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Bruno Engler Jair Bolsonaro
Deputado estadual de 27 anos, Bruno Engler disputa o 2º turno contra o prefeito de Belo Horizonte| Foto: Divulgação/Partido Liberal

A renovação de candidatos de direita nas eleições de 2024 pelo Brasil colocou novos nomes na disputa pelo segundo turno nas capitais, o que pode resultar na oxigenação de lideranças conservadoras e no protagonismo dos partidos na política nacional.

Além da demonstração de força do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que articulou as chapas e apostou na juventude de candidatos a prefeitos, os “outsiders” mostraram a possibilidade de alternativas políticas para os eleitores de direita, principalmente com as candidaturas de Cristina Graeml (PMB), em Curitiba, e Pablo Marçal (PRTB) que, apesar de ficar de fora do segundo turno em São Paulo, deixa o pleito com capital de votos para 2026.

No PL, Bolsonaro participou diretamente das campanhas com chapas encabeçadas pelo partido e contou com o reforço da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, fundamental para o impulsionamento das campanhas de jovens políticos ou de novatos nas eleições. Por outro lado, o casal se afastou das alianças do PL nas chapas com candidatos a prefeito de siglas de centro.

“Os partidos de direita são mais abertos e propensos a lançar novos nomes. Uma das maiores qualidades políticas de Bolsonaro é promover essas pessoas. O Tarcísio de Freitas era um burocrata, foi ministro do ex-presidente e hoje é governador de São Paulo. Ele tem essa capacidade de projetar nomes, ao contrário do PT que tem uma preocupação pelo controle do campo político à esquerda. O Lula não abre mão e isso inibe novas lideranças políticas”, avalia o cientista político Marcelo Cerqueira, professor do Ibmec Belo Horizonte.

Na capital mineira, ele afirma que a ascensão do deputado estadual Bruno Engler, 27 anos, ocorreu com o início da propaganda eleitoral e a identificação do eleitor com o candidato de Bolsonaro, o que provocou a desidratação de Mauro Tramonte, candidato do Republicanos, que tinha o apoio do governador Romeu Zema (Novo) e do ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (Republicanos). “Em 2020, o Engler já surpreendeu quando ficou em segundo lugar na reeleição do Kalil no primeiro turno naquela eleição durante a pandemia”, recorda Cerqueira.

De lá pra cá, Engler trocou o PRTB pelo PL e conseguiu chegar ao segundo turno na capital mineira com o aval de Bolsonaro e promete uma aliança de direita para derrotar o atual prefeito Fuad Noman (PSD), que terá o apoio do PT na campanha até o próximo dia 27. Com a mesma idade de Engler, o candidato do PL à prefeitura de Fortaleza, André Fernandes, chega ao segundo turno em uma das únicas capitais com polarização direta entre os partidos de Bolsonaro e Lula. Ele vai enfrentar o petista Evandro Leitão.

Em Goiânia, a entrada do casal Bolsonaro na reta final da campanha de Fred Rodrigues (PL), 39 anos, alavancou a chegada do candidato conservador na briga pela liderança do primeiro turno. Rodrigues desbancou a petista Adriana Accorsi e disputará o segundo turno com Sandro Mabel (União Brasil), aliado do governador Ronaldo Caiado.

Já em Maceió, o prefeito João Henrique Caldas (PL), 37 anos, o JHC, confirmou o favoritismo e foi reeleito com a expressiva votação de 83,25% do eleitorado. Aliado de Arthur Lira (PP), ele pode deixar a prefeitura da capital do Alagoas para disputar o governo estadual nas próximas eleições.

“Desde o fim do governo Dilma, a direita soube se renovar, se reestruturar e promover novos políticos com força eleitoral nos pleitos municipais pelo Brasil. São mais de 5 mil cidades com seus prefeitos e vereadores, isso significa uma base muito importante para eleições gerais em 2026”, ressalta o professor Cerqueira.

Na avaliação do professor de administração pública e pesquisador em educação política Daniel Pinheiro, a direita apresentou nas eleições um rol de candidatos que representam a renovação política no Brasil muito maior do que a esquerda, sendo que o principal nome ligado ao presidente Lula é o de João Campos, prefeito reeleito em Recife (PE) pelo PSB - partido do vice-presidente Geraldo Alckmin, sigla considerada de centro-esquerda, mais moderada no espectro político do que o PT e Psol.

“São poucos os exemplos que temos à esquerda no rol de frescor político e renovação. O resultado nacional é de uma direita que se posiciona muito bem, enquanto a esquerda se posicionou muito mal neste sentido.”

Graeml e Marçal: eleições mostram espaço para nova direita nos estados e no Brasil

O cientista político e professor da Insper Leandro Consentino analisou os desempenhos dos candidatos de direita Cristina Graeml e Pablo Marçal nas eleições. Jornalista conservadora, Graeml conseguiu atrair o eleitor identificado com as pautas defendidas por Bolsonaro e teve o “apoio informal” do ex-presidente, apesar da aliança entre o PL e o PSD de Ratinho Junior, que lançou o vice-prefeito Eduardo Pimentel como candidato à prefeitura de Curitiba. 

Mesmo com a diferença de perfis entre Marçal e Graeml, Consentino avalia que o segundo turno em Curitiba, além de decidir o próximo prefeito da capital, revela a possibilidade da entrada de novos atores na direita paranaense, monopolizada pelo grupo político sob liderança do governador do estado. “A direita não tem um dono só. Esse é um recado nacional, mas que vale para os estados. O governador Tarcísio de Freitas imaginava que tinha o poder de decidir a disputa em São Paulo. Ele teve a vitória, mas muito menor. Então, o mesmo recado que vale para o estado de São Paulo, vale para o Paraná também”, afirma.

Assim, os candidatos identificados como conservadores mostraram uma capacidade maior de dialogar com o eleitorado de direita do que os concorrentes de partidos de centro, mesmo com o apoio formal do PL. “O Marçal não virou o candidato do Bolsonaro, pois não teve a bênção dele, mas, ao mesmo tempo, o ex-presidente não se engajou na campanha do Nunes como poderia. Isso possibilita um ‘candidato ou candidata informal’ de Bolsonaro”, disse Consentino, ao comparar as candidaturas de Marçal e Graeml.

Mesmo sem chegar ao segundo turno, na avaliação do cientista político Marcelo Cerqueira, Marçal deixa a eleição com capital político ao se tornar uma figura nacional. “Ele conseguiu nacionalizar uma disputa que é local. Mas precisa ficar alerta pela reatividade demonstrada nas redes sociais, que levanta o candidato, mas também gera muita rejeição. Se usar isso de uma forma mais equilibrada, pode encontrar a fórmula para se viabilizar para uma candidatura ao Senado ou até à presidência”, projetou Cerqueira.

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