A construção das coligações partidárias para as eleições 2024 é tratada como assunto estratégico nos bastidores políticos em busca de um nome viável nas urnas. O sigilo é ainda maior em caso de acirramento entre pré-candidatos do mesmo partido ou durante as negociações de diferentes grupos do mesmo espectro político.
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Na pré-campanha eleitoral para a prefeitura de Curitiba, a exceção virou regra com a exposição da disputa interna dentro das legendas, principalmente no PL e no PT, que devem escolher os candidatos que vão receber o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do atual presidente Lula (PT).
Ao invés da movimentação silenciosa e calculada no xadrez político, integrantes dos diretórios estaduais contestaram as articulações políticas com declarações públicas. Agora, as decisões de PL e PT, que têm peso na balança do pleito na capital do estado, estão expostas e são aguardadas pelo impacto na formação das coalizões de direita e de esquerda.
Pré-candidato com o apoio do governador Ratinho Junior (PSD) e do prefeito Rafael Greca (PSD), o vice-prefeito de Curitiba, Eduardo Pimentel, espera que o PL faça parte da frente ampla com os partidos aliados do governo estadual, replicando a base de apoio do chefe do Executivo estadual. “Eu vou buscar, pois quero o apoio do PL na eleição em Curitiba. Ainda temos que conversar pois existem pré-candidaturas no partido, assim como no União Brasil. Eu vejo a esquerda se reunindo e não vejo porque o centro e a direita não podem se unir”, declarou em entrevista à Gazeta do Povo.
A missão de Pimentel, que deve ter o apoio de Podemos, Republicanos, Progressistas, Avante, MDB e PRD, encontrou um entrave depois da troca de farpas entre Bolsonaro e o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, por conta do apoio da sigla ao governo Lula, com votos da bancada no Congresso e pelo comando de ministérios na gestão petista.
“Nas últimas eleições, o PSD Paraná, assim como o governador, trabalhou pela reeleição de Bolsonaro. Então, espero que não haja veto do PL ao PSD e que a gente possa fazer essas construções em cada local do país, dentro da sua realidade. Em Curitiba, temos um alinhamento forte entre a prefeitura e o governo e a população ganha com essa paz política. Torço para que isso seja revisto e que o PL possa fazer a aliança com o PSD”, afirma Pimentel.
Nas últimas semanas, houve a tentativa de filiação do tucano Beto Richa (PSDB) ao PL para ocupar a vaga de pré-candidato à prefeitura de Curitiba. No entanto, a militância bolsonarista reagiu, principalmente pelo fato de Richa ter sido investigado pela operação Lava Jato, e o partido voltou atrás sobre a filiação do ex-governador e ex-prefeito da capital. O deputado federal segue como pré-candidato da Federação PSDB-Cidadania, após não ter recebido a carta de anuência da cúpula nacional tucana para a troca de legenda durante a janela partidária.
No PL, o episódio “queimou” o pré-candidato Ricardo Arruda, que foi acusado de filmar e vazar o encontro entre Richa e a liderança do partido em Brasília, o que provocou até pedido de expulsão do parlamentar protocolado no Paraná por Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Por outro lado, Paulo Martins, ex-candidato ao Senado em 2022, saiu com o nome fortalecido como pré-candidato de Bolsonaro na capital paranaense. Martins ocupa o cargo de assessor especial do governador Ratinho Junior desde o dia 31 de janeiro.
Nos bastidores, Pimentel conta com a influência de Ratinho Junior para atrair o PL e manter a aliança do PSD paranaense com o ex-presidente Bolsonaro.
Se a empreitada for bem sucedida, o grupo político que administra a prefeitura da capital e o governo estadual ainda terá que decidir qual aliado estará com Pimentel na foto da chapa nas urnas. Antes do imbróglio nacional, o PL teria a prerrogativa de indicação do candidato a vice-prefeito, caso a coligação com o PSD fosse confirmada. No entanto, a deputada estadual Maria Victoria (PP), filha do cacique Ricardo Barros - ex-ministro da Saúde e secretário estadual do governo Ratinho Junior - também é cotada para a vaga.
“Somos parceiros do prefeito Rafael Greca e do vice-prefeito Eduardo Pimentel. Fomos o primeiro partido a anunciar apoio ao Greca, no segundo turno de 2016 e desde então estamos contribuindo com a gestão da nossa cidade. Porém, precisamos nos posicionar neste momento. Curitiba avançou muito nos últimos anos e sabemos que é possível fazer ainda mais. Se houver um convite para a vice-prefeitura de Eduardo Pimentel, esse será submetido à análise do partido”, declarou a pré-candidata do PP, em nota.
Decisão para prefeitura de Curitiba será do PT Nacional
A reunião executiva do PT, realizada nesta terça-feira (26), confirmou que as decisões sobre as candidaturas nas capitais Curitiba, Recife (PE), João Pessoa (PB) e Rio de Janeiro (RJ) serão tomadas pela direção nacional do partido, o que levou o cancelamento dos encontros de delegados nos dias 6 e 7 de abril para deliberação da militância nos diretórios municipais dessas cidades.
Em Curitiba, uma ala do PT defende a coligação com o ex-prefeito Luciano Ducci, pré-candidato do PSB e partidário do vice-presidente Geraldo Alckmin, para construção de uma aliança de centro-esquerda para chegar ao segundo turno e ampliar a base política do presidente petista para a reeleição em 2026. Na versão curitibana Lula-Alckmin, os papéis seriam invertidos com o PSB na cabeça da chapa e indicação do vice pelo PT.
Por outro lado, parte da militância defende uma candidatura própria e rejeita Ducci pela falta de afinidade política com Lula. Dois deputados federais colocam seus nomes como pré-candidatos petistas para a corrida eleitoral em Curitiba: Zeca Dirceu e Carol Dartora.
Enquanto isso, Ducci aguarda um posicionamento do PT e defende a coligação. “É uma eleição difícil com vários componentes. Então, estar com um grupo organizado e forte que possa fazer uma boa campanha é fundamental, pois não tem como disputar uma eleição majoritária para uma capital de forma isolada”, afirma o ex-prefeito.
Outro nome que pode compor a coalizão de esquerda no pleito é o deputado estadual e pré-candidato a prefeito de Curitiba Goura (PDT), segundo colocado na última eleição para prefeitura de Curitiba, com mais de 110 mil votos em 2020.
União Brasil e Novo apostam em chapas “puro-sangue”
O deputado estadual Ney Leprevost foi confirmado pelo União Brasil como pré-candidato a prefeito de Curitiba e afirmou que “a chance de disputar a eleição como vice de alguém é absolutamente zero.” Ele ainda defende que o partido tem condições de disputar o pleito com uma chapa “puro-sangue”.
“Nós temos um excelente tempo de televisão e temos deputados da nossa base que são muito bem votados em Curitiba. Estamos abertos para o diálogo com outros partidos, porém eu não estou disposto a abrir mão dos meus valores. Não faremos alianças que possam vir a comprometer nossa gestão”, afirmou o pré-candidato em entrevista à Gazeta do Povo.
O Partido Novo também deve optar por uma chapa “puro-sangue” na disputa que pode ser encabeçada pelo ex-procurador da Lava Jato e ex-deputado federal Deltan Dallagnol, pré-candidato a prefeito de Curitiba. Apesar do risco de indeferimento da candidatura, o Novo confirmou o nome de Dallagnol em evento realizado no início de março, quando o secretário estadual de Desenvolvimento Sustentável, Valdemar Bernardo Jorge, teve a filiação anunciada pelo Novo. O partido não confirma, mas Bernardo Jorge pode ser vice na chapa ou coordenador da campanha de Dallagnol.
O partido Por Mais Brasil (PMB) anunciou a jornalista Cristina Graeml como pré-candidata a prefeita de Curitiba nas eleições municipais de 2024. O ex-prefeito de Pinhais e ex-deputado federal Luizão Goulart também foi indicado pelo Solidariedade como pré-candidato no pleito na capital paranaense.
*Deltan Dallagnol e Cristina Graeml são colunistas da Gazeta do Povo e, caso as candidaturas sejam confirmadas, eles serão afastados das atividades no jornal durante o período eleitoral, retornando após o fim das eleições.
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