Uma articulação do governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), com o presidente nacional do Republicanos, o deputado federal Marcos Pereira, sela a aproximação dos dois partidos no estado - o que deve influenciar o cenário eleitoral para 2024. A jogada inclui a desfiliação do deputado federal Jorge Goetten do PL para entrar no Republicanos, como presidente estadual da sigla.
Goetten, que é aliado de Jorginho Mello, explica que essa articulação “foi uma construção feita a várias mãos” e que incluiu o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto. “Eles conduziram (a mudança) pela importância que é o Republicanos estar alinhado com o governo de Jorginho e com o PL estadual”, explica.
A negociação engloba a indicação de Juca Mello, irmão do governador catarinense, para a vice-presidência do Republicanos em Santa Catarina. Para o cientista político e economista Eduardo Guerini, o movimento representa “certo centralismo partidário de Jorginho Mello, tentando colocar um enredo familiar na relação entre PL e Republicanos”.
A mudança estava sendo articulada nas últimas semanas e foi confirmada na tarde de sexta-feira (14), quando o Republicanos emitiu uma nota oficializando Goetten como presidente estadual do partido e integrante da bancada no Congresso Nacional. “Já estou apto para assumir a nossa executiva estadual e assumir o partido, mas vamos fazer tudo com muito respeito, para somar e fortalecer ainda mais o Republicanos, pensando nas eleições municipais e principalmente na reeleição de Jorginho em 2026”, afirma.
Influência no cenário eleitoral
Até o momento, os planos do Republicanos estadual para as eleições municipais incluíam o apoio ao PSD nas principais cidades de Santa Catarina, como Florianópolis, Joinville, Blumenau, Itajaí e Criciúma - em muitos casos se opondo ao PL. A exceção é a capital, onde a pré-candidatura de Topazio Neto (PSD) tem apoio também do PL.
No entanto, se o cenário for alterado, “pode ser que o Republicanos apoie o PL, como pode acontecer de o PL vir a apoiar o Republicanos, mas isso vai ser avaliado pelas executivas municipais”, explica Goetten. Essa aproximação pode ajudar o PL nos planos de eleger, em outubro, cerca de 100 prefeitos em Santa Catarina - atualmente a sigla governa 56 dos 295 municípios do estado.
“Do ponto de vista pragmático e eleitoral, tratou-se de uma aproximação com base numa orquestração futura e, ao mesmo tempo, uma tentativa de aliar partidos que são focados no que se chama conservadorismo e no bolsonarismo do ponto de vista eleitoral. É uma estratégia que pode render dividendos políticos a Jorginho Mello, com maior número de prefeituras e prefeitos à disposição para a sua reeleição em 2026”, explica Guerini.
Na nota em que divulga as mudanças no partido, o Republicanos afirma que a alteração "não invalida os acordos firmados para as Eleições de 2024, realizados sob a gestão do então presidente estadual, o ex-governador Carlos Moisés". O documento informa ainda que "diante disso, a nova Executiva Estadual se compromete a honrar as tratativas assumidas, sob pena de intervenção da Executiva Nacional em caso de descumprimento".
Ex-presidente do Republicanos em Santa Catarina fala em surpresa e “credibilidade em xeque”
O movimento pegou de surpresa o então presidente do Republicanos em Santa Catarina, o ex-governador Carlos Moisés. Em carta encaminhada aos correligionários em 9 de junho, ele rechaçava a possibilidade da mudança na sigla antes das eleições de outubro. O texto dizia, ainda, que o próprio presidente nacional do Republicanos teria garantido que qualquer alteração não envolveria a eleição municipal.
“Mudar as regras do jogo, após o fechamento da janela partidária, é submeter à clausura, vereadores e demais lideranças, caracterizando uma violência muito grave, que certamente não ocorrerá, pois não combina com a boa prática do Republicanos, e cremos, seria um ineditismo com danos irreparáveis, além dos já ocorridos à nossa sigla pela simples divulgação de eventuais acordos antes do pleito que se avizinha”, escreveu. Moisés diz, ainda, que a mudança “poria em xeque toda a credibilidade do partido Republicanos e de suas lideranças”.
A Gazeta do Povo entrou em contato com o ex-governador Moisés após a divulgação da nota do Republicanos, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Republicanos e o Lula
Mesmo alinhado ao bolsonarismo, o Republicanos faz parte do governo Lula, ocupando o Ministério de Portos e Aeroportos. No entanto, no entendimento do professor e analista Guerini, essa parceria é pragmática “com objetivo de manter ministérios ou cargos no governo federal, o que garante uma certa musculatura política para distribuição de recursos aos aliados potenciais do partido Republicanos e ao mesmo tempo serve como um anteparo diante da minoria que o governo Lula tem no Congresso Nacional”.
Com isso, essa aproximação entre PL e Republicanos em Santa Catarina não deve ter impacto na base do governo federal. Dependendo do resultado eleitoral de outubro, o que pode ocorrer, pondera Guerini, é um redesenho ministerial e na base de apoio do governo Lula.
A reportagem da Gazeta do Povo entrou em contato com o PL de Santa Catarina para saber mais detalhes dessa aproximação, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.
Eleições 2024
- O primeiro turno das eleições ocorre em 6 de outubro, e o segundo, em 27 de outubro.
- Em todo o Brasil, os eleitores definirão 5.570 prefeituras e cerca de 60 mil vagas em câmaras municipais.
- Em Santa Catarina, estarão em jogo 295 prefeituras e 2.890 vagas para vereadores.
- O estado catarinense tem 5.489.658 eleitores.
- Apenas três cidades catarinenses podem ter segundo turno da disputa: Florianópolis, Joinville e Blumenau. Isso porque a legislação eleitoral prevê votação em duas etapas apenas em municípios com mais de 200 mil eleitores.
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