Três em cada dez eleitores optaram por não comparecer às urnas neste domingo (27), quando o segundo turno foi realizado em 51 cidades. Conforme o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dos 33 milhões de eleitores aptos a votar, 9,9 milhões não participaram da eleição. Com isso, a abstenção ficou em 29,26% - maior do que no primeiro turno, quando o índice foi de 21,71%.
A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cármen Lúcia, demonstrou preocupação com o aumento da abstenção nessa segunda etapa da eleição. "Tivemos casos climáticos, outros problemas. Vamos verificar e ver o que podemos aperfeiçoar. Vamos ter que apurar em cada local e trabalhar com os dados”, afirmou.
Tradicionalmente, o segundo turno registra abstenção maior do que no primeiro, “porque a disputa fica entre dois candidatos, então aqueles que não se veem nesses dois candidatos do segundo turno não se sentem à vontade para votar”, analisa o professor de Administração Pública e pesquisador da área de Cultura Política da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) Daniel Moraes Pinheiro.
“E também porque muitos vão às urnas (no primeiro turno) mais pelos vereadores que são amigos, que são conhecidos, que são partidários. E agora a gente não tem mais essa eleição para vereador, tem só eleição para prefeito. Então tende a esvaziar (a eleição)”, explica o cientista político e professor do Insper Leandro Consentino
O percentual elevado ocorre mesmo com voto obrigatório no país para pessoas alfabetizadas que tenham entre 18 e 70 anos.
Abstenção é menor apenas do que em 2020
A abstenção deste domingo é menor apenas do que a da eleição de 2020, que foi realizada durante a pandemia de coronavírus. Naquele ano, 29,5% do eleitorado não foram às urnas. A taxa de eleitores que optaram por não votar nesse segundo turno supera as registradas entre 2000 e 2016.
Porto Alegre seguiu como a capital com maior índice de abstenção. No primeiro turno, a capital gaúcha já tinha liderado esse ranking. Neste domingo, 34,83% do eleitorado optou por não votar em um pleito que reelegeu Sebastião Melo (MDB). Já a capital com menor abstenção foi Fortaleza, com 15,84%. A cidade elegeu Evandro Leitão (PT) como prefeito.
Em relação aos estados, Goiás foi o que registrou maior abstenção: 34,43%, seguido por Espírito Santo com 33,17%. O estado com a menor taxa foi o Ceará, com 16,28%.
Uma das causas da abstenção, explica o cientista político e professor do Insper Leandro Consentino, é “o desencanto com a política como forma de transformação social diante dos sucessivos escândalos e das chamadas promessas não realizadas da democracia em termos de bem-estar social”.
Daniel Pinheiro complementa: “Muito embora tenhamos recuperado um pouco da confiança em algumas instituições políticas, a política em si passa por um momento de certo distanciamento e interesse da população”. Ele diz, ainda, que “as redes sociais dão uma falsa sensação de participação, de envolvimento”.
O caminho para aumentar a participação dos eleitores é a educação política, de acordo com os especialistas. Para isso, Consentino cita a necessidade de uma força-tarefa que tenha a Justiça Eleitoral como participante, e que inclua outros setores - até porque o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) faz seu papel com campanhas de conscientização, completa.
Confira as abstenções por turno nos últimos anos
Eleição de 2000
- 1º turno: 14,8%
- 2º turno: 16,2%
Eleições de 2004
- 1º turno: 14,2%
- 2º turno: 17,3%
Eleições de 2008
- 1º turno: 14,5%
- 2º turno: 18,1%
Eleições de 2012
- 1º turno: 19,1%
- 2º turno: 16,4%
Eleições de 2016
- 1º turno: 17,6%
- 2º turno: 21,6%
Eleições de 2020
- 1º turno: 23,2%
- 2º turno: 29,5%
Eleições de 2024
- 1º turno: 21,7%
- 2º turno 29,26%
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