As candidaturas em partidos alinhados à esquerda estão recuando no Brasil. Em contrapartida, legendas mais à direita no espectro político conseguiram atrair mais candidatos a vereador, a vice-prefeito e a prefeito para as eleições 2024. Este cenário é confirmado pelos dados disponíveis no portal de registro de candidaturas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e leva em conta os números atualizados até as 19h30 do último dia 19.
Expoentes da esquerda na política brasileira, como o PT, estão deixando de atrair candidatos. Em 2024, o partido do presidente Lula encolheu 7% em relação às eleições de 2020. Quedas mais expressivas são encontradas em legendas como Psol (-17,9%), PDT (-21,51%), PCB (-54,55%) e PCdoB (-70,8%).
A queda mais abrupta da esquerda entre os dois pleitos municipais é verificada no Cidadania – o partido teve 17,5 mil candidatos em 2020, mas agora conseguiu convencer menos de 5 mil pessoas, uma redução de 72%. As exceções à tendência de queda ficaram por conta de PCO (20,28% de aumento) e Avante (7% de aumento).
Por outro lado, os partidos de direita trouxeram mais pessoas para suas fileiras. O PL de Jair Bolsonaro contou com cerca de 28,5 mil candidatos em 2020, número que aumentou quase 25% em 2024 – agora serão mais de 35,5 mil nomes sob a legenda. Republicanos (16,65%), Agir (6,22%), Podemos (13,3%) e Democracia Cristã (43,65%) seguiram a tendência de crescimento.
No caso do partido Novo, o número de candidatos em 2024 é 11 vezes mais que o registrado na última eleição municipal, tendo passado de 620 para cerca de 7,5 mil nomes. Na direita, perderam candidatos o PRTB (-47,5%) e o PSD (-3%).
Dois partidos da direita, União Brasil e PRD, precisam ser analisados à parte. Isto porque as legendas não existiam nas eleições de 2020. O União é resultado da junção entre DEM e PSL, partidos que foram extintos com a nova designação. Situação semelhante ocorre com o PRD, fruto da união entre Patriotas e PTB.
No banco de dados do TSE, o União aparecia com 36.236 candidatos registrados às 19h30 do último dia 19. O número é expressivo, mas 34,7% menor do que a soma entre suas legendas de origem. Assim também ocorre com o PRD e seus 16.820 candidatos registrados na Justiça Eleitoral, um número 56% menor do que a soma dos nomes à disposição de Patriotas e PTB em 2020.
Para o consultor político Gaudêncio Torquato, não há como fazer uma relação direta de transferência de votos entre os partidos antigos e suas novas denominações. Em entrevista à Gazeta do Povo, ele evidenciou que o eleitor brasileiro, em média, não tem entre suas características mais marcantes a fidelidade partidária.
“O eleitor brasileiro médio vota de acordo com as circunstâncias próprias de cada eleição. A não ser em alguns redutos eleitorais específicos, em determinadas regiões do país, o eleitor tende a dar seu voto de acordo com os interesses locais sem levar em conta essa fidelidade”, explicou.
Para Torquato, o aumento das candidaturas nos partidos de direita no Brasil é reflexo de uma onda mundial. Segundo ele, os sistemas tradicionalmente de esquerda, como os socialistas, estão sendo mais questionados, e é perceptível – de acordo com o analista – um desânimo cada vez maior de seus associados.
Segundo o analista, o país passou por uma “bolsonarização” da política, com o ex-presidente Jair Bolsonaro tomando para si a função de porta-voz da sociedade em temas como a defesa da propriedade, dos valores tradicionais e da família e contrários ao aborto.
“Por outro lado, Lula não tem dado respostas efetivas a demandas desta mesma sociedade. Lula parece estar na corda bamba, como no caso da Venezuela. Ao mesmo tempo em que diz que lá não é uma ditadura, reconhece que há falhas no processo eleitoral”, avaliou.
Em relação às demandas internas, comentou Torquato, o governo federal também não tem conseguido cumprir promessas que foram feitas à sociedade. Em áreas como saúde, educação e segurança, aponta o analista, quando há alguma ação é sempre o “arroz com feijão”, sem nenhuma inovação.
“Isso gera esse desânimo com a esquerda. Em função dessas promessas não cumpridas, o chamado ‘lulopetismo’ vem diminuindo no Brasil. É algo que aparece com mais clareza nestas eleições municipais, nas coligações em que há entre partidos de esquerda com legendas que são contrárias ao próprio PT”, completou.
Guinada à direita é reflexo de uma mudança na sociedade
Para o deputado federal pelo PL de São Paulo Luiz Philippe de Orleans e Bragança, o crescimento nas candidaturas de direita é reflexo de uma mudança na sociedade brasileira. Em entrevista à Gazeta do Povo, o parlamentar disse enxergar uma mudança na opinião pública.
“As pessoas hoje conhecem os planos da esquerda, a base narrativa que sustenta esses planos. E a esquerda brasileira está estagnada, com ideias arcaicas, repetindo as mesmas histórias que não têm mais a mesma aderência na sociedade. A corrupção e o socialismo andam de mãos dadas, e as operações de combate à essa corrupção jogaram luz nessa questão”, avaliou.
Segundo o deputado, uma consequência desta conscientização é a migração de parte da classe política para o lado em que os interesses da sociedade estão voltados. A aderência das pessoas a temas mais ligados à direita, como a defesa de valores conservadores, da vida, da família e da liberdade é como um “termômetro” a guiar os postulantes a cargos públicos.
“Os políticos sobrevivem da opinião pública. Nos anos 1990, começo dos anos 2000, era arriscado para um político dizer que era de direita. As pessoas até mesmo nem sabiam claramente a diferença, e a chance de se eleger era quase nula. Agora esse cenário se inverteu, hoje para um político chega quase a ser um risco assumir que é de esquerda”, avaliou o parlamentar.
Encolhimento da esquerda é reflexo da cobrança de eleitores sobre prefeitos e vereadores
À reportagem da Gazeta do Povo, o deputado federal Filipe Barros (PL-PR) ponderou que as eleições municipais deste ano estão sendo vistas no meio político, mais do que nunca, como uma antessala para o pleito de 2026. Ele disse ter percebido junto aos eleitores um interesse maior pelo alinhamento dos candidatos.
“Vemos um movimento robusto do eleitor querendo saber de quem concorre se está alinhado com os princípios e valores da direita, ou se ainda defende as presepadas do ‘lulopetismo’”, comentou Barros. Para ele, o crescimento nas candidaturas de direita pode ser traduzido no interesse dos cidadãos em candidatos que preguem o respeito às famílias e o bom uso da máquina pública, “coisas que a esquerda, definitivamente, não sabe fazer”.
O encolhimento de siglas ligadas à esquerda, aponta Barros, pode ser visto também como efeito de uma maior cobrança dos eleitores a prefeitos e vereadores destes partidos. “Como eles nada têm a entregar a não ser ideias mofadas dos governos anteriores do Lula, fica difícil se lançar com afinco na corrida municipal”, concluiu.
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