A candidatura de Cristina Graeml (PMB) chega à véspera da votação do primeiro turno das eleições de 2024 com a possibilidade de avançar ao segundo turno em Curitiba. Autointitulada a “única candidata conservadora” na capital paranaense, ela gerou preocupação nas campanhas de Eduardo Pimentel (PSD), Luciano Ducci (PSB) e Ney Leprevost (União Brasil) devido a um rápido crescimento na última semana de campanha, captado por pesquisas eleitorais divulgadas neste sábado (5).
Na pesquisa Quaest, contratada pela RPC e divulgada neste sábado (5), Graeml aparece tecnicamente empatada com Pimentel na primeira colocação. Ele lidera a pesquisa somando 26% das intenções de voto, enquanto a candidata registra 21%. Também há empate técnico na segunda posição, uma vez que Luciano Ducci, em terceiro, obteve 18 pontos percentuais no levantamento. A margem de erro é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos.
Na pesquisa da IRG, contratada pela RIC TV e também divulgada neste sábado (5), Graeml e Ducci aparecem empatados tecnicamente na segunda colocação. Ele soma 19% e ela vai a 16,8 — a margem de erro da pesquisa é de 3,47 pontos percentuais para mais ou para menos. Neste levantamento, Pimentel está na liderança isolada com 34%.
Desde o início da campanha, Graeml já pontuava nas pesquisas, mas descolada dos principais adversários. Em 27 de agosto, no primeiro levantamento da Quaest, ela somava 5% na pesquisa, 9 pontos percentuais atrás de Ney Leprevost. Na pesquisa seguinte, divulgada em 17 de setembro, ela manteve os 5%, 7 pontos atrás de Leprevost — as metodologias das pesquisas estão no fim deste texto.
Cristina Graeml foi colunista da Gazeta do Povo até o início da campanha eleitoral, quando se afastou de suas atividades no jornal para se dedicar à disputa.
Antes da divulgação das pesquisas o crescimento de Graeml já vinha sendo notado pelas campanhas adversárias, tanto que nas duas últimas semanas de campanha, a coligação liderada pelo vice-prefeito Eduardo Pimentel começou a reagir na propaganda eleitoral e também em ações na Justiça Eleitoral.
O primeiro indício foi o uso, pela primeira vez na propaganda, da imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que apoia, ao menos oficialmente, Pimentel — o vice Paulo Martins é do PL e foi indicado em uma construção liderada pelo governador do Paraná Ratinho Junior (PSD). Isso depois de Graeml conseguir, já na reta final do primeiro turno, a autorização do uso de uma foto que tirou ao lado de Bolsonaro em julho. Em suas redes sociais, ela colocou a foto de Bolsonaro sorrindo ao lado dela comparando com uma imagem que mostra Bolsonaro entre Pimentel e Martins, com rostos fechados. Na legenda: "Ao bom entendedor uma imagem basta. Compare e tire suas conclusões".
Graeml também embarcou em um movimento iniciado pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL), cobrando a falta de posicionamento da maior parte dos senadores do PSD sobre o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O assunto tomou conta das redes sociais de direita e a candidata do PMB usou o assunto em várias postagens de vídeos de apoiadores e de parlamentares pedindo para não votarem em candidatos do PSD, sigla de Pimentel.
A candidata do PMB também aproveitou a ascensão de Pablo Marçal (PRTB) para angariar votos de eleitores conservadores. Ela esteve com ele em São Paulo e gravou um vídeo que compartilhou nas redes sociais. Nele, Marçal diz que ela “é a próxima prefeitura de Curitiba” e que ela está “passando a mesma coisa que eu estou passando aqui em São Paulo”, em relação a supostas perseguições de adversários e do sistema eleitoral.
Não foi só a campanha de Pimentel que se voltou contra Graeml. Um vídeo de Luciano Ducci mostrava uma reportagem do jornal Plural sobre um processo que o vice de Cristina Graeml, Jairo Filho (PMB), responde por suposta apropriação de dinheiro de uma idosa. A campanha do PMB conseguiu, após acionar a Justiça Eleitoral, tirar o vídeo do ar, mas em uma segunda decisão o vídeo voltou a ser divulgado. No debate da RPC, Ducci retornou ao assunto para criticar a campanha de Graeml.
No dia seguinte ao debate, o vice de Ducci, o deputado estadual Goura (PDT) publicou um vídeo nas redes sociais mostrando-se preocupado com o cenário eleitoral na reta final do primeiro turno. "Atenção Curitiba, pesquisas indicam o risco de um segundo turno entre bolsonaristas em nossa cidade". Além disso, um áudio dele que circula em grupos de WhatsApp fala sobre "um risco sério de duas candidaturas de extrema-direita irem ao segundo turno".
Impugnação de pesquisas eleitorais
A coligação Curitiba Amor e Inovação, liderada por Pimentel, tentou barrar a divulgação de levantamentos de intenção de voto na última semana, que poderiam apontar não só o crescimento de Graeml, mas um eventual declínio da candidatura do PSD. A primeira foi a Véritas, que seria divulgada em 30 de setembro, mas que foi suspensa por decisão da juíza Cristine Lopes, da 1ª Zona Eleitoral de Curitiba. Segundo o pedido de impugnação, a grafia do nome de um dos candidatos estava incorreta.
Com sete pesquisas previstas para a véspera, a coligação do vice-prefeito entrou na Justiça Eleitoral pedindo a impugnação de seis delas. Na sexta-feira (4), a juíza eleitoral Patrícia Di Fuccio Lages de Lima acatou o pedido da coligação e suspendeu a divulgação de cinco (Quaest, AtlasIntel, 100% Cidades Participações, Véritas e Prefab Future Publicidade). O pedido contra a IRG Pesquisa não teve a liminar concedida e, no caso da Quaest, o instituto conseguiu um mandado de segurança liberando a divulgação. O levantamento da Linear Pesquisas seguiu para divulgação sem pedido de impugnação. O instituto AtlasIntel chegou a divulgar seu levantamento, mas tirou a pesquisa do ar depois de ser notificado pela Justiça Eleitoral com ameaça de aplicação de multa diária de R$ 50 mil por hora em caso de descumprimento. O instituto afirmou à Gazeta do Povo que vai recorrer da decisão.
Debate na RPC opôs Cristina Graeml e Eduardo Pimentel
No último debate do primeiro turno, promovido pela RPC na quinta-feira (3), Cristina Graeml seguiu as estratégias que vinha usando nas redes sociais e mirou no candidato de Ratinho e do atual prefeito Rafael Greca (PSD). Além de repetir que Curitiba foi governada pela esquerda nos últimos anos e que Greca é "lulista", Graeml trouxe à tona em diversos momentos a denúncia de suposta coação de servidores da prefeitura para doação à campanha de Pimentel.
A candidata do PMB disse que Pimentel "deveria ter vergonha de estar no debate" e que ele "deveria pedir desculpas ao povo curitibano e aos servidores que foram coagidos". O vice-prefeito reagiu: "Não esperava nada diferente da senhora Cristina em me agredir". "Acho que a senhora tem mania de perseguição, mas o mundo não gira em torno da senhora", acrescentou.
Graeml usou o debate também para reclamar sobre a falta de visibilidade de sua campanha, já que o partido dela não tem representatividade no Congresso Nacional, desobrigando emissoras a convidarem-na a debates e também ficando sem tempo de televisão na propaganda eleitoral gratuita — a campanha dela depende de recursos próprios e doações de apoiadores. No primeiro debate, realizado pela Band, ela foi desconvidada poucas horas antes. No penúltimo debate, a RIC TV convidou apenas os candidatos com representatividade. Somente a RPC extrapolou a regra e chamou Graeml e Roberto Requião (Mobiliza) para o debate.
No encontro da RPC, ela classificou esta eleição municipal de Curitiba como um “jogo de cartas marcadas” e voltou a criticar as regras eleitorais. "Quando sou convidada, recebo porta na cara. Dizem que é mania de perseguição quando criticamos a podridão do sistema eleitoral.”
Metodologia IRG 5/10: 800 entrevistados pela IRG Pesquisas entre os dias 1º e 4 de outubro de 2024. A pesquisa para a prefeitura de Curitiba foi contratada pela RIC TV. Confiança: 95%. Margem de erro: 3,47 pontos percentuais. Registro no TSE nº PR-08674/2024.
Metodologia Quaest 27/8: 900 entrevistados pela Quaest entre os dias 24 e 26 de agosto de 2024. A pesquisa foi contratada pela Sociedade Rádio Emissora Paranaense SA (RPC). Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº PR-06447/2024.
Metodologia Quaest 17/9: 900 entrevistados pela Quaest entre os dias 14 e 16 de setembro de 2024. A pesquisa em Curitiba foi contratada pela Sociedade Rádio Emissora Paranaense Ltda/TV Paranaense. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº PR-07358/2024.
Metodologia Quaest 5/10: 1.002 entrevistados pela Quaest entre os dias 4 e 5 de outubro de 2024. A pesquisa para a prefeitura de Curitiba foi contratada pela Sociedade Rádio Emissora Paranaense Ltda/TV Paranaense. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº PR-04399/2024.
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