O prefeito reeleito em Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), terá trabalho para acomodar os partidos que formaram a coligação em torno da sua candidatura nas eleições municipais 2024. Os partidos União Brasil, PRD, Solidariedade, Avante, PSDB, Cidadania, PT, PCdoB, PV, Psol, Rede e PDT deram vigor a uma candidatura que começou desacreditada.
Para abrir caminho à governabilidade na capital mineira, Noman tem entre as primeiras necessidades a busca por eleger o próximo presidente da Câmara Municipal, batalha considerada complicada por quem acompanha a política local. Isso porque as articulações em torno da candidatura de Juliano Lopes (Podemos), vereador reeleito para o quinto mandato, indicam um possível consenso entre os vereadores da futura oposição ao prefeito.
Um dia após a realização do segundo turno - quando Noman venceu com 53,73% dos votos válidos (670.574), contra 46,27% do candidato Bruno Engler (PL) - 23 vereadores participaram de uma reunião com Marcelo Aro (PP), o chefe da Casa Civil do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) e principal articulador em torno da eleição de Lopes à Câmara de BH. Estavam presentes todos os seis vereadores eleitos pelo PL, entre eles, o mais votado da capital mineira, Pablo Almeida, que foi pessoalmente apoiado pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL).
Almeida deverá ser o “braço” de Ferreira em oposição a Fuad Noman. Em vídeo publicado nas redes sociais após a reunião com Aro, aparecem vereadores de partidos que formaram a base de apoio para a reeleição de Noman, como o Solidariedade e o Cidadania. Aro pertence a uma tradicional família política na capital mineira - a “Família Aro” - e, nestas eleições de 2024, conseguiu reeleger a mãe, Professora Marli Aro, ao Legislativo de Belo Horizonte.
Para o analista político Rudá Ricci, o cenário não começa favorável para o prefeito reeleito da capital de Minas Gerais, mas pondera que essa situação pode ser temporária. “A vida do prefeito reeleito de Belo Horizonte vai ser muito mais complicada a partir de agora em relação à composição da Câmara Municipal. Nós devemos ter uma leitura mais nítida em janeiro do ano que vem, no máximo em fevereiro. Há uma tradição no Brasil de que o prefeito, quando toma posse com minoria na Câmara, em duas semanas, no máximo um mês, ele já tem maioria, por causa das negociações, entrega de cargos e assim por diante”, aposta Ricci.
O analista político acredita que o prefeito de BH enfrentará uma oposição forte e muito articulada. “O prefeito reeleito tem pelo menos três blocos muito fortes dentro da Câmara, que neste momento não têm nenhum tipo de cooperação ou articulação entre si. Ele (Noman) tem, de um lado, um bloco importante liderado pela Família Aro. De outro, um bloco liderado pelo vereador que foi candidato a prefeito também, o Gabriel Azevedo (MDB). E, finalmente, ele tem um bloco da esquerda, centro-esquerda, que envolve PDT, o PT em especial, que é um bloco de uma dezena de vereadores”, avalia.
Para o analista político, o prefeito reeleito terá que formar uma espécie de "governo parlamentarista" para avançar na governabilidade local. “O prefeito terá que compor como se fosse um governo parlamentarista, porque se não ele vai ter uma vida muito difícil. Nós já tivemos situações similares em outros governos, até mesmo com o ex-prefeito (Alexandre) Kalil que acabou entregando a liderança de governo para um vereador do PCdoB, que foi atacado violentamente, inclusive pelo Gabriel Azevedo (atual presidente da Câmara de BH), na época. Então, a gente já tem um desenho das dificuldades que ele (Noman) vai ter”, afirma Ricci.
O PT, que apoiou a reeleição do prefeito de BH no segundo turno, declarou por meio de um dos seus principais nomes na Câmara, o vereador Pedro Patrus, que irá manter o diálogo com Noman, mas sem integrar a base de apoio no legislativo municipal. “Fomos lá parabenizá-lo pela eleição. Foi uma conversa muito amena sobre projetos para a cidade e uma reunião muito produtiva para o bem de Belo Horizonte. Não foi discutido nada concreto. As pessoas têm falado de cargos e indicações, mas esse não foi o tema dessa reunião”, respondeu ele em recente entrevista ao jornal Estado de Minas.
Proposta de Noman pode aumentar de 14 para 18 secretarias em BH
O prefeito reeleito de BH tem negado que a reforma administrativa, enviada à Câmara de BH poucos dias após a vitória nas urnas no segundo turno, seja uma tentativa para acomodar os partidos que o apoiaram. O projeto proposto pelo atual prefeito cria quatro novas secretarias: Segurança Alimentar e Nutricional, Mobilidade Urbana, Administração Logística e Patrimonial e Secretaria-Geral. Atualmente, a gestão pública municipal possui 14 secretarias. A Câmara de BH irá votar, em primeiro turno, a proposta da reforma administrativa nesta quarta-feira (13).
Outra mudança contemplada na reforma do prefeito de BH é a criação de cargos, que no setor da educação tem perspectiva de aumentar de 200 para 380, além de uma nova regional (a do Hipercentro). Belo Horizonte tem sua administração por bairros dividida em nove regionais.
Caso essas mudanças sejam aprovadas pelos vereadores, o impacto na folha de pagamento está estimado em R$ 49,9 milhões. “Precisamos de cargos porque, quando a gestão anterior assumiu, houve um corte significativo e servidores públicos são essenciais para o funcionamento da máquina pública”, defendeu-se Noman ao ser questionado sobre a reforma.
Zema terá força na nova composição do legislativo de BH
Nestas eleições municipais 2024, o partido Novo reelegeu três representantes na capital mineira: Fernanda Altoé, Marcela Trópia e Bráulio Lara. Com isso, o Novo mantém na Câmara de Vereadores de BH um bloco alinhado com as pautas do governador Zema.
No primeiro turno das eleições, Zema apoiou - de forma considerada discreta - o candidato Mauro Tramonte (Republicanos), que tinha como vice a ex-secretária de Gestão e Planejamento do governo Zema Luísa Barreto (Novo). Com Tramonte fora da disputa final, no segundo turno, o governador mineiro se aproximou do candidato Bruno Engler, apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que esteve por duas vezes na capital mineira para alavancar votos para o deputado estadual.
Após a derrota nas urnas, Engler começou as movimentações para dificultar o próximo mandato de Noman. O deputado estadual e os seis vereadores do PL eleitos no dia 6 de outubro estão formando uma base forte de oposição. Caso Noman não consiga eleger o futuro presidente do legislativo municipal, muitos dos projetos de autoria do executivo podem enfrentar dificuldades para avançar na Casa.
Durante uma entrevista coletiva a jornalistas na última semana, Noman disse que não irá interferir na eleição para a presidência da Câmara de BH. De acordo com o prefeito, o processo no legislativo “não terá a digital da prefeitura”.
Noman teve um encontro com 36 dos 41 vereadores eleitos para a próxima legislatura. Ao longo deste primeiro mandato, o prefeito de BH enfrentou uma oposição acirrada do vereador Gabriel Azevedo.
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