O senador licenciado Carlos Viana (Podemos) tem 61 anos e concorre, pela primeira vez, ao cargo de prefeito de Belo Horizonte. Natural da cidade de Braúnas, na Região do Vale do Rio Doce, o jornalista reside há 45 anos na capital mineira e diz “conhecer muito bem os problemas de BH”.
Conhecido pela população belo-horizontina por ter trabalhado durante muitos anos como apresentador de programas populares na rádio Itatiaia e na TV Record Minas, Viana tem defendido na campanha que é preciso controlar a população de rua oriunda de outros municípios do interior de Minas Gerais.
Viana foi entrevistado pela reportagem da Gazeta do Povo, que convidou todos os candidatos à prefeitura de BH para entrevista.
Confira a entrevista com o candidato Carlos Viana
Por que o senhor quer ser prefeito de Belo Horizonte?
Eu conheço Belo Horizonte há 45 anos. Voltei para a cidade quando eu tinha 14 anos de idade e isso mostra uma relação. Eu vejo Belo Horizonte nos últimos anos perdendo espaço em todas as áreas. Uma cidade com o segundo pior trânsito do Brasil, uma cidade que está fora dos roteiros culturais, dos grandes eventos, uma cidade que tem sido usada politicamente para alavancar determinados grupos, mas que não tem recebido os investimentos que merece. Eu sou candidato porque BH precisa avançar.
No plano de governo, o senhor defende a volta das vans como mais uma alternativa ao transporte público, mas no passado tivemos algumas polêmicas. Como essa proposta seria viável?
As empresas de ônibus, as concessionárias, mandam na capital. Nos últimos 10 anos, a cidade perdeu quase 50% das viagens, o preço da tarifa aumentou, as empresas receberam um subsídio, no ano passado, de meio bilhão e, esse ano, mais de R$ 350 milhões e não melhoraram em nada o serviço, porque dominam a Câmara Municipal onde foi aprovado o subsídio. Elas contribuem sempre para a eleição dos prefeitos, como o atual prefeito que tem uma ligação pessoal muito próxima dos sindicatos que representam as concessionárias, e isso é muito prejudicial para a cidade.
Em 2027, teremos que fazer um novo contrato para Belo Horizonte e vamos estabelecer regras muito rígidas de investimento, de atendimento da população. Se as empresas não cumprirem, se decidirem desafiar o poder municipal, nós vamos entrar com soluções mais firmes para resolver o transporte da população e os ônibus suplementares fazem parte desse trabalho. Suplementares são ônibus que atendem bairro a bairro e que começaram lá atrás na administração do Célio de Castro (ex-prefeito de BH), foram uma ótima solução, mas que as empresas forçaram, desde o (Alexandre) Kalil (ex-prefeito), a reduzirem itinerários e número de ônibus de circulação justamente pra poder obrigar os passageiros a usar os ônibus tradicionais. Nós vamos trazer de volta as vans, porque em boa parte desses bairros há um problema sério de mobilidade de ruas, que estão com dificuldade no trânsito.
No plano de governo o senhor fala sobre a prefeitura voltar a oferecer o ensino médio. Como viabilizar isso se ainda há um déficit na educação de base?
O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - o FNDE - tem recursos para as prefeituras que colocarem os alunos do ensino médio e os estados também, pela manhã, na escola clássica, vamos dizer assim, e à tarde, em cursos técnicos. Esse dinheiro é repassado como forma de evitar a evasão escolar e de incentivar a formação profissional dos adolescentes jovens até o ensino médio final.
E nenhum adolescente, é um compromisso que eu faço com a cidade, sairá da sala da aula ao final sem a possibilidade de um trabalho. Todos vão sair com a profissão, com a condição de gerarem a própria riqueza, mudarem a própria sorte. Diferentemente do que está acontecendo hoje. Eu subo os morros de Belo Horizonte, tem adolescentes que não sabem ler, não sabem escrever corretamente, e são abandonados pelo Estado para subempregos. Nós vamos mudar essa realidade em Belo Horizonte.
Na segurança, quais são as melhorias previstas, caso o senhor seja eleito?
O primeiro passo será uma organização do centro de Belo Horizonte. Eu não concordo definitivamente que numa praça 7, por exemplo, você tenha de um lado do obelisco um carro da Polícia Militar e do outro lado do obelisco um carro da Guarda Municipal: isso é jogar dinheiro fora. Um desses dois veículos faz falta em alguma região mais remota da cidade.
Quando formos lançar o patrulhamento, fazer em parceria com as duas corporações, uma cobrindo uma área e a outra em outro local, sem a gente ficar nesse problema da redundância, que é o desperdício de dinheiro público. Essa é uma das primeiras medidas que nós tomaremos, que é um acordo, uma organização entre a PM e a Guarda Municipal. O segundo ponto é a retirada, das calçadas e das ruas, dos moradores de rua. Belo Horizonte tem uma população de rua entre 11 mil a 13 mil pessoas, metade não é de BH. Essa população veio do interior e de outras capitais, jogados aqui por prefeitos que não resolvem o problema, simplesmente colocam sobre quatro rodas e mandam pra capital.
A Guarda Municipal vai nos ajudar a controlar essa população, com a ação de identificar. Vamos fazer todo o atendimento dentro da lei, mas vamos dar oportunidade de voltar pra quem quiser e vamos notificar o prefeito, caso a gente perceba que há uma continuidade nessa irresponsabilidade de enviar para BH os moradores de rua. Se eu abrir 10 mil vagas (em abrigos), vão aparecer 20 mil moradores de rua.
Em determinados lugares eles geram sensação de insegurança. Há muitas reclamações, eles quebram os carros quando não recebem dinheiro, claro que não são todos, mas isso colabora para colocar BH entre as 50 cidades mais violentas do mundo, e nós não somos uma cidade tão violenta assim.
Essa população de rua veio do interior e de outras capitais, jogados aqui por prefeitos que não resolvem o problema, simplesmente colocam sobre quatro rodas e mandam pra capital.
Carlos Viana, candidato do Podemos à prefeitura de Belo Horizonte
No seu plano de governo, o senhor tem como meta reduzir a fila de espera por exames e consultas de especialidades médicas. Como isso será aplicado na prática?
Belo Horizonte tem 30 mil pessoas, a grosso modo, esperando uma cirurgia eletiva. Nós podemos aqui, em parceria com as fundações, Santas Casas, hospitais filantrópicos, usar os centros cirúrgicos para atender cirurgias de cataratas, de joelho, por exemplo. Hoje, nos postos de saúde, nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), a maior reclamação da população é na demora do atendimento e, principalmente, na demora na marcação de exames laboratoriais. Exames da UPA, da prefeitura, ampliaremos onde os atendimentos vão ser feitos. As UPAs precisam de médicos especialistas, mas para casos que não forem graves, vamos usar a tecnologia, a telemedicina que resolve rapidamente o problema, os médicos atendem muito bem, a pessoa recebe no celular a receita, recebe impresso na UPA. Vamos deixar as UPAs para os casos graves, para as pessoas que precisam de urgência. Nas demais, a telemedicina vai resolver o nosso problema, tenho muita confiança de que vamos atender com muito mais antecedência.
E como resolver o problema da população de rua na capital mineira?
O primeiro passo é organizar a distribuição de comida. Nós precisamos chamar igrejas, voluntários, centros espíritas e conversar com eles para que a comida seja distribuída em locais corretos, organizados, onde as pessoas sejam atendidas e a gente possa identificar essa população de rua. O que acontece hoje em Belo Horizonte é que chega alguém com a marmita - que é um gesto muito bonito, altruísta- eles (os moradores de rua) comem, daí a pouco chega outra marmita, eles comem e jogam o resto na rua, e Belo Horizonte fica suja, com calçadas intransitáveis.
Resolver o problema do morador de rua é um compromisso que eu tenho com os empresários.
Carlos Viana, candidato do Podemos à prefeitura de Belo Horizonte
E eu, sendo prefeito, não posso nem mandar lavar, porque se eu jogar um caminhão-pipa para lavar uma determinada avenida, eu vou ser acusado de estar querendo prejudicar essas pessoas, fazer uma série de preconceitos. Então, nós precisamos, primeiramente, organizar os lugares onde eles vão receber a alimentação. Depois desse controle, aí, sim, identificarmos o que eles precisam. Querem ir embora? Vamos devolver. Querem permanecer? Querem um emprego? Querem um atendimento psicológico? Então, vamos proporcionar, mas que vamos resolver o problema do morador de rua é um compromisso que eu tenho com os empresários.
Caso seja eleito, qual será sua primeira ação na prefeitura de BH?
Serão dois passos em conjunto. O primeiro passo chama-se BH Déficit Zero. O atual prefeito (Fuad Noman-PSD) está gastando muito para poder maquiar a cidade com obras. E está gastando muito mais do que poderia. Resultado, nós temos um déficit de quase R$ 80 milhões na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) para o ano que vem. Nós precisamos, primeiramente, rever o orçamento, reorganizar, equilibrar o orçamento da prefeitura para que a gente possa gastar o que é prioridade. O segundo passo são as campanhas preventivas. Esse ano, Belo Horizonte foi palco de muita dengue, muitas mortes. Por quê? No ano passado, a prefeitura não investiu. É parte importante para que a gente possa retirar essa pressão que está sobre o sistema de saúde da capital.
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