Os comitês de campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) traçaram estratégias para o uso das redes sociais O foco, dos dois lados, é buscar o engajamento de eleitores mais ideológicos, converter votos e influenciar o eleitorado indeciso, além de combater o que consideram "fake news" contra suas candidaturas.
A campanha de Bolsonaro avalia que cada plataforma tem o seu público, forma e linguagem diferentes de se comunicar com o "consumidor" daquele conteúdo e, consequentemente, com potenciais eleitores.
Já do lado de Lula, a abordagem para as redes sociais ganhou um impulso com a chegada do deputado federal André Janones (Avante-MG) à campanha. O parlamentar era candidato a presidente e desistiu para apoiar Lula. Janones é um dos membros do Congresso mais ativos nas redes sociais e detém números de alcance superior aos de alguns políticos mais experientes – no Facebook, por exemplo, tem mais seguidores que o próprio Lula.
A avaliação do especialista Cláudio Bruno, diretor de Inovação e Evangelismo da Cortex, empresa líder em inteligência de dados na América Latina, é de que Lula e Bolsonaro ainda conversam muito na internet com suas "bolhas" – ou seja, para segmentos da sociedade já previamente dispostos a apoiar um e rejeitar outro candidato. “Eles falam para os ‘convertidos’.”
Bolsonaro terá discurso diversificado para cada plataforma das redes sociais
Uma live realizada no último dia 10 entre o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o ministro da Cidadania, Ronaldo Vieira Bento, é citado pela campanha do presidente como um exemplo da estratégia nas redes sociais. Os dois estiveram juntos para falar sobre o início do pagamento do Auxílio Brasil no valor de R$ 600, além da linha de crédito consignado para beneficiários do programa e outros temas sociais.
A transmissão ao vivo foi feita pelo Kwai, aplicativo de criação e compartilhamento de vídeos curtos. A escolha dessa plataforma foi estratégica. O Kwai alcança um público alvo da campanha, o Nordeste. As informações obtidas pela campanha apontam que são cerca de 46 milhões de usuários brasileiros ativos mensalmente no aplicativo, dos quais 13 milhões no Nordeste.
O uso da rede Kwai é uma forma de ilustrar como a campanha quer atingir diferentes tipos de eleitores nas redes sociais. O núcleo político de Bolsonaro diz que o Kwai tem maior penetração entre as classes C, D e E. Conta ainda com um público de quase 90% de usuários superior a 35 anos. Já o TikTok tem aproximadamente 65% dos usuários do com menos de 30 anos, sendo a maioria das classes A e B.
O Instagram e o Twitter são exemplos de redes sociais que demandam esforços diferentes dentro da estratégia de comunicação com o eleitor. Ambas são vistas pela campanha de Bolsonaro como retentoras de públicos mais ideológicos, seja para a direita ou para a esquerda, sem muito espaço para furar a "bolha". Por esse motivo, o planejamento traçado para ambas as mídias é engajar os eleitores mais ideológicos de Bolsonaro para alimentar a militância na internet e rebater adversários políticos ou usuários ligados à campanha do ex-presidente Lula ou de outros presidenciáveis. Embora também atinjam públicos jovens, interlocutores da campanha afirmam que essas duas redes sociais concentram uma "bolha" ideológica mais próxima das classes A e B.
O mesmo vale para o YouTube, embora os coordenadores eleitorais vislumbram a possibilidade de converter votos ou conquistar indecisos entre 16 a 24 anos nessa plataforma. A ideia para romper a "bolha" no YouTube está concentrada em entrevistas concedidas a podcasts.
Um exemplo é a recente participação de Bolsonaro nos podcasts Flow e Cara a Tapa, do jornalista Rica Perrone. As entrevistas são vistas como positivas pela campanha pois, além de falar com um público mais jovem, permitem cortes editados que são disseminados de maneira geral para uma estratégia mais ampla em todas as redes sociais e a todos os públicos, como o Facebook.
Lula aposta em Janones, profissionais e voluntários
O deputado André Janones lançou em seu perfil no Twitter, na última terça-feira (16), um desafio aos seguidores: pediu que todos espalhassem "pelos 4 cantos do país" uma imagem em que comparava Lula a Bolsonaro, atribuindo ao petista resultados melhores. Após o pedido, postou a hashtag #GabineteDoAmor. O termo contrasta com o chamado "gabinete do ódio", estrutura que os críticos de Bolsonaro afirmam que existiria nas redes sociais para atacar adversários do presidente.
O "Gabinete do Amor" se integra a uma diretriz que o PT adotará em suas redes sociais e também no horário eleitoral de rádio e TV: a de ter como mote inicial a defesa das realizações de Lula e a narrativa de que, nos governos do petista, o Brasil era um país melhor.
A estratégia da campanha de Lula para as redes sociais também é estar "em todos os canais", como explica o secretário nacional de Comunicação do PT, Jilmar Tatto. "Nós pretendemos fazer disputa política também nas redes", diz.
A ação do PT na internet será conduzida por profissionais contratados para a campanha e também por voluntários. O PT criou no início do ano os Comitês Populares de Luta, estruturas distribuídas por todo o país para valorizar lideranças locais e também para unificar o discurso. Esses comitês, segundo Tatto, servirão também como peça de referência para a atuação na internet.
A parte da profissionalização da campanha de Lula inclui não apenas uma equipe direcionada à tarefa, mas também a contratação de anúncios a serem exibidos via Google, o que contempla plataformas como o YouTube. Entre 26 de junho e 16 de agosto, o PT investiu R$ 191 mil na divulgação de 26 peças publicitárias por meio do Google. Os dados são da biblioteca de anúncios do Google, mecanismo disponibilizado pela própria plataforma. A linha das propagandas segue a ótica de expor os feitos do governo Lula. As críticas a Bolsonaro aparecem, mas sempre no contraste com o que, na visão dos petistas, era o Brasil durante as gestões Lula e Dilma Rousseff.
Tatto afirma que o PT também manterá uma ação na internet destinada a identificar notícias falsas que envolvam o partido. "Vai haver uma reação a isso [fake news], com um monitoramento", diz.
Neste aspecto, a abordagem de André Janones sobre o tema indica outra linha de ação. O deputado e apoiador de Lula escreveu recentemente que "não se desmente fake news". "O algoritmo das redes não diferencia se o viés é de confirmação ou negação da notícia inventada. A única forma de combate é sobrepondo outra pauta à deles [os disseminadores das fake news]", diz. O deputado foi formalmente integrado à campanha de Lula, como um de seus coordenadores, tendo enfoque principal nas redes sociais e na discussão sobre o auxílio emergencial.
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