Roberto Requião é candidato a prefeito de Curitiba pelo Mobiliza nas eleições 2024.| Foto: Atila Alberti/Tribuna do Paraná
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Roberto Requião (Mobiliza) é, de longe, o candidato mais experiente na disputa pelo cargo de prefeito de Curitiba. Já foi deputado estadual, prefeito da capital, governador do Paraná e senador da República. Aos 83 anos e após perder duas eleições — para governador e senador —, tenta voltar à cena política por um partido nanico, o Mobiliza. É o que, segundo ele, sobrou após ter deixado o PT em uma parceria que não deu certo e que só gerou animosidades.

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Em entrevista à Gazeta do Povo, Requião criticou os adversários, especialmente o vice-prefeito Eduardo Pimentel e o ex-prefeito Luciano Ducci, colocando ambos no mesmo balaio. Reclamou da forma como a cidade vem sendo administrada nos últimos mandatos. Segundo ele, os bairros centrais estão bons, mas a periferia está abandonada, colocando Curitiba em vias de se tornar um Rio de Janeiro — no aspecto negativo.

Sobre propostas, Roberto Requião evitou se debruçar sobre seu plano de governo. Para ele, o caminho é fazer exatamente o que fez quando foi prefeito de Curitiba, entre 1986 e 1989. Se o problema é falta de vaga na escola, vai construir escola. Se tem fila em consultas especializadas, contrata médicos. De acordo com ele, não é nada complexo, basta olhar a cidade e governar com amor e solidariedade à população.

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Todos os candidatos à prefeitura de Curitiba foram convidados pela reportagem da Gazeta do Povo para entrevista.

Confira a entrevista com o candidato Roberto Requião

O senhor foi prefeito de Curitiba entre 1986 e 1989 e depois foi governador do Paraná e senador da República. Por qual motivo, após quase 40 anos, o senhor está de volta à disputa pela prefeitura de Curitiba?

Pelas propostas. Eu fiz o melhor ônibus e mais barato do Brasil. Dividi a prefeitura em regionais para estar mais perto da população. Fiz as primeiras escolas integrais. Fiz os mercadões populares para baixar os preços dos itens básicos para a população. Fiz uma administração modernizada. Criei a Guarda Municipal, que deu muito certo. Eu aproveitei a visão técnica do Jaime Lerner, que era meu amigo, mas que não pensávamos igual. Aquela visão arquitetônica dele deixava de lado o amor e a solidariedade pela população. Eu entrei na disputa contra ele com 2% nas pesquisas e ele com 83%. E com os debates, ganhei. Ele fez coisas incríveis, como o Parque Barigui, a Rua XV. E eu apostei pesado nisso também, fiz vários parques, cuidei dos problemas da cidade.

O prefeito tem que ter noção do que é saúde, educação, segurança, transporte, coisas que justificam a existência do Estado. Depois disso, depois de mim, parou. Faz 20 anos que não acontece nada. O [Luciano] Ducci foi prefeito e hoje o [Eduardo] Pimentel é vice-prefeito. E eles reverteram tudo. O que eu fiz no transporte coletivo, acabando com a roubalheira. A última licitação foi o Ducci que fez e o Pimentelzinho Slaviero manteve. Estão com a pior saúde dos últimos anos, são 220 mil pessoas para serem atendidas entre consultas e intervenções. A privatização da saúde foi um horror, não construíram creches. Eu construí creches e eles privatizaram, transformaram num negócio. E o dono do negócio quer ganhar dinheiro e aí cai a qualidade da educação.

Eles continuam pensando errado. O Pimentel disse esses dias que tem 9 mil crianças na fila, o Ministério Público diz que são 13 mil, e que resolveria isso fazendo 30 creches. É um escândalo, 300 pessoas por creche? É um depósito de criança, um campo de concentração. Falta só o crematório. Isso me horroriza. A prefeitura tem que ter a visão técnica que eu tenho e que o Lerner tinha, e que seja administrada com amor para as pessoas.

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A qualidade dos bairros centrais não é ruim, mas não chega para os bairros afastados. Curitiba está se transformando num Rio de Janeiro. O Rio é a cidade mais bonita do mundo, mas as administrações passaram a cuidar dos bairros mais ricos e abandonaram a periferia. Na periferia não tem emprego, saúde, educação, segurança. Abriram caminho para as milícias. Para tomar banho de mar em Copacabana, vai ser assaltado. Não quero isso com Curitiba.

O seu partido é pequeno, sem tempo de televisão, então como fazer campanha para mudar?

Eu não tinha partido. Me decepcionei com o governo do Lula, saí do PT. Me ofereceram um partido pequeno, não me omito esperando que as pessoas lembrem de mim. Hoje assinei um manifesto contra o corte de árvores. Eu já ganhei prêmio mundial quando era governador por ter plantado 80 mil árvores, recebi o prêmio em Bohn, na Alemanha, prêmio da ONU. O maior parque urbano de Curitiba fui eu quem fiz. Desapropriar aquela área do Anibal Khury e fiz parque. Aí coloquei o nome dele para não ter problema. Saí da prefeitura, segundo o Datafolha, como melhor prefeito do Brasil. E ganhei facilmente o governo do estado.

Eu andei perdendo popularidade porque eu apoiei a Dilma [Rousseff] contra a cassação. Mas se abrir a internet vai ver que fui um crítico da política econômica do Lula e da Dilma. Mas não poderia admitir aquilo, fui o chefe da resistência democrática. A maioria do PT se escondeu [no impeachment]. Aí veio a Lava Jato. Mas entrei pelo ponto de vista moral e ético, para não deixar minha cidade naufragar dessa forma. A proposta liberal, de privatizar tudo, que privatizou a Copel de forma desnecessária. O mundo faz ao contrário. A Sanepar está sendo privatizada pelo governo federal, pelo BNDES, através da PPI. É um silêncio enorme e resolvi falar. Se quer comprar carne, compra no açougue. Se quer comprar peixe, compra na peixaria. E pesquisa compra na empresa de pesquisa. Mas coloco minhas propostas, fazendo críticas, mostrando que tenho inteligência.

300 pessoas por creche? É um depósito de criança, um campo de concentração. Falta só o crematório. Isso me horroriza.

Roberto Requião, candidato do Mobiliza à prefeitura de Curitiba
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O ex-governador Paulo Pimentel foi seu aliado no passado. Como se sente disputando a prefeitura contra o neto dele? O avô, o senhor acredita, é um bom mentor para ele?

Eu acho que o [Eduardo] Pimentel é desprovido de qualidade administrativa e de solidariedade com o povo. É a continuidade. Quero fazer Curitiba respirar de novo. Enxergar as coisas. Se você é classe média, fica doente de noite, vai no pronto socorro. O cara do Xaxim vai aonde? Tem que levar a qualidade dos bairros ricos para a periferia, para não virar o Rio de Janeiro.

Para essa campanha, o senhor tentou montar uma chapa com o PDT, mas…

Fui combatido pelo PT. O PT evitou qualquer possibilidade de aliança, qualquer recurso, tempo de televisão. O partido que entrei não existe, não tem fundo nem tempo na televisão. Posso falar, mas sem meios de repercutir. Tenho certeza que ganharia no primeiro turno se tivesse tempo. Um erro da questão eleitoral.

Eles [Pimentel e Ducci] não foram no debate da UFPR. Eu fui na PUC, também fugiram, porque eles não têm o que dizer. Como o Ducci, que foi prefeito, e o Pimentel podem discutir transporte comigo? Se o meu era o melhor do país e o deles é o mais caro? O Pimentel disse que ama Curitiba, mas a Ocupação Tiradentes 2 foi invadida às 6h da manhã. Vamos admitir que fosse necessário para o aterro, mas teria de ter um projeto de desocupação. Eles não têm respeito com a população, acham que é função da prefeitura fazer negócios com grupos financeiros. Sou o antissistema.

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O seu plano de governo fala em ampliar o número de vagas em creches…

Não precisa ler o plano de governo. Eu fiz uma creche por semana, rapaz. Curitiba tem R$ 15 bilhões de orçamento, não tem cabimento fazer creche alugada. Isso é um negócio de quem organiza as coisas para ganhar dinheiro. Uma creche tem que ter pedagogo, pediatra, atendimento para preparar para a pré-escola. Não é campo de concentração. É de uma insensatez. Já fiz e faço de novo.

Mas quantas creches seriam?

Quantas necessárias e quantas possíveis. Só posso responder estando na prefeitura. O Ministério Público diz que são 13 mil vagas. Tem que fazer as creches começando pelos bairros mais carentes, pessoas que precisam trabalhar. Não existe isso hoje.

Eles [Pimentel e Ducci] não têm respeito com a população, acham que é função da prefeitura fazer negócios com grupos financeiros. Sou o antissistema.

Roberto Requião, candidato do Mobiliza à prefeitura de Curitiba
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Na saúde também tem reclamação com a demora no atendimento nas UPAs e UBSs. E também há filas para exames e consultas…

No começo tem que fazer o esquema de contratação de médicos credenciados, pagar o que pagam os planos de saúde e deixar o pessoal ser consultado pelos especialistas. Isso para desafogar inicialmente. Não posso dizer que vou estatizar tudo, com garantia de trabalho, médicos especialistas, não poderei fazer isso em 24 horas. Faço contratação de médicos ao mesmo tempo que estabeleço uma maneira de acabar com a demanda enorme.

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    A segurança pública é uma grande preocupação dos curitibanos, que pedem uma atuação mais ostensiva da Guarda Municipal, cumprindo um papel de polícia. No Congresso Nacional tramita um projeto que prevê transformar as guardas em polícias. Na prática, em Curitiba, isso já ocorre. O senhor pretende apoiar a transformação da Guarda Municipal em polícia?

    Eu criei a Guarda [Municipal]. Ela tem que trabalhar junto com a Polícia Civil e a Polícia Militar, tem que ser uma guarda comunitária, sempre os mesmos guardas nos mesmos bairros. Isso para evitar a ideia de que é inimiga. Eu fiz um projeto na Vila Zumbi, entre Curitiba e Colombo. Era o lugar mais violento do Paraná. As casas enchiam com as enchentes do rio, aí fiz projeto de construção de casas, com preço de 10% do salário mínimo para pagar. Aí entrei com o Estado, com creche, posto de saúde, entrei com curso profissionalizante em parceria com o Exército Brasileiro e finalmente pus a polícia. Quando coloquei a polícia, já tinha acabado a violência, os criminosos já tinham ido embora. Essa coisa é simplérrima. E a cidade é uma máquina de morar. Quem não entender de processo civilizatório, é picareta querendo ser prefeito.

    Mas transformar a Guarda Municipal em polícia é o caminho?

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    Isso ocorre no mundo inteiro. Se você liga um filme de Nova York, quem comanda a polícia é o prefeito. O fundamental é que a polícia se comprometa, como fiz com a Polícia Militar quando fui governador. Quando queriam salário melhor, tinha que fazer curso de Direitos Humanos. E também levantei o salário dos praças. Antes só aumentavam os salários dos coronéis. Eu dei condições para a polícia trabalhar.

    O plano de governo do senhor fala que a FAS precisa atuar de forma mais "consistente e eficaz" na questão da população em situação de rua. O que está sendo feito errado hoje e como o trataria essa questão?

    Gustavo, esse pessoal é tão humano quanto eu e você. Quem criou a FAS foi a Margarita [Sansone], que era minha amigona, minha companheira de piscina quando éramos jovens. É preciso fazer um tratamento pessoal. A pessoa pode ter tido fracasso econômico, uma morte na família que abalou, é um tratamento de assistência social. Precisam ser tratadas como pessoas humanas. O que o Pimentel está fazendo hoje? Pegam um ônibus e despejam em [Balneário] Camboriú? É um atentado. Parece o [primeiro-ministro de Israel, Benjamin] Netanyahu comandando isso.

    Antes só aumentavam os salários dos coronéis. Eu dei condições para a polícia trabalhar.

    Roberto Requião, candidato do Mobiliza à prefeitura de Curitiba

    Curitiba tem hoje, ao lado de Porto Velho e Florianópolis, a passagem de ônibus mais cara entre as capitais. O seu plano fala em revisar a tarifa. É possível fazer isso logo no início do mandato, antes da nova licitação do transporte coletivo?

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    Lembro que lá atrás, comprando um pneu na Hermes Macedo, pagava a metade do custo da planilha [dos ônibus]. Era um roubo todo. Tem desvalorização da frota. O povo paga duas vezes o valor da frota, e colocam preço absurdo na tarifa. Os Gulin [família que controla o transporte coletivo em Curitiba], quando me elegi, disseram que iam sair desse ramo. Eu acabei com a exploração, não quebrei nenhuma empresa. Não vou dizer que vou estatizar num ano, porque isso causaria o caos. O negócio é operação privada e frota pública.

    Mas como baixar o preço da passagem?

    Acaba com a desvalorização e coloca a frota pública. Não tem remuneração tarifária. Foi o que fiz lá atrás. Consegui a tarifa mais baixa no melhor sistema do país. Aproveitei o que o Rafael Dely fez com o Lerner e deixei o preço baixo.

    Já se falou em metrô e VLT (veículo leve sobre trilhos). O senhor acredita que o atual sistema de ônibus é suficiente para Curitiba ou é necessário um novo modal?

    Antigamente falavam do Concorde, lembra? Avião supersônico. Custou uma fortuna para ser construído e custava uma fortuna para funcionar. Ele saiu de linha. Tem que fazer uma tarifa para quem usa, para os trabalhadores. Eu criei o vale transporte e implantamos isso no país inteiro. Temos que cuidar da cidade. Eu sou administrador formado pela Fundação Getúlio Vargas. O Jaime Lerner se formou na França. E não fizemos o metrô. Por quê? Porque Curitiba é uma bacia de rios. Se cavar 50 centímetros na sua casa, é possível, fazer, claro que é. Olha o Canal da Mancha. Mas e o custo disso? Não é custo para reduzir tarifa. É jogada para aparecer na Globo e na Gazeta do Povo. Não tem sentido isso. Compraram alguns ônibus elétricos, mas a frota é muito maior. É uma piada. E compraram com o dinheiro da população. Temos que baixar violentamente a tarifa.

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    O seu plano de governo cita redistribuir o fluxo do trânsito durante os horários de pico para reduzir congestionamentos. Não é complexo fazer isso?

    Não é nada complexo. É algo lógico e que pode ser consertado. Privatizaram radares e semáforos. Se somos empresários, queremos ganhar dinheiro. Quanto mais multa, mais dinheiro para o empresário e para a prefeitura. Mas aqui tem armadilhas. Diz que [o limite] é 60 km/h, mas vira à direita, e é 20 km/h. É uma armadilha absurda que tem que acabar imediatamente. Não é acabar com os radares, porque eles ajudam no trânsito, diminuem acidentes. Mas acabar com isso de ganhar dinheiro com multa.

    Compraram alguns ônibus elétricos, mas a frota é muito maior. É uma piada. E compraram com o dinheiro da população.

    Roberto Requião, candidato do Mobiliza à prefeitura de Curitiba

    Muito obrigado pela entrevista...

    O resto é isso aí. Eu pus R$ 80 mil da poupança da minha esposa e mais um pouco do que tinha. E tem gente com R$ 10 milhões. É uma piada. É uma negociata política. Por que o PT me excluiu? Ofereceram cargos, embaixador não sei aonde, depois presidência de Conselho de Administração da Eletrobras, para ganhar R$ 200 mil. Mandei para a pqp e saí do PT. Esperava mais do PT, esperava uma política desenvolvimentista, com retomada do crescimento econômico, com emprego, felicidade do povo brasileiro. Quem está querendo vender a Sanepar? O BNDES. Só erros em cima de erros. Talvez seja roubalheira, não sei. Mas o Ministério Público e a polícia que cuidem disso. Se precisar de prisão, pode colocar essa gente toda nas 12 penitenciárias que eu construí.

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    Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]