A mudança no cenário eleitoral de Fortaleza (CE), registrada pelas últimas pesquisas de intenção de voto, sugere que a polarização entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode estar chegando no ápice na capital. Levantamento divulgado na última semana pelo instituto Paraná Pesquisas mostrou um empate técnico triplo entre André Fernandes (PL), com 25,3%, Evandro Leitão (PT), que tem 22,1%, e Capitão Wagner (União Brasil), que vai a 20,8%.
A margem de erro da pesquisa é de 3,5 pontos percentuais para mais ou para menos. O empate entre os três candidatos também havia sido registrado pelo mesmo instituto no último dia 16. A diferença é que Capitão Wagner então liderava com 24% das intenções de voto, seguido por Fernandes, com 22,1%; e Evandro, com 19,4%. Além desse levantamento, outros institutos registraram uma mudança na liderança, ainda que na margem de erro, pela qual os candidatos de PL e PT aparecem mais próximos, enquanto o candidato do União aparenta se afastar.
As explicações para o cenário ainda não são claras, dada o curto período de tempo. Entretanto, analistas ouvidos pela Gazeta do Povo avaliam que o embate entre direita e esquerda por estar falando mais alto em uma disputa tradicionalmente marcada por temas locais.
Polarização reflete busca do eleitor por alinhamento ideológico
O cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), explica que essa dinâmica na eleição em Fortaleza reflete um desgaste de candidatos de centro, como Capitão Wagner, que caiu de 24% para 18%. "Há uma erosão do apoio a Wagner, o que chamamos de fadiga do material, com eleitores buscando alternativas mais alinhadas ideologicamente", analisa Gomes.
De acordo com o professor, essa polarização pode levar a uma disputa acirrada entre dois extremos no segundo turno da eleição em Fortaleza. "Caso essa tendência se confirme, teríamos uma disputa entre um candidato bolsonarista, Fernandes, e um lulopetista, Leitão, o que certamente intensificaria a mobilização de eleitores identificados com essas correntes políticas", ressalta. Gomes ainda destaca que o impacto dessa eleição pode ir além do âmbito municipal, influenciando as alianças políticas e a sucessão no governo estadual, dependendo do resultado final.
Essa polarização também coloca os eleitores indecisos como o "fiel da balança" na disputa, já que muitos não se identificam diretamente nem com o bolsonarismo, nem com o lulopetismo. "Ambos os candidatos precisarão ajustar suas estratégias para conquistar esse eleitorado mais pragmático, que prioriza questões locais como transporte, saúde e infraestrutura", observa Gomes.
Polarização em Fortaleza pode ser reflexo do crescimento da direita
Para o cientista político Adriano Cerqueira, professor do Ibmec de Belo Horizonte, a polarização entre os candidatos do PT e PL na eleição municipal de Fortaleza não é um fenômeno isolado, e sim parte de um movimento mais amplo de crescimento entre os apoiadores do ex-presidente Bolsinaro nas capitais do Nordeste brasileiro. "Fortaleza é um dos pontos fortes desse crescimento. O que estamos vendo é um fenômeno semelhante ao que já ocorreu com candidatos petistas no passado: um crescimento na reta final, quando o eleitorado se dá conta de quem é quem", avalia Cerqueira.
Ele também aponta que esse aumento de visibilidade ocorre com o início das propagandas eleitorais na rádio e televisão, que tendem a influenciar o comportamento do eleitor. "Nas capitais e municípios maiores, onde há um mercado de radiojornalismo e telejornalismo mais consolidado, o eleitorado começa a perceber as alianças políticas e ajustar seu voto", explica. Cerqueira acredita que tanto o apoio de Lula quanto o de Bolsonaro serão decisivos para levar seus candidatos ao segundo turno da eleição em Fortaleza, refletindo uma tendência observada em outras grandes cidades.
Cerqueira também destaca o papel crucial das redes sociais, especialmente o WhatsApp, na formação das opiniões eleitorais em grandes cidades como Fortaleza. "Em muitas capitais, as discussões políticas migram para as redes sociais, e o WhatsApp é o grande catalisador dessas conversas. Amigos e parentes trocam informações políticas diariamente, o que influencia diretamente a decisão do eleitorado", observa.
Racha na esquerda também contribui com atual cenário na eleição de Fortaleza
O rompimento entre os irmãos Cid e Ciro Gomes, figuras centrais da política cearense, expôs fissuras dentro da esquerda em Fortaleza. A aliança histórica entre o PDT, liderado por Ciro, e o PT, do qual Cid é próximo, foi abalada, refletindo o desgaste nas relações pessoais e políticas entre os dois. O conflito culminou na implosão da unidade do PDT e no rompimento da aliança com o PT no estado, complicando o cenário para a esquerda nas eleições municipais.
Além disso, o PSB, que antes se mantinha alinhado aos projetos de esquerda, também se afastou, criando uma fragmentação nas forças progressistas que dominavam Fortaleza por décadas. Essa divisão, somada à intensa disputa de poder entre os grupos de Cid e Ciro, abriu brechas para o fortalecimento de candidaturas de direita.
O desgaste entre as lideranças não só enfraqueceu a estratégia conjunta, como também desmobilizou parte do eleitorado tradicional da esquerda, que se viu desorientado diante das disputas internas. Com isso, partidos de direita, como PL e Republicanos, conseguiram capitalizar o descontentamento e emergiram como forças competitivas no atual cenário eleitoral.
Metodologia das pesquisas citadas:
- Paraná Pesquisas 23/9: 800 entrevistados pelo Paraná Pesquisas entre os dias 19 e 22 de setembro de 2024. A pesquisa foi contratada pela Don7 Media Ltda. Confiança: 95%. Margem de erro: 3,5 pontos percentuais. Registro no TSE nº CE-07574/2024.
- Paraná Pesquisas 16/9: 800 entrevistados pelo Paraná Pesquisas entre os dias 12 e 15 de setembro de 2024. A pesquisa foi contratada pela Don7 Media Ltda. Confiança: 95%. Margem de erro: 3,5 pontos percentuais. Registro no TSE nº CE-01568/2024.
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