A proximidade das eleições de outubro intensifica também as negociações para a escolha dos candidatos a vice nas chapas presidenciais. Até o momento, nenhuma das cinco principais pré-candidaturas tem um nome definitivo para o posto. Nem mesmo a do presidente Jair Bolsonaro (PL), que tem um vice-presidente em atividade, o general Hamilton Mourão (PRTB).
As discussões em torno dos possíveis vices repetem um roteiro consagrado na política nacional. Alguns segmentos defendem que os pré-candidatos escolham como vice um nome plenamente identificado ideologicamente com o titular, para garantir a "pureza" nas propostas e também diminuir os riscos de um eventual rompimento. Na mão oposta, a outra hipótese é selecionar alguém que represente outra corrente de pensamento para assim buscar a ampliação do número de simpatizantes da chapa.
Esta divisão marca a negociação em torno das pré-candidaturas de Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Sergio Moro (Podemos), Ciro Gomes (PDT) e João Doria (PSDB). Confira abaixo um panorama da busca pelo vice nas cinco chapas.
Militar, mulher ou membro do Centrão, as preferências de Bolsonaro
Em janeiro, o presidente da República disse que já havia selecionado seu vice para 2022. Mas ressaltou que só revelaria o nome nos meses seguintes. Bolsonaro falou que divulgará o parceiro de chapa "aos 48 do segundo tempo" e que a escolha será feita em parceria com o presidente nacional de seu partido, Valdemar Costa Neto.
Enquanto Bolsonaro não oficializa o vice, as especulações se fortalecem. A mais recente coloca no páreo a ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Ela é filiada ao União Brasil e está em processo de migração para o PP, partido do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. Tereza é ministra desde o primeiro dia de governo e tem tido uma atuação elogiada até o momento atual.
A entrada dela na chapa contribuiria para tentar diminuir a rejeição que Bolsonaro tem entre as mulheres e também consolidaria o apoio do agronegócio ao presidente. Publicamente, a ministra nega a meta de ser vice de Bolsonaro. Em nota ao jornal O Estado de S. Paulo, Tereza afirmou que seu plano para 2022 é ser candidata ao Senado pelo Mato Grosso do Sul. Atualmente, é deputada federal licenciada.
Outra corrente é a de que Bolsonaro poderia selecionar um dos seus ministros militares, como Braga Netto (Defesa) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional). O presidente chegou a mencionar em conversas reservadas que a escolha de um militar seria uma prevenção a um possível processo de impeachment – a classe política teria menos tendência a apoiar uma deposição se o herdeiro do cargo tivesse origem nas Forças Armadas.
Braga ganhou um apoio relevante na quarta-feira (9): o atual vice-presidente Hamilton Mourão disse, em entrevista à CNN, que considera o ministro "capacitado" para o cargo. Mourão, aliás, é carta fora do baralho. O vice-presidente, que não se integrou de forma plena com o restante do governo desde o início do mandato, deve ser candidato ao Senado. Na mesma entrevista à CNN, ele mencionou que estuda concorrer pelo Rio de Janeiro ou pelo Rio Grande do Sul, seu estado natal.
Outro nome cotado é o do ministro chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, principal articulador político da candidatura à reeleição de Bolsonaro. Ex-aliado dos governos petistas, Nogueira é presidente nacional do PP, o maior partido do Centrão e um dos fiadores do apoio ao governo no Congresso. O ministro tem acompanhado Bolsonaro em agendas públicas e dados entrevistas à mídia para defender o Planalto. Senador pelo Piauí, Nogueira agregaria à chapa do atual presidente da República o voto do Nordeste.
Alckmin está "99,9%" fechado com Lula
O ex-governador paulista Márcio França, membro da executiva nacional do PSB, disse em entrevista à Globo News, na segunda-feira (7), que a possibilidade de o também ex-governador paulista Geraldo Alckmin ser vice de Lula na eleição de outubro foi de "99% para "99,9%".
Alckmin, que já foi ferrenho adversário de Lula, começou a ser sondado para compor a chapa do petista no fim do ano passado. A ideia teve França como um dos principais idealizadores. O movimento aproveitou o desencontro entre o ex-governador e seu antigo partido, o PSDB, e viu na oportunidade uma chance de ampliar o eleitorado de Lula, ao trazer consigo um público de centro-direita identificado com Alckmin.
Além disso – e este é um dos componentes que motivou a atuação de França –, ajudaria a retirar Alckmin da disputa eleitoral para o governo de São Paulo. O ex-governador ainda detém considerável simpatia por parte do eleitorado paulista.
Desde então, Alckmin foi sondado por diferentes partidos para se filiar: PSD, PSB, Solidariedade e, mais recentemente, o PV. O partido ligado à causa ambiental formalizou na terça-feira (8) seu convite a Alckmin e disse que indicaria o ex-governador para ser vice de Lula.
A meta do ex-presidente é reduzir, cada vez mais, a resistência que setores do PT ainda manifestam à possível chapa. Expoentes do partido como o deputado federal Rui Falcão (SP), ex-presidente da legenda, expressaram reprovação à eventual parceria. Mas, aos poucos, nomes clássicos do PT começam a reverter a opinião. Em entrevista à revista Fórum, o ex-governador gaúcho Tarso Genro disse considerar a aliança um "acidente histórico" e um método para derrotar Bolsonaro.
Vice de Moro depende de coligação
A homologação do União Brasil, ocorrida na terça-feira (8), interfere na escolha de um vice para o ex-ministro Sergio Moro. Isso porque segmentos do novo partido tentarão trazer Moro para a agremiação, retirando-o do Podemos, partido ao qual se filiou em novembro.
Caso Moro ingresse no União Brasil, é possível que o Podemos escolha seu vice. E aí uma hipótese colocada é a da deputada federal Renata Abreu (SP), presidente nacional do partido.
Mas se Moro permanecer no Podemos – o que é a hipótese mais provável no atual momento – a mão se inverte e o União Brasil passa a ser o partido do vice. Neste caso, novamente a opção em curso é a do presidente nacional da sigla, o deputado federal Luciano Bivar (PE).
O União Brasil é também o partido do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (MS), que chegou a se lançar pré-candidato a presidente, mas desistiu do projeto por falta de apoio. Ele também é mencionado como um possível vice de Moro.
Marina é o sonho de Ciro, mas realidade é diferente
Em janeiro, o ex-ministro Ciro Gomes afirmou que sua antiga colega de Esplanada, Marina Silva (Rede), seria uma boa opção para a vice-presidência. Em entrevista ao jornalista José Luiz Datena, disse: “Marina Silva tem todos os dotes e talentos para ser uma grande presidente do Brasil. Sou amigo e admirador dela, e gostaria muito de caminhar com a Rede, que é o partido da Marina, nessa mudança no Brasil”.
A declaração foi endossada pelo presidente do PDT, Carlos Lupi, que afirmou buscar para a candidatura Ciro uma mulher para vice.
A hipótese, porém, se enfraqueceu por conta de movimentações de líderes da Rede, que buscam aproximação com a candidatura de Lula. O senador Randolfe Rodrigues (AP) se encontrou com o ex-presidente e declarou apoio ao projeto petista. Ele chegou a ser convidado por Lula para ser parte de sua equipe que elaborará o programa de governo.
Doria: negociações existem, mas candidatura está sob risco
O governador de São Paulo e pré-candidato do PSDB, João Doria, se encontrou na segunda-feira (7) com a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), o que colocou a parlamentar no radar das especulações para ocupar a vice na chapa do tucano. Gama reúne duas características positivas para Doria: ser mulher e do Nordeste, região em que o governador desfruta de pouca popularidade.
O tucano também sonda outra senadora para a sua chapa, Simone Tebet (MDB-MS). A dificuldade que marca esta hipótese é que a emedebista também se posiciona como pré-candidata à Presidência e declarou, em diversas ocasiões, que não cogita abdicar de seu projeto para concorrer como vice.
Além disso, Doria enfrenta dificuldades dentro do seu próprio partido. Líderes do PSDB, como o senador Tasso Jereissati (CE) e o ex-presidente do partido José Aníbal, têm falado publicamente em abortar o projeto. O governador Eduardo Leite (RS), que disputou com Doria as prévias do PSDB e foi derrotado pelo paulista, também mencionou o fato de seu antigo adversário ter muita rejeição no próprio estado que governa, o que dificulta o avanço nacional.
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