Lela é candidato à prefeitura de Florianópolis (SC) pelo PT| Foto: PT/Divulgação
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Candidato à prefeitura de Florianópolis pelo PT, Vanderlei Farias, o Lela, 46 anos, defende a implementação do transporte público municipalizado e sustentável, com ônibus elétricos. Para isso, promete criar um fundo com recursos de impostos arrecadados pelo município de estacionamentos rotativos, do vale-transporte que as empresas pagam aos funcionários, além de buscar financiamento com o governo federal.

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“Eu quero até o final do mandato fazer a cidade se ver livre das catracas dos ônibus. O transporte coletivo vai ser gratuito, assim como diz o artigo sexto da Constituição, que é a garantia do transporte, como garantia à saúde, à alimentação, à moradia”, afirmou o candidato em entrevista à Gazeta do Povo.

A candidatura de Lela representa a volta do PT na disputa pela prefeitura da capital catarinense depois de 16 anos. Ele, que foi vereador de Florianópolis, se apresenta nas propagandas de rádio e TV e também nas redes sociais como o candidato de Lula em Florianópolis.  “A gente se assume mesmo como a candidatura do presidente Lula, porque as capitais têm que fazer esse protagonismo e mostrar quem é o presidente que está trazendo recursos para todo o estado de Santa Catarina”, disse.

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Na entrevista à Gazeta do Povo, Lela falou ainda sobre propostas para aumentar a transparência na prefeitura de Florianópolis, defendeu a ampliação de servidores na Guarda Municipal, com a aposta em tecnologia, e ainda prometeu, se eleito, contratar professores efetivos para melhorar a qualidade da educação básica na capital. Todos os candidatos à prefeitura de Florianópolis foram convidados pela reportagem da Gazeta do Povo para entrevista.

Leia a entrevista com o candidato Lela

Florianópolis teve caso de suspeita de corrupção na prefeitura, inclusive com um secretário preso. A situação traz à tona a necessidade de medidas de combate à corrupção, que passam pela transparência de informações de contratos, licitações, investimentos, uso de recursos pela prefeitura. Que medidas práticas o senhor pretende adotar para aumentar a transparência da prefeitura e coibir casos de corrupção? 

A gente tem os recursos da prefeitura e normalmente os gestores reclamam que tem pouco (recurso) para poder atender tanta demanda da cidade, então significa que a população que paga os impostos e serviços públicos querem receber essa devolução. Nada mais justo do que ter, realmente, uma gestão mais eficiente e que possa ser transparente para poder evitar (casos de corrupção). A prefeitura de Florianópolis está entre as piores capitais em transparência pública. E nós estamos falando de Florianópolis, que é considerada o Vale do Silício, com tecnologia, startups, uma cidade que tem a maior conta arrecadadora vinda da tecnologia e nós temos uma prefeitura em que os sistemas das pastas não dialogam.

O site de transparência da prefeitura, o site da própria prefeitura, se você buscar alguma informação acerca de contratos, de prestação de serviço ou de obras, não consegue entender ou tem poucas informações. O próprio Tribunal de Contas cobra isso da prefeitura e não é de hoje, já vem de alguns anos, sofrendo com a má gestão na cidade, que não prioriza a transparência pública. Mas no início do nosso mandato, a gente já quer, nos primeiro dias, determinar uma auditoria em todos os contratos da prefeitura de Florianópolis. Uma auditoria externa acompanhada  por outros órgãos de controle, mostrando que a gente tem esse compromisso com a cidade de respeitar os interesses públicos, respeitar recursos arrecadados dos impostos dos cidadãos, que acabam contribuindo, consumindo, prestando serviço, empreendendo na cidade.

Então a gente vai fazer as auditorias, implementar (sistema de) inteligência na prefeitura de Florianópolis, para poder criar mecanismos que a gente possa realmente ter uma gestão mais eficiente, com transparência. E nada mais justo porque é um princípio da administração pública. Eu como gestor público, minha formação é de Gestão Pública, vejo que isso é uma das maiores falhas, parece até mesmo ser proposital, porque casos de corrupção vão surgindo a cada mês. Nos últimos oito meses, quatro operações policiais na prefeitura e na Câmara, e isso demonstra que tem algo de errado acontecendo.

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A gente também tem que buscar aqui dentro da prefeitura estabelecer um pacto de um novo modelo de gestão, que priorize a valorização dos servidores de carreiras para poder ocupar espaço na prefeitura, que se priorize esse tipo de servidor que vai manter a qualidade também no primeiro escalão. Quando tem uma operação policial dessas pode ver que a maioria dos envolvidos está ligada a um grupo político, que normalmente não são servidores de carreira, na grande maioria são cargos de confiança do prefeito. E isso demonstra realmente que nós temos muita coisa a ser mexida dentro do Paço Municipal, que possa fazer com que o dinheiro público arrecado seja melhor investido e que a sociedade tenha consciência de que vai ter um prefeito e uma gestão que não são suspeitos.

Acima de tudo é isso. A gente precisa ter uma gestão que não seja suspeita. Só em ter suspeito já faz com que o cidadão possa pensar: "eu sou refém disso; eu pago impostos, boto dinheiro, faço minha parte, pago tudo em dia, mas o que eu tenho lá, não sei não, eu acho que ali está todo mundo junto". Então minimamente, a gente precisa ter essa consciência da gestão pública como sendo uma gestão que não gere suspeição.

O senhor propõe a implantação de uma rede pública de transporte hídrico. Essa proposta é viável economicamente? Se eleito, quais medidas o senhor adotaria para colocá-la em prática?

A gente precisa fazer uma auditoria também nos contatos das empresas de transporte coletivo da cidade. Porque, primeiro, a gente vai ter que priorizar a reformulação do transporte coletivo em Florianópolis, que é deficitário e está há mais 30 anos com as mesmas empresas, sempre reclamando que têm prejuízo, que não dá lucro, mas não sei como sobreviveram. Tem ônibus sucateados, nós temos uma dificuldade muito grande da população de se locomover entre bairros. É uma cidade turística e não tem linha de ônibus interpraias.

E eu estou falando aqui de coisas simples, não estou nem falando de um contrato que o próprio prefeito - eu perguntando para ele - não sabe responder sobre a planilha de custos das empresas. Ele não consegue responder quanto as empresas arrecadam com a propaganda atrás dos ônibus. O prefeito não sabe responder quanto a prefeitura arrecada, quanto as empresas arrecadam com os aluguéis dentro dos terminais de ônibus, daquelas lanchonetes e da publicidade lá dentro. Ou seja, se o prefeito atual não sabe disso, ele não consegue nem coordenar o sistema de transporte coletivo, para melhorar, porque está na mão das empresas, e ele não consegue nem criar realmente a possibilidade de um modal de transporte marítimo.

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Para fazer o transporte marítimo, a gente precisa primeiro resolver o transporte coletivo. No nosso programa de governo, a gente tem essa responsabilidade, sabendo que o transporte marítimo vai precisar se conectar com o transporte viário, o transporte coletivo viário dentro da cidade. Eu não posso falar aqui do transporte marítimo, se não vai parecer uma utopia e algo que todo mundo sempre fala nas campanhas eleitorais e nunca fez e nunca resolveu, porque primeiro precisa botar o dedo na ferida: resolver o transporte coletivo. Em segundo, buscar realmente os recursos do PAC da mobilidade (programa do governo federal). Os exemplos a gente já tem aos montes de gestão de transporte hídrico nas cidades litorâneas do nosso país. No mundo afora, tem grandes exemplos. A gente pode escolher realmente o formato que a gente vai querer implementar.

Obviamente nós vamos encampar para o prefeito da capital capitanear estudos em conjunto com municípios da Grande Florianópolis para que a gente possa apresentar tanto para o governo estadual quanto para o federal. Já conversei com os ministérios das Cidades e dos Transportes e com o presidente Lula do que a gente pode fazer em Florianópolis (em relação ao transporte marítimo). E eles ficaram muito abertos à possibilidade de alavancar recursos assim que a gente apresentar os projetos, mas para isso a gente precisa sentar com os municípios para poder definir de que maneira que a gente vai atuar, criando metas, para poder apresentar os projetos e aplicarmos, na medida do possível, já no primeiro ano de administração.

Isso eu estou falando de uma forma regional, integrada. Mas o transporte público na ilha, na cidade, a gente já pode começar os estudos a partir da prefeitura, dos interesses que a gente tem, sabendo que Florianópolis já teve até um transporte marítimo anos e anos atrás, quando se transportava ali, por exemplo, no porto do Rio Tavares. O rio era navegável. Pegavam escoamento da produção de farinha, laranja, café, produtos que tinha no sul da Ilha vinham pelo Rio Tavares até a alfândega no Mercado Público (no centro), para fazer a troca, a mercantilização do produto.

A cidade tem uma administração que nega os rios, tanto que todos eles hoje estão mortos. A gente tem uma possibilidade incrível de ter um ecossistema tão rico, completo, e a gente tem hoje um desprezo que a maioria dos rios da nossa cidade está abandonado, morto, assoreado. Então a gente precisa voltar a se conectar com o que já teve no passado, que demonstra que a gente tem a capacidade de poder fazer. E os recursos vamos buscar no governo federal para poder implantar.

No seu plano de governo, o senhor propõe a implementação da tarifa zero progressiva. Como funcionaria essa implementação? E a adoção de uma tarifa zero depende de um transporte público municipalizado, que o senhor também propõe adotar?

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Sim, uma tem a ver com a outra. Como falei no início, a gente pretende, no primeiro dia de governo, buscar uma auditoria dos contratos das empresas de transporte do Consórcio Fênix, que a gente tem hoje na cidade, para ter um diagnóstico de como é que a gente vai cobrar algo deles (das empresas), que seja realmente de forma jurídica embasada no contrato. Fora isso, a gente vai compreender de que maneira eles estão trabalhando.

Junto com o governo federal, que está enviando para Florianópolis R$ 100 milhões para compra de 46 ônibus elétricos, a gente vai capitalizar mais recursos para comprar mais ônibus elétricos e implantar a rede municipal de transporte coletivo. Com a municipalização do transporte coletivo, ao invés do lucro das empresas, (a gente) pega esse recurso e aplica em melhor qualidade, modernizar a frota, manter e assim poder ter tarifa reduzida.

A questão da tarifa zero a gente vai criar um fundo municipal do transporte coletivo. Dentro do combustível que os florianopolitanos e pessoas que se encontram dentro na cidade e abastecem com combustível em Florianópolis tem a arrecadação da IVV e de IPVA, dois impostos que ninguém sabe para onde vão esses recursos. Pelo menos agora vão saber: para o fundo municipal do transporte coletivo.

Junto, nós vamos colocar os recursos da zona azul e dos estacionamentos rotativos que a gente tem na cidade. Outra coisa, estacionamentos públicos da cidade hoje estão privados; essa arrecadação vai para o caixa da prefeitura, não se sabe para onde também. Ou seja, (esses recursos) vão também para o caixa do fundo municipal do transporte coletivo, assim como os recursos do vale-transporte que as empresas pagam para os funcionários. Fazendo estudo em cima dessa fatia, vai conseguir dimensionar o alcance que a gente consegue viabilizar no transporte gratuito na cidade. Eu quero até o final do mandato, de quatro anos, fazer a cidade se ver livre das catracas dos ônibus. O transporte coletivo vai ser gratuito, assim como diz o artigo sexto da Constituição, que a garantia do transporte, como garantia da saúde, como garantia à alimentação, à moradia. Dá para fazer, tem 116 municípios do país com o transporte gratuito da tarifa zero. Nós temos na semana que vem (que foi entre 9 e 16 de setembro) a vinda do Jilmar Tatto (ex-deputado federal por São Paulo e secretário nacional da Comunicação no PT). A gente vai apresentar o programa e mostrar para a cidade como é possível e nós vamos fazer a tarefa zero.

Nos primeiros meses, a aplicação já da tarifa zero com subsídios, para três grupos: mães-solos, estudantes e para pessoas em busca de emprego. Já nos primeiros meses nós vamos replantar tarifa zero em Florianópolis, aplicando também a tarifa zero aos domingos, que é o Domingo Livre. Foi um projeto que eu criei na Câmara de Vereadores, qaundo todo mundo falava que era impossível, mas, em seguida, após eu criar o projeto, a prefeitura aplicou o projeto com outro nome - em vez de Domingo Livre aplicou como Domingo na Faixa (no verão, o ônibus é gratuito em Florianópolis aos domingos). Então é possível (fazer tarifa zero), a população já tem experimentado, em outras cidades já existe e aqui nós vamos fazer também.

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Na área de segurança pública, o senhor propõe implantar e reforçar grupamentos especializados na Guarda Municipal. Como funcionariam esses grupos? E haveria necessidade de contratar mais guardas?

A gente vai, sim, contratar mais guardas, mas não só contratar mais efetivo, que está deficitário e não alcança toda a cidade. Porque a Guarda Municipal hoje é para quem pode, é para quem indica, é quando o prefeito pede: "vai para tal local, cobre tal área, fica na frente do colégio e tal", que é de alguém conhecido, de alguém mais próximo.

Então a gente hoje não tem Guarda Municipal na frente das escolas, no interior da Ilha, as pessoas do interior do continente reclamam. Mas não é só ter mais guardas municipais e mais viaturas, mas trabalhar e atuar de forma inteligente, com um diagnóstico. A gente precisa ter um diagnóstico de onde estão acontecendo as maiores incidências do ponto de vista de causar a insegurança na cidade. E aí, de forma inteligente, também aplicar mecanismo tecnológico que são as câmeras, que o projeto Bem-te-vi (do governo estadual, que foi implantado em 2012) tinha antigamente câmeras espalhadas na cidade inteira e foi abandonado pela prefeitura; precisamos resgatá-lo.

Então com tecnologia, com câmera, com mais efetivo, trabalhando com inteligência e junto com o governo de estado - que é obrigação do governo do estado dar segurança para a população - nós vamos atuar muito fortemente para poder mudar as estatísticas que já começam a assustar a cidade, principalmente alguns bairros, colocando em xeque a qualidade de vida e o bem-estar social. Dá para fazer, só precisa realmente fazer um grande diagnóstico, contratar mais servidores públicos, fazer uma formação de uma Guarda Municipal que seja educadora, e a gente consegue fazer isso com certeza, apontando uma gestão que seja mais eficiente, aplicando certo os recursos públicos.

O senhor propõe criar o Banco do Povo. Como isso funcionaria e de que forma seria benéfico para a população?

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Banco do Povo e o Banco do Empreendedor são mecanismos que a gente vai criar no programa de governo, dentro do Igeof, o Instituto de Gerações de Oportunidades de Florianópolis, que a prefeitura tem hoje e não funciona mais. O Instituto de Gerações de Oportunidades virou um cabide de empregos.

E a gente quer fazer uma ligação dessa secretaria às pessoas que estão empreendendo com pequenos negócios. E nós vamos conectar o Igeof ao Programa Acredita, do governo federal, tanto o Acredita quanto o Desenrola, para poder viabilizar pequenos recursos para iniciar pequenos empreendimentos. Pessoas que querem uma chance de ter um carrinho de pipoca ou carrinho de lanche, o outro que quer ter uma chance de melhorar o seu trailer de fazer lanche, outro que tem um empreendimento que precisa comprar uma máquina de costura, a outra pessoa que precisa comprar uma (lavadora) Vap para seu lava-carro. E é essa ideia: pequenos negócios, com pequenos volumes de recursos, fazer com que a gente possa viabilizar o início da oportunidade às pessoas da nossa cidade, para elas poderem empreender naquilo que mais sonham e que mais têm como habilidade.

E há possibilidade de que ela, daqui a pouco, até mesmo junto do Programa Acredita, do governo federal, também esteja empregando mais pessoas; passa de ser MEI (microempreendedor individual) para microempresa e assim vai. É só dar o empurrãozinho, e a prefeitura pode fazer isso também através do Instituto de Gerações de Oportunidades.

Indo agora para  a área de saúde, uma de suas propostas é a possibilidade de atendimento de pequenas emergências nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Mas, para isso, essas unidades precisariam passar por reforma de estrutura. O senhor e sua equipe chegaram a mapear os custos para isso e a operacionalizar a viabilidade dessa proposta?

Então, nosso plano da parte da saúde não é construído da nossa cabeça. Ele é construído com as pessoas que fazem saúde na cidade. E é muito identificado, propriamente pelo corpo técnico da prefeitura de Florianópolis, que é quem ainda consegue manter a saúde de pé na nossa cidade, da viabilidade de fazer essas pequenas cirurgias nas UBS. E não só fazer pequenas cirurgias, mas até ampliar o horário de atendimento para atender as demandas que a gente tem.

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Os trabalhadores hoje, muitas vezes, trabalham o dia inteiro, até mesmo com alguma doença, esperando um atendimento médico e eles não conseguem. E às vezes, quando chegam em casa, já está fechado o posto de saúde. Deveria ser um horário que, de repente estendido, poderia melhorar a qualidade de vida da pessoa, através do atendimento de saúde.

Pequenas cirurgias a gente sabe que dá pra fazer com a própria estrutura dos postos de saúde que a gente tem hoje. Pequeno acidente em casa, um corte de uma faca, de uma situação que vai das coisas mais simples e que acaba fazendo com que a pessoa fique sofrendo por muitos dias, para conseguir um médico na rede, para poder marcar um especialista, para poder chegar na possibilidade de fazer (a pequena cirurgia). Ou de uma pequena emergência, como a gente está falando em um posto de saúde, evitar que ele vá para a mesma fila de uma UPA ou de um hospital e lá acabe ficando doente, com uma outra doença e não fazendo aquilo que deveria fazer, de repente numa unidade básica de saúde que hoje no Brasil inteiro já tem essa modalidade.

Então, claro, primeiro obviamente tem que ser feito um diagnóstico da estrutura física que a gente tem dos postos de saúde. E segundo a gente precisa estancar a dívida de quase R$ 1 bilhão que a prefeitura tem e que impede novos investimentos, já no primeiro ano de governo. Tem muito dinheiro para ser pago em dívida e pouco crédito da prefeitura para poder buscar financiamento. Mas isso dentro do planejamento, do diagnóstico da situação, a gente consegue implementar.

Além disso, a gente tem como proposta dentro das UPAs, que a gente quer implantar o Centro Ortopédico de pequenas emergências. É uma demanda gigantesca nas grandes cidades e as pessoas não conseguem encaminhar. Às vezes, ficam com problema de um pequeno acidente, uma torção, uma entorse, que pode ser resolvido de uma forma mais rápida. E, daqui a pouco, a pessoa fica com aquilo ali sofrendo por dias, semanas, e não consegue um médico especialista para isso. E dentro das UPAs a gente pode, com uma pequena estrutura e com o médico ortopedista a ser contratado - porque a rede não tem hoje - fazer com que a gente possa atender uma grande demanda de pequenos acidentes que acontecem diariamente por conta das calçadas, por conta de um acidente em casa, por conta de um esporte.

Além do compromisso que a gente tem de manter a UPA Sul, planejada do lado do Terminal Urbano de Florianópolis (do Rio Tavares), o TiRio. Essa UPA é muito importante, está num local extremamente estratégico para atender não só o sul da Ilha, mas o centro-sul, Saco dos Limões, Costeira, e atender também o lado leste, que é Barra da Lagoa e Lagoa da Conceição.

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Foi planejado naquele local com heliponto, tem toda a estrutura para poder funcionar, só precisa realmente de um carinho, de alguém que tenha sensibilidade e saiba que precisa de uma obra real de revitalização, de reforma, contratação de médicos, de equipe de saúde, para reabrir de verdade a UPA Sul e reabrir a policlínica que foi fechada e atendia muitas pessoas, fazendo fisioterapia e outras especialidades.

E também reabrir a farmácia que facilitava muito para as pessoas que, às vezes, não têm um automóvel, que têm dificuldade de locomoção, e ficava do lado do terminal e era muito mais simples para pegar o medicamento. Hoje as pessoas acabam deixando de pegar medicamento, porque fica lá no aeroporto antigo e muitas vezes a locomoção é prejudicada.

Lela se apresenta como candidato do Lula em Florianópolis (SC).| Foto: Divulgação/PT

O que o senhor pretende fazer para cumprir a promessa de ampliar vagas de creche?

Tem que começar com planejamento básico, porque creche não é só prédio, não é só tijolo, cimento e ferro, são pessoas. A gente está vendo hoje as creches dentro do município de Florianópolis cada vez mais perdendo a qualidade do atendimento, porque ficou saturado o atendimento. Tem unidades que trabalham com profissionais, professoras e auxiliares, que são só duas pessoas por 15 bebês. Eu estou falando de G1 G2, que é como se chama na rede municipal da educação de primeira infância, que são bebês de 10 meses. Imagina 15 bebês e dois profissionais só.

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E muitas vezes, em algum horário tipo 16h30, 17h até 18h30, 19h, fica só uma pessoa. Imagina o estresse dessas crianças e o estresse do profissional. É até um acordo coletivo que foi assumido pelo prefeito que até agora não cumpriu. Precisa qualificar o atendimento nas creches. Ampliando a quantidade de profissionais na educação, a gente consegue cobrir muito mais e evitar que a prefeitura - como fez nos últimos anos - acabasse com o período integral, que muitas mães, muitos pais precisam do período integral, a criança bem cuidada, bem assistida, bem alimentada numa unidade de educação infantil, para que os pais possam garantir a sua renda, ampliando sua renda, porque não é fácil morar em Florianópolis, sobreviver em Florianópolis e essas pessoas que pedem o horário integral na creche é por pura necessidade.

É óbvio que é direito da criança a vaga na creche, mas a gente precisa cuidar desse lado (dos pais). Não só, obviamente, a gente tem visto que a qualidade tem caído, por conta da quantidade que a gente tem hoje de profissionais que são professores temporários - é uma das capitais que mais tem temporário do que propriamente professores da própria rede, efetivos.

A quantidade de professores temporários atrapalha muito o desenvolvimento das crianças, e a qualidade do ensino cai, porque o professor temporário está trocando constantemente, são dois, três meses e já sai, já entra outro. Imagina para a criança que está ali. Vamos pegar o ensino para educação infantil: a adaptação da criança é feita com os pais no início do ano letivo, depois os pais não vão mais, aí a criança só é entregue lá na entrada da escola, da creche, para o professor, porque ela já conhece e tem vínculo com o professor. Se troca de professor, volta tudo à estaca zero, porque esse professor é desconhecido da criança e isso atrapalha o ensino, a aprendizagem, a interação, o vínculo da comunidade escolar. Profissional trocando a todo instante também quebra o vínculo com os pais, quebra o vínculo do plano pedagógico que tem para o ano inteiro, com aquelas crianças, não sabe qual é a continuidade. Então a gente precisa contratar mais professores, para que a gente possa quebrar esse ciclo de uma gestão que hoje prioriza professores temporários. Isso não ajuda em nada na qualidade de ensino, muito pelo contrário: piora.

Fora isso, a formação continuada, para que a gente possa ter uma rede com capacidade de acolher não só as crianças que chegam na unidade, mas as dificuldades dos novos tempos, em que a gente tem as famílias atípicas. A rede municipal hoje não tem feito encaminhamentos para poder fazer diagnóstico de crianças possivelmente autistas; não tem feito formação continuada para a rede, para poder saber como atender as famílias atípicas na cidade. Então tudo isso está dentro do nosso programa, porque a gente tem essa sensibilidade e sabe muito bem o que vêm passando os profissionais da educação, que estão adoecendo. Primeiramente, para uma educação de qualidade, tem que contratar mais professores.

O senhor se apresenta como o candidato de Lula em uma cidade que é mais de direita. O senhor acha que de alguma forma essa associação forte ao presidente pode lhe tirar votos? 

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Muito pelo contrário, o presidente Lula na última eleição fez 47% dos votos aqui na capital. Florianópolis hoje é considerada uma capital com terras férteis progressistas. A gente é chamado assim de terra fértil, visto que hoje (Florianópolis é) a câmara de ressonância para os demais municípios do estado. Pode ver os nossos programas eleitorais: a gente se assume mesmo como candidatura do presidente Lula, porque as capitais têm que fazer esse protagonismo e mostrar quem é o presidente que está trazendo recurso para todo o estado de Santa Catarina, quem é o presidente quem traz recurso para educação, para Minha Casa, Minha Vida, para dar esperança às pessoas de terem uma casa, uma moradia, que estão (contando) com programas que tinham sido acabados.

É um presidente que tem combatido a fome no mundo inteiro e a gente não pode botar para debaixo do tapete, tentar fazer de conta que não existe na nossa cidade, no nosso estado, fazendo de conta que é uma cidade superrica, superinteligente - nós somos superricos e super nteligentes, mas temos muita pobreza e injustiça social. E é esse presidente que tem de novo transformado esse estado, dando a oportunidade para as pessoas para poder combater a fome, dando oportunidade para as crianças estarem nutridas, bem cuidadas, com os programas que a gente tem, como Bolsa Família, Farmácia Popular que voltaram. E eu tenho a honra de ser o candidato do presidente Lula, de levar até o meu nome com a fonética de Lela, que é um apelido na época de criança, o meu bairro inteiro me conhece assim, politicamente sempre me conheceram assim. Tenho, sem sombra de dúvidas, maior honra e me sinto muito confortável de estar levando as bandeiras do presidente Lula, que é o maior estadista deste mundo e que fez o país voltar a ser respeitado. Então hoje ele ajuda muito mais e pode ter certeza que nós vamos estar no segundo turno por conta da força do presidente Lula em Florianópolis.

A pesquisa Quaest* encomendada pela NSC e divulgada no fim de agosto mostra o senhor em terceiro lugar, empatado tecnicamente com o Pedrão. No momento em que o levantamento foi feito, o senhor estaria fora do segundo turno. Esse resultado mostra que, para conquistar uma vaga no segundo turno, a esquerda de Florianópolis deveria ter se unido, considerando que Marquito, do Psol, tinha, na época da pesquisa, maior intenção de voto do que o senhor?

Então, eu analiso de uma outra forma. Na margem de erro, a gente também está tecnicamente quase empatado com o próprio Marquito nessa pesquisa da NSC. O que acontece é que o deputado Marquito é deputado, estava muito mais na visibilidade, participou de todas as últimas eleições. Eu estava num outro processo de coordenação política em 2022, na campanha do Lula e Décio (que foi candidato ao governo de SC) em Santa Catarina. Eu, obviamente, reconheço em relação à questão do deputado que ele, de dois anos pra cá, já falava que era candidato a prefeito. E meu nome realmente foi alçado nos últimos meses. E isso demonstra que a gente já começa forte e, mais do que isso, que essa pesquisa da NSC foi feita no início dos programas eleitorais, não pegou nem um pouco do que a gente estava se apresentando. E hoje, com certeza, fazendo novo extrato, a gente já vai aparecer com o número muito melhor.

Eu acredito muito no que a gente tem e está sentindo nas ruas. O crescimento da campanha é muito rigoroso, já é exponencial, demonstra que a gente vai para o segundo turno sem sombra de dúvidas. É óbvio que, se nós formos para o segundo turno, nós vamos querer contar com o Marquito, com o apoio de quem quiser, para poder fazer um governo à altura que a nossa cidade merece. E ter essa representatividade muito próxima ao presidente Lula para fazer transformações necessárias que a nossa cidade tem como desafios. Mas também se fosse a questão do Marquito, não teria problema nenhum em estar com Marquito e o Psol no segundo turno.

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É óbvio que a gente tentou de todas as formas dialogar e mostrar que o projeto para Florianópolis ficava realmente voltado à nacionalização das eleições. Ficou muito claro isso com a presidente (nacional do PT) Gleisi (Hoffmann), que vem (dia 10 de setembro) para Florianópolis, um grande ato nosso de largada rumo ao segundo turno. Ela mesma tentou falar com o Psol, conversou, dialogou. O próprio (Guilherme) Boulos (do Psol) de São Paulo conversou com eles também.

Houve uma tentativa de convencer que o Psol pudesse dessa vez fazer um gesto, porque o PT vem desde 2008 fazendo os gestos e dessa vez o Psol optou por ter candidatura própria. Respeitamos, é o papel deles. Obviamente eles têm uma estratégia também de manter candidaturas na Câmara de Vereadores. E a gente vê que a nossa campanha é uma campanha verdadeira de enfrentamento mesmo dos problemas, mostrando os desafios que a gente tem e como a gente vai resolver. E que nós estamos aqui para defender, realmente, o legado de união e reconstrução do governo federal, do governo Lula.

Nós estamos nos posicionando de forma muito clara e a gente já deixava muito claro em 2020, quando todos nós - eu fui um candidato do PDT, que era candidato a prefeito, abri mão de ser candidato a prefeito para apoiar o Psol naquela oportunidade. Abri mão em 2022 de ser candidato a deputado, porque o Marquito já estava saindo candidato também na minha região, no Campeche, no sul da ilha. Então dessa vez, por estratégia nacional, e dá para ver na campanha que a nossa estratégia é nacionalizada, é palanque Lula e Alckmin em Florianópolis. E ficou claro quando o PSB veio nos apoiar, de que há o pedido, o apelo do presidente da República e da estratégia nacional, que nas capitais a gente tivesse a unidade em torno da união e da reconstrução que faz hoje o governo federal, o governo Lula.

*Metodologia: 852 entrevistados pela Quaest entre os dias 24 e 26 de agosto de 2024. A pesquisa foi contratada pela NC Comunicações S.A. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº SC-08197/2024.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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