O candidato do Partido Liberal (PL) à prefeitura de João Pessoa, Marcelo Queiroga, e estreante em disputas eleitorais e, nesta reta final para a votação no segundo turno - que ocorre no próximo domingo (27) - aposta em evidenciar falhas na gestão pública atual para conquistar o voto do eleitor.
Médico cardiologista, Queiroga foi o quarto ministro da Saúde do governo de Jair Bolsonaro (PL) desde o começo da pandemia de Covid-19, tendo assumido o cargo quando já havia sido vacinado contra a doença. Em entrevista à Gazeta do Povo, o candidato reforçou a promessa de fazer uma reforma na administração pública municipal, com foco nas áreas da saúde e da educação.
Também propôs reduzir a máquina pública, aumentar a eficiência e nomear técnicos competentes para cargos estratégicos, em vez de manter o que considera como “estrutura arcaica e ineficiente” da prefeitura. Queiroga disputa o cargo com o atual prefeito do município, Cícero Lucena (PP), que também foi convidado para entrevista pela Gazeta do Povo, mas não retornou aos contatos feitos.
A quê o senhor atribui o crescimento na preferência do eleitorado no fim do primeiro turno, o que o permitiu seguir na disputa pela prefeitura de João Pessoa?
O conservadorismo aqui na cidade de João Pessoa é muito forte. O presidente Jair Bolsonaro (PL) venceu as eleições aqui em 2018 no primeiro e no segundo turno, e, em 2022, quando teve uma campanha muito polarizada, a diferença para Lula foi de menos de mil votos, ou seja, 49,9% da população de João Pessoa votou em Jair Bolsonaro. Então, um candidato identificado com a agenda do Bolsonaro inevitavelmente iria crescer e chegar ao segundo turno. Nós fizemos uma campanha propositiva, mostrando que éramos a verdadeira mudança para a cidade de João Pessoa, a população paulatinamente foi tomando conhecimento e, quando o microprocesso eleitoral começou, nós chegamos no segundo turno à frente dos outros dois candidatos da oposição que disputavam comigo, políticos muito conhecidos aqui na cidade, um deles tendo sido prefeito de João Pessoa por oito anos.
O governador da Paraíba, João Azevedo, apoia a candidatura de Cícero Lucena. O senhor acredita que, caso vença a eleição, vai ter abertura para dialogar e negociar com ele em prol da cidade?
Nenhum problema, até porque, quando fui ministro da Saúde, eu negociei e dialoguei não só com o governador João Azevedo, mas com os outros 26 governadores do país, com os secretários de Saúde, com os secretários municipais, com o parlamento como um todo, com os técnicos, os organismos multilaterais da Saúde. O prefeito eleito de João Pessoa é eleito para governar a cidade, e não para governar só os eleitores que votaram nele.
A sua candidatura é de rompimento com a atual gestão. O seu oponente tenta a reeleição, enquanto o senhor, caso seja eleito, representaria uma mudança. Num eventual mandato do senhor, qual seria sua primeira ação?
Nós somos o partido conservador, o Partido Liberal, e a prefeitura de João Pessoa atualmente tem uma máquina muito inchada, com estruturas arcaicas, 26 secretarias. A marca da prefeitura é ineficiente, e nós teríamos que fazer uma reforma da administração para tornar a gestão mais ágil, e fazer ações na saúde e na educação que andam numa situação muito precária.
A cidade de João Pessoa caiu 19 posições no ranking de competitividade entre os municípios. O Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) caiu. No programa Previne Brasil, que avalia o desempenho da atenção básica de saúde - instituído à época em que eu era ministro - a cidade tem uma das cinco piores notas entre os 223 municípios do estado da Paraíba.
Então, fazer essas mudanças com uma gestão técnica, em vez de colocar um parente como é o caso (do prefeito Cícero Lucena), a filha dele é a pessoa que está à frente da Saúde. Na educação, está a cunhada, então, em vez de colocar um parente, vou colocar um técnico competente para devolver o caráter público à administração da cidade de João Pessoa.
Está no seu plano de governo a promessa da redução da máquina estatal. O senhor falou agora que vai fazer uma reforma administrativa. Já sabe quais secretarias deve fechar?
O Bolsonaro fez isso: reduziu o número de ministérios, tornou mais eficiente a gestão. Então, com essa experiência que eu tenho da administração do ministro Paulo Guedes, com a lei da liberdade econômica, nós pretendemos fazer esse enxugamento da máquina administrativa. Por exemplo, às vezes uma secretaria pode ser a diretoria de uma secretaria, nós precisamos fazer uma análise dessa máquina administrativa para adequar as necessidades de uma gestão moderna.
Então o senhor não sabe ainda quais com certeza vai fechar?
Na época da transição do governo, nós vamos fazer os devidos ajustes.
Na opinião do senhor, que está rodando João Pessoa, conversando com a população: qual é o maior problema da cidade e o que fazer para resolver?
De acordo com as pesquisas qualitativas que nós fizemos, a área da saúde tem mais problemas e reclamações. EPretendemos atuar fortemente, sobretudo na atenção básica, na atenção primária, tornando as unidades de saúde da família mais eficientes; implementando o plano de cargos, carreira e salários para os servidores; incorporando tecnologias, como a chamada saúde digital, para fazer com que a média complexidade dialogue de uma maneira mais efetiva com a atenção básica, tendo mais resolutividade, e com isso, aliviando a média e alta complexidade. É uma reforma que faremos logo nos primeiros meses de gestão.
Muita gente acusa os candidatos apoiados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, sobretudo o senhor que foi o ministro da Saúde, de serem antivacina por terem questionado a obrigatoriedade da vacinação, principalmente para crianças. Como o senhor avalia que os resultados da sua gestão e do governo Bolsonaro podem ter influenciado na sua campanha agora?
Olha, foi feita uma das maiores campanhas de vacinação contra a Covid do mundo, nós distribuímos mais de 600 milhões de doses de vacina, conseguimos cessar o caráter pandêmico da doença. Em seis meses, reduzimos o número de óbitos a 90%. A vacina, naquele momento, foi colocada pelo caráter emergencial, até o registro de duas dessas vacinas era emergencial, então não havia sentido nenhum em forçar as pessoas a tomar vacina, sobretudo num momento em que as pessoas queriam tomar as vacinas. Então, esse conceito de que o bolsonarista é antivacina é mais uma narrativa errada. Agora, forçar a vacinação em nada contribui para que se aumente a cobertura vacinal.
Já o atual governo, que se diz a favor da vacina, veja o que fez em relação à vacina da dengue. Demorou quase um ano para incorporar a vacina no programa nacional de imunização e, quando o fez, foi de forma incompleta. Nós tivemos, nos últimos oito meses, mais casos de dengue do que nos últimos sete anos no Brasil. Então, é retórica da esquerda que promete o céu e entrega o inferno. Do ponto de vista prático, quem efetivou a campanha de vacinação foi o ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Marcelo Queiroga.
"Esse conceito de que bolsonarista é antivacina é mais uma narrativa errada. Agora, forçar a vacinação em nada contribui para que se aumente a cobertura vacinal".
Marcelo Queiroga, candidato a prefeito em João Pessoa (PB)
O senhor avalia que os resultados da sua gestão no âmbito federal ajudaram ou prejudicaram na campanha em João Pessoa?
Eu acho que me ajudou bastante, tanto é que eu nunca tinha concorrido a nenhum cargo eletivo. Então, eu disputei contra um deputado federal com vários mandatos que já tinha sido candidato a prefeito em outras duas ocasiões, e o outro que foi prefeito oito anos com o apoio do ex-o governador, que também foi prefeito dois anos e foi governador reeleito. Eu cheguei em segundo lugar em 2024 sem nunca ter concorrido. Então, só me ajudou o fato de eu ter sido o ministro da Saúde e com o apoio do (ex-)presidente Jair Bolsonaro.
Ainda sobre vacina: algumas doenças que já estavam praticamente erradicadas no país estão voltando com força pelo pouco interesse dos pais em vacinar as crianças. Qual é a sua posição, com eventual eleição como prefeito, para atuar na saúde pública relacionada à vacinação do público infantil?
Primeiro, é necessário disponibilizar vacinas nos postos de saúde. Uma pesquisa realizada pela Confederação Brasileira dos Municípios detectou que, a cada 10 municípios, em seis faltam vacinas. Essa é a política do PT. O sarampo foi reintroduzido no Brasil em 2018 pela fronteira da Venezuela. E nós recebemos, no governo Bolsonaro, um surto de sarampo, mas quando deixamos o governo, nós deixamos a situação do sarampo absolutamente controlada. No ano de 2022, teve pouquíssimos casos no Brasil. No governo petista, a gente tem casos de varicela, de coqueluche. Isso é fruto da gestão ineficiente deles. Volto a te afirmar: fizemos uma ação determinada para vacinar as crianças, tanto que em 2023 já se verificou um aumento das coberturas em função das iniciativas que nós fizemos, não que esse atual governo fez.
Então, o senhor como prefeito vai trabalhar também para disponibilizar as vacinas?
Claro. É uma política nacional. A política de vacinação é uma das mais importantes políticas de saúde pública que se emprega mundialmente, foi responsável pela erradicação de doenças, como a varíola e a poliomielite. O Ministério da Saúde tem um dos programas de vacinação mais abrangentes do mundo, que realiza a vacinação através dos estados e dos municípios. O Ministério da Saúde distribui as vacinas, os estados distribuem aos municípios, que, por sua vez, aplicam as vacinas. Se tem uma coisa que funciona bem no Brasil são as iniciativas de vacinação. Se eu fiz isso como ministro, o farei melhor ainda como prefeito da cidade de João Pessoa.
O senhor mencionou que nunca tinha se candidatado a nada até 2024. O senhor acredita que essa sua experiência como gestor no Ministério da Saúde te capacitou para atuar como um bom prefeito para a cidade de João Pessoa?
Com certeza. Como ministro da Saúde, eu administrei um orçamento de R$ 200 bilhões somente no ano de 2021. Isso equivale a 80 vezes o orçamento da cidade de João Pessoa. Eu lidei com uma situação de emergência sanitária gravíssima, como todo tipo de dificuldade - dificuldade política, dificuldade até mesmo no contexto do Congresso Nacional com Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) - e nós conseguimos ajudar o governo e ajudar o nosso país. Então, essa experiência que eu tenho foi o motivo principal de oferecer o meu nome como candidato a prefeito de João Pessoa, justamente porque é a cidade onde eu nasci, me formei e onde cheguei até o posto de ministro da Saúde. Essa experiência tem que ser oferecida para o cidadão de João Pessoa escolher. Eu falo que administrei um orçamento de R$ 200 bilhões e não há sequer uma denúncia de corrupção na nossa gestão.
Entre as propostas na área da segurança pública está a adoção dos chamados Business Improvement Districts, um modelo que conta com apoio financeiro dos empresários para revitalizar e patrulhar determinadas áreas da cidade. Como o senhor pretende conversar e convencer os empreendedores, que já pagam tantos impostos, a colocarem a mão no bolso também para contribuir com a segurança, que é papel do Estado?
A segurança é um dos pontos principais para uma cidade como João Pessoa, que tem o turismo como uma das indústrias mais emergentes. Então, um diálogo com a sociedade privada é fundamental para que consigamos avançar, apesar de a segurança pública não ser uma responsabilidade do município, mas do estado - geralmente com Polícia Militar e Polícia Civil, enquanto a prefeitura tem a Guarda Municipal. Outras ações, como a iluminação pública, reduzem a iniciativa de crimes. Então, trabalhar em conjunto com a sociedade civil e com o estado. E tem o problema das drogas, que tem preocupado todos nós. Sobre esse projeto com os empresários, nós vamos buscar dialogar, instituir conselhos, para que consigamos essa possibilidade de ter a sociedade civil conosco nesse tipo de iniciativa.
Ainda sobre segurança, o senhor fala no plano de governo sobre a integração com o Centro Integrado de Comando e Controle (CICC). Isso já não ocorre em João Pessoa?
De uma maneira muito precária, porque as câmeras dos sinais que são utilizados, por exemplo, para multar os veículos, poderiam ser utilizadas também na questão da segurança pública. Tem que aumentar o número de câmeras na cidade de João Pessoa para ter um monitoramento adequado. O estado também participa, até mais do que a cidade de João Pessoa, e nós temos que ampliar esse iniciativa.
No plano de governo, o senhor também fala muito sobre encorajar o livre mercado. Como que o senhor pretende fazer isso na prática?
A lei da liberdade econômica foi instituída no governo do presidente Bolsonaro para estimular a iniciativa privada a abrir negócios, e a prefeitura de João Pessoa também aprovou a lei de liberdade econômica no âmbito municipal, mas desde 2011 isso não foi implementado. Então, vamos estimular essas ações para que consigamos ter mais empresas na cidade de João Pessoa, por exemplo, facilitando a emissão de alvarás, dispensando de alvará as atividades de baixo risco, de tal sorte que isso estimule a economia, que vai gerar emprego, renda, tributos, ou seja, ou seja, eu aumento a arrecadação municipal sem a necessidade de aumentar a carga tributária. Essa é uma agenda do nosso partido, que defende a iniciativa privada.
Sobre a educação, o senhor defendeu o aumento de vagas em creches e escolas, não é?
Nós vamos abrir 16 novas creches no município de João Pessoa - 8 mil vagas. A atual gestão não fez sequer uma creche. Mais 4 mil vagas na pré-escola. No ensino fundamental 1 e 2, vamos fazer um plano para valorizar os profissionais da educação através do plano de cargos, carreiras e salário, introduzir a tecnologia nas nossas escolas para que a gente consiga melhorar o Ideb, que nos últimos anos caiu significativamente na nossa cidade.
Outro assunto que eu queria falar é meio ambiente. João Pessoa sempre foi conhecida por ter muita área verde. Como o senhor pretende equilibrar o aumento dos empreendimentos, que é necessário, sem colocar em risco a questão ambiental no município?
A Constituição de João Pessoa veda a construção de espigões nas três primeiras avenidas da cidade, e nós temos o ponto de vista de preservar isso. Então, não mexer na nossa legislação para que esse patrimônio ambiental seja mantido. Infelizmente hoje, não só em relação às áreas verdes, há também problemas nos nossos rios. João Pessoa tem vários rios que estão poluídos, levando essa poluição para as praias. Recentemente, a gente tinha aqui só uma ou duas praias em condições adequadas para banho, justamente por conta nas ligações clandestinas. Então, nós temos que atuar fortemente para preservar o meio ambiente e recuperar os nossos rios. Isso envolve a empresa de saneamento, de água e esgoto, que não cumpre seu papel de forma adequada, então precisa da fiscalização das autoridades. Eu defendo ações de descontos tributários, como o IPTU verde, para estimular a população a plantar árvores e contribuir com o reflorestamento da nossa cidade.
A inclusão de políticas para mulheres também é uma das promessas do seu plano de governo. Como o senhor pretende fazer isso?
Uma das nossas prioridades é a atenção materno-infantil, a exemplo do que fizemos no governo Bolsonaro. Também a atenção ao câncer de mama, fazer ações para ampliar o rastreamento do câncer de mama, que é uma das principais causas de morte nas mulheres. Isso em relação à saúde, mas também em outras áreas. Inclusive aumentar a participação nas mulheres na administração pública, no primeiro escalão.
Naturalmente, o nosso partido tem uma pauta conservadora, que nós chamamos de pauta de costumes, na qual nós defendemos a vida desde a concepção. Nós somos contra a legalização do aborto. Eu acho que a questão da gestação do alto risco, que a esquerda costuma dizer que o número de mortes maternas é por conta de aborto clandestino, e nós que tivemos um governo conservador mostramos que conseguimos reduzir pela primeira vez a mortalidade materna no Brasil de uma forma significativa. Então, é dessa forma que nós queremos atuar em relação à saúde da mulher na nossa gestão.
Governo promete reforma, mas evita falar em corte de gastos com servidores
Boicote do Carrefour gera reação do Congresso e frustra expectativas para acordo Mercosul-UE
Idade mínima para militares é insuficiente e benefício integral tem de acabar, diz CLP
“Vamos falar quando tudo acabar” diz Tomás Paiva sobre operação “Contragolpe”