Pedetistas avaliam que expulsão de Ciro Gomes é díficil pela força política do ex-candidato a presidente| Foto: EFE/Joédson Alves
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Um grupo de deputados do PDT defende a expulsão de um dos maiores quadros nacionais do partido: o ex-ministro e ex-candidato a presidente Ciro Gomes após as divergências internas da sigla nas eleições de 2024. A bancada pedetista na Câmara dos Deputados se reúne nesta quarta-feira (30), quando o pedido será apresentado sob a justificativa que a postura de Ciro levou ao racha do partido, principalmente no Ceará. Ele e o irmão Cid Gomes (PSB) já governaram o estado e também romperam os laços antes do pleito eleitoral deste ano.

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A liderança nacional do PDT, no entanto, tenta amenizar o problema e, publicamente, fala em busca pela “reunificação” dos filiados.

Segundo apuração da Gazeta do Povo a pressão feita pelos parlamentares pela expulsão de Ciro é motivada por um sentimento de “deslealdade” com os correligionários. Um deputado, que pediu para não ser identificado, afirmou que o ex-candidato a presidente toma atitudes por “vinganças pessoais” ao invés de pensar no “bem do partido”. Para ele, as decisões de Ciro são em grande parte responsáveis pela derrocada do PDT nas eleições municipais deste ano.

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O PDT foi um dos principais derrotados no pleito deste ano com a conquista de 150 prefeituras. No primeiro turno de 2020, o partido venceu em 314 municípios. No Ceará, a legenda caiu de 67 para cinco prefeitos eleitos.

Presidente nacional do PDT quer reunificação com Ciro Gomes

Os pedetistas ouvidos pela Gazeta do Povo avaliam que a expulsão de Ciro Gomes é difícil de ser concretizada no PDT. Desde 2015, ele ocupa o cargo de vice-presidente e, apesar das discordâncias com a presidência, exerce forte influência no partido.

Um parlamentar lembra do episódio ocorrido após o primeiro turno, quando o grupo Juventude Socialista do PDT divulgou uma nota apoiando a candidatura de Evandro Leitão, do PT, à prefeitura de Fortaleza, e Ciro respondeu nas redes sociais: “Mais respeito! Senão eu também vou dizer mais algumas coisas que a burocracia de nosso partido está precisando ouvir. Não sou nem serei puxadinho do PT nem hoje nem nunca", rebateu. Para o pedetista ouvido pela reportagem, a declaração foi mais do que uma “ameaça” e mostra a “demonstração de força” do político dentro da sigla.

O presidente nacional em exercício do PDT, deputado federal André Figueiredo, foi procurado pela Gazeta do Povo para comentar a possibilidade de expulsão de Ciro e respondeu apenas: “Vamos buscar a reunificação".

Na mesma linha, o ministro da Previdência e presidente nacional licenciado do partido, Carlos Lupi disse que o assunto não é tema de bancada. "A eleição acabou e é hora de nos unir e avaliar nosso futuro”, declarou em entrevista ao Antagonista.

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Uma alternativa ventilada por pedetistas é a possibilidade do partido formar uma federação. Nos bastidores, fala-se no PSD, no PSDB e até no PSB do senador Cid Gomes, irmão que rompeu com Ciro e apoiou o prefeito eleito de Fortaleza, Evandro Leitão (PT).

Entenda o racha do PDT

O racha dentro do PDT tem suas origens na “briga de família” entre Ciro e os irmãos, principalmente Cid, maior liderança dos Ferreira Gomes no Ceará. Desde 2022, quando Ciro insistiu em lançar candidatura própria à presidência da República, mesmo com a volta de Lula (PT), a relação entre ambos já estava estremecida.

O estopim, no entanto, foi quando Ciro optou por apoiar a candidatura do ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, ao governo cearense, enquanto o PT lançava Elmano de Freitas. No segundo turno, ele negou apoio às candidaturas petistas no estado e na disputa entre Lula e Bolsonaro no segundo turno de 2022.

Após a vitória de Elmano, diante da decisão de que o PDT não deveria compor a base do governo na Assembleia Legislativa, Cid resolveu filiar-se ao PSB, levando consigo dezenas de prefeitos e de outros políticos.

Nas eleições municipais deste ano, o candidato de Ciro à prefeitura de Fortaleza, José Sarto (PDT), não chegou ao segundo turno, disputado entre o petista Evandro Leitão e André Fernandes (PL). A avaliação de pedetistas é que Ciro fez um apoio velado ao candidato de Bolsonaro na capital cearense ao invés de apoiar a coligação do PT.

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Roberto Cláudio e seis dos oito vereadores do PDT de Fortaleza apoiaram publicamente Fernandes. Os líderes do partido André Figueiredo e Carlos Lupi reagiram e apoiaram a candidatura de Leitão, além de terem criticado o apoio declarado de membros do partido ao adversário.

Mas como, localmente, o PDT manteve posição neutra, o grupo dissidente não pode ser punido. É o caso de Ciro que, se sair, leva consigo boa parte do que sobrou na legenda.