Número de candidatos da segurança pública nas eleições municipais de 2024 tem queda de 24% em relação a 2020.| Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil / arquivo
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As candidaturas de profissionais ligados às áreas de segurança pública nas eleições municipais de 2024 soman o menor número desde o ano 2000. É uma retração de 24% na comparação com o pleito disputado no ano de 2020, de acordo com dados disponíveis no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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Neste ano são 5.160 candidatos a prefeito, vice-prefeito e a vereadores que se descreveram como bombeiros militares, membros das Forças Armadas, militares reformados, policiais civis e militares. Em 2020 eram 6.802 candidatos ligados às forças de segurança; em 2016, 5.987; em 2012, 6.524; em 2008, 5.758; em 2004 5.856 e, no ano 2000, 4.835.

A ocupação dos candidatos informada à Justiça Eleitoral, este recorte, com maior redução foi entre policiais militares, que também representam a maior fatia entre os políticos registrados do segmento segurança pública. Em 2020, 192 policiais militares estavam nas disputas por prefeituras, neste ano são 99 (-48%). Como vice-prefeito, 128 se descreveram como PMs em 2020, enquanto em 2024 são 57 (-55%). Quanto aos candidatos a vereadores, na eleição municipal passada haviam sido 3.205 policiais militares em disputa e, neste ano, são 2.605 (-19%).

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Para o coronel da reserva remunerada da Polícia Militar do Paraná (PMPR) Alex Erno Breunig, vice-presidente da Assofepar (Associação dos Oficiais da PM e dos Bombeiros Militares do Paraná), algumas razões podem justificar os números. O coronel destacou que há uma “desilusão pelo ambiente político no contexto atual”.

Para Breuning, há ainda o elevado custo das campanhas eleitorais, que acaba inviabilizando disputas, somado às propostas que estão em tramitação para dificultar ou impedir a participação dos profissionais da segurança pública como candidatos. “[Tem ainda] a desilusão com a atuação dos representantes das classes da segurança pública [eleitos]”, afirma.

Os profissionais da segurança também estão atentos a outro ponto que os têm afastado das candidaturas, segundo o coronel: “O sistema político partidário brasileiro é feito para perpetuar quem tem mandato ou está na direção do partido. Muitos partidos políticos convidam policiais para participar do pleito, não para serem eleitos, mas para atender quociente eleitoral”, destacou.

O oficial avaliou que profissionais da segurança estão mais conscientes sobre o sistema político partidário, "que é para perpetuar quem tem mandado”, completa. No estado onde vive o coronel, o Paraná, a redução no número de profissionais da área de segurança nas disputas municipais neste ano foi de 17%, na comparação com 2020, quando havia 355 candidatos ligados às forças de segurança - neste ano são 294.

Candidatos da segurança encontram dificuldades no ambiente político

Para o ex-deputado estadual no Paraná, Coronel Lee, o cenário de menos candidatos da área da segurança se justifica por dois motivos. “As forças de segurança têm um preparo muito rígido nos seus cursos de formação, principalmente os militares. Existe um choque muito grande entre as forças de segurança e os ambientes políticos, poucos têm o preparo ou "estômago" para suportar e até para conviver”, diz ele, que chegou a ser pré-candidato a prefeito em Cascavel (PR) neste ano pelo Agir.

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Para Lee, com o avanço das mídias sociais, as pessoas ficaram mais próximas das notícias em tempo real, mas também com acesso rápido a notícias falsas. “O separatismo de todas as classes sociais e profissionais ficou mais agressivo, nas esferas civis como nas militares. Nunca se viu tanta informação e também nunca se viu tanta mentira propagada ao mesmo tempo. Chegou o momento que ninguém mais sabe o que é realidade”.

Segundo o coronel, para quem tem uma formação profissional mais rígida, como os militares, isso é ainda mais impactante. “Se você traz de berço uma educação mais rígida, simplesmente se choca com o ambiente político”, avalia.

Candidatos da segurança pública eleitos passam a ter a função atual como ocupação

Para o especialista em direito político e eleitoral Marcio Berti, há ainda outro ponto a se observar para análise dos dados de 2024 referentes a registro de candidaturas. “Profissionais que se apresentaram como das candidatos forças de segurança em eleições passadas e foram eleitos para cargos como prefeitos, vereadores, ou mesmo deputados e senadores, agora não aparecem mais na lista como policiais, bombeiros ou das Forças Armadas, mas como prefeitos, vereadores, deputados, o cargo elegível que passaram a ocupar”, descreveu.

Além disso, essa mudança pode refletir uma estratégia para capitalizar sobre a experiência adquirida nos cargos políticos e a identidade construída no novo papel, de acordo com o especialista. E também pode haver casos de profissionais ligados à área da segurança que optaram por informar, na ocupação, a função de servidor público (sem especificar a área).

Neste recorte, os inscritos para a disputa de 6 de outubro somam 4.956 servidores estaduais e federais. Entre eles, 337 pleiteiam cargos a prefeituras e 4.619 a uma cadeira de vereador. O total de candidatos que optaram por essa declaração também é menor do que na eleição passada. Em 2020 havia 6.621 concorrentes: 583 disputavam o comando de municípios e 6.038 disputavam cadeiras nos legislativos municipais.

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As profissões com maior número de candidaturas em 2024

Concorrem nas eleições 2024 um total de 15.440 candidatos a prefeito em 5.569 cidades brasileiras. As principais ocupações elencadas para a disputa entre prefeitos no Brasil são:

  • Empresários: 2.539
  • Prefeitos (em busca de reeleição): 2.071
  • Advogados: 1.097

Outros 427.969 inscritos estão na disputa por 58.476 vagas nas Câmaras de Vereadores. As principais profissões e cargos descritos são:

  • Empresários: 30.240
  • Agricultores: 28.670
  • Comerciantes: 18.727
Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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