A vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022 não é garantia de disputa fácil para os candidatos às prefeituras apoiados por ele neste ano. Pelo contrário: os concorrentes da esquerda, além de acumularem altas taxas de rejeição, estão atrás nas pesquisas na grande maioria nas capitais — e na liderança só em uma, mas não por mérito de Lula.
O candidato à reeleição em Recife (PE), João Campos (PSB), é o único nome apoiado por Lula que desponta, com folga, em primeiro lugar. Último levantamento da Quaest* na capital pernambucana, divulgado em 28 de agosto, mostra Campos liderando com 80% nas intenções de voto. Embora a candidatura dele esteja aliada com o PT na cidade, Campos não usa o nome de Lula na campanha e conta com sua própria popularidade entre os eleitores recifenses.
Em outras três capitais, os nomes apoiados por Lula estão empatados tecnicamente com outros candidatos no primeiro lugar: Guilherme Boulos (Psol) em São Paulo**; Adriana Accorsi (PT) em Goiânia***; e Maria do Rosário (PT), em Porto Alegre. Dois deles estão entre os candidatos do país com maiores taxas de rejeição nas capitais, segundo dados da Quaest: Maria do Rosário tem 48%****, enquanto Guilherme Boulos tem 45%.
A maior rejeição a um candidato entre as capitais também pertence a um nome apoiado por Lula. O atual prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (Psol), cujo candidato a vice é o petista Edilson Moura (PT), está com a taxa em 69%*****. Ele tem apenas 15% de intenção de voto, e enfrentou crise em sua gestão com problemas na coleta de lixo na cidade.
Em Manaus,o petista Marcelo Ramos (PT), ex-deputado federal, que concorre à prefeitura da cidade, tem 48% de reprovação do eleitorado. Os números não são muito diferentes dos do próprio Lula. Apesar de ter diminuído nos ultimos meses, a reprovação da gestão do presidente da República estava em 43% segundo levantamento da Quaest****** divulgado no dia 10 de julho.
Os dados fazem com que a candidata do PT em Goiânia, Adriana Accorsi, tente se descolar do presidente, apesar de eles serem correligionários. A candidata evita usar vermelho e, em vez de falar o número 13, pede para que o eleitor “digite um, digite três”.
Rejeição leva em conta cenário local
Para o doutor em ciência política Antonio Henrique Lucena, a rejeição aos candidatos de esquerda pode, em parte, ter relação com a reprovação ao lulismo, mas ele lembra que, numa disputa municipal, o eleitor leva muito em consideração o histórico do político e as experiências anteriores dele como gestor. “Geralmente os candidatos de esquerda têm uma alta rejeição por fatores como o desempenho de administrações passadas. Tem casos de má administração, corrupção”, explica.
O perfil do eleitorado também deve ser considerado, além de questões práticas como o fato de o candidato às vezes não ser conhecido na cidade. “Tem também as características do próprio eleitorado, que pode ser mais conservador ou ter posições à direita e, obviamente, a plataforma política do candidato é rejeitada. Nesses casos entra a polarização política, que, aí sim, você pode ter uma certa rejeição a candidatos de esquerda. E também a disseminação de notícias falsas ou desconhecimento do candidato”.
Lucena destaca: “Lula é uma coisa, e o PT é outra. Então, algumas pessoas votam mais em Lula do que no PT propriamente dito. Isso explica o desempenho do presidente nas últimas eleições, enquanto candidatos petistas têm um desempenho ínfimo”.
O também doutor em ciência política e professor da Universidade Federal do Piauí, Elton Gomes, diz que a alta rejeição de candidatos de esquerda só pode ser explicada por vários fatores interligados. “Esse desgaste político, fadiga do material político, crise de gestão como a crise do lixo em Belém, afetam a imagem dos candidatos, levam à percepção de ineficácia, de inaptidão na gestão pública e no provimento dos serviços que assistem os cidadãos do município".
Gomes acrescenta com o que chama de hiperpolarizacao política recente, que na análise dele "faz com que os eleitores de direita e de centro tendam a rejeitar os candidatos de esquerda, sobretudo nas eleições proporcionais, mas também, em grande nível, em se tratando da extrema-esquerda, dos cargos executivos”.
O professor destaca também o papel da campanha eleitoral nessa rejeição. “São candidatos que adotam abordagens agressivas, mas sem a estratégia comunicacional mais cativante para esses dias de hoje, nas redes sociais. Há uma desconexão com as bases eleitorais, muitas vezes exacerbada pela intervenção de lideranças nacionais”, explica.
*Metodologia Quaest Recife: 900 pessoas foram entrevistadas entre os dias 25 e 27 de agosto. A pesquisa foi contratada pela TV Globo Nordeste. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais para mais ou para menos. Registro: PE-07463/2024.
** Metodologia Quaest São Paulo: 1.200 entrevistados pela Quaest em São Paulo entre os dias 25 e 27 de agosto de 2024. A pesquisa foi contratada pela Globo Comunicação e Participações SA/TV/Rede/Canais/G2C+Globo Globo.com Globoplay. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº SP-08379/2024.
*** Metodologia Quaest Goiânia: 900 entrevistados pela Quaest entre os dias 31 de agosto a 2 de setembro de 2024. A pesquisa foi contratada pela Televisão Anhanguera S/A. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº GO-00762/2024.
**** Metodologia Quaest Porto Alegre: 900 entrevistados pelo instituto Quaest entre os dias 24 e 26 de agosto de 2024. A pesquisa foi contratada pela Rbs Participações S A / Televisão Gaúcha S.A. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº RS-09561/2024.
*****Metolodogia Quaest Belém: Metodologia: 900 entrevistados pela Quaest entre os dias 28 e 30 de agosto de 2024. A pesquisa em Belém foi contratada pela Televisão Liberal SA. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº PA-02991/2024.
******Metodologia Quaest rejeição de Lula: A pesquisa ouviu 2 mil pessoas com 16 anos ou mais em 120 municípios entre os dias 5 e 8 de julho. A pesquisa foi encomendada pela Genial Investimentos. O intervalo de confiança é de 95%.
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