A abstenção do primeiro turno das eleições de 2024, que ficou em 21,71%, segue alta e preocupante, na visão de especialistas. O índice - que representa o percentual de eleitores que não votaram - reduziu em comparação ao pleito de 2020, quando ficou em 23,15% - no entanto, há quatro anos, o país enfrentava a pandemia de coronavírus que, inclusive, adiou a votação para novembro. Em 2018, o percentual foi de 17,58%.
“Mais de um quinto da população abriu mão de escolher o futuro de sua cidade”, observa o professor de Administração Pública e pesquisador da área de Cultura Política da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) Daniel Moraes Pinheiro. O percentual elevado ocorre mesmo com voto obrigatório no país para pessoas alfabetizadas que tenham entre 18 e 70 anos, pondera o cientista político e professor do Insper Leandro Consentino.
Provavelmente, completa Consentino, uma das causas da abstenção é “o desencanto com a política como forma de transformação social diante dos sucessivos escândalos e das chamadas promessas não realizadas da democracia em termos de bem-estar social”. Daniel Pinheiro complementa: “Muito embora tenhamos recuperado um pouco da confiança em algumas instituições políticas, a política em si passa por um momento de certo distanciamento e interesse da população”. Ele diz, ainda, que “as redes sociais dão uma falsa sensação de participação, de envolvimento”.
O caminho para aumentar a participação dos eleitores é a educação política, de acordo com os especialistas. Para isso, Consentino cita a necessidade de uma força-tarefa que tenha a Justiça Eleitoral como participante, e que inclua outros setores - até porque o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) faz seu papel com campanhas de conscientização, completa.
“Os partidos políticos deveriam estimular mais a participação dentro dos seus quadros, fazer com que as fundações partidárias de fato funcionassem para dar educação política para a população e ao fim e ao cabo adotar um sistema educacional que forme cidadãos conscientes”, explica Consentino.
Ao anunciar o índice de abstenção após o encerramento das urnas na noite de domingo (6), a presidente do TSE, Cármen Lúcia, afirmou: "Nós tivemos índice de abstenção que continua sendo alto para os nossos padrões", afirmou a ministra. Em seguida, defendeu que medidas precisam ser tomadas para estimular a votação no país.
Mais da metade das capitais tiveram abstenção maior do que a média nacional
Das 26 capitais, 14 tiveram abstenção superior à média nacional, que ficou em 21,71%. O ranking é liderado por Porto Alegre, onde 31,51% dos eleitores optaram por não votar. A alta abstenção na capital gaúcha é registrada cinco meses após a cidade enfrentar a pior enchente da história.
Foram 345.544 eleitores que não compareceram às urnas na capital gaúcha. O número é superior aos votos concedidos ao atual prefeito Sebastião Melo (MDB), que busca a reeleição e contabilizou 345.420 votos - o que representa 49,72% dos votos válidos. Ele disputará o segundo turno com Maria do Rosário (PT), que fez 182.553 votos (26,28%).
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