A candidata do União Brasil à Presidência da República, Soraya Thronicke, afirmou que se sente "enganada e decepcionada" com o desempenho do presidente Jair Bolsonaro (PL). Ela é senadora pelo Mato Grosso do Sul e foi eleita como parte da "onda conservadora" que ascendeu ao lado de Bolsonaro nas eleições de 2018. Chegou a exercer o cargo de vice-líder do governo no Congresso. Mas se distanciou de Bolsonaro por entender que o presidente abandonou as bandeiras de liberalismo na economia e de combate à corrupção, além de avaliar que ele cometeu muitos erros na condução do combate à pandemia de Covid-19.
"Eu continuo levantando as mesmas bandeiras de combate à corrupção e de abertura de mercado. Quem tem que responder a pergunta de por que abandonou as bandeiras se chama Jair Bolsonaro. Eu continuo no mesmo lugar e fiel aos mesmos princípios", declarou.
A senadora fez as declarações em entrevista ao vivo concedida à Gazeta do Povo na tarde desta segunda-feira (5). A entrevista com Soraya foi a terceira da série feita pela Gazeta com os candidatos de partidos que detêm representação no Congresso. As anteriores foram com Felipe d'Ávila (Novo) e Pablo Marçal (Pros).
Thronicke expôs, na entrevista, seu projeto para a reforma tributária, que é a implantação do Imposto Único Federal. Segundo a candidata, o novo tributo coibirá a sonegação fiscal no Brasil e aumentará o número de pagantes de impostos, o que possibilitará ganho na arrecadação. A medida, de acordo com a senadora, permitirá com que não haja mais cobrança de custos previdenciários nas folhas de pagamento de servidores, como as tarifas referentes ao INSS.
Ela apontou que pretende manter o valor mensal do Auxílio Brasil em R$ 600 e reconheceu que o cenário econômico para o próximo presidente da República será de aperto.
O partido de Thronicke, o União Brasil, é um dos maiores do país. A legenda foi formada com a união dos antigos Democratas e PSL, e detém 51 deputados federais e sete senadores. A agremiação, porém, não deu apoio unânime à candidatura dela. Alguns nomes do União são abertamente defensores da reeleição do presidente Bolsonaro, como a deputada federal e candidata ao Senado Clarissa Garotinho e o governador de Rondônia, Marcos Rocha.
Thronicke disse que o quadro não a constrange e que ela tem o apoio da cúpula do partido. O presidente do União Brasil, o deputado federal Luciano Bivar (PE), era o nome do partido para a Presidência da República, mas recuou na última hora, abrindo o caminho para a senadora.
Soraya defende emendas de relator, mas com transparência
A senadora disse não ser contrária ao mecanismo das emendas de relator, as RP-9, que ficou conhecido como "orçamento secreto". Pelo sistema, deputados e senadores podem pedir ao relator do orçamento que destine verbas a emendas por eles descritas. Como não há critério sobre qual pedido será efetivado e nem uma obrigatoriedade de transparência sobre esses recursos, o regime tem sido usado para "gerenciar" a base de apoio do governo no Congresso e também para negócios em que há acusações de corrupção.
Segundo Thronicke, o modelo tem suas virtudes, por permitir uma gestão do orçamento mais rápida do que os outros sistemas que existem. Ela condenou, porém, a atuação de deputados e senadores que fazem uso dos recursos sem a informação a respeito das transações. E alegou que, na condição de senadora, sempre que fez uso das verbas tornou o caso público em suas redes sociais.
Nem Lula, nem Bolsonaro
Apesar de sua candidatura registrar, atualmente, números baixos em pesquisas eleitorais – ela somou apenas 1% nos levantamentos mais recentes de Ipespe e FSB –, a senadora disse ter confiança de que pode crescer na disputa eleitoral. O fato de ser ainda pouco conhecida pelo eleitorado é o que justifica, segundo ela, os números pequenos de intenção de voto.
Perguntada sobre quem votaria em um eventual segundo turno entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a candidata brincou que seu voto será "44 confirma". Este é o número dela na disputa atual – se não estiver no segundo turno, o voto no 44 representará um voto nulo.
Na conversa com a Gazeta, a candidata declarou também que é favorável à tese do marco temporal para as terras indígenas. Este sistema determina que um terreno só pode ser considerado indígena se tiver esse quadro reconhecido até outubro de 1988, quando foi promulgada a Constituição atual. Ela disse que, se eleita, buscará trazer "dignidade" às populações indígenas, estimulando atividades econômicas.
Metodologia das pesquisas citadas
A pesquisa do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), encomendada pela a Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel), ouviu 1.100 eleitores entre os dias 30 de agosto e 1º de setembro de 2022. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. O levantamento foi registrado na Justiça Eleitoral sob o número BR-09344/2022.
O Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, 2 mil eleitores entre os dias 2 e 4 de setembro de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no TSE com o protocolo BR-01786/2022.
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