O empresário Sandro Mabel (União Brasil) voltou à política para disputar pela segunda vez a prefeitura de Goiânia (GO) após receber um convite do governador do estado, Ronaldo Caiado (União Brasil). Afastado da política por quase 10 anos, Mabel foi dono da empresa de bolachas que leva o sobrenome da família e dirigiu a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg).
O candidato a prefeito é um dos mais ricos do Brasil a concorrer ao cargo nas eleições de 2024. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-deputado federal tem um patrimônio de R$ 313 milhões. À Gazeta do Povo, Sandro Mabel afirmou que a experiência na área privada será usada em benefício da gestão pública da capital goiana e disse que sempre colocou recursos próprios à disposição para melhorar a qualidade de vida dos funcionários das empresas dele.
Questionado sobre a disputa eleitoral contra Fred Rodrigues (PL), Sandro Mabel respondeu que o “candidato que se diz de direita usava fraldas quando eu já trabalhava pela direita.” Durante a entrevista, Mabel ainda alfinetou a candidata petista Adriana Accorsi, filha do ex-prefeito Darci Accorsi, que derrotou o empresário nas urnas há mais de 30 anos. De acordo com ele, o patrimônio da petista caiu durante a trajetória política, iniciada em 2016, o que supostamente apontaria para falta de competência na área de gestão.
Todos os candidatos à prefeitura de Goiânia foram convidados pela Gazeta do Povo para entrevista.
Confira a entrevista com o candidato Sandro Mabel
O senhor foi candidato a prefeito em 1992, depois foi eleito deputado pelo estado e também venceu eleições para o Congresso Nacional. O que mudou na política? Qual a avaliação que o senhor faz ao retornar à vida pública?
O governador Caiado me chamou para ser candidato porque Goiânia precisa de alguém experiente. Além de político, uma pessoa que tenha uma boa experiência com gestão. Eu tenho 52 anos, não é de idade não, é de gestão. Desde os 13 anos de idade, eu sou treinado para fazer gestão e já administrei grandes empresas, negócios e na área pública também. Eu ajudei nas duplicações de estradas com rapidez, ajudando a mexer no cronograma de obras e outras coisas.
Na Federação das Indústrias, fiz uma revolução na educação e na questão de recursos, multipliquei por 20 o investimento que se fazia antes, então hoje são quase R$ 200 milhões por ano na educação do sistema Sesi e Senai. Tenho a experiência de resolver problemas muito grandes. Eu vejo Goiânia como uma cidade muito problemática hoje, mas com tranquilidade, pois eu conheço o tamanho do problema, sei dimensionar e tenho conhecimento das ações que precisam ser feitas.
Qual a diferença do Sandro de 32 anos atrás, quando eu fui candidato a prefeito? Naquela época eu tinha 33 anos e hoje tenho 65. Estou mais amadurecido e treinado, principalmente nessa parte de administração e politicamente também, que evoluí, pois naquele momento tinha apenas dois anos de mandato. Hoje, são mais de 20 anos de mandatos, participei de governos grandes e posições importantes. Tudo isso me faz um homem preparado para Goiânia. Eu já tinha até aposentado, mas o governador Caiado pediu, aliás, insistiu com muita veemência para que eu voltasse pra ajudar a arrumar Goiânia, que passa por um momento muito delicado e complicado.
As eleições no país se tornaram mais polarizadas e isso chegou ao município nesta eleição, principalmente pela candidatura de um nome do grupo político de Bolsonaro? E o candidato também se considera de direita?
A polarização não existe na campanha de Goiânia. Nós temos um candidato que se diz de direita porque é ligado ao Bolsonaro, mas ele não tem nenhum trabalho prestado para a direita. Eu, por exemplo, fui o idealizador e articulador de todo o impeachment da Dilma, quando nem existia essa direita tão organizada. Eu botei a cara, correndo risco com minhas empresas, meus negócios, mas livramos o Brasil daquela presidente que estava acabando com o Brasil. Esse candidato que se diz de direita, acho que ele usava fraldas quando eu já trabalhava pela direita.
Nunca tive o radicalismo do discurso que ele faz. Nunca fez nada pela direita, mas faz um discurso radical. Eu sempre fui centro-direita, sempre defendi a livre iniciativa, sempre defendi a família e princípios. Então minha história conta isso com facilidade e minha atuação política foi sempre voltada para o desenvolvimento, para o crescimento econômico, para a educação e para a saúde, áreas que sempre arrumei muitos negócios e recursos para isso. Mas principalmente, para a infraestrutura do nosso estado, que conseguimos mudar significativamente.
A polarização não existe na campanha de Goiânia. Temos um candidato que se diz de direita porque é ligado ao Bolsonaro, mas ele não tem nenhum trabalho prestado para a direita.
Sandro Mabel, candidato do União Brasil à prefeitura de Goiânia
Então, esse discurso de direita e de esquerda aqui, eu diria que são dois candidatos despreparados. Se um deles assumir Goiânia, a cidade vai “acabar de acabar”, pois já está acabada e precisa de alguém com grande experiência em gestão em Goiânia. Com toda a minha experiência, muitos anos e administrando coisas grandes, eu vejo quanta coisa difícil tem para ser solucionada. Além de experiência política e administrativa, tem que ter coragem para fazer, é o que me leva a ter certeza que eu farei.
Não tenho nenhuma pretensão política que me impeça. Não vou deixar de tomar uma posição porque não é politicamente contrária, não. As decisões que forem importantes para a cidade, todas serão tomadas para devolver ao goianiense uma cidade bem bacana.
Eu fui o idealizador e articulador de todo o impeachment da Dilma quando nem existia essa direita tão organizada.
Sandro Mabel, candidato do União Brasil à prefeitura de Goiânia
O senhor é considerado um dos candidatos mais ricos do Brasil por conta da carreira como empresário. Isso é uma vantagem ou pode gerar algum tipo de rejeição por parte do eleitor?
Eu vi a declaração de alguns candidatos, tem uma candidata que a cada ano vai descendo mais. Então, se ela não sabe administrar as finanças dela, como vai administrar um negócio desse tamanho que é Goiânia. Assim é com os outros candidatos também.
A questão de ter um patrimônio que foi construído com muito trabalho, com muita luta, não é um patrimônio construído dentro da política, eu não sou político profissional. Eu nunca parei de trabalhar nem um dia na minha vida e mostra que eu não tenho nenhum tipo de necessidade de fazer qualquer coisa errada na prefeitura. Pelo contrário, minha tolerância com a corrupção é zero.
Além disso, mesmo quando a empresa era pequena, eu sempre cuidei de gente, dos meus funcionários, por exemplo. Eu vi que as mulheres passavam muita necessidade, não tinham casas, moravam em barracos de lona. Eu construí, sem ter dinheiro, na marra, não tinha financiamento, foi Deus que me ajudou a construir 212 casas para as nossas funcionárias. Depois construímos creches e escolas. Eu tinha 27 anos de idade e isso progrediu muito, nosso refeitório, nossa área de lazer, área de convivência nas fábricas, que tinham até o “durmódromo”, um local onde a pessoa podia dormir na hora do almoço para poder descansar. Nós sempre pagamos faculdades, incentivamos as pessoas a estudarem.
Para mim, dinheiro é uma consequência do bom trabalho que você faz, mas com o meu dinheiro, eu sempre cuidei das pessoas que me ajudaram a cuidar da gente. Se eu falo que vou fazer 15 mil casas, eu posso falar com propriedade, pois fiz 212 sem nenhum centavo. Fiz com meu dinheiro pra solucionar o problema das pessoas.
Meus amigos falaram que dava para comprar um iate, uma mansão, mas não preciso de iate, nem de mansão, mas que meu povo não fique na chuva. Não tinha dinheiro sobrando para fazer aquilo, foi um sacrifício danado, sacrificando até investimentos da indústria. Só que eu investi no que eu sempre achei que é o melhor, que são as pessoas. Eu quero fazer em Goiânia, uma cidade que vai ter muita infraestrutura, as mães vão ter creche, nós vamos fazer o projeto de atendimento ao idoso.
Eu tenho dinheiro, graças a Deus, que conquistei com muito trabalho, mas eu tenho um coração maior do que o meu imposto de renda. Se eu fosse alguém egoísta com o dinheiro que eu tenho, com a condição que eu tenho, eu poderia sair de férias e não fazer mais nada. Eu volto com 65 anos de idade para assumir uma cidade completamente destruída, como está Goiânia, para atender um pedido do governador. Eu volto com a intenção de ajudar a população.
Se eu fosse um rico miserável, aqueles ricos que nunca deram nada para ninguém, não deu uma balinha, vai nas instituições de caridade de Goiás, todas, de Goiânia, todas, creches e asilos, pergunta se a vida inteira não receberam o biscoito da Mabel, enquanto eu fui dono da empresa. A gente doava 20, 30 toneladas de biscoito por mês. Então, nós sempre cuidamos das pessoas e aprendemos a dividir as coisas com os outros.
Eu tenho dinheiro, graças a Deus, que conquistei com muito trabalho, mas eu tenho um coração maior do que o meu imposto de renda.
Sandro Mabel, candidato do União Brasil à prefeitura de Goiânia
O que é mais difícil: administrar uma grande empresa ou uma capital do país? Existe alguma semelhança entre a gestão pública e privada?
Sandro Mabel: Gestão é uma coisa só, pública ou privada. Eu administrei a Fieg [Federação das Indústrias do Estado de Goiás], que é uma entidade pública, está sujeita ao TCU [Tribunal de Contas da União], licitações e tudo mais. Nós administramos com muita eficiência e multipliquei em 20 vezes o volume de recursos para fazer investimentos, tirando de despesa e fazendo uma boa gestão.
A boa gestão está em saber montar boas equipes e não ficar colocando gente de favor. Vou colocar ele de chefe do posto de saúde, mas ele entende alguma coisa, foi chefe de algum local? Foi chefe de nada, mas é primo de não sei quem. No meu governo não vai ter isso não, tem que ter currículo. Você tem que saber colocar pessoas boas, no lugar certo, não admitir indicações políticas, só por indicar. Eu não tenho nada contra o político indicar, não tenho nada contra ninguém indicar para mim, desde que a pessoa tenha um bom currículo, pode indicar.
Eu não tenho nenhuma pessoa para indicar para a prefeitura, não tenho filho, irmão, não tenho ninguém para indicar. Então, eu vou buscar no mercado porque nós vamos limpar [a administração] para ter condições de colocar gente competente em todos os lugares. Esse é o segredo. Essa é a diferença da gestão pública para a privada. A pública é diferente porque coloca qualquer pessoa para tampar com a indicação do fulano, da namorada do parente, do sobrinho do outro. E coloca de chefe já, gente que nunca chefiou nada.
Vamos ter medição de resultados. Todo mundo vai ser medido pelos resultados e pelas metas. Vamos adequando isso e ensinando as pessoas fazerem a gestão, exatamente o que fiz na Fieg, onde tínhamos R$ 10 milhões por ano de investimentos e passamos a ter R$ 200 milhões por ano. É isso que nós vamos fazer com Goiânia, não tem muito segredo, só precisa saber fazer. Tenho 52 anos de administração que você não aprende de um dia para o outro.
“Um dos principais problemas é a falta de limpeza urbana, evidenciada pelo acúmulo de lixo em várias partes da cidade e a gestão inadequada dos resíduos sólidos.” Esse apontamento é feito pelo plano de governo do candidato. Por que a coleta de lixo se tornou um problema histórico em Goiânia e como o gestor público deve resolver isso?
Vamos fazer um grande mutirão de limpeza nos 100 primeiros dias de governo para limpar tudo. Tem lixo jogado dentro dos lotes, é um horror. A população vai nos ajudar, vamos trazer isso para mais perto da rua e vamos passar com as máquinas, previamente avisado, com caminhões, carroça, bicicleta, o que der para carregar alguma coisa, a turma vai nos ajudar. Já falei com empresários, amigos meus, falei com a população, todo mundo vai ajudar nesse mutirão. Será uma grande faxina nessa cidade que tem galhos jogados, sofás e pneus. Vamos dar uma arrumada na bagunça que está a cidade.
Problema com lixo, enquanto eu for prefeito, nunca mais vai acontecer.
Sandro Mabel, candidato do União Brasil à prefeitura de Goiânia
Ao mesmo tempo, vamos resolver essa história da coleta de lixo, se vai ser com a empresa terceirizada ou com a própria Comurg [Companhia de Urbanização de Goiânia]. Estamos fazendo alguns estudos, nesse sentido, já tem uma equipe estudando o que vamos fazer. O que eu posso garantir é que problema com lixo, enquanto eu for prefeito, nunca mais vai acontecer.
O plano de governo prevê a articulação com o governo federal para realização do novo traçado da BR-153. Qual a importância logística e para segurança do novo traçado da rodovia?
Sandro Mabel: Isso já devia ter acontecido há muito tempo. Nós temos um plano que chama contorno noroeste de Goiânia, nós fizemos o sudoeste, eu que fiz junto com o presidente Fernando Henrique Cardoso na época. Saindo da Mabel vai até a Eternit, um bom alívio para muitos caminhões que pegam a BR-060 em direção ao sul do estado.
Também tinha o contorno noroeste que sairia na Polícia Rodoviária em Anápolis. infelizmente, um promotor de justiça que criou tanto problema que não foi possível viabilizar e isso atrasou demais. Hoje, a BR-153 virou uma avenida em Goiânia com muito tráfego a qualquer hora do dia. Realmente, temos que tirar esse anel viário.
Nós vamos pegar esse problema de frente, eu conheço como funciona isso e esse enrola, enrola vai acabar. Nós vamos fazer isso acontecer, não tenho dúvida disso. Vou criar um grupo de trabalho dentro do meu gabinete, os caras vão estar no meu andar para resolvermos esse problema do anel viário de Goiânia.
O plano de governo prevê a criação de um programa para oferecer capital para famílias em situação de vulnerabilidade empreenderem. Como funciona esse benefício social que o senhor pretende implantar? Isso não pode ser tornar uma espécie de “Bolsa Família” apenas para assistencialismo?
Nós vamos construir alguns galpões que seriam minidistritos industriais em vários bairros. A população precisa trabalhar perto de casa. Nesses galpões, nós vamos criar o Centro de Treinamento junto com o Senai para que as pessoas possam montar pequenas empresas para costurar, arrumar motocicleta e gerar um dinheiro para eles, junto com o Sebrae também.
Não só faremos o empréstimo do dinheiro junto com o estado de Goiás, que tem programa semelhante, mas ensinar a fazer a gestão daquele dinheiro. Para as mulheres, principalmente, queremos fazer um trabalho forte de empreendedorismo. Isso não é assistencialismo, não. Vamos dar um empurrão, principalmente nessa área de costura, setor com condição de crescer muito em Goiânia. Temos expertise em educação com Senai e outros entes que podem treinar e a expertise do próprio Sebrae para fazer o acompanhamento desse dinheiro que será “emprestado”. Ela recebe como um benefício, mas para fazer o empreendimento. Não tem nada de assistencialismo.
Como vai funcionar a escola em tempo integral e como pretende diminuir o déficit de vagas de creches no município?
Sandro Mabel: O ensino profissionalizante vai existir em todas as unidades do ensino em tempo integral. Vamos colocar todas as crianças na creche, inclusive as 9 mil que estão fora, rapidamente, em creches conveniadas e já tenho 6,8 mil vagas para isso, zerando o déficit.
Vamos construir os Cmeis [Centros Municipais de Educação Infantil] porque a criança precisa ter um estímulo grande e alimentação boa de 0 a 6 anos, período da formação cognitiva. Toda a formação do caráter, da inteligência, de tudo acontece nesse período. Vamos preparar os professores ainda mais para estimular essas crianças. No primeiro ano do fundamental, elas chegam quase alfabetizadas. Não dá para chegar no 4º ano sem saber como faz uma conta de matemática ou escrever direito.
Essa criança sai da creche, mas a mãe ainda é jovem. Ela precisa continuar trabalhando, então nós precisamos continuar cuidando dessa criança em tempo integral com estímulos mais avançados como robótica, informática, empreendedorismo, educação financeira e inteligência artificial. Vamos alimentar esses meninos, um cuidado bacana com eles e eu tenho certeza que vamos formar uma outra geração de gente bem inteligente.
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