Único prefeito do Psol à frente de uma capital, Edmilson Rodrigues teve menos de 10% dos votos válidos e ficou de fora do segundo turno em Belém.| Foto: Gustavo Lima/Câmara dos Deputados
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O único candidato do Psol que concorria à reeleição em uma capital brasileira, Edmilson Rodrigues, ficou fora do segundo turno das eleições 2024 em Belém (PA). Ele foi escolhido por pouco mais de 78 mil eleitores e obteve apenas 9,78% dos votos válidos.

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Os candidatos Igor Normando (MDB) e Delegado Éder Mauro (PL) seguem na corrida pela prefeitura da cidade. Eles receberam respectivamente 44,89% e 31,48% dos votos válidos, respectivamente, após apuração das urnas neste domingo (6).

Além de ser uma derrota para o partido, que perde a prefeitura da única capital que comandava no país, também é uma derrota para o PT, que tinha o vice da chapa, Edilson Moura, atual vice-prefeito da capital paraense. O partido ocupa três secretarias na gestão municipal.

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No próximo ano, o novo prefeito de Belém será responsável por sediar a COP30, a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) trabalhou pessoalmente pela escolha de Belém para sediar a COP30, que vê como vitrine internacional para a pauta ambiental do governo federal. Para receber a COP30, a capital paraense recebe investimento de R$ 1,4 bilhão da estatal Itaipu Binacional, que é dirigida pelo ex-deputado federal Ênio Verri, do PT.

O candidato do MDB, Igor Normando, recebeu 359.904 votos. Ele foi lançado pelo partido com o apoio do governador Helder Barbalho (MDB) e do ministro Jader Barbalho Filho, que é presidente da sigla no estado. O clã Barbalho recuou nas articulações por uma coligação pela reeleição de Rodrigues diante de sua má avaliação e lançou candidatura própria.

O maior temor da esquerda nas eleições 2024 em Belém é de vitória do Delegado Éder Mauro, segundo colocado no primeiro turno. Deputado federal, ele teve a candidatura lançada em Belém pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e recebeu 252.455 votos nesta primeira etapa da eleição.

Rejeição ao prefeito de Belém chegou a 75% após problemas com lixo e saúde pública

No comando da capital paraense pela terceira vez, Edmilson Rodrigues conta com uma das maiores rejeições em todo o Brasil. Levantamento do instituto Paraná Pesquisas* feito entre 7 e 12 de março mostrou que 75,4% dos belenenses desaprovavam sua gestão. Do total, 55,3% dos eleitores consultados à época afirmaram que não votariam nele de jeito nenhum na disputa pela reeleição.

A aversão ao candidato nas eleições 2024 em Belém é vinculada a questões de saúde, já ocorridas na época da pandemia, e a uma crise na coleta de lixo enfrentada por Belém durante a sua gestão. A cidade acumulou lixo nas calçadas e ruas por causa de uma dívida de R$ 15 milhões da prefeitura com empresas concessionárias.

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O prefeito afirmou que a responsabilidade era da gestão anterior, que segundo ele deveria ter trocado a empresa coletora, e buscou abrir uma nova licitação para contratar outra companhia. O problema se arrasta desde junho do ano passado e, apesar de um novo contrato e ações emergenciais, não está resolvido.

Para agravar a situação, em meio à crise o prefeito se ausentou por 10 dias em viagem para Dubai, nos Emirados Árabes, para acompanhar a COP-28. A gestão de Rodrigues também é criticada pela falta de remédios e leitos nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e atrasos nos salários dos servidores municipais, que promoveram greves no ano passado.

Prefeito de Belém teve embaraços com a Igreja Católica e noiva investigada pelo MP

Em setembro de 2022, ao lado do então candidato Lula, Rodrigues se indispôs com a arquidiocese de Belém. À época, ele afirmou que o Círio de Nazaré não era mais da Igreja Católica e sim “do povo”.

“As palavras pronunciadas pelo prefeito feriram completamente não só a comunidade católica, mas a veracidade dos fatos históricos (...). A festa sempre foi e sempre será da Igreja Católica Apostólica Romana”, respondeu a arquidiocese.

A noiva do prefeito é investigada pelo Ministério Público de Belém por acúmulo de cargos públicos. Além do salário como concursada na Secretaria da Educação, a professora Nayra da Cunha Rossy Santos receberia remuneração como conselheira da Companhia de Tecnologia da Informação de Belém. Nayra é cedida para a Secretaria Municipal de Educação.

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Em  2023, o prefeito publicou um vídeo nas redes sociais no qual expressa solidariedade à cidade de Belém, na Cisjordânia, critica Israel e declara Belém do Pará “território livre do apartheid imposto pelo governo sionista de Israel”. O vídeo voltou a circular neste ano.

Gestão de Edmilson Rodrigues em Belém gerou atrito até mesmo no Psol

A situação de Rodrigues gerou dissenso dentro do próprio partido. A vereadora Professora Silvia Letícia contrariou Rodrigues e lançou candidatura própria à prefeitura de Belém. Por essa razão, ela responde a processo de expulsão do partido.

A deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP) se solidarizou com Silvia Letícia e fez críticas abertas ao prefeito de Belém. Em agenda pela candidatura de Guilherme Boulos (Psol) em São Paulo, a deputada disse que uma eventual gestão do psolista não deveria ser “como a de Edmílson, que, infelizmente, é uma das piores avaliadas do país”.

À Gazeta do Povo, a direção nacional do Psol comentou que “a prefeitura de Belém optou em resolver de maneira definitiva o tema do lixo, que não se iniciou na gestão Edmilson. A prefeitura de Belém abriu uma licitação que nunca houve na história da cidade, onde só havia contratos emergenciais de até um ano. Também vale ressaltar que o PSOL não tem vergonha de seus posicionamentos políticos nem de seus quadros e aliados”.

*Metodologia da pesquisa: 800 entrevistados pessoalmente, pelo Paraná Pesquisas, entre os dias 7 e 12 de março de 2024. A pesquisa foi contratada por Ribeiro Serviços de Comunicações LTDA/TV Livre. Confiança: 95%. Margem de erro: 3,5 pontos percentuais. Registro no TSE nº PA-07656/2024.

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