte dos mais jovens, hoje, querem ir embora do país", complementa.
Assim como Canziani, Kataguiri acredita que o voto jovem pode ajudar a desequilibrar as eleições e fortalecer o centro político. Para ele, a juventude está majoritariamente mais à esquerda identitária e os votos à direita podem não migrar para Bolsonaro e ficar no centro. “Tem uma parcela significativa que ainda está muito mais propensa a defender uma terceira via do que estar com Bolsonaro, que ficou muito desmoralizado”, analisa.
O deputado acredita que o MBL ainda terá um papel importante na disputa presidencial e na eleição de legisladores, mas admite que o momento é de "baixa". "Estamos em luto pela retirada da pré-candidatura do [ex-juiz Sergio] Moro", diz.
O que pensa a juventude que defende a centro-esquerda de Ciro Gomes
A juventude da centro-esquerda capitaneada por Ciro Gomes também irá às ruas com a esperança de que é possível eleger o presidenciável pedetista. A vereadora Gabriela Ortiz (PDT), de Sapucaia do Sul (RS), eleita em 2020 como a mais jovem de seu município, aos 23 anos, reconhece, porém, que a tarefa será desafiadora.
O mesmo "efeito Anitta" celebrado por ela que ajudou a engajar os jovens também pode levar votos a Lula. "Muitos dos que estimulam a emissão do título de eleitor puxam [o voto] para seu candidato, como é o caso da [cantora] Pablo Vittar, que manifestou sua ideologia e preferência partidária", pondera Ortiz. Na outra pauta, ela também admite que o Auxílio Brasil pode render votos a Bolsonaro, mesmo nas periferias, apesar das críticas que tem ao governo.
A vereadora explica que o PDT trabalha um movimento de conscientização junto à juventude a fim de superar a polarização. "Temos feito movimento de mostrar para o jovem não só a necessidade do voto, mas o voto consciente, a importância do voto", diz.
Tal como Ciro, a vereadora defende uma profunda revisão da economia para não repetir os modelos aplicados e busca sempre trabalhar isso junto aos jovens. Ortiz manifesta seu respeito aos demais partidos de esquerda, mas aponta que apenas o PDT traz um programa de desenvolvimento econômico e propõe, por exemplo, como reduzir a inflação e corrigir o sistema tributário regressivo, onde o pobre paga proporcionalmente mais que o rico.
"Por que o preço do tomate está caro? Por que a gasolina está cara? Como mudar isso? É isso que temos debatido, e a juventude, com aqueles 280 caracteres do Twitter, pode fazer a diferença. O Ciro tem tentado esse diálogo com a juventude e meu gabinete está muito focado no jovem", destaca Ortiz. "Meu principal papel é inspirar, trazer liderança, porque nossas meninas ainda são criadas para ser mães. Tentamos mostrar que não. É possível, sim, ser tão jovem e estar na política. Todos os movimentos de transformação pelo país passaram pelas mãos da juventude", complementa.
Pré-candidata a deputada estadual em seu estado, Ortiz analisa, porém, que ainda há muito a evoluir para o engajamento dos jovens na política ser permanente, não apenas uma estratégia casuística em eleições. "O jovem não é ouvido porque [os partidos] não dão voz, não escutam. A juventude não é valorizada nem mesmo durante as nominatas [relação de candidatos ao legislativo]", lamenta.
A vereadora cita seu próprio exemplo e o de outros dois correligionários da juventude do PDT nas eleições de 2020 que foram menosprezados até internamente. "Três estudantes da juventude em Sapucaia concorreram com bandeiras distintas e tivemos que ouvir de membros comentários de que, juntos, não faríamos 300 votos. Fizemos quase 2 mil votos. Ninguém aposta na gente, e na configuração das nominatas, se tem que cortar alguém, vão cortar o membro da juventude, as mulheres, a reserva de cota", desabafa Ortiz.
O eleitorado entre 16 e 24 anos representa cerca de 13,3% do total do país, mas apenas 1,9% são filiados em partidos políticos, lamenta Ortiz. A fim de mudar isso, a Juventude do PDT trabalha na organização de um documento que oficialize que deputados eleitos pelo partido precisarão destinar valores mensais aos diretórios estaduais e municipais para financiar reuniões e materiais. "Os partidos não podem usar a juventude apenas para carregar bandeira e levar militantes às ruas", diz a vereadora.
O secretário-geral da Juventude Socialista do PDT, João Marcos Grams, diz que o partido está atento aos jovens e que há uma articulação nacional para definir quadros políticos para as eleições deste ano. "Até porque não é só botar o nome, é construir essa base", destaca. Ele sustenta, ainda, que o PDT permite a juventude estar presente em todos os protestos e manifestações em movimentos de base e que o partido e Ciro estão com uma estratégia de comunicação mais direcionada a esse público, como a "Ciro Games", nome dado às lives semanais organizadas pelo pedetista.
A despeito da polarização, Grams se diz animado com a campanha de Ciro e acredita que ele possa conseguir tirar votos de Lula e virar outros votos que poderiam ir a candidatos do centro. "Eu acho que o discurso dessa terceira via progressista tem muita força. Acho que essa juventude vai se engajar pelas redes sociais e atuar cada vez mais para espalhar esse interesse no seu círculo de amigos e família. O jovem vira um replicador do debate político e pode virar mobilizador em prol de um interesse saudável político", destaca.
Como a juventude de direita avalia Bolsonaro e o que esperar nas eleições
A despeito das análises de viabilidade feitas no centro político, os eleitores conservadores entendem que Bolsonaro tem grandes chances de ser reeleito, inclusive com votos de uma juventude posicionada à direita política. O cineasta e escritor Josias Teófilo, que dirigiu o filme "Nem Tudo se Desfaz", que faz uma conexão das Jornadas de Junho de 2013 com a eleição de Bolsonaro, acredita que a polarização limitará o alcance de votos para as candidaturas de centro.
"A terceira via não tem mais a mesma capacidade de mobilização das ruas de antes, se enfraqueceu muito", analisa. "E as campanhas do Ciro e do Moro parecem que foram feitas por um velho de 70 anos. Agora você vê as coisas que Bolsonaro posta nas redes, ainda têm um tom jovem", acrescenta Teófilo, que concedeu entrevista antes da desistência do ex-juiz em sua pré-candidatura. Para ele, mesmo Lula também não tem um perfil segmentado para os jovens e vai absorver os votos pelo que entende ser uma tendência do jovem ao progressismo político.
O cineasta avalia que Bolsonaro pode surpreender a muitos analistas e políticos que menosprezam seu alcance político, mesmo entre os jovens. "Bolsonaro tem muito voto envergonhado, gente que não se manifesta, mas termina votando nele. E neste momento de polarização o voto envergonhado é muito forte. A história do Lula e os crimes que ele cometeu todo mundo sabe, todo mundo reconhece, é uma coisa que tende a pegar muitas pessoas também ", avalia.
Outros dois aspectos observados por Teófilo que podem beneficiar Bolsonaro são os votos de jovens conservadores e pobres. "Muitos tentam polarizar como se só rico votasse em Bolsonaro, mas tem muito clichê envolvido nisso. Muita gente pobre vota nele, ele é adorado entre os pobres", diz.
O cineasta ressalta, inclusive, um trecho de seu filme em que ele entrevistou o designer gráfico Guilherme Julian, que deu pontapé no Facebook às páginas de memes que apoiaram Bolsonaro em sua trajetória à campanha presidencial. "A força física e a imposição e a coragem de falar de modo direto de Bolsonaro chegou a jovens que trabalham com agentes sociais, inclusive da periferia de Fortaleza. A página "Bolsonaro Zoeiro" é a prova disso", sustenta.
Na opinião de Teófilo, a direita domina a "linguagem dos memes" mais do que a esquerda e o domínio disso pode fazer a diferença na "guerra" travada em atingir o eleitor jovem. "A 'nova direita' surge muito ainda e a esquerda indentitária também cresce, mas é a direita que domina os memes", diz. "Bolsonaro sai fortalecido porque a direita foi pioneira no uso da internet. Ela não tinha o uso dos espaços convencionados das universidades e instituições da arte, e nem falo por torcida. Eu tenho uma posição muito crítica ao governo na administração da cultura", acrescenta.
O cineasta é um defensor da Lei Rouanet e entrou em conflito com a gestão da cultura no governo. E mesmo entendendo que a direita sabe se comunicar bem com o eleitor jovem, ele pondera que será preciso inovar para não perder o eleitorado. "Antigamente, tudo na direita era orgânico, não era uma coisa artificial. Agora, tem toda uma estrutura, quem faz meme é funcionário de deputado tal. Se continuar por esse caminho, as pessoas vão se encher da política, porque aparece um monte de aproveitador querendo cargo", alerta.
O vereador Carmelo Neto (PL), de Fortaleza, o mais jovem eleito na capital cearense em 2020, aos 19 anos, se coloca como uma prova de que a direita está presente entre os jovens, mesmo no Nordeste. "A esquerda se engana quando pensa que a maioria desses votos entre 16 e 20 anos vão para Lula. Apesar de que quem tem 16 anos hoje tinha apenas 8 anos durante os escândalos de corrupção do PT, sigo acreditando que os pais e a internet tratarão de esclarecer os fatos aos novos eleitores", analisa.
Para o vereador, que foi conselheiro de juventude no governo Bolsonaro, a eleição presidencial não será definida por nenhuma faixa etária específica, mas pondera que, no Legislativo, o voto dos jovens pode ser um diferencial. "O público jovem pode abraçar candidatos que sejam jovens ou que representem diretamente o interesse das juventudes, o que pode sozinho ser suficiente para eleger candidatos com essas pautas", pondera.
Pré-candidato a deputado estadual pelo Ceará, Carmelo Neto sustenta que o movimento de influenciadores da esquerda também foi rebatido pela direita ao mostrar eleitores entre 16 e 17 anos tirando o título. Para o vereador, que procura engajar a juventude conservadora pelas suas redes sociais e por seu mandato, Bolsonaro tem boas chances de obter uma grande quantidade de votos entre jovens. "O jovem quer ter um futuro digno, uma economia sólida para proporcionar oportunidades e um governo sem corrupção. No embate entre Bolsonaro e Lula, não há nem dúvida de quem sai favorecido", diz.
O que a juventude de esquerda espera da candidatura de Lula
A juventude da esquerda capitaneada por Lula entende, por sua vez, que a maioria dos votos irão ao ex-presidente da República. "A impressão que eu tenho é que, majoritariamente, os jovens tendem a ser mais progressistas do que as outras faixas etárias. Mas isso não exclui a existência de jovens de direita, extrema-direita, centro-direita e centro-esquerda", analisa a vereadora Duda Hidalgo (PT), de Ribeirão Preto (SP), a mais jovem eleita em 2020 no município, aos 21 anos, e a 10ª mulher eleita na história da Câmara Municipal.
A vereadora entende que as redes sociais serão ferramentas imprescindíveis para engajar o voto do eleitor jovem, mas alerta que elas também podem ser disseminadoras de informações falsas. "Nesse clima político que a gente vive de gabinete de fake news, de ódio disseminado dentro das redes sociais, tudo isso também afeta os jovens que estão na categoria que está ali imersa dentro da tecnologia", analisa.
A vereadora afirma que seu mandato funciona como uma espécie de grande movimento de pertencimento à cidade para envolver as pessoas que estão no município nos debates políticos, principalmente os jovens, e acredita que esse trabalho de mobilização faz a diferença para engajar o voto dos jovens. "A gente faz algumas idas do gabinete às ruas, aos bairros e debatemos pautas raciais, sobre as mulheres, a fim de construir projetos e políticas públicas que possamos aplicar dentro do mandato", destaca.
O PT, segundo ela, tem se preocupado com a transmissão geracional e procurado envolver o jovem dentro da política. "É uma questão que vem de anos, inclusive dentro das instâncias partidárias. Temos número mínimo de jovens que precisam participar de cada uma das instâncias, e isso promove a formação de novas lideranças e fortalece o movimento de juventude dentro do partido", afirma. "O movimento não deve se dar somente dentro da juventude, mas dentro dos grandes temas, e o PT tem tido muito isso e temos uma juventude já organizada há muito tempo e que vem crescendo cada vez mais", acrescenta.
O engajamento mobilizado por influenciadores e artistas, inclusive, foi incorporado pelo PT ainda em dezembro passado, após o Congresso Nacional da Juventude do PT, afirma Hidalgo, com a ação do "Meu Primeiro Voto". A medida teve como foco justamente os jovens entre 16 e 18 anos que ainda não haviam tirado o título de eleitor.
Mesmo com os esforços internos do PT em estimular o voto do jovem, a vereadora, que é pré-candidata a deputada estadual e militante desde 2017, destaca os desafios de superar preconceitos político-partidários entre os jovens. "Me diziam que era só uma menina que teria 100 votos, que estava caminhando para um sonho impossível de ser realizado e é isso que é dito aos jovens e os desestimula todos os dias. Mas acredito que sou a prova viva de que os jovens podem, sim, estar na política e construir mandatos transformadores, muito diferente do que vemos na política hoje", diz.
O vácuo de representação da juventude dentro da sociedade é apontado por Hidalgo como a construção de uma narrativa de que o jovem não é experiente o suficiente. "Isso leva o jovem a subestimar o seu papel. É fundamental que o jovem não só pode como deve participar da política. A história dos movimentos de juventude se confundem até com a história da democracia", defende.
"E os jovens também são os mais afetados pelos principais problemas que temos hoje. A pauta do desemprego, os maiores afetados são eles, pela falta de experiência, dificuldade de acessar a universidade e o sucateamento da educação dentro da nossa sociedade. Todos os problemas são problemas gravíssimos dentro do Brasil", complementa Hidalgo.
O estudante Luigi Berzoini, 23 anos, filho do ex-presidente do PT Ricardo Berzoini, ex-ministro dos governos Lula e Dilma, acredita que o jovem possa ter o poder de mudar votos nessas eleições e endossa a argumentação de Hidalgo de que o engajamento da juventude nos partidos deve ser trabalhado com uma estratégia orgânica e sustentável de longo prazo para não apenas engajar o público no período eleitoral.
Para Berzoini, o peso do voto dos jovens pode ser decisivo, sobretudo por entender que a massa histórica de votos nulos e brancos pode reduzir à medida em que mais jovens tirem seus títulos de eleitor para optar por um candidato. "Uma coisa que em 2018 foi muito determinante foi o voto dos que se abstiveram, e grande parte desses foram jovens também que estão desiludidos com a política. Então, eu acho que os jovens que estão tirando o título de eleitor irão votar, e considerando que temos uma grande população jovem, eles podem fazer a diferença nessa eleição", analisa.
Metodologia da pesquisa citada
A pesquisa foi realizada pelo instituto Quaest e contratada pelo Banco Genial. Foram ouvidos 2.000 eleitores entre os dias 10 e 13 de março de 2022 em todas as regiões do país. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral, sob o protocolo BR-06693/2022.
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