Pré-candidato ao Planalto, o ex-governador de São Paulo João Doria conseguiu uma pequena vitória dentro do PSDB com o recuo estratégico do ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite, outro postulante da Presidência da República. Em carta divulgada na semana passada, Leite reconheceu o ex-governador paulista como pré-candidato tucano. "Hoje este nome é João Doria, por decisão dele e das prévias – das quais nunca se buscou tirar legitimidade", escreveu.
Apesar disso, a pressão para Doria abrir mão da pré-candidatura continua forte e vem de todos os lados – de partidos parceiros da chamada terceira via a aliados do agora governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, passando por parlamentares da bancada tucana em Brasília.
Leite foi derrotado por Doria nas prévias do PSDB, realizadas no final do ano passado. Desde então o partido vive um racha e um ala defende que Leite tente se viabilizar diante do baixo desempenho de Doria nas pesquisas eleitorais.
A carta de recuo do gaúcho veio dias depois de um encontro entre o gaúcho e o paulista em São Paulo. No encontro, Leite havia pedido espaço nas peças da propaganda do partido. Doria, no entanto, negou e afirmou que as inserções seriam do vencedor das prévias do PSDB. Além disso, o ex-governador de São Paulo afirmou que insistiria em sua candidatura e que poderia, inclusive, judicializar a questão.
Diante disso, Leite aceitou dar um passo atrás na tentativa de se viabilizar e trabalhar pela pacificação dentro do PSDB. "Eu me coloco ao lado do meu partido e desta candidatura, na expectativa de que a união do PSDB contribua com a aguardada unificação dos atores políticos do centro daqui até a eleição de outubro", completou o gaúcho.
Aliados de Garcia pressionam para que Doria desista de candidatura
Um movimento iniciado por aliados do governador Rodrigo Garcia passou a encampar nos últimos dias que o PSDB não tenha um nome ao Palácio do Planalto. Garcia era vice de Doria e assumiu o governo de forma interina para trabalhar pela sua reeleição nos próximos meses.
De acordo com integrantes do ninho tucano, a estratégia vem sendo liderada por Garcia e pelo presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, e seria uma forma de a sigla se manter à frente do Palácio dos Bandeirantes. Nos cálculos, líderes do partido temem que a rejeição de Doria acabe inviabilizando o projeto de reeleição de Garcia.
"Olha, [a carta ameniza] por pouco tempo. O PSDB é um partido que tem naturalmente suas divergências internas, muita bicada interna, mas achei um gesto importante o governador Eduardo Leite reconhecer a vitória do João Doria nas prévias", avaliou Garcia após o recuo de Leite.
O PSDB governa São Paulo há pelo menos 30 anos e teme perder o comando do maior estado do país diante do momento atual do partido. Recentemente, por exemplo, Araújo afirmou que a eleição de Garcia seria uma "prioridade" dentro do PSDB. O movimento acabou afastando o presidente da sigla de João Doria.
"Há um movimento claro para que o PSDB não tenha candidato. Esse movimento está acontecendo, inclusive de lideranças de São Paulo e que foram vitais para que o [ex] governador Doria ganhasse as prévias", afirmou o deputado Aécio Neves (MG).
Bancada do PSDB também questiona candidatura própria
Além de lideranças do estado de São Paulo, o movimento para que o PSDB não tenha candidatura ao Planalto vem ganhando o endosso da bancada tucano no Congresso. Nos cálculos, parlamentares da sigla afirmam que nenhum dos nomes da terceira via se mostrou viável para furar a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Com isso, avaliam que a melhor estratégia seria o PSDB investir na eleição de governadores e da bancada.
"Seja Doria ou Eduardo Leite, nenhum deles vai trazer o consenso para o partido. A eleição está dada entre Lula e Bolsonaro. O que precisamos é de um projeto de partido, que garanta a sobrevivência do PSDB", avalia um integrante da bancada tucana.
Atualmente o PSDB conta com apenas 23 deputados federais. Na eleição de 2014, quando Aécio Neves foi derrotado por Dilma Rousseff (PT) no segundo turno da corrida presidencial, o partido elegeu 54 deputados. O PSDB aprovou uma federação com o Cidadania, o que nos cálculos da cúpula tucana pode ampliar a bancada do grupo.
Doria enfrenta resistências dentro dos demais partidos da terceira via
As negociações da terceira via envolvem lideranças do PSDB e de outros partidos como Cidadania, União Brasil e o MDB. O grupo busca construir uma unificação das candidaturas dos partidos.
Além de Doria, que é o pré-candidato pelo PSDB, as articulações ainda envolvem os nomes de Simone Tebet e de Luciano Bivar, pré-candidatos pelo MDB e União Brasil, respectivamente. A promessa inicial era de que um nome de consenso fosse anunciado no dia 18 de maio, mas lideranças dos partidos já admitem que a data pode ser revista.
Paralelamente, líderes do União Brasil e do MDB não descartam a possibilidade de escantear o PSDB nas discussões devido à crise no partido. Isso porque na avaliação de integrantes das duas legendas, o isolamento de João Doria pode acabar inviabilizando qualquer acordo entre os partidos.
Por um lado, lideranças envolvidas nas negociações admitem que, apesar de ter conquistado o direito de ser o pré-candidato, Doria teria dificuldades para se viabilizar por conta da rejeição dentro e fora do PSDB. Paralelamente, uma composição com Eduardo Leite poderia implicar em uma judicialização da chapa, já que Doria poderia levar o embate para a Justiça.
Nos bastidores, integrantes dos partidos da terceira via calculam que uma chapa entre Tebet e Leite poderia se viabilizar e furar a polarização Lula-Bolsonaro. Antes do recuo, Leite já havia sinalizado que poderia compor uma chapa com a senadora do MDB.
Apesar disso, líderes do União Brasil temem oferecer suporte como tempo de televisão e dinheiro do fundo eleitoral para uma chapa onde ambos os nomes não têm consenso dentro dos próprios partidos. Além da crise do PSDB, o nome de Tebet é motivo de divergências dentro do MDB, onde ao menos metade dos 27 diretórios estaduais indicam apoio à candidatura de Lula.
Como forma de tentar contornar a crise dentro do PSDB, Doria e seus aliados têm atuado junto aos demais partidos da terceira via para que a data de anúncio da candidatura do grupo seja adiada. Ao invés de 18 de maio, o pré-candidato tem trabalhado para que o acordo seja sacramentado em junho.
A estratégia de Doria visa mensurar o peso das inserções da propaganda partidária em que será garoto propaganda do PSDB. Os comerciais vão ao ar a partir desta terça-feira (26) e o pré-candidato pretende se apresentar como o "pai da vacina" contra a Covid-19.
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