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Felipe Bombardelli
Felipe Bombardelli é candidato a prefeito de Curitiba pelo PCO.| Foto: DivulgaCand/Reprodução

Felipe Bombardelli (PCO) é novato na política. Ligado à área da tecnologia, conheceu o Partido da Causa Operária em 2020, quando morava na República Tcheca. Ao retornar ao Brasil, começou a ter mais contato com as ideias da sigla. E neste ano, acabou aceitando concorrer a prefeito de Curitiba porque falta gente — na capital paranaense são menos de 10 filiados. Por isso, reconhece que está na disputa pela prefeitura de Curitiba não para ganhar, mas para usar a visibilidade do pleito para espalhar o que o partido e ele pensam.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Felipe Bombardelli defendeu a implantação do socialismo no Brasil, um sistema que, segundo ele, funcionou na União Soviética, mas que acabou por interferência dos Estados Unidos. Sem a iniciativa privada visando apenas o lucro, o Estado seria mais igualitário, com emprego, saúde, educação e segurança para todos. Chegar nisso, porém, levaria tempo, admite.

Sobre Curitiba, disse que implantaria uma espécie de conselho popular, no qual os cidadãos escolheriam e votariam os rumos da cidade, tirando o poder do prefeito e dos vereadores. Para a segurança, é contra a polícia “de ocupação” e favorável a uma proximidade com a população. No transporte público, gostaria de implantar uma tarifa mensal de R$ 85 antes de fazer uma transição para tarifa zero.

Todos os candidatos à prefeitura de Curitiba foram convidados pela reportagem da Gazeta do Povo para entrevista.

Confira a entrevista com o candidato Felipe Bombardelli

O seu partido defende a implantação do socialismo no Brasil. Por que o senhor acredita que esse seja o melhor regime político? Já funcionou de fato em algum lugar do mundo?

A primeira grande experiência socialista foi a União Soviética, que tentou e fez a planificação da economia, principalmente na parte de ter produção e demanda atreladas à produção, e também garantir os empregos das pessoas, que é o que acaba sendo o mais importante. E aí garantindo 100% dos empregos das pessoas, você garante uma lógica diferente do capital, na qual não precisa estar sempre produzindo, vendendo, para conseguir manter aquela quantidade de pessoas trabalhando para manter a economia. Tem que manter a quantidade da produção. A grande falha na União Soviética foi a parte da informação, eles não conseguiram entrar direito na terceira revolução industrial. Tirando a geladeira, tinha metrô, havia um bom acesso à saúde e educação, gratuita e universal. Porém, a linha branca, como a estrutura dentro da casa, não era muito boa. Eles não conseguiram avançar nisso, acabaram retrocedendo e perdendo a posição.

E aí em 1990, 1991, eles colapsaram, os Estados Unidos conseguiram dar um golpe em cima da União Soviética, mesmo a população votando em manter a União Soviética, fizeram um plebiscito e a maioria votou em manter, com reformas e tal. Os Estados Unidos na época também não estavam bem, mas estavam melhor do que hoje. E aí, com a queda da União Soviética, abriu todo um mercado do capitalismo que conseguiu uma sobrevida maior.

Hoje a gente vê uma crise do capital. Tivemos a crise ali em 2001, com a bolha das big techs, depois tivemos a crise imobiliária em 2008 e, desde 2015, o pessoal da direita liberal afirma que a dívida americana, a dívida dos governos são impagáveis, e em algum momento essa grande bolha de dívida e da Bolsa vai explodir e acarretar uma grande crise econômica e financeira. [Karl] Marx diz que as crises financeiras do capital são um descompasso entre a produção e o sistema financeiro. E eu concordo com ele, porque na tese, quando você produz mais dinheiro, quando você emite mais dinheiro, você espera uma maior produção. Quando existe um descompasso, quando você emite dinheiro e a produção diminui, então aí existe a crise. A gente vive uma quarta revolução industrial, em que a própria burguesia tem começado a tomar conta de toda a cadeia da produção. Então, toda a cadeia da produção vai estar conectada num servidor, esses dados ali vai estar na mão de pouca gente. Por exemplo, na Amazon, eles sabem todas as pessoas que compraram, têm um histórico de todas as compras ali e eles sabem, basicamente, uma previsão do que vai vender ou não será vendido nesse ano. Claro, com o tempo, vão começar a comprar quem produz, e eles vão dominar toda a cadeia da produção.

E onde entra a política e o plano do PCO, por exemplo?

O detalhe da nossa participação na política é de começar a buscar uma maior soberania do país. Então, um exemplo aí na questão do YouTube. Muitas grandes mídias brasileiras têm ficado associadas ao YouTube, o que indica que eles vão se rebaixar, eles não vão ter a liberdade ou aquela democracia de poderem pautar a política, vão ficar embaixo da política do YouTube e eles não têm força suficiente para falar "não, a gente não quer esse algoritmo, a gente quer esse outro algoritmo”, porque isso está dentro de uma cadeia mundial e quem vai dominar esse mecanismo de trabalho de comunicação é o YouTube e as big techs. E mesmo as grandes mídias nacionais brasileiras não vão ter força suficiente para enfrentá-las.

A mesma coisa na produção. Hoje os fazendeiros estão razoavelmente confortáveis em suas posições, mas a partir do momento que as grandes big techs, como o Bill Gates, que é um dos maiores fazendeiros dos Estados Unidos, começarem a dominar essa parte da plantação e automatizar, eles vão começar a sentir essa força do capital na quarta revolução industrial. E, de uma forma ou de outra, é uma forma de planificação. O detalhe é que essa cadeia e os dados da produção têm que estar transparente e democrático para a população. A gente não pode ficar embaixo desses algoritmos que são controlados por estrangeiros.

E aí tem um detalhe importante na questão do YouTube, do Uber também, que são milhares de motoristas que estão aí sobre os algoritmos. E essa galera, todas as viagens são taxadas e essa taxa vai para os Estados Unidos. Então, está na hora de o Brasil pensar como nação, começar a desenvolver esses aplicativos, que não é apenas um mero aplicativo, é todo um sistema de trabalho. Um sistema onde você resista, você vai poder trabalhar, você recebe uma contribuição, e esse sistema de trabalho não pode estar nas mãos dos estrangeiros.

Claro, não é por ser estrangeiro, mas tem que estar sob o controle do governo, e a gente conseguir, como governo, colocar os trabalhadores no controle desses aplicativos, eles terão voz para dizer se um algoritmo está legal ou não, se tem que buscar alguma melhoria de direitos laborais. E com o tempo, como a tese marxista diz, a taxa de lucro vai diminuindo, porque quando você vai automatizando os itens, implica num aumento da concorrência e numa facilidade maior dos itens.

Agora, voltando na Indústria 4.0, as indústrias vão começar a ter linha de produção em massa de produtos personalizados, certo? Então, é capaz de uma única concessionária de automóveis, uma montadora de automóveis, poder produzir todos os modelos desses últimos 100 anos. Quero um modelo Ford T, ele produz aquele modelo na carcaça, no design do Ford T, só que com motor elétrico, com a tecnologia moderna. E aí, se você quer construir agora um Ford Fiesta, ele vai lá e vai poder construir. A única coisa que você vai precisar fazer é trocar o código daquela linha de produção. Então, basicamente, todos os produtos que vão ser produzidos vão ter basicamente um código de como aquela linha de produção tem que se comportar.

Isso vai diminuir muito a taxa de lucro das empresas. E o capitalismo vive bem em uma sociedade de faltas, onde falta produção. Daí você gera economia, as pessoas compram, gera emprego, e assim por diante. Agora, quando você existe em uma sociedade de abundância, em uma superprodução, existem estoques, a produção fica parada, você não consegue vender e acaba tendo desemprego e isso leva à incoerência que o capitalismo gera, como é o caso desse atrito mundial entre a China e os Estados Unidos, que é uma corrida atrás do mercado porque se você não corre atrás do mercado, você vai falir.

O capitalismo está em uma decadência e aí a gente vai ter que, de um modo ou de outro, ser passado para uma outra etapa do capitalismo, ou um socialismo, que daí seria uma ideia de sociedade de abundância, e que essa questão de economia vai ser planificada usando a tecnologia, e as pessoas vão ter que ter uma jornada de trabalho menor. Então, começar a pensar em uma jornada de trabalho de 20 horas, nas outras 20 horas a pessoa pode estudar, fazer o que ela quer, participar da política, e assim por diante.

O detalhe da nossa participação na política é de começar a buscar uma maior soberania do país.

Felipe Bombardelli, candidato do PCO à prefeitura de Curitiba

Mas isso não é de uma hora para outra…

Claro, isso leva tempo. Eu trabalhei numa empresa com 400 funcionários, que não é assim grande coisa. Para mudar um aplicativo já levava em torno de três meses. Então, você tinha que avisar as pessoas, ver qual era o aplicativo melhor, ter um tempo de implementação, um tempo de transição, o que levava três meses aí só para coordenar essa mudança com 400 pessoas. Na sociedade, a mesma coisa. Ela vai mudando, vai chegar num ponto que vai existir uma ruptura, não necessariamente pacífica, pode ser que a gente passe por momentos muito turbulentos, como a gente já está passando.

A questão da revolução em Israel, ali na Palestina, que basicamente Israel está segurando uma revolução árabe que pode tomar proporções de vários estados árabes. A guerra na Ucrânia, que basicamente é quase uma guerra mundial dentro da Ucrânia, e todos os conflitos na África, na parte do Sahel. A China tem entrado forte na África. Tudo isso faz parte, são consequências da quarta revolução industrial, que tem aumentado a produção e a concorrência entre eles, e tem diminuído a taxa de lucro das empresas.

O PCO é um partido pequeno no Brasil e, consequentemente, pequeno também no Paraná, com pouquíssimos filiados. Mesmo assim lançou um candidato a prefeito de Curitiba. Como o senhor acabou entrando no PCO e por que decidiu ser o candidato em Curitiba?

Eu entrei no PCO em 2020. Conheci o PCO antes, pelas análises do Rui Costa Pimenta. Eu acho que é a principal porta de entrada do partido. O Rui Costa Pimenta tem umas análises muito boas, tanto em contexto mundial como quais as melhores políticas a serem tomadas. E todo sábado ele faz uma análise. Em 2020, eu estava na República Tcheca e estava participando da célula internacional do PCO, e aí a gente estava com o movimento de "Fora Bolsonaro" e a favor do Lula presidente. Quando o Lula entrou como presidente, eu pedi demissão na empresa e voltei para o Brasil para tentar ajudar a desenvolver o Brasil na parte de tecnologia, principalmente porque o Brasil tem uma cultura forte de software livre, e o software livre dá um avanço bastante rápido na questão tecnológica, tendo as políticas governamentais corretas. O Lula é bastante favorável ao software livre. Eu espero uma reanimação desse movimento, tanto que a Associação de Robótica Brasileira está começando a se formar, para a gente conseguir avançar nisso. E o PCO foi a política que eu achei mais acertada, principalmente por causa das análises.

Agora, a questão da prefeitura, é, vou ser sincero, não tinha muita gente. A gente é em cinco ou seis pessoas na célula, e como o vereador não tem tanto espaço, não tem tanto espaço de voz na mídia, a gente decidiu tentar a prefeitura para apresentar mais o partido. A nossa intenção não é ganhar as eleições. O PCO não tem essa capacidade de movimentação tão grande para conseguir a prefeitura. E, se conseguir, tem que ter um enfrentamento muito forte contra os empresários, não é uma pessoa, assim, tem que ter uma pessoa com bastante experiência no embate para conseguir dobrar os empresários, porque essa luta não é trivial.

Eu, particularmente, gosto de alguns candidatos que acabei conhecendo também, que batem nessa tecla. Sou bastante fã aí do [Roberto] Requião, ele trabalhou bastante a soberania do país, trabalhou com software livre, fortaleceu as companhias estatais, a Copel e a Sanepar. E eu vejo que a gente tem que começar a construir uma frente de soberania. É um caminho da esquerda superar. Se olhar hoje as eleições, está em grande parte dividido em duas candidaturas da direita. E embora eles tenham discursos quase socialistas, de "vamos defender a saúde, a segurança, a saúde e a educação", quando estão lá, fazem acordos com os empresários para uma privatização mais light, ou mais devagar. Já o principal da esquerda, o [Luciano] Ducci, eu não conheço muito, aí eu deixo sem comentar.

Mas enfim, a nossa ideia no PCO é poder participar, marcar posição e, quando for o momento certo, a nossa base aqui seria mais para pressionar a burguesia brasileira. Quando a burguesia brasileira não conseguir avançar suas forças produtivas, não conseguir dar emprego para as pessoas, não conseguir avançar o Brasil como país, a gente começa a crescer como alternativa. E a nossa candidatura seria mais ou menos de marcar presença e botar uma pressão na burguesia.

A nossa intenção não é ganhar as eleições. O PCO não tem essa capacidade de movimentação tão grande para conseguir a prefeitura.

Felipe Bombardelli, candidato do PCO à prefeitura de Curitiba

Do ponto de vista local, o plano de governo do PCO que, aliás, vale para todas as cidades onde tem candidatos, fala na criação de conselhos populares deliberativos. Como isso funcionaria na prática e o que aconteceria com o prefeito e os vereadores? Não perderiam força?

Essa seria a ideia, porque daí seria distribuir um pouco mais o poder, um pouco mais orçamento, visto que as pessoas estão buscando esse lado. Elas querem participar mais da política e não dessa política eleitoral, apenas representativa. Elas querem poder votar em leis, querem poder decidir o que vai ser feito ou não. Embora muitas das pessoas querem alguém que faça, como estão trabalhando 40 horas, elas não querem acabar pensando muito nisso, querem alguém que vá lá, faça as coisas funcionarem e elas possam tocar a vida delas tranquilamente.

Tem uma ala que quer mais democracia, principalmente os estudantes, e com a diminuição das jornadas de trabalho, vai aumentar essa participação popular. Claro, cada bairro ali pode ser uma subprefeitura, um orçamento, então precisa ter uma operação matemática que vai dividir o orçamento da prefeitura nesses vários bairros, através de algumas estatísticas.

E as pessoas precisam participar das reuniões e decidir quais são as prioridades, se vai construir uma UPA, um hospital, uma escola, ou se vai reformar, assim por diante. Embora, a questão de conselhos pode ser facilmente comprada pelos empresários, que também é um certo risco. Então precisa de uma participação grande das pessoas para que esses conselhos funcionem. Porque você não pode simplesmente criar um conselho sem que as pessoas tenham acesso à informação estratégica de dados da cidade, né, então elas precisam saber quantas escolas tem. Isso já tem, mas quantos professores, quantos alunos, quantas vagas. Por exemplo, imigrantes do Haiti e do Congo aqui reclamaram pra mim que muitas das escolas falam que faltam vagas e muitos deles, acredito, é por eles serem imigrantes. Então precisa ter transparente se a escola tem vaga ou não, porque daí o imigrante vai chegar lá e dizer “como não tem vaga se aqui no site diz que tem vaga?”. Todo esse sistema de informação é necessário para que os conselhos populares funcionem bem.

O senhor falou anteriormente sobre a questão da saúde. E nesse assunto, a atual gestão na prefeitura de Curitiba tem usado um modelo de terceirização, enquanto o plano de governo do PCO fala em um modelo completamente estatal. De que maneira o senhor conseguiria agilizar o atendimento não somente nas UPAs e UBSs, mas também em consultas e exames especializados? Não faltaria dinheiro para tudo isso?

Acho que a prefeitura tem em torno de 50% do que é pago do orçamento nos funcionários e o limite é de 60%. Tem um espaço ali de 10% que pode ser trabalhado. Embora essa lei eu acho que é um meio aí de travar também o funcionalismo público, que tem que ser trabalhado em esfera nacional para alterar, essa é a questão do teto. E claro, no capitalismo sempre vai ter esse problema, a partir do momento que você começa a enxugar as pessoas, vai aumentar os salários, porque não existe um exército de reserva. E a burguesia quer diminuir o salário para conseguir ser competitiva. Então você vai acabar caindo nesse embate e a solução vai ser começar a planificar a economia.

Por exemplo, na questão do município, pegando um exemplo mais físico. Você tem todas escolas, restaurantes públicos e mercados populares que precisam de comida. Hoje, até que a prefeitura tem que comprar diretamente dos produtores, né? Mas não faz sentido ir lá no mercado comprar isso. Então, a prefeitura pode começar a organizar a produção ali dos agricultores, para fornecer um salário decente para eles, e que eles consigam produzir a demanda necessária para essa quantidade de escolas e restaurantes. Claro, você pode começar a automatizar as fazendas, que essa ideia de fazer fazendas pequenas não é produtivo, não tem automatização tão alta como uma grande fazenda.

E também na questão de transporte. A gente tem que levar em conta que os portos estão sendo todos automatizados, logo, os caminhões que vão transferir as mercadorias entre o produtor e o consumidor final também vão ser automatizados, não vai ter mais motorista, e isso vai levar a uma enorme redução do trabalho. Claro, todo esse processo de alteração não é assim, tipo, “eu vou ser prefeito, super-homem e vou resolver os problemas de Curitiba inteira”. São tendências que a gente vem apontando e trabalhando aí para melhorar o Brasil.

As pessoas precisam participar das reuniões e decidir quais são as prioridades do que deve ser feito, se vai construir uma UPA, um hospital, uma escola, ou se vai reformar, assim por diante.

Felipe Bombardelli, candidato do PCO à prefeitura de Curitiba

A segurança é apontada pelos curitibanos como o principal problema da cidade e o senhor já falou sobre um papel mais comunitário da Guarda Municipal, e não com perfil de polícia. Isso não iria na contramão do poder público municipal fazer a sua parte para combater a criminalidade em Curitiba?

A grande questão é que a polícia não é muito eficiente para combater a criminalidade. A Suíça não é segura por ter muitos policiais, é segura por ter uma sociedade qualitativa. Embora o principal problema aqui seja a violência, Curitiba é uma das cidades mais seguras. Aqui ainda com celular na rua sem problema nenhum, né. E realmente é um dos principais problemas do Brasil, eu morei em Praga, na República Tcheca, por um bom tempo, e eu senti falta de duas coisas. É essa questão da segurança e o transporte público de pagar mensalmente.

Mas voltando à questão da segurança, a ideia seria conseguir avançar na questão da sociedade, melhorar os salários, dar moradia para todo mundo, para que essa questão da criminalidade seja algo marginal. E claro, a polícia tem que ser do local, não adianta você ter uma polícia de ocupação, certo? E uma polícia local não bate tanto nas pessoas. E claro, as leis têm que acabar sendo mais representativas do que algo vindo de cima para baixo. Agora, se você tem uma polícia e lei bem feitas, que são representativas na base, você não vai ter esse problema e vai ser uma sociedade mais democrática e menos repressiva.

Curitiba tem a passagem de ônibus mais cara do Brasil, ao lado de Porto Velho e Florianópolis, no valor de R$ 6. O senhor já falou sobre o usuário pagar um preço mensal e poder usar à vontade o transporte coletivo. Como seria viável implantar esse sistema, inclusive do ponto de vista financeiro? E seria possível também chegar à tarifa zero?

A tendência futura é a tarifa zero porque o custo com transporte público vai diminuir com o tempo. A mensalidade, vamos dizer, é um meio termo que já é usado na Europa, e eu não entendo porque não é usado aqui no Brasil. Então você consegue usar quantas vezes quiser o ônibus, consegue entrar por todas as portas, assim por diante. O detalhe é que o pessoal mantém ainda, eu não sei qual é o empecilho, você pagando avulso essas passagens, o que acaba sendo insano. Embora o sistema de transporte público de Curitiba seja bom, as pessoas não usam por causa do sistema de pagamento. Então, muitas vezes, o cartão não funciona, e aí você tem que pedir para alguém passar o cartão, e você passar o Pix para a pessoa. Seis reais é relativamente caro, e às vezes você precisa trocar de ônibus, então pega uma linha mais comprida para poder fazer.

E na Europa, você paga mensalmente, você pode ter aí políticas para quem tem menos de 24 anos, paga meia, quem tem mais de 65 anos, não paga, como é feito hoje aqui no Brasil, aqui em Curitiba. Só que ele te dá a possibilidade de pagar pelo sistema, ser viável, não precisar mexer no orçamento. E a longo prazo, a tarifa zero vai demitir todos os cobradores. A gente tem que começar a realocar esses cobradores antes de adotar isso. Por isso que eu proponho a tarifa mensal inicialmente, que aí você consegue realocar, sendo que se for colocar tarifa zero, vai despedir essas pessoas, vai economizar com elas. E futuramente, quando começar a automatizar todos os ônibus - já estão começando a fazer teste com ônibus sem motorista - vai chegar a um ponto que você não vai precisar de mais motoristas. E aí o custo do transporte público, basicamente, é manutenção, a compra de novos ônibus e só.

Com essa tendência vai acabar ficando cada vez mais barato porque a mensalidade, após adotada, é uma questão apenas de diminuir o custo. O ideal é que seja de R$ 85, que é em torno do 6% do salário mínimo, que é o que o empresário paga para o trabalhador.

Eu não sei qual que é o empecilho de manter pagando avulso essas passagens [de ônibus], o que acaba sendo insano.

Felipe Bombardelli, candidato do PCO à prefeitura de Curitiba

O senhor e o PCO criticam a “indústria da multa dos radares” e que isso deveria acabar. Mas o Código de Trânsito Brasileiro prevê que os radares sejam sinalizados, o que ocorre em Curitiba. A multa, então, só é aplicada a quem desrespeita o limite de velocidade. O senhor acredita que tirando os radares não aumentaria o risco à vida das pessoas no trânsito? Não se tornaria perigoso transitar pela cidade?

Olha, o que eu tenho visto é que boa parte dos candidatos tem batido nessa tecla da indústria da multa. Eu, particularmente, acabo usando mais o transporte público. O que vejo é que as vias têm que ser um pouco mais, assim, ter regras mais gerais. Não adianta você ter uma via ali, uma parte é 30 km/h, depois passa para 40 km/h, depois passa para 50 km/h, e isso acaba sendo complicado para o usuário. Então, a malha tem que ser pensada e seguir uma lógica boa para que você não tenha essas várias exceções.

E o que o partido prega é que as multas estão sendo usadas apenas para coletar, arrecadar dinheiro, como se fosse um outro imposto e aí então tem que ser bem estudada essa questão de trânsito. Eu não sou a melhor pessoa para isso, a minha área é indústria 4.0 e tecnologia.

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