Com o início da campanha eleitoral, a senadora e candidata a presidente da república Simone Tebet (MDB) registrou crescimento acima da margem de erro em ao menos duas pesquisas eleitorais nas últimas semanas e, mesmo distante de furar a polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), a campanha da candidata comemora os resultados.
O mais recente levantamento do BTG/FSB, de segunda-feira (5), aponta um avanço que já vem desde a metade de agosto, de 2% para 6% das intenções de votos, já indicando um crescimento acima da margem de erro de dois pontos porcentuais. Nesta pesquisa, ela apareceu tecnicamente empatada com Ciro Gomes (PDT), que estava com 8%.
Esse crescimento foi mais expressivo entre os eleitores de classe média que têm renda de 2 a 5 salários mínimos (de 2% para 7%) e os que vivem nas regiões Norte/Centro-oeste (3% para 7%) e Nordeste (1% para 4%).
O mesmo levantamento mostra que o potencial de voto em Simone Tebet – quantas pessoas votariam nela ou considerariam votar nela – passou de 15% no começo de agosto para 28%.
O Datafolha da semana passada também mostrou um avanço da candidata, acima da margem de erro: ela foi de 2% para 5%, entre as pesquisas divulgadas em 18 de agosto e 1º de setembro.
Nas entrevistas dadas desde então, quando é questionada sobre sua colocação nas pesquisas, Tebet não poupa comentários de que, se chegar ao segundo turno, vai se eleger presidente da República.
“Se olharmos que, em uma semana, saímos e crescemos 150% no Datafolha, saímos de 2% pra 5%. As pessoas agora começaram a olhar pra campanha, algumas coisas talvez me diferenciam que me permitem pelo menos que elas olhem e vejam ‘vou ver o que ela tem a dizer’”, disse Tebet no começo desta semana.
Ainda em relação ao resultado do Datafolha da semana passada, a campanha da senadora fez uma publicação nas redes sociais dela, afirmando que "nosso crescimento nas pesquisas mostra que os brasileiros acreditam na mudança de verdade".
Por outro lado, a candidata não comentou o avanço de apenas 1 ponto na pesquisa Ipec divulgada nesta semana, em que aparece na quarta colocação com 4% das intenções de voto. Veja as metodologias das pesquisas BTG/IFB, Datafolha e Ipec mais abaixo.
Não é mais uma desconhecida
O crescimento da candidatada, segundo analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, era esperado pela exposição que ela teve nas sabatinas, como a do Jornal Nacional, no primeiro debate entre presidenciáveis, na Band, no horário eleitoral gratuito de rádio e TV.
Simone tem o terceiro maior tempo de propaganda eleitoral gratuita entre os candidatos a presidente: 2 minutos e 20 segundos, além de 185 inserções de 30 segundos ao longo das programações durante toda aa campanha. Além disso, o estrategista da campanha da candidata, Felipe Soutello, que já conduziu as campanhas tucanas de José Serra e Fernando Henrique Cardoso, tem apostado nas propagandas em redes sociais.
A campanha de Tebet é a que mais usa o impulsionamento de conteúdos no Facebook entre os presidenciáveis, com 216 anúncios e R$ 466,3 mil gastos nos últimos 30 dias. As peças focam principalmente nas propostas de governo, com a participação da vice Mara Gabrilli.
Já no Google, de acordo com o relatório Ads Transparency, a senadora já gastou R$ 465 mil em anúncios de vídeo e de texto, que são aqueles que aparecem no topo das páginas de resultados de busca na plataforma. Na comparação com os principais concorrentes, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera com R$ 2,412 milhões gastos; seguido por Jair Bolsonaro (PL), com R$ 1,149 milhão; Ciro Gomes (PDT), com R$ 593 mil, e Soraya Thronicke (União Brasil) com R$ 58 mil.
Toda essa exposição fez com que o nível de desconhecimento da candidata caísse 22 pontos percentuais em um mês nas pesquisas BTG/FSB: em 8 de agosto, 57% dos eleitores diziam que não a conheciam o suficiente; já em 5 de setembro, esse número havia caído para 35%.
Como era de se esperar, ao se tornar mais conhecida, o nível de rejeição de Simone aumentou neste mesmo período: passou de 27% para 36%.
Otimismo é prematuro, diz analista
O otimismo de Tebet ainda é prematuro, na opinião de Jefferson Oliveira Goulart, cientista político, doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo e professor na Unesp em Bauru (SP).
“Eu não diria que ela despontou ou emplacou ou que reúne as condições necessárias para furar a polarização estabelecida entre o atual presidente e o ex-presidente Lula", opina. "O fato de ela ter tido mais exposição após o debate, redes sociais e entrevistas tem um impacto sobre o eleitorado, de ver mais um personagem na disputa, o que se traduziu em oscilações nas pesquisas das últimas duas semanas”, pondera.
Goulart acredita que essa oscilação nas pesquisas, com algumas diferenças entre uma e outra, é muito fraca, ainda, para se estabelecer uma real tendência de crescimento. Para ele, o crescimento a ponto de mexer na ponta de cima dos levantamentos esbarra em questões que ela enfrenta na conjuntura eleitoral como um todo.
A começar pela falta de palanques próprios em todo o país: a candidata tem palanques em apenas sete estados, segundo levantamento da Gazeta do Povo. Depois, pela estrutura partidária do MDB e legendas coligadas, como PSDB e Cidadania, que passaram por conflitos internos nos últimos quatro anos, e pela quantidade de eleitores que se dizem com a escolha definida – que chega a 79% do eleitorado, segundo a BTG/FSB e também é elevada em levantamentos do Datafolha e outros institutos.
Por outro lado, Eduardo Soncini Miranda, doutor em ciência política e professor nas universidades Católica do Paraná (PUCPR) e Unicamp, avalia que candidata tem potencial de construir uma trajetória para a próxima disputa disputa presidencial, em 2026. Ele afirma que as convicções mais conservadoras aliadas à "defesa da democracia, a questão da ciência e das mulheres", ajudam Simone a se projetar no eleitorado.
No entanto, ressalva Goulart, há o agravante de que o mandato de senadora de Simone termina neste ano. “A exposição pública dela no próximo período, seja quem se eleja, fica muito difícil. O que não quer dizer que ela não possa assumir uma posição de liderança no partido ou disputar uma eleição intermediária”, completa.
Metodologias das pesquisas
BTG/FSB
O Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, dois mil eleitores entre os dias 2 e 4 de setembro de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no TSE com o protocolo BR-01786/2022.
Datafolha
O Datafolha entrevistou 5.734 eleitores entre os dias 30 de agosto e 1º de setembro em 285 municípios brasileiros. O levantamento foi contratado pelo jornal Folha de S. Paulo e pela TV Globo e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-00433/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
Ipec
O Ipec entrevistou 2.512 eleitores de 158 municípios entre os dias 2 e 4 de setembro de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pela TV Globo e está registrada no TSE com o protocolo BR-00922/2022.
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