Após as articulações frustradas para a formação de uma frente ampla de direita durante a pré-campanha, os candidatos a prefeito de Goiânia Fred Rodrigues (PL), 39 anos, e Sandro Mabel (União Brasil), 65 anos, representantes dos grupos políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro e do governador Ronaldo Caiado, entraram em guerra na reta final do primeiro turno em busca do voto do eleitorado goianiense.
O racha também pode repercutir no posicionamento dos líderes políticos na campanha de 2026. Apoiado pelo União Brasil, Caiado se coloca como presidenciável nas próximas eleições e disputa o título de pré-candidato da direita com os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), Romeu Zema (Novo) e Ratinho Junior (PSD). Apesar da inelegibilidade, Bolsonaro tenta reverter a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para voltar à corrida eleitoral em 2026. Se não concorrer, o ex-presidente sinaliza que pode apoiar o governador de São Paulo.
“Tenho certeza absoluta que, em 2027, um presidente honesto, de direita e conservador estará à frente do destino do nosso Brasil. Como eu disse, ninguém tem o que nós temos. O erro está apenas nas escolhas”, discursou na última terça-feira (24) durante o comício da campanha de Fred Rodrigues na capital goiana, onde voltou a criticar o TSE. “Sou o ex mais amado do Brasil e esse divórcio não foi o povo que fez. A verdade, brevemente, chegará”, disse aos eleitores.
Ainda durante o comício, o ex-presidente lembrou do lockdown imposto pelos estados durante a pandemia, período em que Bolsonaro e Caiado tiveram posições opostas em relação ao fechamento do comércio. “Fui contra governadores que falavam: fiquem em casa, a economia a gente vê depois. Governador covarde! O vírus ia pegar todo mundo, não tinha como fugir”, criticou sem citar o nome de Caiado.
O acirramento em Goiânia pode dificultar as pontes entre PL e União Brasil em caso de segundo turno contra a candidata petista Adriana Accorsi, deputada federal e filha do ex-prefeito Darci Accorsi. Apesar da aliança entre Bolsonaro e Caiado não ter saído do papel no primeiro turno, o apoio ao candidato em uma disputa contra o PT seria natural, antes da temperatura subir no pleito municipal. Além disso, mais um atrito também pode ter consequências nas articulações políticas comandadas pelo ex-presidente e pelo governador para 2026.
Em entrevista à Gazeta do Povo, Mabel declarou que Fred Rodrigues “se diz de direita” apenas no “discurso radical” e “estava nas fraldas” quando o ex-deputado federal trabalhava em prol da direita brasileira. Do outro lado, Bolsonaro afirmou que o eleitorado deve buscar alternativas para mudar os nomes por novos políticos no estado. “Estou feliz por contribuir com o surgimento dessas novas lideranças pelo Brasil. Pode ter certeza que, brevemente, o estado de Goiás estará completamente oxigenado.”
Procurada pela Gazeta do Povo, a assessoria de imprensa do governador Caiado respondeu que ele não vai se manifestar sobre as declarações de Bolsonaro.
Bolsonaro x Caiado: ex-presidente acusa “candidato das rosquinhas” de ter apoiado Dilma Rousseff
As estratégias políticas de PL e União Brasil, em Goiânia, afastaram Bolsonaro e Caiado e colocaram os dois grupos na disputa pelo segundo turno. Enquanto o governador trouxe o ex-deputado federal de volta à política com um discurso de experiência na vida pública e gestão pelo sucesso empresarial do ex-dono dos biscoitos Mabel, Bolsonaro mexeu no xadrez eleitoral do PL e substituiu a pré-candidatura do deputado federal Gustavo Gayer por Rodrigues, ex-parlamentar da Assembleia Legislativa de Goiás.
A aposta foi considerada arriscada por aliados, mas o ex-presidente bancou a permanência de Gayer no Congresso Nacional e tem participado da campanha de Rodrigues, que, se eleito, também será uma vitória pessoal de Bolsonaro.
Além de justificar a estratégia política pela manutenção de Gayer no Congresso “pela liberdade do povo”, ao se referir ao trabalho do deputado que acompanha as decisões do ministro Alexandre de Moraes, o ex-presidente afirmou que Rodrigues é “o único candidato de direita” em Goiânia e criticou Mabel, indicado por Caiado. No discurso, Bolsonaro comentou um vídeo em que o empresário enaltece o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
“O candidato da bolachinha, o candidato da rosquinha, tem vídeo dele elogiando Dilma Rousseff, dizendo que ela foi uma boa gestora. Em 2014 e 2015, sem crise nenhuma no Brasil, conseguiu a proeza de desempregar 3 milhões de pessoas. Essa presidente conseguiu entregar a Petrobras para o [Michel] Temer com uma dívida de R$ 900 bilhões. Esse é o tipo de política que o cara da rosquinha que impor aqui em Goiânia”, disse o ex-presidente no palanque ao lado de Rodrigues e Gayer.
Em nota, Mabel lembrou que era líder do PL na Câmara dos Deputados, atual partido de Bolsonaro, e que acreditava no governo Dilma, pois “demonstrava práticas administrativas diferentes das que são tradicionais em governos do Partido dos Trabalhadores”.
“Entretanto, já no final do seu primeiro mandato presidencial, mas especialmente após ser reeleita em 2014, a ex-presidente abandonou o perfil de gestora e assumiu uma postura de líder da esquerda brasileira, cometendo vários absurdos e até mesmo não republicanos na Presidência da República e no governo federal”, comentou o candidato do União Brasil.
Mabel afirmou que a alternativa foi trabalhar, politicamente, no Congresso Nacional pelo impeachment de Dilma. “Viabilizamos, juntamente com outras lideranças políticas, a posse do então vice-presidente Michel Temer (MDB) na Presidência da República, uma decisão que se mostrou acertada, uma vez que ele comandou com muita sabedoria e de forma republicana a transição no País até as eleições de 2018, que elegeram Jair Bolsonaro como o novo presidente do Brasil”, respondeu.
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