O resultado eleitoral deste domingo (6) deu à direita uma vitória importante contra a esquerda e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Com o avanço de prefeitos do PL ou de coligações ao partido ou ao ex-presidente Jair Bolsonaro, principalmente em grandes municípios, será mais fácil montar uma plataforma eleitoral para a disputa nas eleições de 2026.
Para qualquer partido político, quanto maior o número de prefeituras, maior a possibilidade de influência pulverizada. Com a representatividade local, os gestores funcionam como cabos eleitorais nas disputas nacionais, garantindo que a máquina municipal trabalhe para eleger aliados nacionais.
O objetivo é conseguir a maioria de representantes no Congresso Nacional em 2026 e, consequentemente, o avanço de pautas conservadoras e outras de interesse dessas legendas, como a abertura de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal, com destaque para o ministro Alexandre de Moraes.
O cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), explica que a dinâmica da política nacional tem grande influência dos resultados obtidos nas eleições municipais.
“Essas prefeituras vão ser a base, o motor, para que se possa eleger uma grande quantidade de deputados estaduais, deputados federais e senadores. Isso pode alterar a dinâmica da disputa política brasileira por tudo aquilo que a gente já sabe. E, nesse contexto, temos questões associadas ao impeachment do ministro da Suprema Corte, controle das comissões importantes do Congresso, questões associadas à dinâmica das alianças políticas e das principais peças legislativas que podem ou não vir a ser aprovadas”, disse Gomes.
Bolsonaro adotou pragmatismo, com recuo no discurso antissistema
Os números obtidos neste domingo também são resultado da adoção de um pragmatismo político por parte da direita após o baixo desempenho eleitoral em 2020. Na época, Bolsonaro, então sem partido, declarou apoio a 63 candidatos em todo o país, sendo 18 prefeitos, 44 vereadores e um candidato a senador na eleição suplementar de Mato Grosso. Apenas 11 candidatos a vereador e cinco a prefeito foram eleitos – desses, apenas um em capital: Tião Bocalom, que na época disputou pelo PP.
A baixa inserção do ex-presidente na política municipal e o relacionamento conturbado do então presidente com as principais siglas do Centrão nos primeiros dois anos de governo também foram vistos como elementos que dificultaram o crescimento eleitoral nos municípios.
Para 2024, o discurso antissistema precisou ser colocado de lado em prol de alianças em capitais-chave, como é o caso de Eduardo Pimentel (PSD) em Curitiba. Apesar de ter atritos com Gilberto Kassab, dono do PSD, Bolsonaro apoiou o vice-prefeito visando o apoio do governador Ratinho Jr. (PSD) para um eventual candidato do PL à presidência em 2026.
A estratégia deu certo: até agora, Bolsonaro emplacou dois prefeitos de seu partido e pode aumentar esse número no segundo turno, graças a parcerias feitas com as legendas do Centrão.
Quando analisado o número total de prefeituras por partido, o cenário é ainda mais benéfico para o Centrão e para a direita. No caso da legenda comandada por Valdemar Costa Neto, o salto de 2020 para este ano foi de 52% – saindo de 345 prefeituras para 523. Já o partido de Gilberto Kassab, o PSD, despontou, até este primeiro turno, como o partido que mais elegeu prefeitos, somando 888 gestores municipais – um crescimento de 36%.
Segundo o cientista político Juan Carlos Arruda, CEO do Ranking dos Políticos, o sucesso eleitoral da direita pode ser explicado pela articulação feita com partidos do Centrão no Congresso Nacional. Para Arruda, a oposição conseguiu ser mais eficaz do que no passado.
“O sucesso da direita em eleger tanto nomes próprios quanto candidatos que fizeram alianças com o Centrão mostra uma capacidade maior de mobilização e de atração de diferentes setores do eleitorado. A integração com o Centrão trouxe estabilidade às candidaturas de direita e fortaleceu sua presença em diversas capitais, o que evidencia uma estratégia política mais madura”, disse o cientista político.
Articulação política de Bolsonaro foi diferencial para o PL
Desde que voltou dos Estados Unidos, após ser derrotado nas eleições de 2022, Bolsonaro passou a articular em Brasília o avanço da legenda em diversos estados. Ao lado de Michelle Bolsonaro, o casal viajou a cinco regiões do país, chegando a visitar inclusive redutos de Lula, como Pernambuco, Bahia, Ceará e demais estados do Nordeste.
No início, os eventos tinham caráter apenas de apoio ao ex-presidente, mas, à medida que a campanha se aproximava, Bolsonaro passou a realizar filiações de pré-candidatos e prefeitos interessados em disputar pelo PL. Na avaliação de Juan Carlos, as visitas do ex-mandatário colocaram em evidência a capacidade de articulação da direita pelo país.
“As viagens de Bolsonaro pelo país certamente contribuíram para a articulação política da direita, dando visibilidade a candidatos alinhados a ele e ao seu projeto político. No entanto, os resultados refletem mais do que sua presença física. Eles também demonstram uma capacidade dos partidos de direita, como o PL, de se fortalecerem institucionalmente e mobilizarem suas bases regionais. Assim, as viagens foram uma peça na engrenagem maior de uma estratégia política bem coordenada”, disse o cientista político.
O cientista político Adriano Cerqueira, do Ibmec de Belo Horizonte, afirma que a legenda encabeçada por Bolsonaro conseguiu aliar estratégias mais técnicas para a campanha ao mesmo tempo em que soube aproveitar a figura do ex-presidente para alavancar as candidaturas.
“O PL está se transformando num partido técnico para ganhar a eleição. Hoje é uma sigla milionária, um dos maiores partidos do Brasil. Nessa eleição, o partido conseguiu desenvolver uma estratégia eleitoral envolvendo uma técnica de campanha eleitoral e grandes padrinhos políticos, dos quais o mais importante é o Bolsonaro. Por outro lado, o PT virou uma máquina velha, desgastada e sem renovação, apelando para nomes antigos que não refletem mais o PT”, disse Cerqueira.
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