Uma declaração de Marcelo Freixo (PSB) na primeira semana de campanha gerou críticas até mesmo de uma aliada. Em entrevista à TV Record, o candidato ao governo do Rio de Janeiro afirmou que não é mais a favor da legalização das drogas. “Não acho que isso vai nos ajudar nesse momento no Brasil”, disse.
Seu adversário direto nas eleições, o atual governador Cláudio Castro (PL), afirmou que a mudança de postura seria uma manifestação do “oportunismo eleitoral” de Freixo. “Será que Freixo vai dizer que agora é contra o aborto?”, escreveu, no Twitter.
Luciana Boiteux, que foi vice na chapa de Freixo nas eleições para a prefeitura do Rio em 2016, também criticou a fala. “Sou estudiosa da política de drogas há mais de 15 anos e escrevi uma tese de doutorado sobre a legalização das drogas. Devo dizer que certo está o presidente da Colômbia, que reconheceu o fracasso da proibição e defendeu a legalização do plantio de cannabis sem licença. Freixo, não”, disse, nas redes sociais.
Para especialistas, o novo posicionamento está relacionado a um movimento de moderação do candidato, em busca de eleitores de centro. A ideia é evitar temas polêmicos que não estão sob responsabilidade do governador, como a legalização das drogas, em prol de uma “frente ampla” de esquerda que se opõe a Castro, candidato apoiado por Jair Bolsonaro (PL).
“Mudei de opinião”, diz Freixo
Em sabatina ao portal g1, Freixo foi confrontado pela declaração. Na entrevista, o portal exibiu um vídeo antigo no qual o candidato defendia a legalização das drogas.
“Nós já vimos que a guerra às drogas significa guerra aos lugares mais pobres, superlotação da população carcerária, aumento de homicídios e aumento de agentes públicos mortos. Nós não ganhamos nada com esse processo de criminalização das drogas ao longo desses anos todos”, afirmava Freixo, no vídeo.
Na entrevista, o candidato afirmou que a mudança de posição não foi uma sugestão de sua equipe de marketing.
“Eu mudei de opinião a partir de escutar a sociedade, e é um momento muito sério que a gente está vivendo. Eu não posso concordar com nada que divida mais a sociedade brasileira do que já ela já está dividida. (...) Qualquer assunto que nos remeta ainda mais a dividir essa sociedade, eu não sou favorável nesse momento. Pelo contrário, o momento é de união, do diálogo”, afirmou.
Freixo disse, ainda, que a legalização não é papel do governador. Como chefe de Executivo, afirmou, ele pode treinar melhor a polícia, reduzir a taxa de letalidade e de homicídios, além de ampliar a oferta de tratamento para dependentes químicos.
“Eu não acho que seja um defeito mudar de opinião. É necessário saber ouvir as pessoas”, completou.
Mudança começou com troca de partido
De acordo com Alessandra Maia, professora de Ciência Política na PUC-Rio, o movimento de Freixo em direção a um discurso mais moderado não é algo novo. “Essa sinalização começou antes da campanha, quando ele migrou de partido”, diz.
Em junho do ano passado, Freixo trocou o Psol depois de 16 anos, filiando-se ao PSB.
“Hoje, encerro esse ciclo com a certeza de que apesar de não estarmos no mesmo partido seguiremos na mesma trincheira de defesa da vida, da democracia e dos direitos do povo brasileiro. Essa decisão foi longamente amadurecida e tomada após muito diálogo com dirigentes nacionais e estaduais, a quem agradeço pelas reflexões fraternas que compartilhamos”, disse o candidato, à época.
O PSB é o partido de Geraldo Alckmin, vice de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na campanha para presidente. Lula apoia Freixo nas eleições estaduais.
“Ao mudar de partido, Freixo já estava sinalizando uma convergência com determinadas pautas que não eram exatamente as que ele defendia antes”, diz Maia.
Outro sinal desse mesmo movimento foi a escolha de César Maia, do PSDB, como vice. Uma falha, porém, segundo a cientista política, foi não promover uma aliança com o PDT, que lançou Rodrigo Neves como candidato próprio. O pedetista tem centrado ataques em Freixo, justamente porque divide o mesmo eleitorado do candidato do PSB.
Estratégia para atrair eleitor de centro
Segundo Marcia Ribeiro Dias, professora e pesquisadora da Escola de Ciência Política da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), a moderação do discurso é importante para fortalecer a campanha de Freixo.
Ela cita que, em 2016, o candidato teve um bom desempenho nas eleições para prefeito do Rio, mas não o suficiente para vencer. Na ocasião, ele obteve 40,64% dos votos no segundo turno, contra 59,36% do adversário, Marcelo Crivella.
“Uma das razões [para a derrota] está relacionada ao medo da radicalização. No Rio, manda muito a questão da segurança, e colocaram um rótulo no Freixo de que ele é defensor de bandido. Isso assusta a classe média, que está amedrontada com a violência nas ruas”, avalia Dias. Em sua carreira política, Freixo já defendeu, por exemplo, anistia para jovens envolvidos com o tráfico.
De acordo com a professora, Freixo vem tentando “escapar” desse rótulo, apresentando um discurso mais moderado. Com isso, a ideia é atrair um eleitor mais de centro, que não descarta votar na esquerda. O candidato tem afirmado, por exemplo, que sua política de segurança será baseada no número de vidas salvas, e não de mortes.
Pesquisas de intenção de voto mostram candidatura competitiva
Levantamento de intenção de voto realizado pelo Instituto Real Time Big Data aponta para um segundo turno entre Cláudio Castro (32%) e Marcelo Freixo (22%). O terceiro colocado, Rodrigo Neves (PDT), tem 8%.
Outra pesquisa, do Datafolha, aponta Castro e Freixo tecnicamente empatados, com 26% e 23% das intenções de voto, respectivamente.
Veja a metodologia das duas pesquisas:
- Real Time Big Data
A pesquisa eleitoral encomendada pela Record TV para a Real Time Big Data entrevistou 2 mil pessoas por telefone, entre os dias 20 e 22 de agosto. A margem de erro do levantamento é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%, sob o registro na Justiça Eleitoral com o número RJ-06275/2022.
- Datafolha
O Datafolha entrevistou 1.204 eleitores em 34 municípios do estado do do Rio de Janeiro entre os dias 16 e 18 de agosto. A margem de erro do levantamento é de três pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%, sob o registro na Justiça Eleitoral com o número RJ-05939/2022. A pesquisa foi contratada pela Folha de São Paulo e TV Globo.
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