Apesar de aliados no âmbito nacional, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador Ronaldo Caiado (União), de Goiás, estarão em palanques opostos após Fred Rodrigues (PL) e Sandro Mabel (União) irem para o segundo turno das eleições em Goiânia (GO).
Na votação do último domingo (6), Rodrigues foi para o segundo turno com 31,14% dos votos, enquanto Mabel alcançou 27,66% da preferência do eleitor. O resultado surpreendeu o União Brasil, que observava seu candidato liderar, ainda que por pouca margem, nas intenções de voto. O último levantamento feito pela Quaest antes da votação em primeiro turno mostrou que Mabel tinha 29% das intenções de voto, enquanto Adriana Arccosi (PT) e Rodrigues possuíam, respectivamente, 28% e 26%.
As críticas feitas por Caiado ao candidato apoiado por Bolsonaro, nesta segunda-feira (7), deram o tom de como serão os próximos dias de campanha. Em entrevista ao jornal O Globo, o governador de Goiás afirmou que Fred "não tem competência e capacidade de gestão".
“As escolhas nas duas cidades são escolhas com competência e capacidade de gestão, com uma grande diferença do candidato do PL (Fred Rodrigues), que não tem esses mesmos quesitos que Goiânia exige para melhorar a capital”, disse. A afirmação se refere ao município Aparecida de Goiânia, além da capital do estado, onde a disputa é entre Leandro Vilela (MDB), apoiado por Caiado, e Professor Alcides (PL), apoiado por Bolsonaro.
Por outro lado, Caiado também declarou que a disputa com o ex-presidente não afetará sua disposição de se lançar na disputa nacional, alegando que será candidato ao Palácio do Planalto, mesmo sem o apoio do PL de Bolsonaro. “A eleição de 2026 não é ninguém rompendo com ninguém. Todo partido vai ter [candidato], o meu partido teve 578 prefeitos já eleitos. O PL teve menos que nós (510). Estamos em condições e já estou em campanha. Não tenho que me preocupar muito com outros candidatos, tenho que me preocupar com a minha candidatura”, acrescentou.
Aliados de Fred e Mabel comentam segundo turno em Goiânia
A Gazeta do Povo procurou um aliado de cada candidato à prefeitura de Goiânia e questionou sobre a disputa entre um candidato de centro-direita e um de direita na capital. Correligionário de Rodrigues, o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) negou que Mabel seja um candidato de direita, alegando que ele já foi “defensor de Dilma Rousseff”.
“O cenário, então, é esse: um candidato de direita contra o plano B do PT, que é o Sandro Mabel”, disse o parlamentar. A asssociação vem sendo usada de forma recorrente por adversários de Mabel durante a campanha.
Aliada de Mabel, a deputada Silvye Alves (União) afirmou que o eleitor goiano se divide em dois grupos: um que “não se importa com o candidato” e outro que “apenas segue os passos de Bolsonaro”.
“Nós convivemos por quase quatro anos com um prefeito muito ruim e esse segundo eleitor não quer mais isso para Goiânia”, disse a parlamentar. A reportagem também questionou como essa divisão entre Bolsonaro e Caiado pode afetar o cenário presidencial de 2026, visto que o governador de Goiás já afirmou querer disputar o pleito independentemente de Bolsonaro.
Na avaliação de Gayer, “em política tudo é possível”. “Os dois discordaram na pandemia e depois se entenderam; não dá para afirmar. Caiado tem feito um bom trabalho na segurança pública de Goiás; uma pena ter escolhido alguém como Mabel para ser seu candidato. E Bolsonaro é o principal nome da direita no país, nossa ambição é que ele volte à presidência do Brasil”, afirmou o deputado.
Em contraponto, Silvye afirmou que a discordância entre os dois não deveria afetar o cenário de 2026, já que ambos não irão governar a prefeitura de Goiânia. “O governador tem muita postura e firmeza, não se deixará levar pelos possíveis ataques. Creio que seja algo pontual. O que aconteceu na pandemia morreu na pandemia. Caiado pensa assim. Espero que Bolsonaro também enxergue dessa forma, pois, como líder da direita, precisa unir o grupo”, disse a deputada.
Relação entre Bolsonaro e Caiado estremeceu
Os atritos entre Bolsonaro e Caiado não são novos. Em setembro, o ex-presidente chamou de “covardes” os governadores que aderiram às medidas restritivas durante a pandemia de Covid-19. A declaração foi entendida como um recado para Caiado, já que o ex-presidente estava em Goiânia quando a fez.
“Nós, na pandemia, fizemos o que tinha que ser feito. Fui contra governadores que falavam ‘fique em casa, a economia a gente vê depois’. Governador covarde. Não tinha como fugir do vírus", disse Bolsonaro, enquanto apoiadores mencionavam o nome de Caiado. Após o comício, em uma live, Bolsonaro afirmou que não se referia especificamente ao governador de Goiás.
Ao ser questionado pela Folha de S.Paulo sobre o assunto, Caiado disse ser “um homem a quem Deus poupou do sentimento do medo”. "Sou candidato em 2026 até porque colhi uma experiência muito grande com cinco mandatos de deputado federal, um mandato de senador e, agora, dois mandatos de governador. O que nós realizamos em Goiás, um estado que estava totalmente destruído, com envolvimento de corrupção e desmandos da máquina pública, mostra que Goiás, assim como o Brasil, tem um potencial enorme; basta ser bem gerido”, afirmou o governador.
No início do ano, Bolsonaro vetou a migração de Caiado para o PL. O governador, por sua vez, teria tentado fortalecer a relação com o ex-presidente, comparecendo a um evento em defesa de Bolsonaro na Avenida Paulista em fevereiro e fazendo declarações públicas sobre a influência política dele.
Embora Bolsonaro tenha amenizado sua postura ao longo de 2024 em relação a Caiado, mencionando-o algumas vezes como uma “semente que plantou”, ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), o ex-presidente voltou a sinalizar que o goiano está antecipando a disputa pelo Palácio do Planalto ao se posicionar como pré-candidato. Bolsonaro ainda conta com uma possível elegibilidade para o pleito de 2026.
Divergência entre Caiado e Bolsonaro reflete dinâmica pragmática da política municipal
A cientista política Priscila Lapa observa que o cenário de Goiânia, com palanques opostos de Ronaldo Caiado (União) e Jair Bolsonaro (PL), ilustra a flexibilidade das alianças políticas nas eleições municipais, que frequentemente não seguem a lógica nacional. "As legendas no Brasil não são exatamente programáticas e, assim, podem abrigar lideranças por conveniências do cenário local", afirma Lapa, apontando que o racha pode ser contornado em 2026, sem necessariamente representar uma divisão estrutural entre os grupos.
Para ela, a busca de Caiado pelo apoio dos eleitores petistas exemplifica uma “concessão natural”, visando ampliar o alcance de Mabel neste segundo turno. “A depender do tom adotado e do peso desse reduto no cenário nacional, pode haver uma repercussão mais ampla do palanque local na definição de alianças nacionais”, observa.
Lapa também destaca o fortalecimento da centro-direita nas eleições deste ano, que pode representar uma tendência de redução da polarização, caso essas legendas avancem nacionalmente. “O centro avançou um pouco mais nas eleições, o que era esperado”, explica a cientista política, sugerindo que, com essa base sólida em diversos municípios, o centro pode consolidar alternativas à dualidade PT e PL em pleitos futuros.
*Metodologia: 1.002 entrevistados pela Quaest entre os dias 4 e 5 de outubro de 2024. A pesquisa em Goiânia foi contratada pela Televisão Anhanguera S/A. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº GO-03178/2024.
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