O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) entram na campanha do segundo turno da eleição tendo como desafio não apenas conquistar votos, mas também reduzir seus índices de rejeição e aumentar os do adversário.
Tanto Lula quanto Bolsonaro têm altos índices de rejeição, mas os do atual presidente estavam mais altos na reta final do primeiro turno. Segundo a última pesquisa FSB/BTG, divulgada na segunda-feira passada (26), 56% dos eleitores disseram que não votariam em Bolsonaro de jeito nenhum. Já Lula teve rejeição de 46% na pesquisa.
Ambos estão muito perto dos 50%, para cima ou para baixo. Esse é o porcentual a partir do qual, segundo analistas políticos, um candidato dificilmente consegue vencer uma eleição – já que ele não terá a quantidade de votos necessários para bater o adversário no segundo turno.
O cientista político André Rosa diz que a eleição de 2022 tem um aspecto diferente em relação à de 2018, quando Bolsonaro disputou o segundo turno contra Fernando Haddad (PT). "A eleição de 2018 foi a eleição do antipetismo. Já a de 2022 é também do antipetismo, mas conta ainda com o antibolsonarismo. As duas forças estão presentes ao mesmo tempo", diz.
Rosa avalia que a eleição do primeiro turno, por causa dos perfis de Lula e Bolsonaro, já se tornou "muito voltada para o voto útil" – fenômeno em que o eleitor escolhe sua segunda opção, que tem mais chances de evitar a vitória daquele que ele não que ver eleito de nenhum jeito. "O eleitor não necessariamente está escolhendo aquele com quem tem o melhor apreço. É uma eleição do menos pior. O eleitor faz um cálculo para ver com qual candidato vai perder menos, e assim vota", afirma o especialista. Na avaliação de Rosa, esse cenário aumenta a possibilidade de o segundo turno ter uma trajetória de previsibilidade.
Isso acontece porque a polarização entre Lula e Bolsonaro já diminui o espaço da terceira via. E os eleitores dos demais candidatos, embora importantes no segundo turno, não terão o peso eleitoral que tiveram em eleições passadas, bem os apoios que eventualmente esses nomes venham a dar nesta etapa final da campanha. "Temos dois players [candidatos] que dividem muito o eleitorado. Vai ser uma continuidade da polarização", afirma.
Como reverter os índices de rejeição
Especialistas em marketing político consultados pela Gazeta do Povo dizem que a rejeição elevada não torna impossível a vitória, mas que é preciso reduzi-la, além de tentar aumentar a do adversário.
"Dificilmente um candidato com rejeição acima de 50% consegue se eleger para o Executivo", diz o publicitário Marcelo Vitorino. Segundo ele, para que um candidato com índice tão elevado de rejeição tenha a possibilidade de vencer é necessário que a disputa tenha outro candidato tão rejeitado quanto ele. "Isso motivaria a abstenção e possibilitaria uma vitória", afirma Vitorino.
Ou seja, uma das possíveis estratégias para vencer é aumentar a rejeição do oponente. A consultora Gisele Meter afirma que ao menos num primeiro momento, a melhor estratégia para reduzir a própria rejeição e aumentar a do adversário é explorar as fragilidades do oponente.
Gisele Meter diz que "nenhuma rejeição é irreversível" porque, no segundo turno, esse indicador também depende da rejeição do adversário e de acontecimentos externos imprevisíveis. "O que devemos considerar quando falamos em rejeição é o sentimento, que está ligado à emoção que alimenta esse sentimento", diz ela.
Vitorino afirma ainda que uma menor rejeição permite a um candidato "sair na frente" na disputa do segundo turno. A opinião é endossada por Gisele, para quem o capital negativo acumulado ao longo do primeiro turno não se extingue com a chegada do segundo. "Nenhum político zera o saldo de rejeição de uma hora para outra. Seria o mesmo que acreditar que todos os nossos problemas sumiriam na virada de ano novo. O que pode ocorrer é uma diluição dessa rejeição", afirma a consultora.
Em todas as eleições presidenciais desde a redemocratização, o candidato mais votado no primeiro turno foi o vencedor da disputa. Foi o que ocorreu com Fernando Collor em 1989, Lula em 2002 e 2006, Dilma Rousseff em 2010 e 2014 e Bolsonaro em 2018.
Metodologia da pesquisa citada na reportagem
O Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, dois mil eleitores entre os dias 23 e 25 de setembro de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no TSE com o protocolo BR-08123/2022.
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