O governador de São Paulo, João Doria, e o ex-juiz Sergio Moro são pré-candidatos na chamada terceira via.| Foto: Luis Blanco/Governo de SP
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Apesar dos acenos públicos, os pré-candidatos à presidência da República da chamada terceira via ainda encontram diversos obstáculos para unificação das candidaturas em torno de um único nome. Até o momento, o ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro (Podemos), o governador João Doria (PSDB-SP), e da senadora Simone Tebet (MDB-MS) defendem a união do grupo. Mas essa pretensão esbarra em disputas internas de seus partidos e entre os próprios pré-candidatos e costuras políticas das siglas envolvidos na corrida presidencial.

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No último levantamento CNT/MDA, de fevereiro, Sergio Moro apareceu em quarto lugar na corrida presidencial com 6,4% das intenções de voto. O ex-juiz está tecnicamente empatado com Ciro Gomes (PDT), que somou 6,7%. Na mesma pesquisa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece na liderança com 42,2%, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que somou 28% das intenções de voto.

Durante evento promovido pelo banco BTG Pactual com investidores em São Paulo, Moro afirmou que as pré-candidaturas da terceira via já deveriam ter se afunilado em apenas um nome. Contudo, o ex-juiz sinalizou que não pretende abrir mão do seu nome para apoiar outro pré-candidato do grupo.

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“Acho que é essencial a união contra os extremos. Mas estou em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto e não faz sentido eu abdicar dessa candidatura para vencer os extremos. A gente precisa realmente buscar essa união entre todos os pré-candidatos desse centro democrático. Se não, vamos cair nas garras dos extremos, e acho que não temos tempo a perder”, afirmou o ex-juiz.

Apesar disso, para integrantes dos partidos que encampam a terceira via, o nome de Sergio Moro ainda enfrenta dificuldade de atrair apoio de outros grupos políticos. O ex-juiz chegou a costurar um acordo com o União Brasil, mas a aliança acabou esbarrando em resistências do novo partido, fruto da fusão do DEM com o PSL.

Um dos principais opositores da composição com Moro foi o ex-prefeito de Salvador e ex-presidente do DEM ACM Neto. Pré-candidato ao governo da Bahia, ele avalia nos bastidores que o apoio a Moro poderia enfraquecê-lo no estado.

Com quase R$ 1 bilhão do fundo eleitoral e a maior fatia do tempo da propaganda eleitoral, o União Brasil poderia oferecer musculatura para a candidatura de Moro. No entanto, aliados do ex-juiz admitem que as negociações esfriaram e o apoio do novo partido é dado como incerto.

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Federação do MDB como o União Brasil pode dar destaque para Simone Tebet 

Com o impasse sobre o apoio ao nome de Sergio Moro, a cúpula do União Brasil passou a discutir a criação de uma federação partidária com o MDB e com o PSDB. Integrantes do partido, no entanto, já sinalizam que o acordo com os emedebistas já está encaminhado, enquanto existem resistências para uma aliança com os tucanos. A expectativa é que uma definição ocorra após a segunda quinzena de março.

Diante disso, integrantes do MDB acreditam que o nome da senadora Simone Tebet deve ganhar musculatura a partir de abril, quando os acordos já estiverem chancelados. De acordo com o último levantamento CNT/MDA, a emedebista tem apenas 0,6% das intenções de voto. Mas, para aliados de Tebet, o baixo percentual de rejeição da emedebista frente aos demais pré-candidatos será um fator determinante para atrair os apoios.

"O centro democrático vai se afunilar. Muitos ficarão pelo caminho. Isso é um processo natural. E não só a pesquisa de intenção de voto [vai definir o candidato do grupo], mas também aquele que tem o menor índice de rejeição, que possa, no caminhar de uma campanha, crescer apresentando essas propostas [comuns da terceira via]”, disse Simone Tebet durante um debate promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide).

No levantamento CNT/MDA, 61,9% dos entrevistados afirmaram não conhecer a pré-candidata do MDB, enquanto 29% afirmam que não votariam nela de jeito nenhum. No caso de Sergio Moro, 6,8% afirmaram não conhecer o ex-juiz e outros 58,2% afirmaram que não votariam nele de jeito nenhum.

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Doria tenta reverter rejeição enquanto acena para unificação da terceira via

Ainda segundo a pesquisa CNT/MDA, o governador de São Paulo, João Doria, é nome da terceira via que enfrenta os piores índices de rejeição entre o eleitorado. Ao todo, 66,5% dos entrevistados afirmaram que não votariam nele de jeito nenhum, enquanto outros 13,6% afirmaram não conhecer o tucano.

Apesar disso, aliados do governador acreditam que ele seria o principal candidato da terceira via e apostam no crescimento de seu nome conforme a campanha avance. No entanto, se Doria não conseguir capitalizar seu nome em cima da vacinação contra a Covi e de outras de suas vitrines, integrantes do PSDB veem chances de o partido desistir de lançá-lo à Presidência.

A movimentação para que o nome de Doria seja retirado da disputada ocorre por parte dos aliados do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. O gaúcho foi derrotado nas prévias do PSDB e agora seu grupo defende a retirada de Doria da disputa diante da rejeição a seu nome.

"Além do baixo desempenho, o que mais preocupa os líderes do partido é a altíssima e persistente rejeição que o candidato escolhido [Doria] tem, inclusive no seu estado, a 45 dias de deixar o mandato", afirmou Leite recentemente.

Paralelamente, o PSDB também tende a compor uma federação partidária com o Cidadania, que tem como pré-candidato à Presidência o senador Alessandro Vieira. A composição, caso seja confirmada, deve ser um novo entrave para a manutenção da candidatura de Doria.

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"O PSDB tem a candidatura de Doria e nós temos a candidatura do Alessandro [Vieira]. Com a federação, isso será discutido entre os dois partidos", afirmou o presidente do Cidadania, Roberto Freire. A expectativa é que um acordo seja sacramentado antes de 31 de maio, prazo definido para os partidos se unirem em federações.

No debate do BTG Pactual, Doria afirmou que pode abrir mão da sua candidatura, mas que isso só deve ocorrer "mais adiante". Para ele, as pré-candidaturas devem ser mantidas "até o esgotamento do diálogo pelos líderes partidários".

"Não vou colocar o meu projeto pessoal à frente daquilo que sempre foi a índole, que me fez ter orgulho de ser brasileiro, do meu país, do povo do meu país. [Isso] é mais importante do que eu mesmo. Se chegar lá adiante e, lá adiante, eu tiver de oferecer o meu apoio para que o Brasil não tenha mais essa triste dicotomia do pesadelo de ter Lula e Bolsonaro, eu estarei ao lado daquele ou de quantos forem os que serão capacitados para oferecer uma condição melhor para o Brasil", disse Doria.

Para o tucano, as medidas de combate à pandemia que anunciou, como restrições de funcionamento a estabelecimentos comerciais e o uso de máscaras, influenciaram diretamente sua popularidade baixa.

Na campanha, o pré-candidato afirmou que quer mostrar a imagem do "João carinhoso" e não do político pró-enfrentamento que tem tido em meio às críticas que faz ao governo de Jair Bolsonaro.

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Metodologia de pesquisa citada na reportagem 

A pesquisa CNT/MDA foi realizada pelo instituto MDA sob encomenda da Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-09751/2022. Foram ouvidos 2.002 eleitores entre os dias 16 e 19 de fevereiro. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%.