Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): cenário das eleições municipais 2024 é relevante para estratégias futuras dos espectros políticos.| Foto: Fotomontagem Gazeta do Povo (André Coelho/EFE e Ricardo Stuckert/Presidência da República)
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O acirramento da disputa entre direita e esquerda neste segundo turno das eleições fez com que o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Liberal (PL) movimentassem aliados de peso para reforçar redutos eleitorais estratégicos, como em Fortaleza (CE) e em Cuiabá (MT). Para analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, a estratégia deu à disputa municipal um caráter nacional.

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No caso da capital cearense, a sigla encabeçada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escalou o prefeito do Recife, João Campos (PSB), para auxiliar a campanha de Evandro Leitão (PT) contra André Fernandes (PL) pela prefeitura. A leitura do PT é que o desempenho eleitoral do socialista e a performance dele nas redes sociais podem alavancar o candidato petista na disputa local. Campos foi reeleito no primeiro turno com 78% dos votos válidos na capital pernambucana.

Do lado do partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a legenda enviou Lucas Pavanato, recém-eleito vereador pela cidade de São Paulo, para auxiliar Fernandes em eventos de campanha. O novo vereador foi o candidato mais votado na capital paulista, tendo recebido 161.386 votos no primeiro turno.

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A ida dos aliados ocorre na esteira da última pesquisa publicada pelo instituto Real Time Big Data, na terça-feira (15). O levantamento mostrou que Leitão e Fernandes possuem 50% dos votos válidos cada — um racha no eleitorado fortalezense. Na votação do dia 6 de outubro, o candidato do PL largou na frente com 517.375 votos (40,35%), enquanto o candidato do PT teve 440.277 votos (34,34%).

Em Cuiabá, na segunda-feira (14), o deputado federal Abílio Brunini (PL) contou com o apoio do partido Novo e recebeu o deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) em comício de campanha. Além dele, o ex-deputado Deltan Dallagnol (Novo-PR) esteve presente no evento.

Figuras nacionais intensificam disputa ideológica nas cidades

Para Juan Carlos Arruda, diretor-executivo do Ranking dos Políticos, a nacionalização das eleições neste segundo turno reflete uma polarização cada vez mais intensa entre PT e PL, reforçada pela presença de lideranças que atuam diretamente nas disputas locais para fortalecer aliados e ampliar influência.

“O apoio de ‘padrinhos’ políticos nacionais sempre existiu, mas o que estamos vendo agora é o surgimento de políticos que, mesmo não ocupando cargos de grande destaque em âmbito nacional, possuem uma forte presença nas redes sociais e entre eleitores mais jovens”, afirma Arruda. “Esse fenômeno transforma as eleições municipais em uma espécie de prévia para as eleições gerais, pois esses políticos trazem consigo a disputa ideológica que vemos em nível federal”, acrescentou.

Arruda destaca o papel de figuras como João Campos, Nikolas Ferreira e Marcel Van Hattem, cujas influências ampliam a polarização e reforçam estratégias partidárias ao envolver lideranças de diferentes perfis para conquistar o eleitorado em cidades-chave. Esse movimento faz do segundo turno um termômetro das disputas federais, acentuando as divisões políticas em níveis locais.

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Resultado do 1° turno deu vantagem para PL

O acirramento de um segundo turno é esperado em qualquer pleito, seja geral ou municipal. No entanto, o resultado do último domingo (6) colocou o PL à frente do PT em estados onde Lula venceu nas eleições de 2022. Das 509 prefeituras conquistadas pelo partido de Bolsonaro, 137 foram em redutos de Lula. Do outro lado, dos 248 executivos municipais, os petistas elegeram apenas 38 gestores em redutos de Bolsonaro.

O crescimento do PL nas eleições municipais pode indicar uma nova dinâmica na política brasileira.

O desempenho representa uma consolidação da sigla de Bolsonaro em redutos já conhecidos, mas também aponta para um avanço da direita em locais tradicionalmente de esquerda. No Maranhão, por exemplo, o partido fez 40 prefeituras. O PT, por outro lado, elegeu apenas dois prefeitos.

O crescimento do PL nas eleições municipais pode indicar uma nova dinâmica na política brasileira, consolidando a base da direita e criando novos desafios para o PT, com destaque para 2026. Como as prefeituras são vitais para a campanha ao Legislativo federal, a expectativa é que a base oposicionista ao governo cresça.

Disputa municipal virou plebiscito nacional

Segundo o cientista político Paulo Kramer, professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB), o desejo dos partidos de expandir suas marcas e mensagens nacionalmente explica a movimentação intensa em torno das eleições municipais. Ele destaca ainda como a politização e a radicalização atuais têm transformado políticos locais em ícones nacionais.

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“A ambição de todos os partidos é ampliar nacionalmente o alcance de suas mensagens e de suas ‘marcas’. Isso explica, em parte, essa movimentação toda”, observa Kramer. “Pessoas como os deputados Nikolas Ferreira e Marcel Van Hattem se tornaram ícones da direita, e a participação deles em campanhas de outros estados reforça o caráter de plebiscito nacional que os conservadores procuram imprimir ao pleito municipal.”

Para Kramer, o engajamento de figuras populares entre os conservadores eleva o segundo turno a uma disputa de cunho quase nacional, acentuando a derrota da esquerda observada no primeiro turno. Esse cenário reflete a estratégia dos partidos de capitalizar a crescente polarização para consolidar suas bases e influenciar o eleitorado em todo o país.

  • Metodologia da pesquisa citada: 1.000 entrevistados pelo Real Time Big Data entre os dias 12 e 14 de outubro de 2024. A pesquisa para o segundo turno em Fortaleza foi contratada pela 3 Poderes Mídia e Comunicação. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº CE-07058/2024.
Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]