Incremento de jovens na política entre partidos da direita vai na contramão dos dados gerais, que têm queda de filiações em Santa Catarina.| Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
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Enquanto o número de filiados jovens em partidos políticos tem caído de forma geral, siglas de direita estão na contramão dessa tendência e têm fortalecido a participação de pessoas entre 16 e 34 anos. Em Santa Catarina, o número de filiados nessa faixa etária reduziu 26,9% entre maio de 2020 e maio de 2024, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No entanto, o Partido Liberal (PL) catarinense viu seu quadro de membros jovens passar de 7.633 para 10.533 no mesmo período. Já o Podemos registrou aumento de 2.420 para 4.536, e o Novo saiu de 1.082 para 1.304.

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Para o professor de Administração Pública e pesquisador da área de Cultura Política da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) Daniel Moraes Pinheiro, o crescimento de jovens em partidos da direita tem relação com a consolidação dessa ideologia no estado. “A direita em Santa Catarina está bem fortalecida. O atual governador (Jorginho Mello, do PL) tem uma base muito forte, atrai muita gente”. Além disso, complementa, “quem se filia é por interesse de fazer carreira política, e a tendência é que você vá para partidos que estão em evidência”, como o PL em Santa Catarina.

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Um exemplo do engajamento dos jovens na política é Ingo Câmara que, aos 18 anos, é coordenador do PL Jovem de Florianópolis e pré-candidato à Câmara de Vereadores da cidade para as eleições de outubro. “Eu entrei na política porque quero ser político, quero participar”, conta. Estudante de Direito na UniSul (Universidade do Sul de Santa Catarina), ele está à frente do grupo que reúne outros 45 filiados, que se engajam em doações, visitas a asilos e confraternizações.

No caso de Câmara, ele quer defender as pautas do conservadorismo social, da liberdade econômica e para mostrar que existe espaço na política para o jovem conservador. “A gente faz nossas ações para mostrar que existe lugar para o jovem”, diz. Câmara acredita que a direita está conseguindo “quebrar a hegemonia” da esquerda no que diz respeito aos jovens e atraindo mais esse grupo para os partidos. 

“Tem uma parte da juventude que não se identifica com o espectro político mais progressista - e tem muito jovem que apoia Bolsonaro - (e isso) está relacionado ao aumento do conservadorismo da sociedade brasileira”, explica Eduardo Grin, cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Ele menciona os jovens que são contra o aborto, que têm vida religiosa, que não concordam com a pauta ambientalista e a mudança climática. O PL de Santa Catarina diz que o “êxito em atrair os jovens se deve em grande parte às estratégias focadas em proporcionar oportunidades de participação ativa e contribuição decisiva para o futuro político do país.”

O único partido de esquerda que teve aumento de jovens em Santa Catarina foi o Psol, que passou de 1.013 filiados entre 16 e 34 anos para 1.448 entre maio de 2020 e maio de 2024 - o período analisado é pré-eleições municipais e após o fim da janela para troca de partidos visando candidaturas no pleito. Para o professor da Udesc, o Psol é um “contraponto de esquerda, já que o PT não consegue renovar tanto seus quadros”.

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O partido, explica, transformou-se em uma alternativa e consegue atrair mais o jovem progressista. Para a presidente da sigla em Santa Catarina, Lea Medeiros, “a procura da juventude pelo Psol é porque eles se identificam com as pautas que defendemos”.

Por que, de maneira geral, jovens estão saindo dos partidos?

O crescimento de jovens em algumas siglas não é suficiente para reverter a tendência de queda no número de filiados entre 16 e 34 anos nos partidos políticos. Em Santa Catarina, o número de jovens nas siglas caiu 26,9% em quatro anos. No Brasil, a queda de filiados nesta faixa etária foi de 28,7% no mesmo período - com aumento da juventude nas seguintes siglas: PL, Podemos, Rede, Solidariedade e Psol.

Daniel Pinheiro, professor da Udesc, explica que o ingresso dos jovens na política é motivado por diversos fatores, principalmente pela atratividade do momento. “Estamos vivendo, nos últimos anos, o que alguns gostam de chamar de polarização - uma disputa no campo da política - e isso trouxe à tona protagonismo de partidos com líderes mais tradicionais. No cenário nacional, tivemos eleição colocada com dois candidatos, e o jovem se sente à margem do processo”, explica.

“Diante de tantas possibilidades novas, ficar preso na polarização política é um fator que desestimula muito a participação na política, o que reflete na queda de filiação da juventude nesse processo”, completa o professor da FGV Eduardo Grin.

Pinheiro lembra, ainda, que “vinha acontecendo uma tentativa de resgate do protagonismo desses jovens na política”, com movimentos de renovação institucionalizados, principalmente em 2013. “De 2018 para cá, isso se apaga. Agora a gente volta ao cenário visivelmente mais tradicional, mais antigo”, completa.

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Outro ponto destacado por Grin é o cenário de redes sociais que altera o local do debate. “Se um tempo atrás fazer reunião e participar de passeatas era algo usual, hoje esse público basicamente se mobiliza nas redes sociais e em ferramentas digitais. Os partidos políticos em geral estão defasados com esse cenário novo e isso é um fator que desmotiva: o que vou fazer em um partido político que nem tem rede social e mal sabe usá-las direito?”, reflete.

Ele cita, ainda, outras formas de atuação dos jovens, como coletivos e organizações não governamentais, formas de atuação consideradas menos rígidas. “Os partidos têm certa rigidez, têm regra para seguir, programa para defender, colaborar com dinheiro. É uma rigidez que a juventude não quer”. Além disso, há o “rechaço da política enquanto atividade social”, motivado por escândalos de corrupção no Brasil e no mundo, pontua. 

Para finalizar, Pinheiro cita “a baixa educação política, principalmente na adolescência e infância”. O professor não acredita que os jovens tenham menos interesse na política, mas não há o “despertar” político. “No Brasil, a gente tem dificuldade em construir esse interesse e base políticos, então esse jovem é chamado por interesse individual. Por exemplo, gosto de animais e vejo alguém que defende (os animais) e me engajo na causa”.

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