Com a pré-campanha em curso, os presidenciáveis apostam no uso das redes sociais para atrair mais eleitores, principalmente os mais jovens. Nessas estratégia, o presidente Jair Bolsonaro (PL) larga na frente. Ele tem milhões de seguidores em várias plataformas e familiaridade com as ferramentas.
Mas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o ex-governador João Doria (PSDB) não ficam atrás. Prováveis rivais de Bolsonaro nas eleições de outubro, eles também já têm iniciativas em andamento e fazem planos para melhorar a comunicação via internet.
Principal ferramenta na campanha vitoriosa de Bolsonaro em 2018, as redes sociais têm, obviamente, um peso importante no projeto de reeleição neste ano. O presidente inovou ao criar e manter desde o início do seu mandato uma live semanal na internet para se dirigir diretamente aos brasileiros. E nos últimos dias, ele vem adotando um tom mais bem-humorado nas interações com os seus seguidores.
No Twitter, onde acumula mais de 7,5 milhões de seguidores, o presidente ironizou recentemente a notícia de que um cabeleireiro interpretaria um “Bolsonaro gay” no desfile das escolas de samba de São Paulo durante o Carnaval. "Que apresentação ruim", escreveu Bolsonaro ao comentar o desfile da escola. Na mesma publicação, aproveitou para afirmar que todas as doses da vacina contra a Covid-19 foram aplicadas pelo governo federal.
Na avaliação de aliados do Planalto, o presidente adota esse tom no intuito de se contrapor aos adversários. Somente nesta semana, depois que o Twitter foi vendido para o empresário Elon Musk, Bolsonaro ganhou cerca de 65 mil novos seguidores na plataforma.
Recentemente, o ex-ministro e pré-candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que Bolsonaro é muito "sagaz" na comunicação das redes.
"Bolsonaro me perguntou: 'essa foto nossa atravessando a ponte, você acha que ganha quantas curtidas?'". Tarcísio contou que não tinha ideia, mas o presidente respondeu. “Nas primeiras horas, três milhões de curtidas nas minhas redes sociais. Sabe o que é isso, capitão? Publicidade de graça", sentenciou.
Bolsonaro lidera na audiência das redes sociais
Além do Twitter, o presidente Jair Bolsonaro acumula seguidores em perfis em outras redes sociais como Instagram, Facebook, TikTok, YouTube e Telegram. Para ampliar o engajamento, um aplicativo chamado de "Bolsonaro TV" foi criado para reunir todas as páginas do presidente e já conta com mais de 100 mil downloads.
Recentemente, Bolsonaro viralizou nas redes ao comentar um tuíte da cantora Anitta, em que ela defendeu as cores da bandeira brasileira ao usar uma roupa em verde, amarelo e azul. O post rendeu, até o fechamento desta matéria, mais de 5,8 mil comentários, 11,6 mil retuítes e 75 mil curtidas no Twitter. No Instagram, foram mais de 800 mil curtidas e mais de 44 mil comentários.
Com a repercussão, Anitta bloqueou o perfil do presidente e afirmou que os administradores das contas do chefe do Executivo estão se aproveitando da projeção dela para aumentar a própria popularidade. "Neste momento, qualquer manifestação contra ele por meio dos artistas vai ser revertida em forma de deboche pelas mídias sociais dele. Assim, o artista vira o chato mimizento, e ele, o cara bacana que leva tudo numa boa", escreveu a cantora.
Veja os números de Bolsonaro nas redes sociais:
- Twitter: 7,6 milhões
- Facebook: 14 milhões
- Instagram: 19,6 milhões
- YouTube: 3,6 milhões
- TikTok: 1,3 milhão
- Telegram: 1,3 milhão
Lula tenta diminuir vantagem de Bolsonaro nas redes sociais
Alvo de críticas dentro do PT, a estratégia de comunicação da campanha do ex-presidente Lula está sendo redesenhada para buscar ampliar o público nas redes sociais. Nesta semana, o partido contratou o publicitário Sidônio Palmeira para assumir o marketing da campanha, em substituição ao marqueteiro Augusto Fonseca.
Na avaliação de integrantes do PT, a comunicação de Lula nas redes sociais será crucial para amarrar o apoio do eleitorado mais jovem. Em março, o levantamento do instituto Datafolha mostrou que a proporção de eleitores de 16 a 24 anos que votariam em Lula (51%) era maior do que a de Bolsonaro (22%), de Ciro Gomes (6%) e de João Doria (3%).
Como estratégia, o petista deve ampliar o número de entrevistas para podcasts e para canais do YouTube. Na semana passada, Lula anunciou a criação de um perfil na rede TikTok e trocou a foto do seu perfil por uma em que aparece usando óculos "juliet". O modelo é bastante comum entre o público jovem. "Pediram para dar uma rejuvenescida nas redes. Nova foto do perfil. Tiktok e Kwai em breve", escreveu a equipe do ex-presidente.
Em Brasília, o PT dedicou um andar inteiro no prédio da sede do partido para trabalhar a nova estratégia de comunicação do petista. "Vamos concentrar rádio, televisão, acompanhamento de redes sociais e eventualmente, se couber, uma central contra fake news. Estúdios, maquiagem, tudo isso vai ser lá", explica o secretário de comunicação do PT, Jilmar Tatto.
Até o momento, os canais oficiais do petista nas principais plataformas digitais têm menos de um terço dos seguidores de Bolsonaro. Apesar disso, integrantes do PT avaliam que a vantagem do atual presidente já foi reduzida e o engajamento da campanha petista aumentou nos últimos meses.
Veja os número de Lula nas redes sociais:
- Twitter: 3,3 milhões
- Facebook: 4,8 milhões
- Instagram: 4,6 milhões
- YouTube: 415 mil
- Telegram: 64,3 mil
Ciro Gomes aposta em linguagem "descolada" para as redes sociais
Assim como Bolsonaro e Lula, o pré-candidato pelo PDT Ciro Gomes tem investido em uma linguagem mais "descolada" para as redes sociais nesse período de pré-campanha. Entre as estratégias, criadas pelo marqueteiro João Santana, está o Ciro Games, programa em que o político entrevista convidados, critica de modo informal declarações de adversários e, em um cenário moldado como simulacro de videogames, apresenta suas ideias para um eventual mandato.
Aliados de Ciro acreditam que o posicionamento nas redes sociais será primordial para que a pré-candidatura seja viabilizada. Recentemente a campanha lançou o “Waze do Cirão”, uma versão do aplicativo de trânsito Waze com a voz do ex-ministro. Nesse último, os usuários podem ouvir Ciro dar instruções como: “Entre à direita, mas fora Bolsonaro” e “Vire à esquerda, mas não essa de goela”.
De acordo com a campanha de Ciro, a estratégia visa "oferecer produtos audiovisuais de qualidade e em quantidade constante. Explorar, ao máximo, as características próprias de cada rede social e, muito especial, a capacidade de expressão de Ciro". "No YouTube, como tem sido assinalado por especialistas, já superamos a marca fabulosa de mais de 50 milhões de visualizações, superando, de longe, Lula e todos os outros candidatos, com exceção de Bolsonaro", comemorou a pré-campanha pedetista.
Veja os números de Ciro Gomes nas redes sociais:
- Twitter: 1,3 milhão
- Facebook: 955 mil
- Instagram: 1,2 milhão
- YouTube: 416 mil
- TikTok: 90,2 mil
- Telegram: 20, 5 mil
Nomes da terceira via ainda patinam nos números de seguidores
Na contramão dos adversários, os pré-candidatos da chamada terceira via ainda patinam na comunicação das redes sociais. Pré-candidato pelo PSDB, o ex-governador paulista João Doria é o integrante do grupo que soma mais seguidores em seus perfis nas redes sociais.
O tucano pretende criar um podcast de entrevistas, no qual ele também será questionado por jovens de diferentes partes do país. A medida, segundo integrantes da comunicação de Doria, visa atrair o eleitorado mais jovem e ampliar o engajamento da campanha nas redes. Doria soma 1,5 milhão de seguidores no Twitter, outros 1,2 milhão no Instagram, 2,6 milhões no Facebook, 20 mil inscritos no YouTube e apenas 783 seguidores no TikTok.
Também tentando se viabilizar na terceira via, a senadora Simone Tebet (MDB) tem 308 mil seguidores no Twitter, 154 mil na página do Facebook, 129 mil no Instagram e 1994 no TikTok. Já o deputado Luciano Bivar, pré-candidato pelo União Brasil, tem perfil oficial apenas no Facebook e conta com cerca de 18 mil seguidores.
Metodologia de pesquisa citada na reportagem
O Datafolha entrevistou 2.556 eleitores entre os dias 22 e 23 de março, em 181 cidades. O levantamento foi contratado pelo jornal Folha de S. Paulo e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-08967/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
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