O anúncio do lançamento de uma candidatura “puro sangue” do União Brasil para as eleições presidenciais oficializa o fim de uma “terceira via” de centro única. PSDB, Cidadania e MDB ainda tentam viabilizar uma aliança. Mas, mesmo que eles consigam superar os entraves sobre quem seria o cabeça de chapa, essa candidatura já sairia perdendo em apoio político e financeiro. Por outro lado, a decisão dá forças à polarização da eleição, em uma disputa cada vez mais acirrada entre os pré-candidatos Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O União Brasil – resultado da fusão entre PSL e DEM – é o partido que controlará o maior fundo eleitoral nesta campanha: cerca de R$ 780 milhões. Uma aliança da legenda com MDB, PSDB e Cidadania daria à terceira via de centro acesso a recursos estimados em R$1,5 bilhão. Mas o desembarque do União Brasil representa a “perda” de mais da metade desse montante. Além disso, a eventual candidatura que surja de uma aliança entre MDB, PSDB e Cidadania perderia também em tempo de exposição na propaganda eleitoral gratuita.
Membros dessas siglas envolvidos nas negociações alegam que Luciano Bivar, presidente do União Brasil, estava usando o argumento financeiro para pressioná-los a aceitar seu nome como pré-candidato a presidente. Contudo, o União Brasil afirma que o critério defendido pela cúpula da legenda era o apoio do partido em torno do seu nome – o que não ocorre no MDB e no PSDB, já que as candidaturas da senadora Simone Tebet e do ex-governador de São Paulo João Doria são questionadas publicamente pelos próprios integrantes dos partidos.
Ao anunciar a candidatura própria nesta quarta-feira (4), Bivar mencionou a fragmentação das demais legendas. "Esperamos até o último momento para ver se faríamos uma coligação com outros partidos. Entretanto, outros partidos não tiveram a mesma unidade que tem o União Brasil. Então, não restou a nós uma única alternativa a não ser sair em uma chapa pura", afirmou Bivar, em vídeo divulgado pela sua assessoria de imprensa.
Se uma chapa “puro sangue” do União Brasil vier a ser registrada para as eleições presidenciais, as expectativas atuais são de que Bivar assuma a cabeça de chapa, já que conta com o apoio majoritário da legenda – embora não total. À CNN Brasil, Bivar confirmou essa posição.
Moro é visto como possível vice do União Brasil
Há incertezas, porém, sobre quem seria o seu vice. O ex-juiz Sergio Moro, que ingressou no União Brasil sob críticas de seus novos correligionários, ainda sofre resistências. Ele está trabalhando para amenizá-las e ainda não descartou publicamente a possibilidade de concorrer à Presidência, mas uma alternativa mais viável é que ele seja candidato a vice. Moro, porém, não foi citado pelo presidente do União Brasil durante o anúncio da candidatura de chapa pura nesta quarta, o que indica que a questão ainda está em aberto. Também especula-se que uma mulher poderia compor a chapa.
Um levantamento sobre a corrida presidencial feito pelo Paraná Pesquisas, divulgado nesta quarta, mostra Luciano Bivar com 0,2% das intenções de voto. Esse baixo potencial eleitoral gerou especulações sobre o real motivo do plano de uma candidatura própria do partido, por mais que o presidente da sigla tenha alegado que não se trata de uma candidatura de fachada.
“Eles estão inventando um candidato. Estão inventando candidatura. Talvez estão inventando uma candidatura para impedir a de Sergio Moro que levaram para lá sem saber o que iam fazer”, afirmou o presidente do Cidadania, Roberto Freire, nesta quinta-feira (5).
O presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, colocou na conta da ala do antigo DEM (que se fundiu com o PSL) a saída do União Brasil das negociações da terceira via. Em entrevista à GloboNews nesta quinta-feira (5), ele disse que o deputado Luciano Bivar estava empenhado em dialogar com os demais partidos, mas que "a ala do DEM acabou bloqueando o diálogo por interesses locais" e "vetou a discussão dessa unidade".
Desembarque do MDB também é cogitado
PSDB, MDB e Cidadania anunciaram no mês passado que o dia 18 de maio seria a data limite para divulgação do nome que encabeçará a chapa que pode vir a surgir da aliança desses três partidos. Porém, o próprio Freire, que assumiu um papel de porta-voz do grupo com a imprensa, disse que o nome pode ser anunciado depois dessa data – o que sugere que os partidos estão tendo dificuldades para se acertar.
Com a saída do União Brasil, restam então João Doria (PSDB) e Simone Tebet (MDB). O pré-candidato tucano aposta na experiência de gestão e nas pesquisas eleitorais para presidente, que o colocam à frente da senadora. Já a pré-candidata do MDB tem como trunfo o fato de ter uma rejeição menor do que a do ex-governador paulista.
Contudo, ambos carecem de apoio dentro de seus próprios partidos. Os diretórios do MDB no Nordeste têm uma clara inclinação em apoiar Lula. E um levantamento da executiva do partido mostrou que, nos demais estados, é expressivo o apoio a Bolsonaro. Insistir na candidatura de Simone Tebet, portanto, seria uma forma de evitar que o MDB acabe, majoritariamente, apoiando a reeleição do presidente, o que geraria constrangimentos para candidaturas estaduais.
Na quarta-feira (4), uma nova tentativa de angariar apoio em torno do nome de Tebet foi feita pela cúpula do MDB, que levou à Comissão Executiva do partido argumentos de que o perfil dela é o que o eleitor procura.
"O eleitor está em busca de uma alternativa aos polos [Lula x Bolsonaro] que seja uma novidade, mas com trajetória política, que é exatamente o perfil da Simone", disse o presidente do MDB, Baleia Rossi (SP) ao fim da reunião, segundo informou o Correio Braziliense. "O palanque emedebista está consolidado." Nesta quinta, ele voltou a defender a candidatura da senadora, dizendo que "não é razoável" a ausência de uma mulher na disputa pela presidência.
Essa certeza, porém, pode colocar em xeque a união com o PSDB, já que Doria tem se mostrado contrariado sobre as declarações da senadora de que não aceita ser vice para não relegar a representação feminina a um papel secundário em uma composição de chapa – embora a possibilidade de o tucano ser vice de Simone não tenha sido totalmente descartada.
"Temos que ter o bom entendimento de que a prioridade é o Brasil, não nós. Eu não me priorizo e nem excluo nenhuma alternativa. Não estou fazendo críticas contra a Simone Tebet, mas a prioridade é o Brasil e brasileiros", declarou Doria em entrevista ao UOL na semana passada. Ele defende que o critério usado para a escolha do cabeça de chapa seja o desempenho nas pesquisas eleitorais, o que o favorece, já que, segundo o mais recente levantamento do Paraná Pesquisas, ele estava com 3,2% das intenções de voto e a senadora, com 0,7%.
Metodologia da pesquisa citada
O Paraná Pesquisas entrevistou pessoalmente 2020 eleitores entre os dias 28 de abril e 3 de maio de 2022. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais e o nível de confiança atinge 95%. O levantamento foi contratado pelo banco BGC e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-09280/2022. O resultado completo da pesquisa pode ser conferido neste link.
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